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Curta documental conta história de antiga moradora da Mata do Engenho Uchôa

Força e poesia. Resistência e sensibilidade. Palavras que definem bem o curta-metragem, Enraizada, de Tiago Delácio. O documentário, realizado pela Partilha Filmes e Asaga Audiovisual e distribuído pela Tarrafa Produções,  acompanha Dona Olívia, uma antiga moradora da Mata do Engenho Uchôa e sua estreita relação com o lugar. Força e resistência retratados nos pés fincados que teimam em não abandonar a mata. Poesia e sensibilidade refletidos em antigos enfeites de Natal pendurados numa árvore ou nos sons da natureza que servem de trilha para o bailar de galhos e folhas. Enraizada está na lista de selecionados para a 12ª edição do Festival de Cinema de Triunfo, que acontece entre os dias 05 e 10 de agosto. Em entrevista à Revista Algomais, o diretor Tiago Delácio conta detalhes do projeto e reflete sobre o atual cenário do audiovisual brasileiro.     Como surgiu a ideia para o curta? A ideia surgiu de uma pesquisa sobre a mata do Engenho Uchôa. Participamos de um edital do Governo do Estado e CPRH através do qual vários realizadores fizeram filmes institucionais sobre as reservas de proteção ambiental. O Estado de Pernambuco tem várias, uma delas é ali perto do aeroporto, na Mata Uchôa, no sentido da BR-101. É uma mata extremamente degradada que vem enfrentando ao longa da sua história todo um processo de desmatamento, invasão e queimada. Existe um movimento muito forte chamado Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa, que envolve sindicatos, professores, escolas e atividades culturais. Graças a essa mobilização eles têm um trabalho de preservação e conscientização daquele espaço, uma mata urbana dentro do centro urbano, extremamente valorizada com vários interesses econômicos e sociais diante disso. Realizamos em 2016 um documentário chamado Uchôa, Mata Pulsante e nas nossas entrevistas com os moradores nos apresentaram Dona Olívia, pessoa extraordinária que tem uma vida linda. Morou na sua infância dentro da Mata Uchôa quando o lugar ainda era habitável. Contam pra gente que lá existiam fazendas, criação de gado e plantações. Quando se instituiu a reserva ambiental e todo mundo teve que sair, ela continuou habitando, agora de forma mais precária. Morou dentro da mata por mais de 30 anos e hoje ainda mantém essa relação diária com o local. Não mora mais dentro da mata, mas ainda vai pra lá todos os dias. A gente quis contar essa história sem transformar Dona Olívia num estereótipo, mas mostrar que é uma pessoa que tem uma vida diferente, simples, mas feliz, que tem a capacidade quase orgânica que sai do seu próprio corpo, essa necessidade da preservação e da relação do homem com a natureza.   Como foi a produção do curta? Quais os maiores desafios enfrentados na realização do projeto? A produção do curta foi feita por amigos. Eu dirigi, Rafael Buda produziu, Tábata trabalhou como assistente de direção, Bruno Cabús fez fotografia. Uma equipe formada por amigos e que teve como grande desafio traduzir em poucos minutos a trajetória de uma pessoa que construiu sua história a partir do silêncio, da relação com a mata, com os animais e com ela mesma. Dona Olívia é um marco para nós e ficamos muito felizes em traduzir um pouco da sua história e fazer com que esse exemplo sirva de lição para a preservação dessas reservas florestais. Qual lição a história de Dona Olívia trouxe para você? A história de Olívia nos trouxe muitos ensinamentos, entre eles, como se portar diante da natureza no século XXI, com o urbano crescendo tanto ao nosso redor. Como se relacionar de forma proativa com o meio ambiente e mudar nossos hábitos em relação a ele. Dona Olívia nos ensinou além da questão ambiental, algo crucial atualmente que é a questão da moradia. Naquele espaço ocorreram diversas tentativas de ocupação, tanto de alta, quanto de baixa renda. A gente pensa às vezes que as ocupações são feitas apenas por pessoas de pouco poder aquisitivo, mas não, uma série de empreendimentos tentaram destruir aquela reserva. Os moradores do Movimento Mata Uchôa fizeram abaixo assinado e outras mobilizações, participaram de toda uma trajetória de luta nos últimos quarenta anos para defender esse espaço. E Olívia faz parte dessa luta. Dona Olívia é exemplo de resistência, palavra, inclusive, necessária em tempos atuais. Qual tua visão em relação ao futuro do cinema brasileiro diante das mudanças que têm mexido com o audiovisual nos últimos meses? Essa relação entre Dona Olívia, o curta Enraizada e o cinema atual e como estão acontecendo as políticas públicas, pra mim, traduz-se numa simples palavra: resiliência. O cinema nacional teve essa capacidade ao longo da sua história de ser resiliente. De se segurar em suas raízes quando a terra está mais seca e os dias se apresentam mais difíceis. O cinema brasileiro passa por um momento difícil, as políticas públicas ainda não se tornaram de fato políticas de estado. O atual governo não vê de fato o cinema como ferramenta de formação, uma ferramenta de divulgação da imagem do Brasil, pelo contrário, vê o cinema nacional como inimigo. Nosso audiovisual já passou por outros momentos, outras fases semelhantes a essa e ainda assim lutou, resistiu e sobreviveu. Com sua capacidade e criatividade foi resiliente para continuar seguindo. Já estamos sentindo os efeitos da política desastrosa atual com o fim do Ministério da Cultura, com a repressão à ANCINE e o fim do financiamento. Isso vai rebater não só na produção, mas também em quem está nessa ecologia audiovisual: o estudante de cinema, o produtor que trabalha na ponta, os atores, os roteiristas. Entraremos no ciclo mais difícil devido à falta de visão política do atual governo, mas o cinema resiste, ele vive e continua firme e forte igual Dona Olívia.

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Crítica| I Am Mother (Netflix)

Ao seguir fielmente a proposta de encher o catálogo com produções originais, a Netflix corre o risco, muitas vezes, de lançar algumas bombas ao nível de The Cloverfield Paradox e Ridiculous 6. Erra, mas também acerta, basta ver o burburinho provocado pelo filme Bird Box  e, mais recente, o sucesso da produção mexicana ganhadora do Oscar de melhor filme estrangeiro, Roma, dirigida por Alfonso Cuarón. E parece que o serviço de streaming acertou mais uma: a ficção científica I Am Mother, que entrou no catálogo na sexta (7), já alcançou excelente pontuação no Rotten Tomatoes, site agregador de críticas de cinema e televisão. Está hoje com uma aprovação de 90%, de um total de 51 avaliações.     Em I Am Mother acompanhamos a história de um robô chamado Mãe que vive em um bunker com uma humana gerada em laboratório tratada por ela simplesmente por Filha. A humanidade fora praticamente extinta e Mãe tem como missão repovoar a Terra. Para isso armazena em seu laboratório milhares de embriões. Até que surge uma improvável visitante e os planos da mãe robótica começam a ser questionados e ameaçados. Nada no longa soa gratuito: desde a trilha sonora, utilizada na dose certa, sem exagero, até os momentos de silêncio. A bela fotografia de Steve Annis aliada aos bons efeitos especiais completam a atmosfera sombria e futurista do filme. O cineasta  australiano Grant Sputore debuta na direção e esbanja personalidade e muita segurança para um primeiro trabalho. I Am Mother tem elenco pequeno, mas muito talentoso. A atriz australiana Rose Byrne, conhecida por sua atuação nos filmes Vizinhos e Missão Madrinha de Casamento, dá voz à Mãe. Hilary Swank, ganhadora do Oscar de melhor atriz por Menina de Ouro, interpreta a estranha visitante. Por fim, a jovem atriz e cantora (isso mesmo!) dinamarquesa Clara Rugaard-Larsen encarna a Filha. I Am Mother foi exibido este ano no Festival de Sundence e arrancou muitos elogios da crítica norte-americana. Em 2016, o roteiro do filme ganhou destaque na famosa The Blacklist, publicação anual que reúne os melhores roteiros escritos, mas que, até o ano de divulgação da lista, não foram produzidos.  

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O futuro é pra quem tem capacidade de aprender

Oscar Wilde sonhava com o dia em que as máquinas fizessem todo trabalho braçal realizado pelos humanos. Estamos muito perto disso, segundo Silvio Meira, um dos idealizadores do Porto Digital e professor extraordinário da Cesar School. Hoje colheitadeiras e caminhões autônomos já cortam a cana-de-açúcar e a transportam para a moenda sem a presença de trabalhadores. Mas, a tecnologia não foi capaz de liberar todos os homens para o desenvolvimento intelectual, como torcia o escritor irlandês. Nesta entrevista a Cláudia Santos e Rafael Dantas, Meira prevê um aumento do desemprego ainda maior no País, caso não haja políticas e estratégias para inserirem o País entre as nações “provedoras de soluções para o mundo”. Ele também defende uma mudança profunda no sistema educacional do País. Analistas dizem que após a retomada da economia, grande parte dos desempregados não será absorvida pelo mercado. Você concorda? Sim e acho que a situação vai piorar muito por falta de estratégia, de visão de mundo e de políticas públicas. Temos um grande desafio histórico e contínuo que é a transformação do trabalho. O trabalho se transforma o tempo todo, se não fosse assim, estaríamos todos no campo. A agricultura aconteceu nos últimos 15 mil anos. Nos EUA, em 1850, havia 60% da força de trabalho atuando no campo. Em 2015, este percentual é de 3%, mas ao mesmo tempo, foram criados empregos nos setores de educação, serviços, de governo, financeiro, saúde e varejo. Nos anos 60 e 70, as fábricas contratavam grande volume do capital humano, que agora foi reduzido. Primeiro porque foram introduzidos novos parâmetros de qualidade do trabalho. Se você analisar uma fábrica de automóvel nos anos 50 ou 60, verá um esquadrão de pessoas dentro de cabines de pintura que eram quentes, com poluentes agressivos que encurtavam a vida de quem trabalhava nelas. À medida em que houve a automatização das fábricas, as pessoas foram retiradas dessas posições, que eram trabalhos repetitivos ou insalubres ou os dois, ou eram atividades nas quais humanos não conseguiam fazer com o mesmo grau de precisão repetidamente durante muito tempo. Esse processo de introdução de tecnologias da informação e comunicação e controle na sociedade vem acontecendo desde a década de 50 e chegou agora a um patamar de performance em que se tornou prático, econômico e viável, basicamente qualquer pessoa montar um negócio eletrônico em quase qualquer setor da economia. Qual a consequência disso? O trabalho que você estava fazendo ou será feito de uma forma radicalmente diferente ou vai ser feito num outro lugar, ou vai ser executado por um sistema de informação. A McKinsey (consultoria empresarial americana) fez uma estimativa que aponta que o Brasil terá uma força de trabalho, em 2030, de 110 milhões de pessoas. Temos uma taxa de desemprego da ordem de 15% hoje. A estimativa é que 14% da força de trabalho do Brasil vai ser deslocada (isto é desempregada) nos próximos 15 anos, ou seja, além dos 15% que estão procurando emprego, outros 14% terão o seu trabalho deslocado. Situação pior enfrentam países sofisticados economicamente. A Alemanha terá 25% da força de trabalho deslocada, porque eles investem mais rapidamente, têm uma indústria globalmente mais competitiva que precisa continuar competitiva. Na China, que terá 17% da força de trabalho deslocada, as prefeituras de cidades industriais estão investindo na robotização das fábricas para continuarem competitivas globalmente e os empregos mais sofisticados ficarem naquela cidade. O que você precisa proteger não é o trabalho nem o emprego, são as pessoas e elas só podem ser protegidas com educação. As escolas estão preparadas para formar profissionais para essa realidade? Não. O que as escolas do mundo fizeram até agora: sistematizaram o conhecimento do passado, prepararam esse conhecimento dentro de pacotes estruturados e entregaram para uma performance no presente, mas deveria ter uma certa continuidade para o futuro. Como vivemos no espaço de aceleração da evolução do conhecimento e sua aplicação na sociedade, as escolas têm que parar de fazer esse processo de codificar o passado. Precisam extrair do passado quais são as leis fundamentais para determinadas classes de trabalho ou de competências ou de performances que você quer no mercado e preparar as pessoas em função dessas leis ou das estruturas fundamentais de conhecimento de certas áreas para as pessoas continuarem aprendendo. Não existe mais o “me formei”, você tem que sair no último grau de aprendizado do qual você esteve com a cabeça de aprendiz. O futuro não é pra quem tem conhecimento, é pra quem tem capacidade de aprender. Se pegar a simples capacidade de saber coisas, ela está 100% disponível na internet. As pessoas têm que ter base para aprender continuamente. Isso significa: saber a língua do país e matemática (que inclui programação). É necessário capturar a expressão do mundo e entendê-la, perceber o mundo de uma maneira sofisticada, isso é línguas e os contexto linguístico na história, na geografia, na sociologia, na política e assim por diante. É preciso saber modelar o mundo, isso é matemática, e programar o mundo, isso é computação. São condições para fazer qualquer coisa em qualquer área. Se você quiser ser um profissional um pouco além do seu local, deve saber também inglês. Como os governos estão se preparando para esse desemprego futuro? Em países como Japão, Alemanha, Suíça, Singapura, Suécia, Coreia, a regeneração da máquina econômica funciona numa outra velocidade porque eles se interpretam como provedores de soluções para o mundo. Isso faz com que as novas indústrias demandem da máquina pública um conjunto de ações derivadas de políticas e de estratégias que vão prover esses caras com esse novo trabalhador. Ao invés de terem um montador de máquina, terão um programador de robô. O Brasil tem um megaproblema: possui pouquíssimas empresas que competem globalmente e todas as empresas globais competem dentro do espaço econômico brasileiro que é grande: um mercado 220 milhões de consumidores. O impacto disso é que pouquíssimas empresas brasileiras precisam de inovação e criatividade feita no Brasil, porque não competem globalmente, e quase nenhuma empresa global que compete

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Crítica| Rocketman

A excentricidade sempre foi uma das marcas registradas do cantor britânico Elton John, tanto na maneira de se vestir, quanto na performance nos palcos. Inspirada nessa característica marcante, chega hoje aos cinemas, Rocketman, a psicodélica e multicolorida cinebiografia do astro do pop. Rocketman é dirigido pelo inglês Dexter Fletcher, conhecido por assumir a cadeira de diretor em Bohemian Rhapsody após a saída conturbada de Bryan Singer. Histórias com pegadas parecidas, protagonizadas por astros da música internacional encarando seus demônios: chance de ouro para Fletcher mostrar talento em terreno já conhecido. Diferente de Bohemian Rhapsody, Rocketman não floreia questões polêmicas da vida do protagonista, até porque toda a história tem a benção do próprio Elton John. O longa trata dos desafios enfrentados por ele ao assumir sua homossexualidade e sua difícil e fria relação com os pais. Mostra também, sem censura, seus problemas com o alcoolismo e as drogas.     Coube ao astro da franquia Kingsman e de Robin Hood - A Origem, Taron Egerton, a responsabilidade de encarnar Elton John. O ator galês dá conta do recado e mostra ter talento também como cantor. Recentemente, cantou em Cannes, ao lado de Elton John, a canção que dá nome ao filme. Ainda sobre o elenco, Bryce Dallas Howard (Jurassic World, Black Mirror) está muito bem no papel de Sheila Eileen, mãe de Elton. O ator inglês, Steven Mackintosh, mantém o bom nível de atuação ao interpretar Stanley, pai do cantor. Para curtir melhor a história, o espectador terá de abraçar a proposta carregada de metáforas do filme. A narrativa costura diferentes fases da vida do cantor com situações que beiram a psicodelia, como na cena em que protagonista e plateia literalmente flutuam em meio a uma apresentação.     O roteiro acerta na narrativa, mas peca nos diálogos. Algumas falas soam forçadas, sem naturalidade, beirando a pieguice, com cara de discurso de autoajuda. Rocketman segue fielmente a cartilha dos grandes musicais. Números grandiosos, bem coreografados, embalados aqui, claro, por sucessos de Elton John. Deve agradar não apenas aos fãs do cavaleiro da rainha, mas também ao público que curte o gênero.  

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Crítica| Paddleton (Netflix)

Comovente. Melhor adjetivo para descrever a jornada dos protagonistas Mike (Mark Duplass) e Andy (Ray Romano) de Paddleton, filme original da Netflix. Na história, Mike descobre que está com câncer de estômago e decide não passar pelo sofrimento que poderá advir do tratamento contra a doença. Para isso, recorrerá ao suicídio assistido, com a ajuda do relutante Andy. A dupla pegará a estrada à procura dos medicamentos para a amarga empreitada. Paddleton é daqueles filmes imprevisíveis que ora arrancam nossas lágrimas, ora nos fazem rir. A jornada vai além da busca pelos remédios, mostra quão profunda é aquela amizade, não importa se na alegria, na dor ou na morte. O título do longa é o mesmo do jogo criado por Mike e Andy, que consiste em duas pessoas rebaterem com raquetes uma bola de tênis numa parede no intuito de acertar um barril vazio. O jogo serve de metáfora para essa relação de cumplicidade.     Mark Duplass e Ray Romano dão um show de atuação, mostrando boa química, seja dividindo uma pizza congelada ou assistindo ao mesmo filme de artes marciais diversas vezes. Romano é conhecido principalmente por sua atuação na sitcom Everybody Loves Raymond. Duplass é produtor, ao lado do irmão Jay Duplass na Duplass Brothers Productions. Produziu recentemente e atuou ao lado de Charlize Theron no excelente Tully.  

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Jeorge Pereira, diretor de "Organismo", fala sobre o filme, que estreou esta semana

Estreou na última quinta (25), nos cinemas São Luiz e da Fundação/ Derby, o filme pernambucano, Organismo, que narra a história de um jovem que fica tetraplégico após sofrer um grave acidente. O diretor Jeorge Pereira, cadeirante desde a infância por conta de uma poliomielite, fala sobre seu primeiro longa-metragem e revela como surgiu a inspiração para essa história comovente.   Como surgiu a ideia e o que te inspirou a escrever e, consequentemente, dirigir “Organismo”? De uma experiência trabalhando alguns anos em uma ONG de um amigo, o Michel Peneveyre, onde eu atendia pessoas com lesão medular, que tinham passado por qualquer tipo de incidente e que tinham ficado paraplégicas, às vezes tetraplégicas. Eu entregava essas cadeiras e acompanhava essas pessoas. Fui conhecendo caso a caso e formando uma ideia sobre o que era aquele universo, que era diferente do meu. Como vivo em uma cadeira por conta da pólio, era outro mundo pra mim. Certo dia, Michel me contou uma história que foi, pra mim, o ponto de partida para escrever o curta “Organismo” (primeiro seria um curta). Ele contou que estava morando sozinho (ele é tetraplégico, mas tem uma certa autonomia, tinha uma diarista que ia em sua casa fazer limpeza duas vezes na semana) e, uma vez ela foi, ele estava dormindo e ao limpar o quarto, tirou a cadeira de perto da cama e esqueceu de pôr de volta. Quando Michel acordou, não tinha como sair da cama, nem para onde ir. Não tinha telefone celular nessa época e acabou por passar um dia inteiro preso à cama por conta disso. Ele conta sempre com muito bom humor esse fato, que foi o gatilho para a história de “Organismo”.   Qual o maior desafio enfrentado na produção do longa? Maior desafio foi o processo de capitação. Foram dois momentos distintos com um intervalo de um ano entre a primeira e a segunda etapa. A espera foi um dos grandes desafios. Um filme que ao todo, desde o primeiro momento do roteiro até o corte, me levou quase cinco anos da minha vida. Mas foi um exercício de grande aprendizado, de grandes realizações e que mudou completamente a minha concepção sobre o próprio cinema.   “Se você me perguntar o que sou hoje, é isso: um contador de histórias.” Jeorge Pereira     A princípio, você enveredou pela literatura, com a publicação do livro “Letagonia”, em 2002. Quando e como surgiu o interesse pelo cinema? O interesse pelo cinema cresceu junto com o próprio interesse, lá no início, antes mesmo da literatura, que foi a dramaturgia. Foi no teatro que aprendi adaptação de esquetes e descobri que curtia muito mais trabalhar a narrativa e construir esses universos. Foi a partir dessas experiências que fui entrando no mundo da literatura. Nesse universo literário tive a imensa sorte conhecer, ser amigo e aluno por mais de cinco anos do professor Raimundo Carrero. Ele foi a primeira pessoa que disse: “Olha, você escreve muito visualmente.” Também na época da faculdade, na AESO, fui da primeira turma do curso de cinema de animação, onde criei todo um círculo de amigos, de relações que perduram até hoje, uma delas, por exemplo, que guardo com muito carinho é do cineasta Pedro Severien. Figuras como Marcelo Lordello, Fernando Veler, Maurício Nunes, grandes amigos e grandes parceiros que tenho até hoje. A narrativa foi apenas uma mudança de modalidade, na verdade, continua tudo dentro da contação de histórias. Se você me perguntar o que sou hoje, é isso: um contador de histórias.     Quais os próximos projetos? Mais um longa pode vir em breve? Tenho vários projetos. Procuro ser um autor inquieto, e, atualmente, participo de um grupo de outros inquietos, que são roteiristas, diretores e produtores, entre eles, Henrique Spencer, André Pinto e outras figuras muito massa. Nos juntamos e temos hoje um trabalho muito consistente em desenvolvimento de roteiros. De lá estamos saindo com narrativas que irão surpreender, daquilo que se chama “cinema de gênero”. De cunho particular, tenho um projeto que estou fomentando com as meninas da Inquieta já há alguns anos. Estamos em busca de recursos para ele. É um longa que mistura um pouco de fantasia e drama histórico, passado na década de 60, para ser preciso no ano do golpe militar. É a história de um garoto cego que pretendo levar um dia às telas e outro projeto que ainda está em fase de desenvolvimento, também um filme de época.   Com as novas mudanças anunciadas para a ANCINE, o que esperar do cinema brasileiro nos próximos anos? Estamos vivendo um cenário de muita incerteza, com esta questão da Ancine, e o mercado inteiro está num momento bem complicado, mas estamos esperançosos de que toda essa situação possa se resolver. É um momento crítico, não me lembro de ter presenciado um momento assim antes no Brasil. Preocupa, porque se não há um ataque direcionado à cultura, pelo menos parece muito isso. O modo como se tem visto cultura no Brasil nos três últimos anos é algo que me inquieta muito, a forma até marginal como se tem colocado o artista brasileiro. Porém acredito muito na força da união do setor cultural, e na força que a própria cultura tem historicamente de ser resiliente, e de se reconstruir nos momentos mais críticos. Nós, aqui no Brasil, estamos passando por isso agora, mas em diversos momentos da história isso aconteceu tanto com cientistas, quanto com artistas, pessoas que, de certa forma, ameaçam o status quo de um modelo social que muitas vezes está falido, mas não abre mão daquilo que o levou a ser o que é. Mas é isso, é lutar e resistir sempre.     Organismo O filme acompanha Diego (Rômulo Braga), um jovem arquiteto que, após um grave acidente, fica tetraplégico.  A nova condição mergulha o protagonista numa profunda crise existencial, abalando sua relação com Helena (Bianca Joy Porte). A trama é costurada alternando flashes do passado com cenas do presente. A infância de Diego,

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Vitória de Santo Antão recebe evento geek

Tem geek em todo o lugar. Esse é o lema da segunda edição do Vitória Geek, que chega nos dias 6 e 7 de abril à Vitória de Santo Antão, município da Zona da Mata de Pernambuco. Este ano, os fãs da cultura pop estarão celebrando os 80 anos da criação do Batman e os 35 anos de exibição do seriado Chaves no Brasil. Entre as atrações, a presença do dublador do Seu Madruga e de Stan Lee, Carlos Seidl. Para falar sobre o Vitória Geek II, conversei com um dos idealizadores e organizadores do evento, Everaldo Lima.   Como surgiu o evento? Por que Vitória de Santo Antão?  O evento surgiu da oportunidade de oferecer algo que o público do interior, principalmente ali da zona da mata, não tinha. Nós tínhamos a ideia que daria certo e colocamos isso a prova na primeira edição do Vitória Geek. Conseguimos atrair um público de quase 2 mil pessoas e confirmamos a nossa expectativa. Como foi a experiência com o primeiro ano do Vitória Geek? Haverá alguma mudança para o segundo ano? A nossa expectativa foi superada, e ainda durante o primeiro evento anunciamos a segunda edição com dois dias. Essa foi a principal mudança, a duração. Temos também a mudança de local que agora será no clube dos motoristas - o cisne, que fica no bairro do cajá.     Cinema, TV, Games, literatura, dança. Qual segmento atrai maior público? Por quê? Um pouco de cada. Muitos vêm por causa dos filmes, outros por causa das HQ's, outros pela literatura, pelo K-Pop, pelos games, etc. Mas o que de fato vai atrair o público são as diversas atrações de peso que estão na nossa programação. É o caso do dublador Carlos Seidl, e as produções da Viu Cine, que apresentará o longa Recife Assombrado (5 minutos inéditos serão exibidos dentro do evento) e o Além da Lenda (animação infantil). Quais os planos para o futuro? Há chances de expandir o evento para outras cidades do interior? Sim, há. O primeiro passo está sendo dado com a campanha "Tem Geek em Todo Lugar". A intenção é sair de Vitória e ir para uma outra cidade do interior. A cidade que trouxer maior público ao Vitória Geek, ganhará um evento nosso, que é o Formigueiro Nerd. Essa é mais uma etapa para difundir ainda mais a Cultura Pop pelo interior de Pernambuco. Serviço Vitória Geek II Local: Clube dos Motoristas - O Cisne - Rua Euclides Nery de Oliveira, 105 - Cajá, Vitória de Santo Antão Data / horário: 06 e 07 de abril, das 10h às 19h Entrada: Compre seu ingresso online R$ 20,00 um dia e R$ 30,00 os dois dias de evento  https://bit.ly/2RD6nfx

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Crítica| Shazam!

Parece que, definitivamente, a DC acertou a mão em seus filmes de super-heróis. Após errar feio em suas últimas investidas no segmento com os caros e ao mesmo tempo medianos Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Liga da Justiça, conseguiu lotar as salas e arrancar elogios da crítica com o excelente Mulher-Maravilha e o mais recente Aquaman, que trouxe para as primeiras fileiras um personagem, até então, considerado coadjuvante no catálogo do estúdio. Dando continuidade à boa fase da DC, chega aos cinemas sua nova aposta: Shazam!, filme de pegada mais bem-humorada, proposta explorada já há muito tempo pela concorrente Marvel. A história acompanha o órfão Billy Batson (Asher Angel) em sua jornada como super-herói após ter recebido superpoderes do mago Shazam (Djimon Hounsou). Parte da trama dá destaque à origem do vilão Dr. Silvana (Mark Strong) em uma das mais tensas sequências, logo no início. O clima sombrio de outras produções da DC, tal como a trilogia Batman ou O Homem de Aço, dá lugar à leveza e bom humor como na cena em que Shazam simula soltar raios laser pelos olhos, semelhante a um conhecido herói azulão de capa vermelha do estúdio. Em outra cena, Shazan! homenageia um clássico do melhor estilo “Sessão da Tarde” no qual o filme é inspirado: Quero ser Grande.     Zachary Levi, famoso por protagonizar a série Chuck, consegue transmitir a força e comicidade necessários ao Shazam proposto para a história, um herói corpulento com mente de adolescente e, por vezes, atrapalhado. O ator passou por uma maratona de exercícios durante cinco meses para chegar ao corpo ideal a seu personagem. Ainda assim, toscamente, foram colocados enchimentos em seu uniforme. Outro que se destaca no elenco, em alguns momentos até mais que o próprio protagonista, é Jack Dylan Grazer, conhecido por sua atuação em It: A Coisa. Aqui o ator interpreta o garoto Freedy Freeman, presente nos momentos mais engraçados do longa. Shazan! arrecadou US$ 3,3 milhões em exibições especiais nos EUA no mês de março, mais até que Aquaman em sua pré-estreia, com um total de US$ 2,9 milhões acumulados. Segundo a revista Variety, o filme deverá ser o grande vencedor do fim de semana americano, faturando entre US$ 45 e 50 milhões.    

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Cinema: Diretora de arte, Séphora Silva fala sobre os desafios da profissão em Pernambuco

As belas imagens de alguns filmes às vezes chamam mais atenção que a própria história que está sendo contada. Produções como O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, com sua fotografia e cenários por demais coloridos e marcados principalmente pelo uso da cor rosa, enchem os olhos de qualquer espectador, inclusive dos menos atentos. Isso se deve ao trabalho de um profissional de grande importância para o processo de produção de um filme: o diretor de arte. Pernambuco tem nomes de peso que se destacam na função, como Thales Junqueira (Aquarius, Divino Amor) e Renata Pinheiro (Hotel Atlântico, Zama). Para falar sobre as alegrias e desafios relacionados à profissão, conversei com Séphora Silva, outro importante nome relacionado à direção de arte e cenografia no estado. Arquiteta de formação, trabalhou no drama dirigido por Tuca Siqueira, Amores de Chumbo, história que tem como pano de fundo o período da Ditadura, e, recentemente, no filme de horror Recife Assombrado, de Adriano Portela.   O que te levou a trabalhar com direção de arte? Foi o acaso. Eu já era arquiteta e conheci uma produtora de Recife que me apresentou esse mundo desconhecido dos bastidores do cinema- porque cinéfila eu sempre fui. Ela me convidou para ser assistente de arte num curta (Maracatu, Maracatus de Marcelo Gomes, 1994) e eu acabei sendo picada pelo bicho do cinema. Nunca mais saí dele. Qual o maior desafio enfrentado por quem trabalha com direção de arte em Pernambuco? Primeiro, formação na área. No início, apesar de ser arquiteta, eu não tinha nenhum conhecimento da técnica, do que era uma produção de cinema e tive necessidade de estudar sobre isso. Foi quando ganhei uma bolsa para fazer o curso de Capacitação e Formação em Audiovisual na Universidade de Guadalajara – México. Lá eu pude entender e praticar todo processo de produção e fui me especializando na área de arte (cenografia, maquiagem, figurino, arte). Depois voltei para Recife e entrei no mercado de audiovisual exercendo várias funções antes de ser diretora de arte. Achei fundamental exercer funções de produção de arte, objetos, cenografia, além de fazer cursos de efeitos especiais/maquiagem, antes de me lançar como diretora de arte, pois, vejo essa função muito mais conceitual e creio que requer experiência e pratica de pesquisa/referências e projeto de arte propriamente dito. Não consigo conceituar uma arte sem escrever um texto, fazer um projeto referenciado com muita pesquisa, elaborar paleta de cores. Depois de entender o que é arte em cinema, me deparei com o entendimento que a direção de arte não é considerada área fundamental /essencial para uma produção audiovisual. O que acontecia em Recife é que projetos de audiovisual acabavam com previsão de equipes muito pequenas e orçamentos muito baixos para a arte, embora os roteiros sejam sempre detalhistas e rebuscados no que se refere a direção de arte. E equipe pequena, ou composta por pessoas com pouca experiência na área e verba mínima, são uma combinação que acaba comprometendo a qualidade do trabalho. E isso é perceptível na tela. Mas isso também já vem mudando há alguns anos e acredito que vai melhorar. Algo que acredito que ajudaria bastante nesse entendimento é a divulgação dessa área pelos meios de comunicação, por exemplo, quando se fizer uma matéria sobre alguma produção citar a arte, entrevistar o/a profissional responsável pelo trabalho. O que acontece na mídia local é que sempre se restringe a informar sobre a direção, elenco, produção e nunca a arte é citada ou referida nas matérias. Tô achando ótimo você me entrevistar e eu poder falar isso!   Qual caminho inicial deve percorrer quem deseja trabalhar na área? Na minha opinião, quem quer trabalhar na área não tem que apenas ter bom gosto estético, sugiro que, além do curso superior de cinema onde a formação em direção de arte é muito restrita, tentem uma formação na área de arquitetura, artes visuais, design. Isso dá uma diferencial muito grande no resultado do trabalho. E também recorrer a oficinas e workshops na área onde se possa compartilhar experiências com outros profissionais. Arte em cinema não é apenas um trabalho intuitivo que requer muita criatividade para lidar com as pressões e mudanças que acontecem diariamente numa produção, é um trabalho que precisa ser referenciado e por isso ter um projeto embasador é tão importante. Com um projeto consistente, as mudanças podem acontecer sem que o resultado seja comprometido em sua essência. Isso garante a qualidade final no trabalho e dá pra ver claramente na tela. Dos trabalhos que já realizou qual mais te marcou profundamente? Todos os trabalhos são um grande aprendizado, pois, arte no cinema é muito específica de momentos/situações determinados pelo roteiro, então fica difícil dizer qual foi mais marcante. Na verdade, tenho um carinho especial por todos eles. Posso citar como exemplo “Três Contos de Reis” (Maria Pessoa, 2005), minha primeira participação como diretora de arte e cenógrafa para um curta que se passava em 1860 e foi dificílimo fazer a reconstituição de época. Recife é uma praça difícil para produção de época e foi uma responsabilidade muito grande, mas o resultado ficou ótimo, o mais autêntico possível, verossímil mesmo, posso até dizer. E ficou bonito. Dos longas, o desafio maior até o momento foi fazer o “Recife Assombrado” (Adriano Portela, 2017), que está em finalização, porque é um gênero muito específico: terror. Tô aguardando para ver o resultado. E tem o “Amores de Chumbo” (Tuca Siqueira), que foi o primeiro longa que fiz direção de arte e cenografia (sempre assumo a cenografia, essa é uma vantagem de ser arquiteta) e me rendeu dois prêmios (Festival de Cinema de Triunfo e Fest Ibero-Americano de Cinema de Caruaru, ambos em 2018) importantes na área. Prêmio é sempre um reconhecimento do nosso trabalho e fiquei muito feliz com isso. Direção de arte no teatro e cinema: qual setor tem mais oportunidades de trabalho no Brasil? Por quê? Na prática não tenho como te falar do Brasil, posso te falar de Recife, a praça onde trabalho. Na teoria,

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