Os cenários socioeconômico e político são nebulosos para o Brasil. Mas há uma expectativa de encontrar uma luz no fim do túnel dessa conjuntura que combinou em 2015 a falta de crescimento associada à alta inflação e baixo investimento. Na palestra de lançamento da Agenda TGI 2016, o consultor Francisco Cunha fez uma análise crítica do atual momento e fez projeções sobre as saídas da crise. Afinal, qual o dever de casa dos brasileiros e pernambucanos para sobreviver às turbulências do contexto e chegar no final do próximo ano com um horizonte mais otimista?
Francisco Cunha classificou o contexto atual como o pior desde o Governo Collor e apontou o momento como de ruptura do ciclo econômico (ancorado no consumo interno e na exportação de commodities) e político. Ele lembrou que o Brasil conquistou avanços relevantes nas últimas décadas: a reimplantação da democracia, como um legado do PMDB; a década da estabilização econômica, pelas mãos do PSDB; e o período de inclusão social, promovido pelo PT. Conquistas que tendem ficar parcialmente em xeque, com a crise de representatividade política, retração do PIB, além da alta do desemprego e descontrole inflacionário, que pode devolver para pobreza parte da população que ascendeu socialmente nos últimos anos. “As crises econômica e política geram uma crise de confiança, que tem um efeito paralisante no País, já que cria uma tendência de reduzir o consumo e os investimentos”, afirma.
Apesar da conjuntura de crise, a economista e sócia da Ceplan Tania Bacelar aposta em um 2016 melhor. Ela ressalta que alguns fatores determinantes para os indicadores negativos de 2015 não se repetirão no próximo ano. “Tivemos uma inflação muito alta, por causa dos preços administrados, que em 2014 estavam represados, como energia, gasolina, transporte. Esse ciclo não vai se repetir, porque já absorvemos esse impacto em 2015. O segundo foi a desvalorização do real, também uma tendência antiga. Houve uma valorização muito forte do dólar. Dois componentes com alto impacto e que não tendem a se repetir”, explica.
Para construir um cenário mais fértil para o investimento, ela acredita que a inflação menor poderá induzir o governo a reduzir as taxas de juros. “Se a inflação se atenua, a justificativa para o aumento dos juros perde força. Isso é positivo por duas razões, quando a taxa de juros cai tem um impacto no governo, já que diminui as despesas financeiras do Estado. E pode estimular os investimentos também do setor privado”, sugeriu a economista.
Apesar desse panorama traçado pela economista, as expectativas dos entrevistados na pesquisa com empresários da Agenda TGI não é das melhores. Apenas 22% acreditam num 2016 melhor, enquanto que 43% estão pessimistas com o ano que se aproxima.
O economista e ex-diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Gustavo Maia Gomes, também vê com ceticismo o desempenho econômico no curto prazo. “Ficamos quatro anos seguidos numa trajetória insustentável de gastos públicos, sempre com a inflação acima da meta. Uma receita de desastre. No meio desse cenário houve uma paralisia. O governo federal anunciava o desejo de fazer cortes, mas ao mesmo tempo dizia que não se podia cortar. Uma postura contraditória que foi somada a um congresso que ainda promovia medidas para aumentar os gastos. E, evidentemente, fazer nada quando a coisa está ruim, só piora. Não me surpreenderia se o desempenho da economia do próximo ano seja pior do que este. Não vejo nada melhorando para acreditar que será apenas 1% negativo, como sinalizam algumas pesquisas”.
O economista acredita que apenas uma mudança de governo poderia abrir uma janela de oportunidade para a retomada de crescimento do País. Ele julga que a ascensão de outro presidente da República teria o potencial de melhorar o humor do investimento privado no Brasil. “Se houver impeachment ou renúncia vai haver um momento em que o País terá uma nova chance. A depender de como isso ocorrer você pode começar a reverter uma trajetória negativa, mas definitivamente não salvará o próximo ano. No entanto, teria a capacidade de gerar uma visão menos pessimista, enquanto as coisas começam a se arrumar, atraindo investimentos que seriam muito relevantes para a dinamização da nossa economia”.
A pesquisa com empresários apontou que 58% dos entrevistados acredita que Dilma Rousseff não terminará o seu segundo mandato presidencial. Quase 90% acreditam que as dificuldades políticas deste segundo governo serão maiores que as do primeiro. Na palestra, Francisco Cunha afirmou que é justamente a vertente política da crise que lança mais incerteza sobre a retomada do crescimento. O governo não consegue promover o ajuste fiscal conjuntural indispensável e não dispõe de capital político para fazer mudanças estruturais necessárias para a retomada sustentada do crescimento.
SOLUÇÕES. Se o cenário político é determinante para mudar o desânimo do País, há uma necessidade de modificar as estratégicas econômicas, na opinião de Tânia Bacelar. Diferente da última década, quando o consumo interno foi o fator que impulsionou o dinamismo da economia brasileira, ela defende que o momento é de apostar em dois outros pilares: aumento das exportações e dos investimentos. “O Brasil precisa combinar melhor esses três grandes componentes do crescimento. Fizemos uma aposta muito forte do consumo interno na década passada. Isso chegou num certo limite. Podemos fazer do limão uma limonada, fazer do nosso déficit de infraestrutura uma oportunidade e frente de expansão econômica estimulando o investimento privado com juros mais baixos. O peso das exportações é pequeno, mas caso seja dinamizado será importante para o País”, avalia.
Sobre as exportações, Bacelar aponta um cenário positivo, com um câmbio favorável e uma atuação ousada do ministro Armando Monteiro Neto. “A mexida do dólar favoreceu a nossa balança comercial. Não é algo que teremos que mudar, mas surfar nessa direção já construída. Armando Monteiro Neto se destacou pois, apesar da crise, foi um dos poucos ministros que olhavam para frente, enquanto o governo ficou preso numa agenda de curto prazo. Para mudar a dinâmica, é preciso sinalizar para onde a gente vai. Sem expectativa positiva, a economia continua patinando”.
Projetando um cenário para o setor empresarial, Francisco Cunha lembrou dos ideogramas chineses que compõem o nome crise: perigo e oportunidade. Ao mesmo tempo em que as empresas correm riscos até a crise passar pelas atuais turbulências, o consultor acredita que essas empresas sairão desse momento mais enxutas, mais eficientes e competitivas; e menos perdulárias. “A questão crucial, então, é fazer o que for preciso para sobreviver e usufruir dos benefícios da crise”. Nesse sentido, 80% dos empresários que responderam à pesquisa afirmam que enfrentam esse momento do mercado com redução das despesas, enquanto que 20% apostam no aumento das receitas.
Ao estimular o comportamento inovador dos empresários, o consultor ainda apresentou a receita da Matriz de Ansoff, que aponta a diversificação da atuação como sua variável mais desafiadora. “É essencial buscar a inovação com o atendimento a novos clientes e o desenvolvimento de novos produtos para gerar receita adicional não contaminada pela retração do mercado tradicional”, destacou Cunha.
O consultor considera que o ciclo negativo vivido pelo País terá um efeito em V ou U (ver gráfico acima). Ele considera que o País chegou neste ano no seu ponto mais baixo e que terá um 2016 ainda de recessão. As expectativas traçadas para o País são de uma variação do PIB zerada em 2017 e uma retomada do crescimento em 2018.
(Por Rafael Dantas)