A disseminação da Covid-19 não vai abalar a estimativa de crescimento do Porto Digital para os próximos anos, nem a internacionalização de suas empresas. É o que avalia o professor de Economia e do curso de Sistemas de Informação do Centro de Informática da UFPE José Carlos Cavalcanti. Diante de tantos gargalos nos serviços básicos destinados à população, que se tornaram ainda mais evidentes nesta pandemia, o economista ressalta que a tecnologia da informação e comunicação (TIC) pode dar a essas questões respostas rápidas, baratas e eficientes. Por isso, acredita que ecossistemas tecnológicos como o do Recife terão um papel fundamental no cotidiano das pessoas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Cavalcanti, que também é diretor da empresa Creativante, analisa ainda como a economia passou por uma profunda transformação digital, da qual poucos se deram conta.
O Porto Digital tinha uma perspectiva de dobrar de tamanho em alguns anos. A pandemia atrapalha muito esses planos?
O Porto Digital ainda tem essa perspectiva. Creio, por um lado, que a pandemia da Covid-19 acelerou, aos olhos da sociedade, a percepção do quanto as tecnologias de informação e comunicação (TICs) são relevantes para ela e para a economia. Não faltam exemplos de como isso tem se manifestado, principalmente por causa do forçado isolamento/distanciamento social. Desde as plataformas digitais de conversações/reuniões que se tornaram mais visíveis (Zoom, Google Meet, Teams, Webex, dentre tantas outras, tão úteis tanto para os negócios quanto para a educação online), passando pelas ferramentas de contabilização de indicadores de saúde da população, bem como de rastreamento social, pelo uso mais intensivo de compras eletrônicas, até chegar às empresas de delivery. Não podemos esquecer também as novas formas rápidas de envio de auxílio financeiro às populações menos protegidas.
Por outro lado, ficamos mais conscientes dos grandes gargalos que temos na oferta dos serviços mais básicos a toda a sociedade (serviços
de saúde, educação, proteção social, segurança pública, comunicações acessíveis, confiáveis e baratas), e, marcadamente, àqueles menos favorecidos. Estamos mais conscientes da crucial importância da saúde nas nossas vidas, e de como estamos vulneráveis sem as vacinas, os medicamentos, os equipamentos médicos mais elementares, e sem a infraestrutura de saúde para o enfrentamento de epidemias como esta que estamos vivenciando.
Como as respostas que as TICs dão a essas questões são rápidas, baratas e eficientes, é de se esperar que clusters tecnológicos como o do Recife venham a ter um papel cada vez mais ativo no cotidiano das pessoas. E um dos produtos mais valiosos que podem ser colocados à disposição da sociedade e da economia é a oferta de capital humano altamente especializado gerado no seio desses clusters.
Numa entrevista que o senhor concedeu a Algomais, no ano passado, disse que o Porto Digital estava num momento de transição, passando do status de um ecossistema empreendedor para se tornar um hub internacional de inovação. A pandemia afetou essa tendência?
Todos nós do planeta estamos sendo afetados por essa pandemia, que é, ao mesmo tempo, um choque de oferta e de demanda. O fato de já termos aqui, há algum tempo, na região do Porto Digital, empresas globais como a Motorola, Samsung, Microsoft, Accenture e tantas outras, já era um indicativo da importância da inovação do ecossistema local para o mundo.
Vinte anos depois da fundação do Porto Digital, assistimos à migração das jovens empresas criadas aqui no nosso ambiente para outros países, como é bem representativo o caso da nossa In Loco, hoje com filial nos EUA. Várias outras empresas (existentes antes do Porto Digital) já haviam feito esse caminho; mas agora percebemos uma nova geração de empreendedores, nascidos e criados aqui, que estão expandindo suas atividades fora do nosso território. A pandemia apenas “abalou” essa tendência, mas não está impedindo que ela se mantenha.
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Assine e leia a entrevista completa da Edição 171.1 da Revista Algomais. www.assine.algomais.com