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Artesanato conquista público descolado

Produtos artesanais têm conquistado um público que, cansado da produção industrial em massa, busca estilo e identidade para se diferenciar, adquirindo peças feitas à mão. A comercialização é realizada em lojas próprias, coletivas ou pela internet, num modelo de negócio que visa oferecer oportunidades para os artesãos.

A Opa Design, por exemplo, é uma loja colaborativa, que oferece cerca de 40 produtos, entre vestuário, bijuteria, acessórios de decoração, criados por designers pernambucanos. Localizada no Shopping Plaza, foi idealizada por Chris Cysneiros, artista plástica e designer, Iara Tenório, artesã ceramista e, Fátima Bastos, curadora e responsável pela parte comercial da loja.

“A Opa surge como forma de dar visibilidade a trabalhos artesanais e autorais produzidos em Pernambuco”, destaca Cysneiros. Na parceria com os artistas, uma porcentagem das vendas é destinada à loja.

Vasos da Opa. Foto: Divulgação

A cerca de 580 km do Recife, em Serrita, outro projeto coletivo bem-sucedido é desenvolvido pela Fundação Padre João Câncio. Criada em 2001, com o propósito de levar adiante o legado da Missa do Vaqueiro – idealizada por João Câncio e Luiz Gonzaga – a organização não governamental passou também a estimular o artesanato na região produzido com couro.

“A proposta é incentivar a produção dos objetos de uso tradicional do boiadeiro e a criação de um produto contemporâneo, com identidade cultural e viabilidade comercial”, explica Helena Câncio, mulher de João Câncio e presidente da fundação. A ONG já formou mais de 60 artesãos. “Desenvolvemos um trabalho social com eles por meio de oficinas e capacitações”, explica.

Das mãos dos artesãos surge uma variedade de peças, desde pequenos suvenires até chapéus, tapetes ou luminárias. Os preços variam de R$ 35 a R$ 2 mil. “Quem adquire o artesanato de Serrita compra obras de artes e história mas, principalmente, investe na autossustentação da comunidade produtora”, ressalta Helena. Os produtos são vendidos para Pernambuco, mas também para outros Estados e, de forma esporádica, exportados para o exterior.

O couro também é a matéria-prima utilizada pela Vitalina, que comercializa produtos como bolsas, sandálias e móveis. Foi criada em 2014 de forma despretensiosa pela publicitária Carol Dreyer e pelo fotógrafo Rodrigo Cavalcanti, que decidiram vender alguns de seus sapatos pessoais em um grupo de trocas e vendas na internet. O sucesso foi tanto que passaram a comercializar sandálias, além de outros acessórios produzidos por artesãos do Sertão. Com o crescimento da demanda, os sócios montaram uma loja física em Casa Amarela, no Recife, onde são vendidas peças confeccionadas em cidades, como Cachoeirinha, Serra Talhada, Monteiro e Bezerros.

Assim como a Fundação Padre Câncio, a Vitalina permite ao artesão desenvolver seu talento, gerar renda e ainda manter a tradição cultural dessas localidades. “Somos movidos pelo desejo de fomentar a cultura popular e proporcionar aos artesãos um alcance maior no Brasil e fora dele, aliada a uma oportunidade de negócio visualizada por nós”, ressalta Carol.

CRISE
Apesar dos bons resultados da parceria entre artesãos e lojistas, eles também sofreram os efeitos da crise econômica. “O interesse do consumidor em adquirir é o mesmo, mas a compra é ponderada na hora de efetuá-la. Existe retorno financeiro, mas ainda não é satisfatório. Os mestres artesãos, para complemente de suas rendas, ainda buscam outras possibilidades de trabalho”, lamenta Helena.

Para os sócios da Vitalina, a saída tem sido participar de eventos e fazer parcerias. “Produzimos em média 70 pares por semana (que envolvem encomendas e produtos para o estoque). As vendas no ano passado foram bem bacanas, participamos de várias feiras, mudamos de endereço e com o espaço físico as vendas aumentaram 40%. Neste mês a Vitalina abriu uma loja temporária no shopping RioMar. “O objetivo é divulgar a marca e trazer o público da Zona Sul para conhecer a loja de Casa Amarela”, explica Carol.

Rodrigo e Carol são sócios da Vitalina. Foto: Tom Cabral

A Opa, porém, foi criada neste ano, em plena da crise e tem conseguido comercializar 400 peças por mês. “Tivemos uma aceitação muito grande e, em novembro, inauguramos mais uma loja, a Capitolina, no Espinheiro”, comemora Chris.
Existe, na verdade, um mercado para a produção artesanal, formado por um público que valoriza o trabalho manual. “É uma produção mais personalizada e as pessoas buscam cada vez mais informações sobre o que estão consumindo e a forma como os objetos são produzidos. Isso abre portas para corajosos empreendedores e produtores independentes criarem o próprio negócio”, avalia Carol.

A Fenearte, segundo Helena, tem a sua parcela de contribuição. “Depois que a feira surgiu houve um crescimento tanto de pessoas interessadas em consumir, quanto de artesãos que perceberam a possibilidade de empreender nesse meio”, avalia. Quem também tem contribuído são os designers, que produzem e assessoram os artesãos. “Tem-se investido mais na formação desse profissional e com isso, o resultado do trabalho oferece um melhor acabamento e um produto mais criativo”, justifica Chris.

O trabalho do laboratório O Imaginário ilustra bem essa contribuição. Surgida em 2000 como um projeto de pesquisa e extensão da UFPE, a instituição ajuda artesãos a serem mais sustentáveis, levando em conta o design associado à produção, mas também a comunicação, a gestão e o mercado. Sem, contudo, perder o espírito da tradição artesanal.

No Cabo de Santo Agostinho, por exemplo, o laboratório, a pedido do Sebrae e da prefeitura local, ajudou os artesãos de cerâmica que desejam utilizar a técnica que proporciona um efeito de vitrificação no barro. Mas eles foram além do design. “Depois que entendemos quais eram as angústias daquela comunidade, começamos um trabalho de orientação para que pudessem aperfeiçoar os produtos que ofereciam, sem interferir na sua essência. Oferecemos oficinas que atendessem a necessidade de organizar o espaço, definir o preço justo da peça, do lucro, o que deveria ser investido em matéria-prima e destinado ao próprio artesão”, explica a coordenadora de O Imaginário, Ana Maria Andrade.

Um ano após o fim desse trabalho, as vendas dos artesãos na Fenearte aumentaram 185%. “De lá para cá, o Centro de Artesanato Arquiteto Wilson Campos Junior, espaço onde as peças são produzidas e comercializadas, manteve o volume da comercialização”, comemora Ana.

Serviço: Opa Design: Shopping Plaza, piso 3 – LJ. 140/141, tel.: (81) 99132-3964/99775-8754/ 99836-0024. Fundação João Câncio: Av. Agamenon Magalhães, 525, Nossa Sra Graças, Salgueiro, tel.: (87) 99995 5158. Vitalina Rua Olímpio Tavares, 57, Casa Amarela, Recife, tel: (81) 99540-1516. O Imaginário: Rua Benfica, 157 – Madalena, Recife, tel.: (81) 3226-0423.

*Por Paulo Ricardo Mendes, repórter da Algomais (algomais@algomais.com)

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