Oralidade para conectar raízes e criar novos espaços de encontro
O lirismo do sertão em contato com a oralidade da África do Oeste. Em um intercâmbio de imersão, o contador de histórias François Moïse Bamba partilha sua herança da tradição oral com comunidades quilombolas de Carnaíba, no Sertão do Pajeú, durante vivências, apresentações e oficinas gratuitas. O ator natural do Burkina Faso, país do oeste africano, tem sua passagem no sertão pernambucano programada para os dias 11 a 18 de janeiro. O projeto, que tem incentivo do Funcultura, visa contribuir com o enriquecimento das culturas, por meio de um aprendizado mútuo. Contar histórias, dentro dessa tradição oral, é uma arte que François Bamba domina e pratica. “O conto de uma maneira geral nos países africanos, e na África do Oeste em particular, era a grande escola da vida. Antes da chegada do colonizador, passávamos pelo conto para ensinar, para educar e para coabitação, colaboração e respeito das coisas e dos humanos. O conto tem esse valor muito forte, ainda tem”, relata François. As atividades do projeto serão de visita às comunidades, rodas de conversa, partilhas de saberes, momentos de contos, oficina em torno da oralidade e um momento de encerramento aberto ao público com apresentações de François, de grupos da comunidade e um palco aberto a outros artistas do sertão do Pajeú, que acontecerá no dia 18 de janeiro. Todas gratuitas e realizadas no terreiro cultural do quilombo de Abelha, em Carnaíba, onde o artista e uma equipe vão residir durante os oito dias. A ação abrange também os quilombos de Brejo de Dentro, Gameleira e Travessão do Caroá, que com o Abelha dialogam entre si através das artes e de elementos tradicionais dos quais são herdeiras. A matriz afrodescendente é o elo dessas comunidades que abrigam em torno de 330 famílias e uma população de 1.320 pessoas. “As comunidades quilombolas e os grupos de tradição cultural são portadoras da tradição oral, através da qual suas práticas se perpetuam. Acreditamos que colocar em contato essas práticas, entre artistas de cá e de lá seja profundamente enriquecedor para ambos os lados, pois o encontro permite reconhecermos no corpo a conexão antes de tudo humana que a oralidade traz, e mais precisamente a conexão histórica que temos, e através desse corpo torná-la atual e viva, abrindo caminho para novos possíveis” pontua Laura Tamiana, artista residente em Recife que acompanha François na tradução do francês para o português, na cena e fora dela, e produz suas atividades no Brasil. A dupla trabalha junto desde 2017 em atividades artísticas e culturais no Brasil e no Burkina, através de suas estruturas de produção, a Terreiro Produções e a Companhia Les Murmures de la Forge (Os Murmúrios da Forja). Deram ao conjunto de suas atividades realizadas em parceria o nome de Ba-kô, que na língua Bambara tem dois significados: “as costas da mãe” e “do outro lado da margem”, esse nome simbolizando para eles o convite a ir ao encontro do outro, à descoberta do mundo, a partir de um lugar de acolhimento e cuidado. Com as turnês do artista no Brasil, já realizaram mais de 50 apresentações em 8 estados brasileiros nesses dois anos. Para a imersão no Pajeú contam também com a coprodução da Equinócio Criações, de Karuna de Paula, e a colaboração de Edna Andrade, moradora e uma das lideranças do quilombo Abelha, ambas articuladoras e parceiras do projeto desde a sua concepção. SERVIÇO Do Burkina Faso a terras quilombolas – um encontro pela oralidade De 11 a 18 de janeiro de 2020 Encerramento aberto ao público no dia 18 de janeiro a partir de 19h. Proposta: Oito dias de intercâmbio entre François Moïse Bamba e comunidades quilombolas de Carnaíba, no sertão do Pajeú, terra conhecida por sua forte oralidade através da poesia no sertão pernambucano. Local: Quilombo Abelha Real
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