A dramaturgia brasileira dedicada ao público infantojuvenil tem tido um considerável acréscimo de qualidade, reconhecido por todos que se debruçam ao estudo dessa matéria, desde meados da década de 1980, com o surgimento do texto de Ziraldo intitulado “Flictz”, até os dias atuais. Aqui, em terras pernambucanas, não tem sido diferente. A quantidade de autores criando excelentes obras para essa faixa etária tem superado, e muito, a produção de textos para o público adulto. Provavelmente, a partir da montagem do espetáculo “O pequenino grão de areia”, de João Falcão, a percepção da escrita infantojuvenil, no que diz respeito a sua gênese e também a sua carpintaria dramática, jamais foi a mesma na cidade do Recife, para graça e glória das novas gerações de espectadores. O extrato poético em uma literatura que mistura o possível e o imaginário num resultado cênico que atraia a camada jovem por se identificar com ela, e da mesma forma cative o público adulto, que acompanha a garotada ao teatro, por induzi-lo a ser criança outra vez no faz de conta teatral, é a essência dessa dramaturgia “contemporânea”, que cada vez mais leva à cena, temas delicados para essa plateia. E o que é melhor, com tratamento fundamentalmente artístico. Nesses trabalhos, uma temática com algum teor político nada tem de panfletário ou partidário, da mesma forma que o religioso nada diz de doutrinação, mantendo-se, categoricamente, como expressão artística. Outros exemplos de temas existem e são muitos, passando por morte, sexo, tolerância, etc. Como ressonância de tudo isso, “o teatro poderá ser considerado o mais duradouro dos muitos palácios encantados que a humanidade infantil edificou. A distinção entre arte e vida começa aí”, como já nos revelou Eric Bentley em seu livro “A experiência viva do teatro” (Rio 1981). Na vertente acima exposta, são muitos os exemplos de textos encenados nos palcos de Pernambuco, escritos por dramaturgos locais, de várias gerações, a exemplo de: “Luzia no caminho das águas”, de Alexsandro Souto Maior; “Sebastiana e Severina”, de André Neves; “Minha Cidade”, de Ana Elizabeth Japiá; “O fio mágico”, de Carla Denise; “Salada mista”, de Alexsandro Silva e “As travessuras de Mané Gostoso”, de Lucino Pontes, entre outros. – É necessário aqui lembrarmos outros autores pernambucanos com vasta experiência em dramaturgia infantojuvenil, como Marco Camarotti, Luiz Felipe Botelho, André Filho, Samuel Santos, Luiz Navarro e Paulo Lima, entre outros. Grupos e companhias teatrais da capital pernambucana têm investido, tenazmente, nas linguagens literárias e dramáticas destinadas ao público infantojuvenil, obtendo resultados cênicos impagáveis, como podemos conferir nos espetáculos produzidos por grupos como: Mão Molenga, que unifica em suas criações a linguagem de atores e bonecos; a Cia. 2 em Cena, que entrelaça as expressões de teatro e circo em suas montagens; a Cia. Animée, que encena espetáculos musicais circenses com o protagonismo da palhaçaria feminina; assim como a Cia. Meias Palavras, que busca no espaço da literatura o seu efeito cênico mais notório, sem com isso deixar inferior o tratamento dado aos elementos plásticos e sonoros de suas apresentações. No caso da Cia. Meias Palavras, a presença de Luciano Pontes (criador da companhia ao lado do ator Arilson Lopes), que além de ator é um escritor de projeção nacional para o público jovem, com vários livros publicados, destacando-se: “Uma história sem pé nem cabeça” e “O carrossel do tempo”, ambas pela Edições Paulinas e “Em briga de irmão quem dá opinião?”, pela Editora FTD, justifica a reverberação literária no repertório de suas peças. É claro que a heterogeneidade no universo da produção teatral para a infância e juventude em Pernambuco é uma realidade, com espaços garantidos para produções que optam pelos tradicionais contos de fada (com superproduções do ponto de vista de efeitos ilusionistas), convivendo harmoniosamente com as peças mais contemporâneas, exemplificadas pelas aqui apontadas, criando um leque vasto de opções para o lazer cultural da criançada. – É fato também que a contação de histórias tem sido posta à disposição do público infantil, com muita frequência, em teatros, livrarias e espaços alternativos, como a que inspira a peça que sugerimos abaixo. DICAS DE ESPETÁCULOS: “Seu Rei Mandou”, da Cia. Meias Palavras Local: Teatro Marco Camarotti – SESC de Santo Amaro Dias: sábado 21/05 e domingo 22/05, às 16h Preços: R$ 20 e R$ 10 Informações: 3216-1728 “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues Local: Teatro Apolo Dias: sexta 20/05 e sábado 21/05, às 20h. Preços: R$ 30,00 e R$ 15,00 Informações: 3355-3319 ou 33553320. Romildo Moreira – ator, autor e diretor teatral.