Oportunidades e desafios nos investimentos de descarbonização automotiva em PE
*Por Edgard Leonardo A Stellantis prevê investimentos da ordem de R$ 30 bilhões no Brasil para o período entre 2025 e 2030, destes, R$ 13 bilhões, 43% do total, deverão ser investidos diretamente na fábrica do grupo em Goiana, no estado de Pernambuco. Importante destacar que esse é o maior plano de investimentos já anunciado por uma montadora no Brasil e certamente com impacto significativo em nosso estado. A infraestrutura de recarga ainda é incipiente no Brasil e certamente isso contou na hora do grupo realizar seu planejamento estratégico, apontando na direção de investimentos em veículos híbridos e elétricos. Importante lembrar também que a montadora foi a primeira a lançar um carro com versão a álcool no Brasil, em 1979. O Fiat 147 Álcool foi lançado no contexto do Programa Nacional do Álcool (Proálcool) e desempenhou um papel crucial na popularização do etanol como combustível. O Brasil certamente é um país que apresenta uma vantagem competitiva em termos de descarbonização, pois tem a infraestrutura para etanol desde os anos 1980 e cultura de utilizar automóveis movidos a etanol ou flex, além do fato que nossa produção de etanol tem uma pegada de descarbonização maior que de outros países, pois no Brasil (ao contrario dos EUA) usamos biomassa para produzir a eletricidade e o calor necessário ao processo produtivo. Ao combinar a tecnologia dos carros flex associada aos motores elétricos, certamente a Stellantis está apostando na opção mais lógica.Para o Brasil como um todo temos um impacto positivo na manutenção do projeto do automóvel movido a etanol, uma solução mobilidade sustentável e que gera emprego e renda no país e, claramente, em nosso estado. Somos o segundo maior produtor mundial de etanol do planeta, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Outro ponto que merece destaque é a oportunidade para profissionais atuarem diretamente no que existe de mais moderno em termos de tecnologias do setor automotivo. Isso coloca o estado na frente e permite certamente o surgimento de uma nova geração de técnicos especialistas em automóveis elétricos/híbridos, seja pelos treinamentos oferecidos, seja pela atração de novos players pela oportunidade gerada em pesquisa e inovação nas universidades da região, além da própria atração de profissionais especializados. Isso acaba gerando maior difusão do conhecimento e qualificação da mão de obra. Importante que o estado possa finalizar o prometido anel viário que ajudaria a fabricante italiana a escoar sua produção local até o Porto de Suape, destacando que a contrapartida do estado para com a indústria está há pelo menos uma década atrasada. Melhorar a infraestrutura viária, facilitando o movimento não apenas das cargas, mas também das pessoas, certamente contribuirá para fixar os trabalhadores e as empresas fornecedoras e prestadoras de serviço em nosso estado. Estamos diante de uma ótima oportunidade para escolas técnicas e instituições de ensino superior, que precisam ofertar cursos na área de maneira a qualificar a oferta de mão de obra para o setor, lembrando que as oportunidades estão por toda a cadeia produtiva. Temos no estado, além de excelentes instituições de ensino, o Porto Digital, que possui uma miríade de empresas qualificadas e que certamente serão beneficiadas pelo direcionamento estratégico do polo automotivo como um todo. *Edgard Leonardo é economista e professor da Unit-PE
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