Em contexto de grandes fluxos de informação, a sociedade é levada a retroalimentar os conteúdos e a escola é desafiada a aderir a estratégias pedagógicas alinhadas com o seu tempo Não há dúvidas de que, neste exato momento, um grande volume de conteúdos está sendo atualizado nas diversas plataformas digitais, e isso não acontece por acaso, visto que na expectativa desta frenética produção, há uma população ávida por consumir novos conteúdos. Ou seja, somos contemporâneos de uma sociedade informatizada e com inclinações à produção de conhecimento. Castells (1996) explica que a sociedade informacional traz em seu discurso uma espécie de capitalismo próprio, o qual se nutre do fluxo de dados nas diversas redes, bem como fortalece o consumo de conteúdos e estimula a produção de novos artefatos. Trata-se de uma engrenagem, onde a moeda é a própria informação e o seu valor depende, em grande medida, da possibilidade que o conteúdo tem de gerar conhecimento. Mas quando o contexto é educacional, este quadro desafia gestores, professores e pesquisadores da área, no mínimo, em dois aspectos: primeiro, em reconhecer que o estudante do século XXI transita por um cenário muito propício à liberdade de intervir; segundo, em repensar a sistemática pedagógica, sobretudo naquilo que afeta a comunicação entre professor e estudante. Nesse sentido, a ideia de “educação dialógica”, defendida por Paulo Freire (2014), pode funcionar como um facilitador para conduzir as trilhas que visam construir conhecimento nos tempos de hoje. Ou seja, a escola contemporânea das mudanças deste século e que aposta em inovação é convidada a refletir sobre como o diálogo pode nortear o ato de aprender. Claro, considerando que a atual clientela de estudantes, ora se caracteriza como consumidor, ora se posiciona como produtor de conteúdo. Isso porque hoje, além de navegar pelos conteúdos disponíveis, qualquer pessoa pode montar o seu site, criar seu blog, lançar sua fanpage, produzir seus vídeos e navegar no que a música ‘Pela internet’ classifica como sendo um arcabouço de informações e que Gilberto Gil, autor da canção, prefere chamar de “infomar”. A metáfora de Gil é adequada, porque define bem o tamanho do reservatório para acumular conteúdo – é quase infinito, do tamanho das nuvens, enfim – agora é possível supor, de fato, que ‘o céu é o limite’. E não se trata de “viralização”, “modinha” ou “pós-verdade” que impactam a sociedade, já que vários processos da vida cotidiana nos fazem aceitar o caráter irreversível da tecnologia. Presente e invisível, a tecnologia nos permite resolver diversos problemas e melhor - dar vazão ao fluxo de dados solicitados pela sociedade. Por isso, mais uma vez no contexto educacional, é preciso conceber a tecnologia como parte integrante de um momento histórico em que propor mudanças no processo de construção do conhecimento é inevitável. E, por esse motivo, ela pode favorecer a inovação durante um dos processos mais valiosos da nossa existência - a aprendizagem. É preciso tê-la (a tecnologia) como uma parceira, no mínimo, estratégica, já que ela pode colaborar com uma metodologia simpática aos jovens desta geração, além de fomentar dados decisivos para garantir o sucesso de qualquer projeto pedagógico. Para Assmann (2000), no âmbito da aprendizagem e do conhecimento, é nítida a transformação das ecologias cognitivas, e isso, em grande medida, se deve ao advento das novas tecnologias, que não substituirão professores nem diminuirão o esforço disciplinado, mas ajudarão a intensificar o pensamento complexo, interativo e transversal. Assim, levando em conta todo aparato tecnológico disponível, a instituição ‘escola’ deve intensificar alguns signos para promover aprendizagem no ritmo da sociedade da informação. Trata-se de valores que merecem prioridade em detrimento do próprio aparato tecnológico, a exemplo da criatividade, do diálogo e da ousadia. Criatividade para autenticar uma assinatura, estilo ou marca; diálogo para compartilhar informações e gerar conhecimento útil para alimentar o fluxo das redes e a ousadia para ter a iniciativa de publicar conteúdos e conquistar seguidores. Desta forma, nos despediremos do paradigma em que consumir conteúdo é a única atitude para alcançar o aprendizado. É preciso ir mais além – juntar os pedaços de conhecimento, exercitar o lado reflexivo, refazer saberes e se posicionar através da produção de conteúdo. Isso é transformar a ecologia cognitiva e aderir a um clima propenso ao diálogo, à criatividade e à coragem. Se navegar é preciso, produzir conteúdo é uma necessidade que faz de cada cidadão um ser conectado, mas também participativo. E haja “infomar”! *Jaime Cavalcanti - jaime@cbvdigital.com.br Mestre em Educação | Consultor em Tecnologia Educacional | Assessor de TE Colégio CBV LEIA MAIS Criatividade e ousadia em favor da interdisciplinaridade LEIA TAMBÉM Educação Cidadã (por Eduardo Carvalho) Ensino x Aprendizagem (por Armando Vasconcelos)