Neste nosso Arruando pelo Recife, vamos através do bairro de São José, em busca da Praça do Mercado, buscando uma visita à Basílica de Nossa Senhora da Penha de França, uma das joias de nossa arquitetura religiosa, recentemente restaurada pelos frades capuchinhos, sob a direção do frei Luís de França Fernandes.
Construída entre 1869 e 1882 pelos capuchinhos franceses, instalados naquele local desde o ano de 1656, quando ergueram seu primitivo hospício, o suntuoso templo desperta as atenções de todos que se dirigem ao bairro singular do Recife. Sendo a única igreja da capital pernambucana em estilo coríntio, a basílica foi construída em forma de cruz latina, obedecendo a projeto arquitetônico do frei Francesco de Vicenza, entre 1869 e 1882, guardando uma certa semelhança com a Basílica de Santa Maria Maior, de Roma.
As portas principais são entalhadas em madeira, com cenas bíblicas, apresentando seu frontispício dez imagens de santos esculpidas em mármore em tamanho natural. O conjunto possui duas torres finas laterais (40 m de altura) que ladeiam uma torre central (zimbório) sobre o qual se encontra uma imagem de Nossa Senhora da Penha, em bronze dourado e tamanho natural, dominando todo conjunto.
Trata-se do maior templo do Recife (65,70 m de comprimento por 28,40 m de largura), distribuído em três naves sustentadas por grossas colunas de mármore italiano, que exibem sob sua cúpula central, nos ângulos destacam-se entre as arcadas, preciosos afrescos, únicos existentes no Brasil, pintados pelo artista Murillo La Greca (1899-1985), representando os evangelistas Marcos, Mateus, Lucas e João.
Murillo La Greca, nascido Vicente La Greca, nasceu na cidade pernambucana de Palmares, em 1899, tendo falecido no Recife, em 5 de julho de 1985. Começou suas lições de pintura no Colégio Salesiano do Recife, seguindo depois, aos 18 anos, para o Rio de Janeiro e finalmente Roma. Voltando ao Brasil em 1926, veio consagrar-se como grande artista, ao conquistar vários prêmios no Salão Oficial de Belas Artes (1927) e a dividir atelier com Cândido Portinari. Já casado com a artista Sílvia Decusati (1936), depois de uma temporada na Itália, volta ao Recife para pintar os afrescos da Basílica de Nossa Senhora da Penha, representando os quadros evangelistas (3 metros altura), trabalho que concluiu em 1946 com auxílio de sua mulher.
Continuando a nossa visita à Basílica de Nossa Senhora da Penha, extasiados diante do colorido do seu interior; mais parecendo-se com um imenso cenário pintado diante dos nossos olhos do que mesmo uma obra de arquitetura. Destaque especial para o conjunto de colunas em mármore a separar as três naves do templo, as pinturas do teto, detalhes aplicados ao coro e aos dois púlpitos, colunatas e altar-mor, com a escultura da padroeiras rica em detalhes, centralizando às atenções juntamente com a urna do Santíssimo Sacramento e as capelas laterais. Nos altares laterais, destaca-se o de Santo Urbano com sua imagem relicário contendo ossos, dentes e sangue do mártir, trazida de Roma em 1793.
Na Basílica da Penha, chama a nossa atenção o túmulo do 17º bispo de Olinda, frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, nascido em També (1844) e falecido em Paris (1878), figura central da Questão Religiosa. Cumprindo determinações do Vaticano, Dom Vital interditou algumas irmandades do Recife que mantinham maçons em seus quadros. A questão com a maçonaria tomou vulto e, por desobediência às ordens do imperador, veio ele a ser preso em 2 de janeiro de 1874.
Condenado a quatro anos de trabalhos forçados pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 21 de setembro, é, porém, anistiado em 17 de setembro do ano seguinte. Seu mausoléu, projetado pelo arquiteto Giácomo Palumbo e esculpido por João Bereta de Carrara, foi inaugurado em 4 de julho de 1937.
Trata-se de uma visita obrigatória para todos os que visitam a cidade do Recife, visto tratar-se de um dos mais belos templos católicos do território nacional.
Arruando pelo Recife
Leonardo Dantas Silva
Nossa Senhora da Penha, a joia das nossas igrejas (maio/2016)
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