Mulheres adoecem em busca da beleza
Se beleza é fundamental, como preconizava Vinícius de Moraes, o comportamento de mulheres que tem levado ao pé da letra o verso do poeta vem provocando nelas sérios problemas de saúde. A busca incessante por corresponder ao padrão estético imposto pela sociedade é a manifestação mais visível de transtornos que afetam a ala feminina. Para solucioná-los, muitas vão parar nos divãs dos psicoterapeutas ou recorrem à ajuda de medicamentos. Não há nada de errado, porém, em querer ser bela e recorrer aos avançados recursos de cosméticos e cirurgias plásticas. Afinal, quem não quer ser bonito e desejado? O problema é quando a meta da beleza física almejada torna-se inalcançável. “É quando as mulheres querem partir em busca de uma perfeição estética. Essa perfeição, é claro, não existe e portanto é inatingível. Buscá-la de maneira desenfreada, implica num transtorno grave de personalidade e corre-se o risco de chegar à loucura”, explica Sylvio Ferreira, psicólogo, professor da UFPE. A partir desse quadro surgem transtornos como o dismórfico corporal. As pessoas com esse comportamento se olham o tempo todo no espelho, acham sua aparência ruim o que gera um impacto na autoestima. Ao perceberem o mínimo defeito no corpo ficam com uma preocupação tão grande a ponto de atrapalhar sua vida social, acadêmica e no trabalho. “Elas passam por um pico de ansiedade, não saem de casa, não se encontram com outras pessoas”, detalha Amaury Cantilino, psiquiatra especializado em saúde da mulher e professor da UFPE. Segundo Cantilino, 10% das mulheres que vão ao cirurgião plástico têm esse transtorno. “Em geral ela não fica satisfeita com o resultado da cirurgia plástica ou migra: se antes, por exemplo, era o formato do nariz o que a incomodava, depois da operação o alvo da insatisfação passa a ser o queixo”, exemplifica o psiquiatra que também é membro da Comissão de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria. Essas pessoas perdem a noção da realidade do seu aspecto físico e passam a ter uma visão distorcida da sua imagem. O mesmo ocorre com aquelas que sofrem de anorexia. Embora estejam extremamente magras, num grau considerado muito aquém do saudável, as anoréxicas jamais se consideram abaixo do peso. Na busca por atingir o que imaginam ser o patamar ideal, elas se submetem a uma dieta muito restritiva, praticam atividades físicas de forma exagerada, fazem jejum ou purgação, isto é, tomam laxantes ou vomitam os alimentos que ingerem. Trata-se de um transtorno que além de implicar em questões cognitivas – já que elas possuem um distúrbio da imagem – também envolve componentes físicos: por causa da privação alimentar elas não menstruam, os pelos caem, ocorre uma diminuição de potássio no organismo que pode levar a uma arritmia. “Estudos mostram que 7% das pessoas com anorexia morrem pelo baixo nível de potássio que é essencial para o ritmo cardíaco”, alerta Cantilino. Bulimia é outro transtorno que acomete as mulheres demasiadamente preocupadas com a autoimagem. Ao contrário das anoréxicas, as que sofrem de bulimia não são necessariamente magras, mas apresentam uma preocupação exagerada com o peso. Passam dias se alimentado de saladas, porém, de repente, começam a comer muito, de forma compulsiva num curto período de tempo. Em seguida vomitam o que ingeriu ou usam laxantes. “A bulimia envolve sintomas depressivos, essas pessoas se sentem culpadas por terem comido”, explica o psiquiatra. Muitas sofrem perda do esmalte dentário, perda de potássio, cloro e magnésio. Afinal, o que leva uma mulher a ter esses comportamentos? Na maioria dos casos há uma predisposição genética. Mas isso não explica tudo. Quando se analisa a realidade dessas patologias não se pode fechar os olhos para a pressão que a sociedade exerce para que a mulher seja extremamente linda e em boa forma física. Um padrão a ser seguido independentemente da idade. Basta reparar na referência que representam celebridades como Madonna, cinquentona de corpo malhado. E para agravar, nas últimas décadas, a magreza passou a ser associada ao ideal de beleza, principalmente com a popularização dos desfiles de moda e suas top models de fisionomia anoréxica. Estampado nas manchetes de jornais e revistas e admirado a partir de um simples clique nos portais da internet, esse modelo estético se impõe como um ideal de felicidade a ser alcançado. “Se pessoas com predisposição genética aos transtornos não fossem expostas a esse ambiente social talvez não desenvolvessem esse comportamento”, considera Cantilino. Ele faz uma analogia com o alcoolismo que tem prevalência baixa em certas culturas que desestimulam o consumo de bebidas alcoólicas, como as islâmicas. As mulheres, na verdade, são vítimas das convenções desses novos tempos, denominados por sociólogos como pós-modernidade, em que predominam o culto a si mesmo e à imagem. Selfies e a superexposição das pessoas nas redes sociais são algumas amostras dessa época. “A sociedade deixa de ser um projeto coletivo para se tornar um projeto de satisfação pessoal, dos indivíduos abastados e com poder de consumo”, resume Sylvio Ferreira. E nessa conjuntura é a mulher que sofre os maiores impactos já que a prevalência desses transtornos é muito baixa entre a população masculina. Na verdade, a pressão social exercida sobre a ala feminina é maior. Basta um exemplo para entender essa realidade: um homem de cabelos grisalhos é considerado charmoso, o mesmo não ocorre com as mulheres que não colorem as suas madeixas. Há ainda o fato de que homens são atraídos pelas mulheres principalmente pelo aspecto físico. Elas, porém, têm um repertório mais amplo de características que as atraem, que vão além da aparência, como a maneira como o homem fala e até pelo cheiro. “Eles são atraídos pelo visual. As mulheres sabem disso e de alguma forma assumem comportamentos que aumentam o grau de atratividade física. Numa perspectiva de psicologia evolucionista, o cuidado com a beleza acontece para que sejam mais facilmente selecionadas pelos parceiros”, esclarece Amaury Cantilino. Uma realidade muito conhecida pelo cirurgião plástico Pedro Pita, do Hospital Esperança. Segundo o médico, algumas mulheres fazem cirurgia plástica a pedido dos seus maridos. “Quando ele perde a
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