Clube das Pás comemora 132 anos de Tradição, Cultura e muito Romantis – Revista Algomais – a revista de Pernambuco
Notas do Sertão

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Geraldo Eugênio

Clube das Pás comemora 132 anos de Tradição, Cultura e muito Romantis

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No dia 19 de março de 2020, o Clube das Pás completou 132 anos de fundação. O clube de frevo mais antigo em funcionamento do Brasil chega ao seu 132° aniversário colecionando, histórias, tradições e penta campeão com vitórias seguidas no carnaval do Recife. Além de ser um reduto da música romântica da cidade do Recife. A casa já recebeu grandes nomes da música brasileira como Roberta Miranda, Arlindo Cruz, The Fevers, Reginaldo Rossi, Beto Barbosa, Trio Irakitan, Agnaldo Timóteo, Fernando Mendes, Gilliard, Adilson Ramos e muitos outros.

A comemoração vai ficar pra mais tarde, em virtude das medidas de precaução recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e outros órgãos competentes devido a pandemia de coronavírus (Covid-19), que assusta o mundo e deixa o país em quarentena na luta pelo combate da proliferação do vírus.

Clube Carnavalesco Misto das Pás teve suas atividades suspensas por um período de 15 dias a partir da última quarta-feira, 18 de março de 2020. A medida foi decidida entre sócios, beneméritos, diretoria e o presidente do Clube, Rinaldo Lima.

Da Abolição da escravatura ao bailes mais apaixonados da cidade

A história do Clube das Pás – o mais antigo de Pernambuco e um dos mais antigos do País – remonta à sua fundação no dia 19 de março de 1888, dois meses antes da Abolição da Escravatura no Brasil. O Recife fervia de alegria no carnaval, enquanto um navio cargueiro atracado no Porto do Recife precisava ser abastecido de carvão, às pressas, para seguir viagem. Como não tinha trabalhador interessado naquela tarefa, em plena folia, uma empresa encarregada do abastecimento do cargueiro, ofereceu pagamento dobrado aos estivadores. Daí, o comerciante português Antônio Rodrigues reuniu um grupo de homens dispostos a deixar a folia de lado e tratar de fazer o trabalho por uma remuneração maior.

Depois do serviço concluído e com muito dinheiro no bolso, o grupo de foliões, formado por Francisco Ricardo Borges, Manoel Ricardo Borges, João da Cruz Ferreira e João dos Santos, botou as pás de carvão nas costas e foi comemorar no Clube dos Caiadores. Enquanto brincavam o carnaval, eles tiveram a ideia de fundar um clube carnavalesco. Começaram a discutir os nomes: Clube das Pás de Carvão, Clube das Douradinhas e Anjos da Boa Vista. No final, foi escolhido Bloco das Pás de Carvão.

Nos primeiros anos, a agremiação funcionou na Boa Vista. Depois, para erguer a sede do Clube, o grupo de foliões comprou na Rua das Hortas, por seis mil cruzeiros, um terreno de propriedade do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória do Recife, Conceição de Olinda e Sagrado Coração de Jesus de Igarassu. Até que, muito tempo depois, a Associação Carnavalesca de Pernambuco comprou um terreno localizado na Rua Odorico Mendes, em Campo Grande, e o doou ao Clube das Pás. Meses depois, a senhora Maria do Carmo, que era sócia das Pás, arcou com as despesas de legalização do terreno junto à Prefeitura do Recife.

Àquela época, na Rua Odorico Mendes só havia casas muito simples. Assim, foi erguida uma palhoça, até ser construída uma sede maior em alvenaria. Depois de duas grandes reformas, o espaço ganhou um primeiro andar e recebeu o nome de Universidade do Frevo Reitor Josabat Emiliano, em homenagem a um de seus ex-presidentes, falecido no domingo, 21 de agosto de 2016, aos 98 anos.

O Bloco das Pás de Carvão desfilou nos carnavais de 1888, 1889 e 1890 e em março do último ano mudou o seu nome para Clube Carnavalesco Misto das Pás. A primeira notícia impressa sobre as Pás foi publicada no dia 4 de março de 1905, no jornal Diario de Pernambuco. A cada 13 de Maio – dia da Abolição da Escravatura – o clube realizava uma passeata pelo Recife, em homenagem ao pernambucano e abolicionista Joaquim Nabuco.

Alguns clubes carnavalescos criados na época eram oriundos de corporações de operários urbanos e impregnados de elementos presentes nas procissões religiosas, que foram proibidos pelas autoridades eclesiásticas. Alguns dos elementos transplantados se encontravam em cordões de lanceiros, mascarados, diabos, balizas, bobos, morcegos e damas de frente. No final do século XIX e início do XX, surgiram no Recife, além do Clube das Pás, os clubes de carnaval Vassourinhas (1889), Lenhadores (1889), Toureiros de Santo Antônio (1914), Pão Duro (1916) e Pavão Misterioso (1919), entre outros.

O Misto do nome das Pás é porque nesta agremiação podiam brincar homens e mulheres. O clube, que representa o mais tradicional espaço de gafieira de Pernambuco, possui o estandarte mais antigo, datado no início do século XX, possivelmente nos idos de 1910. O responsável pelo desenho foi Manoel de Matos, onde estavam evidenciadas folhas de acanto e outros elementos barrocos, o monograma do Clube, franjas e pingentes dourados, duas máscaras e uma boneca fabricada em porcelana francesa, trazida pelo antigo porta-estandarte, o alfaiate Manuel das Chagas. A confecção, que foi em veludo, acolchoado de algodão, forrado com cetim e bordado com fios de ouro, ficou a cargo das monjas beneditinas do Convento do Monte de Olinda.

O atual estandarte das Pás foi confeccionado por Maria do Monte, uma antiga aluna e bordadeira do mesmo convento de Olinda, em 1980. O desenho tem a figura de um anjo, representada por uma boneca trazida de Portugal. O estandarte traz, ainda, os dizeres “Amor e Ordem”, bordados sobre uma esfera azul que simboliza o globo terrestre. O estandarte pesa cerca de 60 Kg e é conduzido durante o desfile na avenida por três porta-estandartes, que se revezam durante a apresentação na segunda-feira de carnaval. Em julho de 2007, a Prefeitura do Recife patrocinou a ida de doze integrantes do Clube para duas apresentações do seu estandarte no Rio de Janeiro, uma em Niterói e outra na Quadra da Mangueira.

O Clube das Pás tem entre seus dirigentes uma personagem que faz parte da história do carnaval pernambucano. A vice-presidente Josefa Ribeiro da Silva, a Marly das Pás, figura no livro “Sem elas não haveria carnaval”, de autoria da pedagoga e produtora cultural Claudilene Silva e da historiadora Ester Monteiro. Lançado em 2011 pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, o livro traz depoimentos dessa carnavalesca de 50 anos que faz parte da agremiação há 35. “Aqui tenho minhas amizades, tenho um bocado de ‘filhos’. No Dia das Mães, ganho presentes de todo mundo. Isso é ter carinho. É melhor do que em certas famílias. Aqui já arrumei meu abrigo de velha”, revela ela, sempre sorridente. Há três décadas e meia, Marly está envolvida com os preparativos do carnaval do Clube.

Os bailes das Pás mantêm a tradição mais que secular de começar com a execução de três frevos. Afinal, o clube nasceu durante o carnaval. Depois é que vêm os ritmos mais dançantes, com destaque para as músicas latinas e os boleros.

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