Tullio Ponzi: "As pessoas tenderão a morar mais perto do trabalho"
O isolamento social esvaziou as cidades e expôs a necessidade de uma série de adaptações urbanas para o período Pós-Covid 19, em que haverá um maior relaxamento da quarentena, mas ainda sem a descoberta da vacina. Novos hábitos e inovações no espaço público poderão transformar as cidades do mundo inteiro. Sobre essas tendências, o repórter Rafael Dantas conversou com o Secretário de Inovação Urbana da Prefeitura do Recife, Tullio Ponzi. Ele fala sobre a experiência da capital pernambucana no enfrentamento da disseminação do novo coronavírus e apresenta algumas das mais significativas mudanças que as metrópoles globais estão promovendo no "novo normal". Confira! A transformação das cidades foi o tema da capa desta semana da Revista Algomais, em matéria assinada por Rafael Dantas, que ouviu especialistas e gestores públicos sobre as tendências urbanas no cenário Pós-Pandemia. . Você tem trabalhado nos últimos anos com inovação urbana. As cidades e metrópoles tem características que são inconciliáveis com um cenário de prevenção de pandemias, visto que é baseada sempre em aglomerações. Que tendências urbanas o mundo já tem apontado para as cidades no "novo normal" pós Coronavírus? Até o surgimento de uma vacina ou de um tratamento eficaz, vai ser fundamental a humanidade aprender a conviver com o Coronavírus. São novos comportamentos, hábitos, valores, formas de se relacionar que pautarão esse novo mundo. Ele nos apresenta muitas incertezas, mas também muitas oportunidades. É como se o coronavírus fosse uma aceleradora de futuro. E sob a perspectiva das cidades não é diferente. A tendência mais marcante que se vê mundo afora é a da resiliência urbana, a adaptabilidade dos espaços urbanos, cada vez mais flexíveis, híbridos e “ressignificáveis”. Algumas cidades resolveram apostar na mobilidade ativa e na ressignificação de vazios urbanos. Quase que um “open” das ruas para as pessoas. Que passaram semanas em Lockdown e gritavam por essa necessidade de espaço urbano ou até mesmo descobriram que tinham. É como se as cidades mais do que nunca assumissem um papel de produtor de Oxitocina, o hormônio da felicidade nas pessoas. . Na prática, como têm sido essas experiências? São basicamente soluções urbanas estruturantes já previstas em planos de longo prazo, experimentais, com potencial de se tornarem definitivas, ou até mesmo transitórias, mas que de alguma forma estimulem uma mudança de comportamento coletivo para uma cidade mais sustentável. Ações que dialogam com a necessidade do distanciamento social e estimulam as pessoas a viver a cidade, caminhar, pedalar, ou até mesmo trabalhar a pé ou de bicicleta, a exemplo de Paris que criou “a cidade a 15 minutos”, ou Bogotá que ainda durante a pandemia expandiu sua malha cicloviária provisória. É o carro de uma vez por todas perdendo espaço, a exemplo de Londres com a ampliação das Zonas Livres de Carros, só permitindo pedestres, ciclistas e o transporte público. . Quais outras iniciativas globais você destacaria? Uma das iniciativas mais interessantes por conta da escala já alcançada, do baixo custo, da facilidade de implantação e do alto impacto, é nos Estados Unidos. Em Seatle e Oakland com programas de fechamento provisório de ruas nos finais de semana para atividades de lazer e convivência, priorizando a escolha a partir da ausência de praças e parques nas proximidades. Chama atenção também urbanismo tático em Barcelona de alargamento das calçadas, e sinalizações lúdicas de caráter pedagógico e educativo, a fim de manter o distanciamento social, especialmente em lugares que possam gerar aglomeração, a exemplo de terminais ou locais de contemplação. . Você acredita que as transformações na vida urbana pós-pandemia poderá influenciar a decisão de onde as pessoas irão morar? A médio prazo, além do home-office, acredito que as pessoas tenderão a morar mais perto do seu trabalho, ir a pé trabalhar ou fazer tudo a pé. E os Bairros serão gradativamente redesenhados, cada vez mais uma bairro com todos os serviços, presencial ou online, ou seja, que funcione, mas que também aproxime as pessoas. Em resumo, é como se do ponto de vista urbano, a gente aqui no Recife tivesse uma janela de oportunidade para antecipar algumas metas do Recife 500 anos, nosso plano de Desenvolvimento de Longo Prazo. De antecipar o futuro para o presente. . A pandemia expôs mais do que nunca o drama das periferias, de falta de saneamento, acesso à água, entre ouros fatores. Nesse cenário pós-auge da pandemia o que pode e deve ser feito para garantir mais segurança sanitária para essas pessoas, visto que temos a expectativa de novas ondas da Covid-19 e também de outras pandemias? A dignidade de quem mora nas comunidades e a urbanização das favelas do Brasil mais do que uma agenda do Governo Federal, precisa ser um projeto de Nação. É um problema secular, que se arrasta há décadas e precisa ser de uma vez por todas priorizado. Não é apenas sobre tomar uma decisão política e investir algo, ainda que seja mais do que sempre se investiu, é sobre sabermos quando vamos realmente resolver, pra cada real a mais ou a menos investido. Não interessa se o investimento será público ou privado. O que interessa é que aconteça, que se priorize. Que se faça os dois. Aliás, a falta de saneamento, de acesso à água, e todos os outros problemas que existem nas periferias do Brasil, de infraestrutura e habitabilidade urbana, não são nem de direita, nem de esquerda. É preciso um Estado Social forte. O que não significa ser um estado anacrônico. Veja, não me refiro a tamanho, se mínimo, se máximo, também não interessa. O que interessa é a solução que o Estado apresenta para cada desafio. E nesse ainda o Estado brasileiro não apresentou. Como tem sido a experiência do Recife no enfrentamento à Covid-19 em relação ao estímulo ao isolamento social? Aqui no Recife firmamos uma parceria com o ONU-Habitat, pioneira em todo Brasil, que aposta no engajamento comunitário para a conscientização sobre a importância do isolamento social, uso das máscaras, lavar as mãos e higienização. As ações foram realizadas pelos próprios moradores, que também fizeram novas
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