Claudia Santos – Página: 141 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Claudia Santos

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Mulheres adoecem em busca da beleza

Se beleza é fundamental, como preconizava Vinícius de Moraes, o comportamento de mulheres que tem levado ao pé da letra o verso do poeta vem provocando nelas sérios problemas de saúde. A busca incessante por corresponder ao padrão estético imposto pela sociedade é a manifestação mais visível de transtornos que afetam a ala feminina. Para solucioná-los, muitas vão parar nos divãs dos psicoterapeutas ou recorrem à ajuda de medicamentos. Não há nada de errado, porém, em querer ser bela e recorrer aos avançados recursos de cosméticos e cirurgias plásticas. Afinal, quem não quer ser bonito e desejado? O problema é quando a meta da beleza física almejada torna-se inalcançável. “É quando as mulheres querem partir em busca de uma perfeição estética. Essa perfeição, é claro, não existe e portanto é inatingível. Buscá-la de maneira desenfreada, implica num transtorno grave de personalidade e corre-se o risco de chegar à loucura”, explica Sylvio Ferreira, psicólogo, professor da UFPE. A partir desse quadro surgem transtornos como o dismórfico corporal. As pessoas com esse comportamento se olham o tempo todo no espelho, acham sua aparência ruim o que gera um impacto na autoestima. Ao perceberem o mínimo defeito no corpo ficam com uma preocupação tão grande a ponto de atrapalhar sua vida social, acadêmica e no trabalho. “Elas passam por um pico de ansiedade, não saem de casa, não se encontram com outras pessoas”, detalha Amaury Cantilino, psiquiatra especializado em saúde da mulher e professor da UFPE. Segundo Cantilino, 10% das mulheres que vão ao cirurgião plástico têm esse transtorno. “Em geral ela não fica satisfeita com o resultado da cirurgia plástica ou migra: se antes, por exemplo, era o formato do nariz o que a incomodava, depois da operação o alvo da insatisfação passa a ser o queixo”, exemplifica o psiquiatra que também é membro da Comissão de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria. Essas pessoas perdem a noção da realidade do seu aspecto físico e passam a ter uma visão distorcida da sua imagem. O mesmo ocorre com aquelas que sofrem de anorexia. Embora estejam extremamente magras, num grau considerado muito aquém do saudável, as anoréxicas jamais se consideram abaixo do peso. Na busca por atingir o que imaginam ser o patamar ideal, elas se submetem a uma dieta muito restritiva, praticam atividades físicas de forma exagerada, fazem jejum ou purgação, isto é, tomam laxantes ou vomitam os alimentos que ingerem. Trata-se de um transtorno que além de implicar em questões cognitivas – já que elas possuem um distúrbio da imagem – também envolve componentes físicos: por causa da privação alimentar elas não menstruam, os pelos caem, ocorre uma diminuição de potássio no organismo que pode levar a uma arritmia. “Estudos mostram que 7% das pessoas com anorexia morrem pelo baixo nível de potássio que é essencial para o ritmo cardíaco”, alerta Cantilino. Bulimia é outro transtorno que acomete as mulheres demasiadamente preocupadas com a autoimagem. Ao contrário das anoréxicas, as que sofrem de bulimia não são necessariamente magras, mas apresentam uma preocupação exagerada com o peso. Passam dias se alimentado de saladas, porém, de repente, começam a comer muito, de forma compulsiva num curto período de tempo. Em seguida vomitam o que ingeriu ou usam laxantes. “A bulimia envolve sintomas depressivos, essas pessoas se sentem culpadas por terem comido”, explica o psiquiatra. Muitas sofrem perda do esmalte dentário, perda de potássio, cloro e magnésio. Afinal, o que leva uma mulher a ter esses comportamentos? Na maioria dos casos há uma predisposição genética. Mas isso não explica tudo. Quando se analisa a realidade dessas patologias não se pode fechar os olhos para a pressão que a sociedade exerce para que a mulher seja extremamente linda e em boa forma física. Um padrão a ser seguido independentemente da idade. Basta reparar na referência que representam celebridades como Madonna, cinquentona de corpo malhado. E para agravar, nas últimas décadas, a magreza passou a ser associada ao ideal de beleza, principalmente com a popularização dos desfiles de moda e suas top models de fisionomia anoréxica. Estampado nas manchetes de jornais e revistas e admirado a partir de um simples clique nos portais da internet, esse modelo estético se impõe como um ideal de felicidade a ser alcançado. “Se pessoas com predisposição genética aos transtornos não fossem expostas a esse ambiente social talvez não desenvolvessem esse comportamento”, considera Cantilino. Ele faz uma analogia com o alcoolismo que tem prevalência baixa em certas culturas que desestimulam o consumo de bebidas alcoólicas, como as islâmicas. As mulheres, na verdade, são vítimas das convenções desses novos tempos, denominados por sociólogos como pós-modernidade, em que predominam o culto a si mesmo e à imagem. Selfies e a superexposição das pessoas nas redes sociais são algumas amostras dessa época. “A sociedade deixa de ser um projeto coletivo para se tornar um projeto de satisfação pessoal, dos indivíduos abastados e com poder de consumo”, resume Sylvio Ferreira. E nessa conjuntura é a mulher que sofre os maiores impactos já que a prevalência desses transtornos é muito baixa entre a população masculina. Na verdade, a pressão social exercida sobre a ala feminina é maior. Basta um exemplo para entender essa realidade: um homem de cabelos grisalhos é considerado charmoso, o mesmo não ocorre com as mulheres que não colorem as suas madeixas. Há ainda o fato de que homens são atraídos pelas mulheres principalmente pelo aspecto físico. Elas, porém, têm um repertório mais amplo de características que as atraem, que vão além da aparência, como a maneira como o homem fala e até pelo cheiro. “Eles são atraídos pelo visual. As mulheres sabem disso e de alguma forma assumem comportamentos que aumentam o grau de atratividade física. Numa perspectiva de psicologia evolucionista, o cuidado com a beleza acontece para que sejam mais facilmente selecionadas pelos parceiros”, esclarece Amaury Cantilino. Uma realidade muito conhecida pelo cirurgião plástico Pedro Pita, do Hospital Esperança. Segundo o médico, algumas mulheres fazem cirurgia plástica a pedido dos seus maridos. “Quando ele perde a

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Antes de viajar, consulte um médico

Vai viajar? Então, antes de fazer as malas, consulte um médico e faça um checape. Achou estranha a recomendação? Pois saiba que esse tipo de comportamento é recorrente em outros países e você e sua família só têm a ganhar prevenindo-se dessa forma. Já pensou, por exemplo, estar em pleno Caminho de Santiago de Compostela e sofrer uma lombalgia ou perceber que não tem resistência física para realizar a tão sonhada peregrinação? A orientação de médicos às pessoas que viajam faz parte da chamada saúde do viajante, espécie de especialização da medicina, que já existe há cerca de 20 anos. “No Brasil desde 2000 temos um grupo de profissionais que está incluindo o tema em congressos e na saúde pública”, informa Sylvia Lemos Hinrichsen, infectologista e colunista da Algomais Saúde, que desde 2003 vem orientando no Recife pacientes que vão viajar. O especialista em saúde do viajante elabora um laudo com orientações individualizadas a partir do roteiro a ser feito pelo paciente. “Tudo vai depender do tipo de viagem que será realizada: se o paciente vai mochilar, se vai ficar em camping ou em hotel 5 estrelas, se vai para um local com grande altitude, ou se vai mergulhar. Para cada um desses aspectos, há recomendações específicas”, explica Sylvia. Também é levado em conta o perfil do viajante: sua idade, se pratica ou não atividade física, se tem limitações, se possui alguma doença, etc. Fazer uma bateria de exames é outra recomendação essencial. Muitas vezes, as pessoas nem têm conhecimento de serem portadoras de alguma doença, que pode se manifestar durante a viagem. “Hoje em dia, por exemplo, indivíduos jovens sofrem enfarte, porque não sabem que são cardiopatas ou que estavam com taxa de colesterol alto”, alerta a médica. Fundamental também é conhecer a realidade e os costumes do país de destino. Por isso, o especialista em medicina do viajante estuda as condições de saúde do local a ser visitado para embasar seu esquema de prevenção. Isto é, pesquisa a “geografia das doenças” do país. Aos pacientes que vão para a Índia, por exemplo, Sylvia alerta para os cuidados nas visitas a algumas mesquitas, onde existem macacos circulando pelos templos. Há vários relatos de turistas que foram mordidos por esses animais, que são transmissores de diversas doenças. Colocar a caderneta de vacinação em dia é outra atitude imprescindível para quem vai viajar principalmente para o exterior. Saiba mais sobre o assunto na página 34. Antes de colocar o pé na estrada, abaixo ao lado orientações preciosas para manter-se saudável nas viagens. Altitude Pernambucanos que planejam passear em locais como os Alpes ou Machu Picchu devem passar uns dois dias num local de altitude intermediária antes de chegar ao destino. “Essa aclimação é importante para o organismo se acostumar ao ar com pouca concentração de oxigênio”, recomenda Rodrigo Pedrosa, cardiologista do Hospital Memorial São José. A medida ajudar a prevenir os sintomas provocados pela mudança abrupta de altitude, como tontura, dor de cabeça, enjoo e apatia. Em casos de sintomas mais graves pode ocorrer até acúmulo de líquido no pulmão e infarte. Por isso, essas viagens são contraindicadas para quem tem doença cardíaca ou pulmonar grave. Se você vai para as montanhas, evite atividades muito extenuantes nos primeiros dias que chegar ao destino. Beba muita água, evite bebida alcoólica (o efeito dela é potencializado em altitudes elevadas e você pode ficar ainda mais cansado) e alimentos pesados e gordurosos, porque “nas alturas” sua digestão ficará mais lenta. Jet-lag É o nome dado às alterações fisiológicas sentidas por pessoas que passam por uma rápida mudança no fuso horário. Os sintomas vão desde ansiedade, fadiga, dor de cabeça, irritabilidade, retardo no raciocínio até dor abdominal. Isso acontece porque temos um relógio biológico, que coordena as funções do organismo e é regido por um ritmo que se repete a cada 24 horas, o ciclo circadiano. Quando enfrentamos uma mudança de fuso ocorre uma dessincronia entre o relógio biológico e o ritmo imposto pelas novas condições externas. “Quanto maior a diferença de fuso, mais intensos são os sintomas. Mas em geral, dentro de 2 a 3 dias ocorre a adaptação”, tranquiliza o neurocirurgião do Hospital Jayme da Fonte Ronaldo Menezes. Para amenizar os efeitos do jet-lag, antes de viajar, durma mais cedo, faça exercícios leves e beba bastante água, porque a pouca umidade da cabine do avião e o ar condicionado desidratam o corpo. A água também ajuda a eliminar algumas substâncias tóxicas que fazem o organismo ficar cansado. Quando chegar ao destino, se ainda for cedo, tente não dormir e não programe nenhuma atividade muito cansativa nos próximos dois dias, como fazer trilhas. O medicamento melantonina vem sendo utilizado para a aliviar os sintomas. É um hormônio produzido pela glândula pineal que influi sobre o ritmo circadiano. Mas seus benefícios são controversos. “Alguns estudos apontam vantagens no seu uso e outros não mostram diferenças nos efeitos do jet-lag”, adverte Menezes, que orienta recorrer à substância apenas nos casos em que a adaptação ao novo fuso for difícil. “Não se deve fazer uso abusivo, nem profilaxia (prevenção)”, alerta. Remédios Se você vai passar as férias em outro país, não esqueça de fazer um seguro viagem correspondente ao período da estadia. Algumas agências de turismo auxiliam o turista a adquirir o seguro. Você também pode pesquisar as ofertas de seguradoras e bancos. Outra dica é que o Brasil mantém acordos internacionais com alguns países que permitem o atendimento de brasileiros nas redes públicas de saúde. Nesse caso você precisa adquirir o Certificado de Direito a Assistência Médica. Saiba mais no site: http://sna.saude.gov.br/cdam. Mesmo nesses casos não desconsidere a contratação de um seguro internacional de saúde particular. Veja mais conteúdo no link na Algomais Saúde:  http://www.revistaalgomais.com.br/algomais-saude Texto: Cláudia Santos  Foto: Juarez Ventura

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Saiba como prevenir o câncer de próstata

Muitos mitos e preconceitos cercam o câncer de próstata e o exame de toque retal, necessário para realizar o seu diagnóstico. A Algomais participa da campanha Novembro Azul e traz no seu site esta entrevista com o chefe do Serviço de Urologia do Hospital Jayme da Fonte Renato Leal Mathias, que esclarece as dúvidas sobre a doença e sua prevenção. O que é a próstata? A próstata e uma glândula do sistema reprodutor masculino, que localiza-se abaixo da bexiga e anterior ao reto, e sua principal função é a produção do líquido que forma o esperma, que junto com os espermatozoides (que são produzidos pelo testículos), formam o líquido seminal. Como é feito o diagnóstico do câncer de próstata? A partir de que idade o homem deve fazer o exame? O diagnóstico do câncer de próstata é realizado através da biópsia de próstata, através de exames de PSA, toque retal e ressonância magnética. Os casos suspeitos de câncer são selecionados para realizar a biópsia. Esses exames são realizados em homens a partir dos 50 anos de idade. Em pacientes com parentes de primeiro grau com câncer de próstata ou pacientes de raça negra são orientados a realizar esses exames com 45 anos de idade O exame de toque retal dói? Quanto tempo dura? O exame de toque retal não doí e dura não mais que 30 segundos. O fato de um homem fazer o exame de PSA precisa fazer também o de toque? Não existe um exame único para detectar o câncer de pros tata, eles se complementam, por isso além do PSA é importante realizar também o toque retal. Com que regularidade terá que fazer os exames? Cada caso tem que ser analisado, depende de idade, resultados de exames anteriores, mas em geral o exame é realizado uma vez ao ano, podendo ser antecipado ou postergado. O preconceito dos homens em fazer o exame de toque tem diminuído nos últimos? O senhor percebe um aumento no número de pacientes que o procuram no consultório com o intuito de fazer o exame preventivo? Diminuiu consideravelmente esse tipo de preconceito. Com a mídia orientando sobre os exames e riscos da doença, e familiares apoiando, e de certa forma, pressionando seus entes queridos a realizar os exames, conseguimos diminuir o preconceito e aumentar a adesão aos exames. Dessa forma realmente aumentou o número de pacientes que procuram especialista médicos, mas infelizmente ainda existe muito preconceito sobre o assunto. Qual a prevalência do câncer de próstata no Brasil. A estatística tende a aumentar com o envelhecimento da população brasileira? O câncer de próstata é a neoplasia solida mais comum e a segunda maior causa de óbito oncológico no homem. Em 2015 está previsto o diagnostico de 1.201.619 novos casos com 335.643 óbitos no mundo, no Brasil serão 79.882 novos casos com 18.850 óbitos para 2015. Na medida que o homem vai envelhecendo aumenta a probabilidade de contrair a doença. Além do exame, quais as outras formas de prevenção? É verdade que ingerir alimentos na cor vermelha pode ajudar? Na literatura até o momento não existe nenhum alimento ou medicação que realmente evite o câncer de próstata, alguns trabalhos sugerem que os alimentos ricos em licopeno (frutas vermelhas) podem diminuir os riscos de câncer, mas não existe nenhum trabalho que confirme essa hipótese. Além do licopeno, uma dieta saudável, com menos gordura animal, atividade física, aumento da atividade sexual, raios solares, podem diminuir os riscos de câncer de próstata, mas são suposições em trabalhos com metodologias falhas. Quais os sintomas da doença e o que ela acarreta caso não seja diagnosticada precocemente? O câncer de próstata no estágio inicial não causa sintomas, os sintomas relacionados ao câncer de próstata só são iniciados em casos avançados, nos quais muitas vezes já não se pode obter a cura, apenas tratamento paliativos. Por isso que orientamos os exames preventivos para realizar o diagnóstico precocemente e, dessa forma, obter a cura da doença. A sintomatologia em casos avançados são sangramento de grande volume pela uretra, fratura óssea pelas metástase óssea, dores de forte intensidade muitas vezes não cedendo nem com opioides, insuficiência renal e consequentemente a morte. Como é o tratamento? O tratamento da doença em estágio inicial é feito através de cirurgia ou radioterapia, atualmente a cirurgia consegue ter melhores resultado de cura que a radioterapia e, com o advento da cirurgia laparoscópica e robótica (cirurgia minimamente invasiva) conseguimos resultados mais promissores com recuperação mais rápida. Em casos avançados, em que a cirurgia não e mais indicada, são feitos tratamento paliativo com medicação.

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Cuidador também requer cuidados

Profissionais que atendem pessoas com Alzheimer começam a voltar suas atenções também para o familiar que cuida desses pacientes. A experiência nos consultórios, corroborada por pesquisas cientificas, mostram que os cuidadores familiares vivenciam um nível de estresse tão elevado a ponto de, em muitos casos, afetar a sua saúde. Foi o que constatou o estudo realizado pelo geriatra Alexandre de Mattos na Universidade de Pernambuco (UPE). De acordo com resultados da pesquisa, o cuidador familiar de uma pessoa com Alzheimer tem três vezes mais chances de desenvolver depressão e quatro vezes mais de ficar com ansiedade em comparação com cuidadores de idosos que não têm a doença. “Existem estudos que mostram adoecimento não só psíquico como também aumento de infarto e AVC”, acrescenta Mattos, que é professor da UPE e geriatra do Instituto de Medicina do Idoso. Esse desgaste acontece independentemente de haver ou não um cuidador profissional e da condição financeira da família. “Um profissional não passa pelo mesmo estresse do familiar, que está envolto com uma relação subjetiva e afetiva com o paciente”, ressalta o médico e psicoterapeuta Dival Cantarelli. O primeiro estresse é o próprio impacto do diagnóstico, já que a doença paulatinamente vai afetando a memória e a capacidade de realizar tarefas banais do cotidiano, como tomar banho. É como se a pessoa, aos poucos, deixasse de ser ela mesma e, como explica Cantarelli, não mais representasse o mesmo papel na trama familiar a que todos os parentes estavam acostumados. Foi o que aconteceu com a funcionária pública, Maria Joene Pires, cuja mãe, Quitéria Carolina, hoje com 92 anos, tinha uma participação forte e ativa na família. “Lá em casa era um matriarcado”, resume Joene. Foi muito doloroso para ela e seus irmãos perceberem que a “matriarca” sempre muito “condutora” e presente na vida da casa e dos filhos estava com Alzheimer. “É como se ela começasse a desaparecer. Uma morte em vida”, lamenta. “No início, a gente demora a perceber os sintomas, o que, na verdade, é uma espécie de negação. Depois as coisas vão se esclarecendo, como num processo de decantação”, compara. Um dos sintomas que causa mais estresse emocional é quando a pessoa perde a memória a tal ponto que não reconhece os próprios parentes. “É uma situação delicada, o familiar poderá sentir como se não houvesse afeto”, analisa Cantarelli. Sofrimento vivenciado por Sheila de Almeida Leite, cuja mãe, já falecida, estava com Alzheimer. “Certa vez, ela ficou meio ausente e, de repente, não me reconhecia, ficou estranha, e eu fiquei louca, só chorava. Mas, graças a Deus, no caso dela esse esquecimento durou pouco tempo”, recorda-se.   Além das questões emocionais, há ainda as demandas de cuidar de uma pessoa que não consegue mais realizar ações simples, como trocar de roupa. Mas os sintomas que dão mais impacto, de acordo com Mattos, são os comportamentais. Muitos passam a noite acordados, pode haver agressividade e agitação. Também é comum pacientes perambularem pela rua, sem que os familiares saibam, e se perderem. “Quanto mais intensos e frequentes os sintomas, maior o impacto na saúde do cuidador”, adverte o geriatra. A doença é progressiva, apresenta muitas fases de mudanças de comportamento e o paciente vai piorando gradativamente. “Cada vez que ele muda é pior para o familiar que está cuidando dele”, salienta a geriatra Carla Núbia Nunes Borges. SOLITÁRIO Na maioria dos casos, alguém da família se coloca na função do cuidador, em geral filho ou cônjuge, e carrega sozinho toda a sobrecarga de cuidar do doente. Esse isolamento não acontece, muitas vezes, por simples acomodação dos demais parentes. Alguns enfrentam uma limitação emocional diante da nova realidade. Uma mulher, por exemplo, que durante toda a vida conjugal sentia-se frágil e foi sempre cuidada pelo marido, pode ter dificuldades em perceber que seu forte protetor se encontra numa situação de vulnerabilidade. Sheila, por exemplo, lembra que cuidou sozinha de sua mãe durante o perído de um ano e meio que ficou hospitalizada. “Não contei com ninguém, apenas com cuidadoras a quem eu pagava. Meu irmão não conseguia ir ao hospital, pois não aguentava vê-la internada”. O familiar que se dispõe a ser o cuidador tenta abarcar o atendimento de todas as demandas do parente com Alzheimer. Passa a entrar numa situação de estresse, comprometendo a qualidade de vida, o tempo e até a carreira profissional. Cantarelli ressalta que o Alzheimer tem surgido numa faixa etária cada vez mais precoce e, como muitas mulheres passaram a ter filhos numa idade mais avançada, existem muitos jovens cuidando de pais com essa doença. “Eles, em muitos casos, estão tão imbuídos de salvar seu familiar, que abrem mão dos projetos profissionais, da interação social e da realização amorosa. Às vezes se separam até dos filhos para priorizar aquela ajuda”, relata o psicanalista. “Entram num processo de estresse e podem até ser agressivos com o paciente, sem ter a menor intenção disso”, acrescenta. Não por acaso, muitos acabam doentes, comprometendo sua disposição de cuidar do familiar. É POSSÍVEL PARTILHAR Mesmo diante dessa situação problemática, é possível aliviar a sobrecarga do cuidador familiar. O primeiro passo é partilhar o cuidado com outros parentes e tirar um tempo para si próprio e para o lazer. O que nem sempre é fácil. Muitas vezes o cuidador não se permite ter direito a uma folga. “Existem aqueles que acham que só ele entende o doente e só ele sabe cuidar. Mas é salutar que tenham momentos de lazer, para descansar, renovar as energias e todos os familiares têm que participar”, recomenda Carla Núbia, que também é presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ-PE), entidade sem fins lucrativos, formada por profissionais de saúde e familiares de portadores da doença. O objetivo da Abraz é divulgar informações sobre a doença. E, nesse sentido tem ajudado muito os familiares, alertando-os para a importância de partilhar o cuidado com o doente. “Orientamos os familiares sobre o que muda com a doença, como proceder, como reagir, quando interditar. Levamos informações científicas que ajudam no cuidado. Enfatizamos a união da família e

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