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Amor, ordem e progresso (por Francisco Cunha)

A uguste Comte (Montpellier, 1798 – Paris, 1857) foi um filósofo francês que criou o Positivismo, a filosofia que influenciou os republicanos que proclamaram a República no Brasil em 1889. A influência foi tanta que lançaram mão da frase de Comte para escrever a faixa da bandeira brasileira: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.

Tudo bem, mas por que esqueceram o amor? Por que acharam que essa seria uma questão menor? Que apenas a ordem e o progresso dariam conta dos enormes desafios que se colocavam então, e continuam se colocando hoje, para esse país tão grande quanto injusto?

Acredito que se pensavam assim, estavam tremendamente enganados. Que o diga Carlos Drummond de Andrade:

Pois de amor
andamos todos precisados,
em dose tal que nos alegre,
nos reumanize, nos corrija,
nos dê paciência e esperança,
força, capacidade de entender,
perdoar, ir em frente.

E olhem que Drummond nos deixou em 1987. Se tivesse vivenciado os perrengues dos últimos anos, com certeza teria sido mais enfático ainda. Por uma razão muito simples: como pode um país ir para a frente, como precisamos, rachado ao meio? Com uma parte considerável de um dos lados odiando o outro e vice-versa?

E, no momento atual, sem nem a possibilidade de ganhar a Copa do Mundo para ajudar a distensionar, a coisa tende a seguir pressionada por uma infinidade de equívocos…

Diante disto, minha proposta objetiva é a seguinte: (1) colocar o amor na faixa da bandeira; (2) desarmar os espíritos para podermos seguir em frente e colocar nos trilhos um país com enormes dificuldades de desenvolvimento e de sustentabilidade ambiental, social e fiscal. Com 33 milhões de pessoas, segundo as estatísticas oficiais, em extrema insegurança alimentar, vale dizer, passando fome, muitas delas em situação de rua, empurradas pela pandemia que deixou um rastro de 700 mil mortes e milhões de sequelados.

Em relação a essa questão crítica do desarmamento dos espíritos, um parêntese: a escolha de José Múcio Monteiro para ministro da Defesa foi um gol de placa do presidente eleito. Um especialista em desarmamento dos espíritos para tratar de um dos problemas mais sérios da atualidade: o envolvimento dos militares na política.

Pois bem, vamos lá! Amor na faixa e desarmamento dos espíritos para podermos seguir em frente. E não há momento mais propício para isto do que o final do ano. Até 2023!

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