O momento de pandemia e distanciamento social traz uma série de complicações para a vida em sociedade. Entre elas o medo de sair de casa mesmo em casos de verdadeira necessidade, únicos casos recomendados. Isso pode gerar alguns efeitos colaterais perigosos para a saúde, principalmente quando se trata dos pacientes com problemas no coração que precisam ser acompanhados continuamente por seus cardiologistas. Por isso, a Sociedade Brasileira de Cardiologia em Pernambuco (SBC-PE), alerta sobre a necessidade desses pacientes entrarem em contato com seus médicos e verificarem as formas mais adequadas e seguras para serem atendidos mesmo durante a pandemia da covid-19, não colocando em risco a sua saúde e nem a dos profissionais de saúde.
De acordo com o site angioplasty.org, o corpo de bombeiros da cidade de Nova Yorque, nos Estado Unidos, registrou um chamado record, oito vezes maior que em todo o ano de 2019, para atendimento de emergência com relatos de infartos. Foram 1990 ligações, das quais 1429 resultaram em mortes por problemas cardíacos – somente de 30 de março a 5 de abril. Para a SBC-PE, o aumento ocorreu pela quebra na continuidade do acompanhamento cardiológico aos cardiopatas que, por serem grupo de risco recebem a recomendação de não sair de casa. “É incontestável o benefício do distanciamento social, mas como tem sido observado o aumento na mortalidade de doentes cardiopatas em decorrência dessa forma de isolamento, há de se tomar providências para se estabelecer meios de orientar melhor essa população de doentes para não gerarmos um efeito colateral altamente nocivo como a Covid-19”, afirma Fernando Moraes, presidente da SBC-PE e cirurgião cardiovasculas.
“Em Recife se tem observado uma redução significativa dos atendimentos cardiológicos, seja nos consultórios particulares ou na rede pública. O mesmo se tem observado nas emergências cardiológicas públicas e privadas, estimando-se que desde o início de março houve uma redução de mais de 60% nos atendimentos emergenciais”, afirma Moraes. Outra questão a se considerar são as evidências científicas sobre o aumento de até 6 vezes do risco de infarto causado por infecções respiratórias em geral e síndromes gripais (NEJM 2018;378:345-53). Ponto que se soma à necessidade de cardiologistas e pacientes reverem a questão do isolamento e encontrarem formas seguras e adequadas para garantir a saúde, principalmente quando, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são a maior causa de morte no mundo (30%).
Protocolo de atendimento a cardiopatas – SBC / PROCAPE
Diante deste quadro e tendo as cardiopatias como uma das principais causas de morte para a COVID-19 em Pernambuco (atrás apenas de hipertensão e diabetes), membros da SBC-PE que atuam no Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (PROCAPE) desenvolveram um protocolo específico de atendimento para este grupo de pacientes. O documento aponta os procedimentos de qualidade e de segurança que os médicos devem seguir para atender pessoas com problemas do coração que não podem ficar sem o tratamento e também para atender cardiopatas com sintomas da COVID-19. O material começa a ser utilizado no PROCAPE e fica aberto para que outras instituições repliquem as recomendações. O protocolo inicial, criado à luz de evidências científicas, deverá ser atualizado constantemente a fim de se adequar às melhores práticas clínicas e novas descobertas científicas.
De acordo com Carlos Eduardo Montenegro, que é membro da SBC-PE e médico cardiologista do PROCAPE, o protocolo é necessário porque neste período do ano já havia um aumento de casos infecciosos virais (influenza, H1N1, dengue, entre outras) e, agora, com a pandemia de COVID-19, tende a ser exacerbado, levando principalmente a mais casos de miocardite (inflamação do músculo do coração, chamado miocárdio) e também de infartos. “Nesta época de viroses, naturalmente temos um aumento de ocorrências cardiológicas, já que os vírus podem provocar a miocardite. Não é diferente com o coronavírus, que se manifesta também no coração dos pacientes, principalmente nos pacientes de risco”, explica. Sendo assim, o protocolo define procedimentos médicos de segurança, atenção e qualidade de serviço para o atendimento de cardiopatas que venham a apresentar os sintomas da COVID-19, mas também para aqueles pacientes que não podem ficar sem o tratamento de alguma doença do coração.