O raio-x das costureiras do agreste pernambucano – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

O raio-x das costureiras do agreste pernambucano

O agreste pernambucano é reconhecido como um dos polos têxtil do Brasil, mas sob os grandes números de produção existe uma realidade: mulheres que buscam o sustento e qualidade de vida para suas famílias em uma cadeia produtiva que apresenta muitas relações de trabalho desiguais e precarizadas. O Diagnóstico do Polo Têxtil do Agreste Pernambucano, elaborado pelo programa Tecendo Sonhos, da Aliança Empreendedora, constatou que em sua maioria são mulheres negras, com filhos, que trabalham em casa por conta própria com oficinas de costura, o que faz com que arquem com alguns custos como manutenção e conta de luz. Além disso, as jornadas somam, em média, de 10 a 15 horas por dia, que precisam ser equilibradas com a gestão da casa.

Segundo o diagnóstico do Tecendo Sonhos, essas mulheres têm interesse em se formalizar, se cadastrando como Microempreendedor Individual (MEI). Mas muitas vezes falta tempo, recurso e até mesmo conhecimento sobre o tema. Para elas, saber mais de assuntos ligados ao negócio – como gestão financeira, separação das finanças do negócio, precificação, negociação e vendas, comportamento empreendedor, trabalho em rede e cooperativismo – ajudaria no dia a dia.

Cerca de 70% das costureiras autônomas ganhavam até um salário mínimo por mês, sendo que 38% recebia apenas um quarto deste montante, cerca de 250 reais. Os acordos são orais, logo não existe contrato nem recibo pela entrega das peças, além dos períodos de sazonalidade da produção, o que dificulta a formação de uma reserva financeira ou planejamento futuro. Essa situação ficou ainda mais grave com a pandemia da Covid-19, com o impacto econômico no setor têxtil muitas dessas famílias ficaram sem renda.

Capacitação

Para melhorar a realidade da região, o Tecendo Sonhos, com o apoio do Instituto C&A, e em parceria com a Secretaria de Políticas para Mulheres de Caruaru, realizou capacitação com mulheres empreendedoras do setor têxtil na cidade entre os meses de maio e junho. Com o início da pandemia do Covid-19, a capacitação gratuita, que seria presencial, foi adaptada completamente para o online.

“Com o diagnóstico em mãos, o projeto identificou empreendedoras locais que foram fundamentais para o legado do Tecendo Sonhos na região, com o repasse e troca de conhecimento”, afirma Cristina Filizzola, coordenadora do programa na Aliança Empreendedora, que desde 2014 promove relações de trabalho dignas na cadeia têxtil da cidade de São Paulo.

Ao todo 57 mulheres participaram do curso de empreendedorismo, que foi realizado via WhatsApp. Além disso, dez encontros on-line foram realizados pelo YouTube. A capacitação contou com quatro temas principais: Valorização do trabalho de artesãs e costureiras, empoderamento feminino, vendas online e finanças na crise.

No fim do curso quatro mulheres foram selecionadas pela turma como Empreendedoras Destaque. Cada uma delas recebeu uma assessoria individual em comunicação, além de investimento com a produção de materiais de divulgação para seus negócios.

Um treinamento também foi realizado com organizações e lideranças para que possam futuramente dar continuidade no apoio local com capacitações em empreendedorismo. A equipe da Aliança Empreendedora formou 46 pessoas para serem multiplicadores da metodologia de Cineclube para promover o empreendedorismo na cadeia da moda de forma digna em Caruru e Toritama.

“Nós da Aliança acreditamos que todos podem empreender com dignidade, promovendo um trabalho descente. Com o Tecendo Sonhos, esperamos que o conhecimento permaneça como um legado para as organizações e lideranças locais e que as mulheres de Caruaru possam ter mais autonomia financeira e prosperar com os seus negócios”, comenta Filizzola.

Histórias de superação

“Nós mulheres empreendedoras as vezes nos sentimos inseguras porque é muita coisa, muita informação. E às vezes levamos prejuízo porque não temos o controle”, afirma a costureira e artesã Francismeire Silva Melo, que tem uma facção em casa, onde costura e monta roupas que vem de uma fábrica.

Para ela, as mulheres empreendedoras precisam de ajuda com a administração do próprio negócio, que é muito complicada. “Não é fácil para você sair de emprego para administrar seu próprio trabalho, a gente não foi treinada para isso não. Eu nunca imaginava, que quando eu fui trabalhar para mim mesma, que iria ter o tempo fraco, que teria parada. Eu não me preveni para aqueles períodos. E fui quebrando a cara”, afirma.

Francismeire afirma que a vivência proporcionada pelo projeto Tecendo Sonhos foi única. “A troca de experiências foi maravilhosa. Interagi com as meninas e elas me mostraram como que eu consigo interagir com possíveis clientes de modo online. Além disso vimos que podemos ser mais fortes trabalhando juntas, unidas”.

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