Se você revisitar a história pernambucana, vai encontrar a economia da cana-de-açúcar como causa da elevação de Pernambuco ao patamar de a mais próspera capitania da colônia. A monocultura canavieira, no entanto, a par de produzir riquezas, inibiu nosso espírito empreendedor. Indústrias, cingidas praticamente a tecidos e fumo, quase não existiam, exceto duas usinas de açúcar. O mais era insignificante, do ponto de vista econômico, e empresarialmente amadorístico. Mesmo assim, com os pés fincados no solo árido do atraso, Pernambuco tinha a visão focada no desenvolvimento. O comercio, por seu turno, não diferia do cenário industrial. O significativo era controlado pelos estrangeiros, o irrelevante, pelos brasileiros. Isso, contudo, não se esgotaria aí. Os dourados anos 1950 assistiram ao nascimento de importantes iniciativas brotadas do clima desenvolvimentista da época, como a Sudene, embora ainda mais importante haja sido a concertação política que resultou no movimento Frente do Recife. O sonho de modernidade acalentado pelos pernambucanos estava ao alcance da mão, e teria como instrumento a política, chegando-se à chapa encabeçada por Cid Sampaio, que derrotou João Cleofas de Oliveira. Além de eloquência e da inteligência fulgurante, Cid Sampaio era apoiado por uma das maiores campanhas políticas de Pernambuco, a primeira do gênero produzida por uma agência de publicidade, que se fez procedimento hoje tão corriqueiro. Como hoje, faziam-se, inclusive, as pesquisas de opinião, tão fundamentais para o êxito da candidatura. Slogans, textos para jornais e rádios (os principais meios de comunicação da época), eram discutidos amplamente. Ancorava tudo, a Vicar, agência de Vicente Silva, realizador, depois, da Fecin, famosa feira recifense. Atenta às oportunidades, a agência funcionou bem. Tanto que pouco antes da votação, diante da greve dos produtores, publicou anúncio no Diario de Pernambuco, com o título “um líder para o Estado líder do Nordeste”. Salientava ser Pernambuco o Estado que liderava o Nordeste, mas que, para corresponder à realidade, precisava ter o que há muito não tinha, um líder. Alguém como Cid Sampaio, que nunca falhara nos momentos decisivos da vida pernambucana, como o movimento do Código Tributário, que deixou de ser reivindicação de uma classe, tornando-se repúdio do povo à prepotência, ao desmando, à má-fé. Eleito em 3 de outubro de 1958 governador de Pernambuco, ele tomou posse em 31 de janeiro do ano seguinte, inaugurando novos tempos para o Estado. No seu governo foi construída a Companhia Pernambucana de Borracha Sintética (Coperbo), voltada para produzir a borracha a partir do álcool da cana-de-açúcar. Isso sem tomar empréstimo, mas com o dinheiro do ICM, que tivera a arrecadação aumentada com a emissão dos Bônus BS, selos entregues ao comprador por ocasião da compra de mercadorias. Não foi só isso. Criou o Banco de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco (Bandepe) e instalou na capital pernambucana a Cilpe, fábrica de laticínios e de beneficiamento de leite, com unidades receptoras do produto nas principais bacias leiteiras do Estado. Politicamente, ele se caracterizou pelo pragmatismo com que defendeu os interesses pernambucanos. Opôs-se ao Movimento Militar de 1964, porém filiou-se à Arena, partido situacionista, e por ele foi eleito, em 1966, deputado federal. Em 1978, candidatou-se a senador em uma sublegenda da Arena, enfrentando como adversários Jarbas Vasconcelos do Movimento Democrático Brasileiro, o famoso MDB, e Nilo Coelho, este também da Arena, contudo apoiado pelo governador Moura Cavalcanti. Graças à soma dos votos das duas sublegendas da Arena, Nilo Coelho sagrou-se vencedor, e Cid Sampaio, segundo votado, como seu suplente. Quando Nilo Coelho faleceu, em 1983, Cid passou a ocupar, em caráter permanente, o cargo de senador, até o fim do mandato, em 1987. Mas sua dinâmica não se limitou à política. Também esteve à frente das causas classistas, tanto que ocupou vários e destacados cargos, como presidente da Federação das Indústrias e primeiro presidente eleito do Centro das Indústrias, criado para realizar estudos econômicos comparativos entre as diferentes regiões brasileiras, assumindo também a presidência da Cooperativa dos Usineiros. Foram incontáveis as homenagens recebidas por ele. Entre as tantas que lhe foram outorgadas: a Medalha de Mérito Tamandaré; a Medalha do Mérito Industrial; a Grã-Cruz da Argentina; a Grã-Cruz da Itália; a Grande Oficial da Ordem do Congresso Nacional; a Medalha do Clube de Engenharia de Pernambuco e, em 2002, o título Expoente de Pernambuco, concedido pela Assembleia Legislativa do Estado. Cid Feijó Sampaio, usineiro e industrial, quinto filho do agricultor e industrial Mendo de Sá Barreto Sampaio e de Sofia Feijó Sampaio, formou-se em química, no Recife, e em química Industrial, no Rio de Janeiro. Estudou ainda mais, engenharia civil, seguido por engenharia industrial, sociologia e biologia, formando-se em todos. Como se viu, foi um homem versátil, vasto, intelectualmente inquieto, instrumentado para discutir os problemas não só de Pernambuco, mas do Brasil. Nascido e morrido no Recife, o homem que mudou Pernambuco veio ao mundo em 7 de dezembro de 1910 e dele se foi em 30 de setembro de 2010, às vésperas de completar 100 anos. *Por Marcelo Alcoforado