Paulo Dalla Nora Macêdo: “Os jovens deveriam ir para a política” – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Paulo Dalla Nora Macêdo: “Os jovens deveriam ir para a política”

Rafael Dantas

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Com alguns dados em mãos da recente pesquisa da änima e da On The Go sobre a Geração Z, o repórter Rafael Dantas entrevistou Paulo Dalla Nora Macêdo, Co-Fundador da Associação Poder do Voto, Conselheiro do Projeto 72horas e membro do Política Viva. O estudo do comportamento de brasileiros de 15 a 18 anos diante da pandemia foi o tema da matéria de capa da Algomais na edição 177.2. Nessa entrevista, Dalla Nora analisa a desilução desses adolescentes e jovens da política do País e a relação entre o uso das redes sociais e a formação desse público.

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Apenas 7% dos jovens acham que a sua contribuição para um mundo melhor se dará através da escolha de melhores governantes. Esse indicador, juntamente com a sua observação do comportamento político dos jovens, aponta para um descrédito do atual modelo de representação política ou por uma falta de engajamento dos jovens mesmo nas causas mais coletivas?

Por trás dessa insatisfação tem o grande elefante na sala: de fato os jovens de hoje dificilmente terão um vida melhor que os seus pais, na média do mundo, não por conta da política mas por conta do esgotamento do sistema econômico em crescer produtividade ao substituir mão de obra por automação. A McKinsey, a consultoria mais respeitada do mundo, prevê índices de desemprego estruturais acima de 30% para 2040.

Foto: Agência Brasil, Fernando Brazão

Essa geração é a primeira do pós guerra que deve ter menos renda, na média, que seus pais.

A grande ironia é que só a política, que os jovens estão desprezando, pode criar soluções para isso através de políticas públicas.

Além da política tradicional, que outras formas os jovens tem participado da vida política do País?

Os jovens estão se aproximando de movimentos sociais, o que é muito bom, mas temos que entender que eles não mexem a agulha da desigualdade e outros dos grandes problemas no Brasil.

Idealmente os jovens deveriam entrar nesses movimentos e irem para a política.

Muitos deles talvez tenham conflitos com a política porque em um movimento social você pode ficar 100% puro, na política não existe isso, é a arte de comprometimento e abrir mão.

Política de cancelamento teria levado Hitler a ganhar a guerra pois Churchill não se sentaria com Stalin, por exemplo.

74% consideram que os governantes têm responsabilidade em contribuir com a melhoria do mundo. Mas para 21% dos jovens, eles são pouco responsáveis, a maior taxa entre os agentes pesquisados. Isso pode indicar uma descrença com a classe política ?

É um número preocupante que aponta para um descrédito no sistema da democracia representativa, onde escolhemos os representantes e eles votam e implementam as políticas. Esse sistema de fato precisa se aprimorar, envolver melhor os cidadãos, mas a tentação de o substituir por uma democracia direta ou pela irrelevância da política, em ambos os casos o caminho de entrada para autocracias, e esse é o pior caminho.

Com a pandemia, aumentou muito o tempo ligado as redes sociais. Qual o impacto disso na atividade política e até no acesso de informações desses jovens e adolescentes?

É um impacto imenso, um desastre anunciado. E é inútil o debate de como “aprender” usar as redes sociais em “favor” do debate construtivo, são inúteis também as constatações, óbvias por sinal, de que as forças democráticas não aprenderam a usar esses mecanismos e que o debate tem de chamar atenção para os “temas que interessam a população”. Salvo um cenário de extrema depressão e perda de renda, como a que parecia que iríamos entrar antes do auxílio emergencial e onde a atenção para coisas práticas pode aumentar muito como de fato deu sinais, isso é inútil no formato de funcionamento das redes sociais hoje. O algoritmo das redes é pensado para ampliar o ódio, o bizarro e o divisivo.

Quem fala em “liberdade de expressão” não tem a mínima ideia de como as redes funcionam. É matemática pura. Os assuntos não estão competindo por espaço e atenção todos na mesma condição.

Só uma regulação global. que precisa ser comandada pelo Presidente Americano e pelo Congresso dos EUA, pode nos tirar desse buraco negro.

Há 30 anos atrás você tinha os profetas do apocalipse gritando em caixotes nos centros das cidades, isso atraia algumas dezenas de malucos. Agora eles gritam para uma audiência global com algoritmos que impulsionam em progressão geométrica as suas palavras.

Por isso a eleição de Biden pode ter sido o fato mais importante das últimas décadas.

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*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e colunista da Gente & Negócios (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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