Arquivos Entrevistas - Página 23 de 28 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

Tullio Ponzi: "As pessoas tenderão a morar mais perto do trabalho"

O isolamento social esvaziou as cidades e expôs a necessidade de uma série de adaptações urbanas para o período Pós-Covid 19, em que haverá um maior relaxamento da quarentena, mas ainda sem a descoberta da vacina. Novos hábitos e inovações no espaço público poderão transformar as cidades do mundo inteiro. Sobre essas tendências, o repórter Rafael Dantas conversou com o Secretário de Inovação Urbana da Prefeitura do Recife, Tullio Ponzi. Ele fala sobre a experiência da capital pernambucana no enfrentamento da disseminação do novo coronavírus e apresenta algumas das mais significativas mudanças que as metrópoles globais estão promovendo no "novo normal". Confira! A transformação das cidades foi o tema da capa desta semana da Revista Algomais, em matéria assinada por Rafael Dantas, que ouviu especialistas e gestores públicos sobre as tendências urbanas no cenário Pós-Pandemia. . Você tem trabalhado nos últimos anos com inovação urbana. As cidades e metrópoles tem características que são inconciliáveis com um cenário de prevenção de pandemias, visto que é baseada sempre em aglomerações. Que tendências urbanas o mundo já tem apontado para as cidades no "novo normal" pós Coronavírus? Até o surgimento de uma vacina ou de um tratamento eficaz, vai ser fundamental a humanidade aprender a conviver com o Coronavírus. São novos comportamentos, hábitos, valores, formas de se relacionar que pautarão esse novo mundo. Ele nos apresenta muitas incertezas, mas também muitas oportunidades. É como se o coronavírus fosse uma aceleradora de futuro. E sob a perspectiva das cidades não é diferente. A tendência mais marcante que se vê mundo afora é a da resiliência urbana, a adaptabilidade dos espaços urbanos, cada vez mais flexíveis, híbridos e “ressignificáveis”. Algumas cidades resolveram apostar na mobilidade ativa e na ressignificação de vazios urbanos. Quase que um “open” das ruas para as pessoas. Que passaram semanas em Lockdown e gritavam por essa necessidade de espaço urbano ou até mesmo descobriram que tinham. É como se as cidades mais do que nunca assumissem um papel de produtor de Oxitocina, o hormônio da felicidade nas pessoas. . Na prática, como têm sido essas experiências? São basicamente soluções urbanas estruturantes já previstas em planos de longo prazo, experimentais, com potencial de se tornarem definitivas, ou até mesmo transitórias, mas que de alguma forma estimulem uma mudança de comportamento coletivo para uma cidade mais sustentável.   Ações que dialogam com a necessidade do distanciamento social e estimulam as pessoas a viver a cidade, caminhar, pedalar, ou até mesmo trabalhar a pé ou de bicicleta, a exemplo de Paris que criou “a cidade a 15 minutos”, ou Bogotá que ainda durante a pandemia expandiu sua malha cicloviária provisória. É o carro de uma vez por todas perdendo espaço, a exemplo de Londres com a ampliação das Zonas Livres de Carros, só permitindo pedestres, ciclistas e o transporte público. . Quais outras iniciativas globais você destacaria? Uma das iniciativas mais interessantes por conta da escala já alcançada, do baixo custo, da facilidade de implantação e do alto impacto, é nos Estados Unidos. Em Seatle e Oakland com programas de fechamento provisório de ruas nos finais de semana para atividades de lazer e convivência, priorizando a escolha a partir da ausência de praças e parques nas proximidades. Chama atenção também urbanismo tático em Barcelona de alargamento das calçadas, e sinalizações lúdicas de caráter pedagógico e educativo, a fim de manter o distanciamento social, especialmente em lugares que possam gerar aglomeração, a exemplo de terminais ou locais de contemplação. . Você acredita que as transformações na vida urbana pós-pandemia poderá influenciar a decisão de onde as pessoas irão morar? A médio prazo, além do home-office, acredito que as pessoas tenderão a morar mais perto do seu trabalho, ir a pé trabalhar ou fazer tudo a pé. E os Bairros serão gradativamente redesenhados, cada vez mais uma bairro com todos os serviços, presencial ou online, ou seja, que funcione, mas que também aproxime as pessoas. Em resumo, é como se do ponto de vista urbano, a gente aqui no Recife tivesse uma janela de oportunidade para antecipar algumas metas do Recife 500 anos, nosso plano de Desenvolvimento de Longo Prazo. De antecipar o futuro para o presente. . A pandemia expôs mais do que nunca o drama das periferias, de falta de saneamento, acesso à água, entre ouros fatores. Nesse cenário pós-auge da pandemia o que pode e deve ser feito para garantir mais segurança sanitária para essas pessoas, visto que temos a expectativa de novas ondas da Covid-19 e também de outras pandemias? A dignidade de quem mora nas comunidades e a urbanização das favelas do Brasil mais do que uma agenda do Governo Federal, precisa ser um projeto de Nação. É um problema secular, que se arrasta há décadas e precisa ser de uma vez por todas priorizado. Não é apenas sobre tomar uma decisão política e investir algo, ainda que seja mais do que sempre se investiu, é sobre sabermos quando vamos realmente resolver, pra cada real a mais ou a menos investido. Não interessa se o investimento será público ou privado. O que interessa é que aconteça, que se priorize. Que se faça os dois. Aliás, a falta de saneamento, de acesso à água, e todos os outros problemas que existem nas periferias do Brasil, de infraestrutura e habitabilidade urbana, não são nem de direita, nem de esquerda. É preciso um Estado Social forte. O que não significa ser um estado anacrônico. Veja, não me refiro a tamanho, se mínimo, se máximo, também não interessa. O que interessa é a solução que o Estado apresenta para cada desafio. E nesse ainda o Estado brasileiro não apresentou.   Como tem sido a experiência do Recife no enfrentamento à Covid-19 em relação ao estímulo ao isolamento social? Aqui no Recife firmamos uma parceria com o ONU-Habitat, pioneira em todo Brasil, que aposta no engajamento comunitário para a conscientização sobre a importância do isolamento social, uso das máscaras, lavar as mãos e higienização. As ações foram realizadas pelos próprios moradores, que também fizeram novas

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Graça Ataíde: "A história elege suas heroínas"

No mês da mulher, a doutora em história social pela USP, onde é pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER), e professora da UFRPE Graça Ataíde fala sobre as razões que levaram o papel feminino a ser invisibilizado na sociedade por gerações. Especialista em governos autoritários, ela conversou com os jornalistas Cláudia Santos e Rafael Dantas sobre alguns nomes menos conhecidos da vida política pernambucana. Personagens que durante os anos de chumbo assumiram o protagonismo para abrir algumas pautas e conquistar direitos que foram estendidos a todas as brasileiras. Por que o papel da mulher na história é desconhecido ou pouco estudado? Qual o motivo dessa invisibilidade? A mulher foi muito protegida. Mas essa proteção na história da humanidade era uma proteção para barrá-la de crescer. Impedi-la de alcançar espaços que têm sido tradicionalmente ocupados pelos homens. Isso é uma tradição e decorre da cultura de cada país, uma mais perversa do que a outra. Os países foram trazendo a mulher para um espaço de onde ela não deveria sair. Muitas lutaram pelo direito do voto. Elas começam a votar no Brasil em 1933, para a Constituinte. Mas por que Getúlio concede o voto? Porque era a garantia de barreira contra o comunismo. A Igreja Católica faz um pacto grande com o Estado nessa época dizendo que as mulheres iriam votar para eleger constituintes fiéis católicos para depois voltarem para o recôndito do lar. Isso está, inclusive, registrado em um artigo na revista Maria, da Congregação Mariana. Hoje nós, mulheres, temos buscado espaços, mas não tem sido fácil. Esse fenômeno da invisibilidade feminina foi mais forte no Brasil? Não. Na segunda metade do Século 19, franceses, como o psicólogo Gustave Le Bon, diziam que o cérebro da mulher era inferior ao do homem, salvo o de algumas mulheres francesas. Ele era totalmente preconceituoso. Então, não é uma história do Brasil, nem do Nordeste, mas é do mundo. Estudei no meu doutorado e pós-doutorado a ditadura varguista no Brasil e salazarista em Portugal, que era mais machista que a brasileira. Em Portugal, na época de Salazar, havia uma sociedade agrária, que tendia a ser muito conservadora. No Brasil, antes da podermos votar, éramos vistas pela sociedade iguais aos índios, loucos e crianças. Há um livro sobre a República no Brasil de José Murilo de Carvalho chamado Formação das Almas que informa que o único quadro mostrando a mulher na República brasileira foi pintado na Itália e não tem projeção no Brasil. Tentou-se muito trazer a figura de Marianne, da Revolução Francesa, para o Brasil, mas não se conseguiu (trata-se da representação simbólica da República pelos franceses, pintada em quadros de artistas como Eugène Delacroix e que está cunhada na moeda de R$ 1 e impressa na nota de R$ 100). No seu livro História (nem sempre) bem-humorada de Pernambuco: 140 caricaturas do Século 19, escrito com a professora da UFRPE Rosário Andrade, como a mulher era representada nessas charges? Essa publicação chegou a ser premiada no Troféu HQ Mix, como melhor livro teórico. Nela fica bem claro que todas as vezes em que se queria caracterizar alguma coisa ruim era usada uma figura feminina. Por exemplo, quando queriam retratar a República que estava mal, desenhavam uma mulher prostituta. Diferentemente, na França, a República era a figura da Marianne, mulher romana, altiva. No meu conceito, essa questão está centrada no imaginário construído sobre a mulher, que é muito forte ainda. Estudei algumas mulheres na Revolução de 1930. Quando é criado o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e acontece a Intentona Comunista, muitas mulheres são perseguidas. Quando tive acesso ao arquivo do DOPS, pude ver um pouco da vida dessas mulheres. Acho que todo esse silêncio em torno delas tem a ver com uma cultura não só do Brasil, mas mundial. Tenho 70 anos, estou há 42 na universidade. Nesse tempo, muitas mulheres tiveram um papel importante também no combate à ditadura de 1964. Mas elas são homenageadas apenas colocando seus nomes em espaços pouco significantes da cidade. O que está na base desse imaginário sobre a figura feminina? A sociedade patriarcal que não permitia à mulher nem se sentar à mesa na época da colonização. Ela sabia que o marido usava as escravas. Havia muito sadismo por parte das sinhás em relação às escravas. O livro Proteção e Obediência mostrava que uma mulher branca em São Paulo só andava na rua, mesmo depois da abolição, no fim do Século 19, com uma criança negra, que era a sua proteção. Na verdade, era para dizer que ela não estava só. Isso era terrível porque uma criancinha não poderia socorrer uma mulher adulta. A mulher era colocada num lugar de que tinha que ser protegida. Mas ao mesmo tempo era silenciada e invisibilizada. Elas não definiam nada da vida dos filhos nem tinham direito ao prazer. O prazer feminino é uma coisa muito nova, vem com a minha geração dos anos 60, que começou a revolucionar, que rasgou o sutiã na rua e que não achava que o seu corpo teria que ser perfeito. . Como a senhora avalia a preocupação da mulher com o corpo dos dias de hoje? Na geração de agora a mulher se preocupa muito com o corpo que ela vai apresentar e só pode ser para o homem. As suas rugas e o seu corpo é a sua vida, a sua história. Se observarmos pessoas como a atriz Vanessa Redgrave (hoje aos 83 anos) é uma mulher linda. Ou ao ver uma foto da escritora e crítica de arte Susan Sontag quando já tinha uma idade avançada (falecida aos 71 anos, em 2004) são mulheres lindas na velhice. Vejo quase que uma escravidão da mulher em relação à balança. Isso é para quê? Se for para um orgulho pessoal, tudo bem. Mas senão for, o caminho não é por aí. Dentro dessa reflexão acerca da relevância social das mulheres, qual a sua análise sobre Brites de Albuquerque, mulher de Duarte Coelho? A

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Alfredo Gomes: "Precisamos dialogar com a sociedade"

Alfredo Macedo Gomes assume a reitoria da UFPE numa época em que a ciência e a academia são criticadas e sofrem com cortes de verbas. Graduado em psicologia, com mestrado em sociologia e doutorado em educação (PhD) pela University of Bristol, o novo reitor propõe, nestes tempos em que setores rejeitam o conhecimento científico, que a universidade tenha um papel protagonista na busca de soluções para o País. Sertanejo de Ouricuri, ele comemora a interiorização dos cursos universitários e a política de cotas como forma de democratizar a instituição. Para enfrentar o contingenciamento de verbas, ele disse, nesta conversa com Cláudia Santos e Rafael Dantas, que discutiu o assunto numa reunião com o Ministério da Educação, e busca também novas fontes de recursos com a instalação de uma usina fotovoltaica e o aluguel de espaços como o Centro de Convenções da UFPE. Quais os planos da sua gestão? É uma gestão que procura recuperar uma universidade que teve seu protagonismo na relação com a sociedade, com o sistema produtivo, com os movimentos sociais e culturais. Temos que fazer um amplo diálogo com comunidade, professores, técnicos e estudantes para construir uma instituição e fortalecê-la coletivamente por meio da participação. Também organizamos um processo de planejamento. Temos nos debruçado sobre a questão da universidade de modo geral, seus diferentes setores, para fazer um diagnóstico mais detalhado. Temos feito reuniões para estabelecer objetivos, metas e estratégias para depois dizer as prioridades e como colocar isso na questão temporal. Vamos dar um foco especial na infraestrutura, temos excelentes equipamentos que precisam ser recuperados para estar à disposição da nossa comunidade e da sociedade de uma maneira geral, como o Núcleo de Educação Física e Esporte. A comunidade do entorno da universidade utiliza muito esses equipamentos. Precisamos desenvolver uma política de lazer e esporte tendo em vista a qualidade de vida. Também está nos planos a recuperação do complexo cultural, o teatro afundou o piso e desde 2013 está fechado. Estamos recuperando o Centro de Convenções, o Cecon, vamos finalizar a recuperação da concha acústica, por volta de abril ou maio do próximo ano, para desenvolver também as políticas culturais. Priorizamos ainda a qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão, e estamos preocupados em recuperar boas taxas de aprovação e de terminalidade dos cursos de graduação. Como o senhor está lidando com os cortes do MEC? A universidade tem carências e necessita de recursos adicionais para que possamos dar um salto de qualidade. Houve um período em que o que dominou a agenda foi expandir e neste momento não conseguimos dar conta de ter uma boa infraestrutura. Estivemos no Ministério da Educação duas vezes para apresentar os projetos da universidade, de solicitar recursos para finalizar as obras em andamento. Ainda não tivemos o desembolso desses recursos porque faz parte de um processo mais longo. Temos procurado ações que garantam o funcionamento da universidade no longo prazo. Colocamos recursos para contratar uma usina fotovoltaica e com o dinheiro economizado aplicaremos em outros projetos. Tomamos medidas para colocar em prática um plano de sustentabilidade financeira, captando recursos por meio de ações como fazer a locação do Cecon para a sociedade. Temos vários outros equipamentos, como o Núcleo de Educação Física. Isso sem comprometer a utilização acadêmica. Os países que mais se desenvolveram foram os que mais investiram em educação e ciência. Diante desses cortes, qual a perspectiva do futuro do desenvolvimento do Brasil? Hoje o conhecimento é (talvez o termo não seja adequado) um insumo estratégico para o desenvolvimento de qualquer país. Conhecimento, assim como as universidades, é estratégico para colocar o Brasil de forma diferenciada no processo global. Se ignorarmos esses fatos concretos, vamos jogar o País para trás. Precisamos ter investimentos constantes e de longo prazo na área tecnológica e científica, para colocar o Brasil em outro patamar. É necessário fazer um grande esforço em educação, ciência e infraestrutura no Brasil para dar um salto de qualidade. É preciso investir na formação de professores, infraestrutura escolar, métodos de ensino adequados, equipamentos. Isso é muito dinheiro, mas tem que ser uma decisão estratégica e ter constância na pauta nacional durante 10, 20 anos. Do contrário, dizer que educação é um assunto importante continuará sendo uma figura de retórica. Como está a implantação da usina fotovoltaica? Fizemos a contratação no final de 2019 e ela vai ser executada ao longo de 2020. Foi um recurso liberado pelo MEC. Pagamos hoje R$ 1,6 milhão na conta de energia por mês. O dinheiro economizado será revertido para a manutenção, em políticas que envolvem iniciação científica, programas de extensão, bolsas para estudantes. Cinquenta por cento deles são provenientes de escolas públicas e isso alterou profundamente o perfil da universidade que era voltada para as classes médias e bem abastadas. Com a política de cotas, a universidade ficou com um perfil de que é mais a cara do Brasil. Por isso temos que implantar políticas de permanência dos estudantes. Isso envolve não apenas ter residências estudantis e restaurante universitário, mas ter também outras políticas. Essa mudança afetou o desempenho acadêmico? Não. Os dados de que a UFPE dispõe mostram que não há alteração do ponto de vista do desempenho. Temos áreas que, independentemente das cotas, têm um índice alto de evasão e de repetência. Isso acontece no Brasil como um todo em instituições públicas e privadas. Precisamos mudar as práticas pedagógicas porque não é admissível que 80% de uma determinada turma não conclua o curso. Nas áreas das engenharias, de exatas e da natureza as médias de evasão são muito altas. Alguma coisa está errada, não se pode dizer que a culpa é exclusiva dos estudantes. Precisamos fazer uma discussão, melhorar os métodos de ensino, fazer a formação do ponto de vista pedagógico dos professores, melhorar a questão da presença mais permanente dos estudantes. Uma universidade não é um curso de ensino superior, em que o estudante participa da aula e depois vai para casa. É também participar da iniciação científica, de seminários, de programas de extensão, de monitoria. O

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Daniel Queiroz: "O celular pode perder seu protagonismo"

Daniel Queiroz tornou-se presidente do Sinapro-PE (Sindicato das Agências de Propaganda de Pernambuco) e, mais recentemente, da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) numa conjuntura desafiadora. Além de enfrentar uma das mais longevas crises econômicas do País, a publicidade, como todo setor, enfrenta o turbilhão de transformações provocadas pelas novas tecnologias. Aos 42 anos, formado em administração de empresas e descendente de uma família empresarial que construiu a bem-sucedida agência Ampla, Daniel garante que só o conhecimento e o profissionalismo publicitário podem garantir a comunicação das marcas nestes tempos de mudanças constantes. Nesta conversa com Cláudia Santos, ele falou sobre o comportamento do consumidor, o futuro das mídias e preveniu que novas mudanças estão por vir e podem tirar o protagonismo do hoje onipresente smartphone. Como está sua gestão à frente do Sinapro? É a gestão de um time. Temos um histórico de uma liderança associativa sozinha. Isso nem é culpa do líder associativo, mas do ambiente empresarial que não se mobiliza em torno do bem comum. Meu discurso desde o início foi: vamos assumir juntos uma gestão para que mais pessoas façam algo por todos. Formamos a chapa Time Sinapro com 20 integrantes, como exige o estatuto. Assumimos, em prol do mercado, ações com um plano estratégico para ser executado em três anos de mandato, a partir de julho de 2018. O primeiro passo foi entender como funcionava a entidade no papel de interlocução das demandas do mercado e do ponto de vista operacional. Também atuamos na oferta de serviços que levassem às agências um domínio maior sobre as transformações que o negócio está vivendo. Criamos uma plataforma chamada Chacoalha, com o objetivo de dar uma chacoalhada no conhecimento. Ela consiste em levar para os profissionais das agências informações sobre o que cada meio está vivendo de mudanças e o que há de tendência. Não há nada parecido com que aconteceu nesses últimos anos. Podemos até fazer referência da mudança tecnológica com a chegada dos computadores, que estava mais ligada a produtividade e agilidade. Agora, vivemos uma mudança de comportamento. Precisamos entender como a comunicação pode atingir de maneira mais eficaz as pessoas diante dessas mudanças. Também inovamos no Prêmio de Propaganda de Pernambuco (PPP), que historicamente era um momento de aplaudir a produção publicitária feita ao longo do ano. Nessa última edição, antes da premiação, apresentamos 10 palestras com conteúdos relevantes sobre toda essa transformação. Foi um movimento muito bem aceito, que também gerou debates, conversas, análises. Em paralelo, percebemos que o Sinapro não tem uma estrutura para manter esse modelo vivo, independentemente da liderança que for eleita. Estamos organizando essa governança, preparando profissionais para que eles sejam os tutores e os executores do projeto que a diretoria pensa e lidera. Como as novas tecnologias impactaram o trabalho das agências? Agência e anunciante ainda estão aprendendo a lidar com todas essas transformações. Com as facilidades das redes sociais, alguns empresários passaram a acreditar que eles próprios poderiam fazer a sua comunicação e, até certo nível, isso é possível. Mas as empresas de até um determinado nível para cima requerem estratégia, conhecimento do impacto da mensagem e da relação da marca com o consumidor. Nesse caso é preciso um trabalho mais especializado. Vi uma frase que diz: “ficou muito fácil você chegar no coração do seu consumidor”, porque o mundo mobile permitiu isso por meio das redes sociais. O mais importante, porém, não é só chegar, é o que fazer quando você chegar lá. Continuo acreditando que só por meio de profissionais especializados é que os anunciantes vão conseguir saber o que fazer quando chegam no coração dos seus consumidores. Até porque, no mundo em que a gente está vivendo, a quantidade de mensagens é enorme. Se facilitou para você como empresário chegar no coração do seu consumidor, facilitou também para todos os seus concorrentes. Que mudanças a internet promoveu na publicidade? Antes, a comunicação era um caminho de uma via. Como marca, você comunicava e conquistava ou não as pessoas, aquilo ali já era o seu resultado final. Com o mundo mobile, o caminho é de duas vias, o consumidor é conquistado ou não e ele fala bem ou mal de você. E é bom que fale mesmo porque é falando que a gente vai aprendendo onde a gente está acertando ou não como marca. Mas ao mesmo tempo isso se tornou muito mais difícil porque o consumidor também fala sobre sua marca e não só você. E aí é onde está o segredo do que fazer quando chegar no coração do consumidor. A história do boca a boca nunca foi tão forte como agora em que a partir de uma simples pesquisa na internet sabe-se o que outras pessoas acham daquele produto que você está pensando em comprar. A tecnologia é um meio que veio transformar o comportamento e quem não souber lidar com esse comportamento não adianta ter o meio disponível porque não vai saber usá-lo. Como ficam as mídias tradicionais em meio a essas transformações? Elas continuam tendo relevância. São elas que trazem para a gente o ambiente confiável da informação. No mundo fácil da internet, a informação vem de todos os lados e de todas as formas, mas quando queremos checar alguma coisa, recorremos aos veículos tradicionais independentemente do tipo de plataforma em que estejam. Hoje, assisto a Globo no celular e no computador. Antes via só no canal 13 da TV. Eu só lia a Algomais, se eu recebesse a revista na minha casa, hoje sou impactado pela Algomais numa rede social, quando faço a assinatura no digital, quando ela cria um conteúdo no Youtube e ele for compartilhado chegando até a mim. As pessoas estão muito no embalo de uma visão no que veem aqui (aponta para o smartphone), mas o rádio continua existindo, o conteúdo impresso, se perdeu força no papel, está com força enorme em suas plataformas digitais principalmente por levar informação checada e consistente. Muita gente diz que não vê mais TV, mas esse meio recebe 60%

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"Quero chegar na África. É o meu sonho!"

Aos 75 anos, Lia de Itamaracá viveu em 2019 um dos melhores momentos da carreira. Presente no premiado longa-metragem Barucau, no papel da matriarca Carmelita, a mais famosa moradora da ilha do Litoral Norte de Pernambuco recebeu o título de doutora honoris causa pela UFPE, foi homenageada pela Fenearte, pelo Galo da Madrugada e pela Câmara Municipal de São Lourenço da Mata. Foram lançadas duas publicações sobre sua trajetória. Uma biografia e um livro de fotografias, escritos pelo premiado jornalista Marcelo Henrique Andrade, que foi uma das crianças que estudou na escola em que a cirandeira trabalhou como merendeira. Cláudia Santos, Rafael Dantas e Rivaldo Neto entrevistaram Lia poucas semanas antes da última novidade do ano: o lançamento do seu quarto disco, Ciranda Sem Fim, produzido pelo DJ Dolores. A conversa era sempre interrompida por moradores e turistas que cumprimentavam a artista. Até quando o fotógrado Tom Cabral a levou para a praia para fazer as fotos desta entrevista, não faltaram crianças para abraçar ou tirar uma self com a rainha da ciranda. Ela falou sobre sua intensa atividade com o novo CD, entre shows e viagens pelo Brasil, sobre as dificuldades de sobreviver da cultura popular e confessou um sonho que ainda acalenta: levar sua ciranda para a África. Poderíamos dizer que 2019 foi o ano em que sua obra foi mais valorizada? Este ano foi bom demais. Receber o título de doutora foi o reconhecimento do meu trabalho. É a cultura e a ciranda sendo bem reconhecidas. Foram muitas homenagens e títulos neste ano. Teve ainda os livros e agora o novo CD. Como é a sua rotina hoje depois desse mais novo álbum da sua carreira? Sou Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco, tenho minha aposentadoria como merendeira em uma escola, minha rotina hoje é apresentar o meu cdzinho e circular com meus dois livros, né? E se chegar mais coisa, eu quero. Fala um pouquinho desse seu CD novo com Dj Dolores. Ser dirigida por DJ Dolores foi muito bacana. O disco vem com ciranda e com bolero. Ele chegou por meio de Beto (Hass, assessor de Lia de Itamaracá), que me passou o que ele queria fazer. Eu estava querendo gravar um novo CD há um tempo. Aí juntamos. Ciranda de Ritmos, seu terceiro álbum, foi de 2010. Por que demorou tanto para lançar um novo disco? Eu tava borocoxô. Fiquei de mãos atadas, num mato sem cachorro. Sem experiência de nada e os gestores que estavam me arrodeando, me passando a perna. O que era que Lia ia fazer? Nada, é o que o peixe faz? É cruel. A cultura é é difícil. Como está a agenda de shows? Depois que fizer o lançamento, vou para São Paulo, Rio de Janeiro e Europa. Já tem Portugal no ano que vem. Serão duas temporadas para a Europa. Aqui ainda terá o Carnaval e, antes disso, fechamos com o Réveillon em Boa Viagem. Que lugares da Europa estão previstos? Queremos começar por Montreux, na Suíça. De lá tem uns 10 festivais, na Alemanha, França, Itália. Será a primeira vez que irei para Portugal. Como falamos português, acho que o efeito vai ser maior. Vão entender a poesia da ciranda. Como tem sido a receptividade no Rio e em São Paulo? Eu chegando no Rio e em São Paulo, eu tô na minha praia. Todo o mundo me conhece, todo o mundo brinca, se diverte. É muito bom. Além dos eventos com dança e música, o lançamento dos dois livros está levando a senhora para participar de eventos literários também. Como tem sido essa nova experiência? Olhe, é bom, é bacana! Quem tá na chuva é pra se molhar. Se é o que eu quero fazer, vou fazer. Se eu queria ser artista, já sou, vou enfrentar qualquer barra. Na sua biografia, a senhora disse que se sentiu muito mais valorizada fora do Brasil do que aqui. Como é que foi sua experiência no exterior? E por que a senhora disse que se sentia mais valorizada lá fora? O meu trabalho é aqui. É onde deveria ser mais valorizada. Mas eu não sou. O Recife é o foco da cultura, mas cadê os mestres? Tão tudo parado. Não é porque eu queira ser a rainha da cocada preta, mas quem está ativa da ciranda sou eu. Lutando, lutando, os outros todos desistindo e eu enfrentando pra chegar lá. Nunca desisti. Uns já morrendo sem ter apoio. É difícil. Querer que eu faça as coisas de graça pra eles, eu não faço mais não, além do que eu já fiz. Já dei muita força a Itamaracá, muita ajuda. E se alguém tem que fazer alguma coisa por mim, faça comigo viva. Não deixe eu morrer, senão eu faço que nem Carmelita, ressuscito e vou puxar as canelas (risos). Que tipo de dificuldades você enfrenta? Recursos, capital de giro. Para tudo isso tem que ter capital de giro, tem que ter dinheiro pra fazer as coisas. Quem tem o poder na mão não ajuda, não chega perto. É pra gente se virar só? Como é que pode? Eu tenho um espaço de cultura ao ar livre aguardando recursos para ser concluído. Nosso sonho, além de fazer ciranda, é dar aula de percussão, cabelo afro, fotografia. O filme Bacurau tem rodado o mundo, com prêmios e exibições em grandes festivais. Como foi para você participar desse trabalho? Ah, Carmelita... Foi bom, né? É Lia se amostrando. Veio o convite pra mim, eu aceitei: tá bom, vamos trabalhar. Todo meu sonho era tá numa tela de cinema. Lia não só canta ciranda, Lia tá em tela de cinema, não é bom? Na direção de Kleber teve também o Recife Frio, no Forte Orange. Agora o Bacurau. Fiz outros filmes, como Sangue Azul, em Fernando de Noronha, e Paraíba Mulher Macho, aqui na Vila Velha em Itamaracá. Tô me virando também no cinema. Como foi esse contato com Kleber Mendonça Filho, que hoje é o cineasta de maior destaque do cinema

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"Estamos sofrendo um desmonte de políticas culturais muito radical"

Numa entrevista no Restaurante Bragantino, no Mercado da Encruzilhada, o secretário de Cultura de Pernambuco Gilberto Freyre Neto conversou com os jornalistas Cláudia Santos e Rafael Dantas sobre sua atuação no setor público e planos para o próximo ano. Ele comentou ainda como foi sua relação como neto do sociólogo Gilberto Freyre e tratou do potencial de exploração cultural da cachaça e dos mercados públicos, duas de suas paixões. Em primeiro lugar, porque você escolheu que a entrevista fosse feita no Mercado da Encruzilhada e qual a sua relação com os mercados públicos? Primeiro, gosto muito de bolinho de bacalhau. Segundo, gosto muito de cachaça. Esse ambiente é o primeiro teatro, é o primeiro cinema, é o primeiro tudo da produção cultural do mundo. Para a cultura, o mercado tem um simbolismo muito forte. Esse é um dos primeiros equipamentos culturais que a gente tem e Pernambuco tem uma riqueza muito grande de mercados. Não sou um gerente de nenhum, não está na minha pasta, mas a gente precisa reconhecer o papel desses espaços como composição da nossa identidade. Estamos aqui tomando uma cachaça, comendo bolinho de bacalhau. Iguarias estrangeiras que aqui chegaram e se transformaram em produtos brasileiros. Como é ser secretário de cultura em Pernambuco no período em que o País é presidido por Jair Bolsonaro, que tem um desalinhamento político com o Estado? Nunca achei que a cultura fosse algo de responsabilidade única do Estado. De certa maneira eu tenho um viés liberal, ao mesmo tempo, entendo que o Brasil é uma federação. Cada estado pode e deve ter sua própria política alinhada com planos outros, que podem ser federais ou, no nosso caso específico, também com os municípios. Acho que tudo isso faz parte do universo republicano. Ao mesmo tempo, faço uma autocrítica: a nossa República nunca deixou de ter um imperador. Somos muitos centralistas, sempre fomos extremamente dependente de uma política do plano nacional. Mas o que está acontecendo hoje é o ultraliberalismo no Brasil. Da noite para o dia se desligou uma chave e se ligou outra. Estamos sofrendo um momento de desmonte de políticas de forma muito radical. Isso eleva a responsabilidade dos estados em todas as frentes, não apenas na cultura. No caso específico da cultura tem sido bastante danoso, porque há políticas de salvaguarda que estão em xeque. Os estados que têm a riqueza e a dimensão da atividade cultural como a nossa sofrem um impacto muito forte dessa desestruturação. Quais são os problemas que mais lhe preocupam neste momento? Alguns programas alimentam a capilaridade da cultura pernambucana e nordestina. O desligamento dos motores que vinham do plano federal quebra essa alimentação e isso gera uma superdependência no plano estadual. Mas existe uma limitação muito forte do Estado em absorver, da noite para o dia, o apoio à gama de manifestações em atividade, uma energia que só existia porque o plano federal atuava de forma muito objetiva. Então, isso desestrutura a dinâmica que foi construída nos últimos 20 anos. É algo que assusta bastante o poder público porque no fundo, estamos falando de uma camada da população que não vive da cultura, ela sobrevive da cultura. A ausência de uma política de proteção vai quebrar esse pilar que é basilar para a identidade do povo nordestino e de Pernambuco. No novo contexto passamos a ser protagonistas da esperança da manutenção dessas estruturas sociais que têm uma dependência forte do papel do Estado. Mas eu vejo que isso precisa ser equilibrado. Não acho que o Estado tem que ser a única ferramenta, a sociedade civil precisa participar. Estou falando de todo pernambucano, de todo nordestino. Nós precisamos ter uma política de consumo da nossa cultura. Tudo nosso é de graça porque o Estado paga. Esse é um cenário em que nenhuma indústria cultural é sustentável. O desmonte do cinema é um campo que tem preocupado mais a Secretaria de Cultura? Temos visto muita ação sua nessa área. O cinema talvez seja, entre as camadas das indústrias culturais, aquela mais bem estruturada em Pernambuco. A estruturação dessa cadeia, no caso específico, gera muito valor. Temos filmes sendo produzidos diariamente. Alguns com repercussão internacional, outros realizados em coprodução com diversos parceiros de outros países. Mas é uma cadeia que depende diretamente de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual, e de recursos do Fundo de Incentivo à Cultura de Pernambuco. A ausência de uma política no plano federal, mais uma vez, transfere uma escala gigante de dependência para o plano estadual. Pernambuco é um dos estados que certamente vai ter um grande sofrimento pela ausência de uma política nacional estruturada. Já existe hoje um impacto pela não liberação de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual. Isso é um problema que precisa ser atacado. Há uma grande discussão na Ancine, que esperamos que se resolva em breve para que volte a ter uma atuação dinâmica e qualificada para que essa cadeia de valor não se perca, porque ela migra com muita facilidade. Os técnicos que trabalham no audiovisual precisam ter uma atividade econômica constante para permanecer naquele território. Eles são bastante qualificados e podem migrar com suas habilidades, com os seus saberes, para outros campos ou para outros territórios. Isso seria uma grande perda para Pernambuco também na geração de empregos. Eu posso fazer uma comparação. Acabamos de participar da inauguração de uma fábrica de medicamentos extremamete refinada aqui, custou mais de R$ 600 milhões e que vai empregar 180 profissionais, porque o nível de requisito técnico na operação dela diminui a necessidade de mão de obra. No cinema é exatamente o contrário. Bacurau, filme de Kléber Mendonça, empregou mil pessoas. É uma dinâmica de uso extensivo de mão de obra das diversas camadas técnicas e nos diversos ciclos de produção do audiovisual. Tanto dos habitantes de determinada cidade, convidados incidentalmente para alguma atividade, até o técnico de ponta que vai trabalhar no refinamento de som em um laboratório no exterior ou no nosso Porto Digital, no Portomídia. Você fala bastante da paradiplomacia (política de

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"Boemia faz parte da cultura de uma cidade"

Quem costuma frequentar a noite recifense certamente já se divertiu em alguma festa promovida por Paulo Braz nos últimos 30 anos. Mentor de festejos memoráveis, quando a capital pernambucana ainda sofria os tristes e duros anos de chumbo da ditadura militar, Braz também abriu casas noturnas que ficaram célebres. Foram mais de 30 festas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, feita no seu negócio atual, a Mercearia do Braz, no bairro da Boa Vista, ele conta sua surpreendente trajetória como funcionário do Banco Central, psicólogo e promotor da boemia. E ainda divulga uma novidade: após 10 anos sem organizar festejos de ano novo, ele paneja montar um Réveillon no Bar Biruta, no bairro do Pina. Como um funcionário do Banco Central tornou-se o rei da noite recifense? Este ano lancei o livro Meu peito é feito de festa, onde conto essa história. Nasci no interior da Paraíba, cheguei no Recife, aos 15 anos, em 1969. Morava na casa de um tio que eu nem conhecia. Estudei no colégio interno dos padres franciscanos, que foi uma coisa muito boa para mim porque eu logo cedo desenvolvi o hábito da leitura, que foi minha tábua de salvação. Por que? Porque descobri a arte. Eu ia na biblioteca pegar livro emprestado e me preparei. Eu tinha uma bagagem cultural melhor do que a de meus primos daqui que já tinham 16, 17 anos. E o que me restava era fazer concursos. Passei na Embratel, no Banco do Brasil, na Faculdade de Psicologia e entrei no Banco Central, em 1976. Naquela época, você podia trabalhar seis horas, havia perda de salário, mas para mim era mais interessante, porque podia atender no consultório. O Banco Central era uma instituição muito séria, mas sabia que aquilo não ia me satisfazer, e comecei a participar da vida cultural da cidade. Acontece que surgiu o Congresso de Psicologia em Havana e, nessa época, o Brasil ainda nem tinha relações diplomáticas com Cuba. Fomos num grupo de 10 psicólogos do Recife, de um total de 300 da América Latina. Quando cheguei lá, fiquei encantado com o estilo de vida dos cubanos, com sua alegria, com a dança, com a soltura da pélvis dos homens cubanos, com a festa, com o rum, com o charuto, com toda essa festa tropical latina. Enquanto lá eles comemoravam a vida, a gente vivia uma ditadura, o Recife era uma cidade triste. Quando voltei, pensei em promover festas com a alegria cubana. Na época, a gente se encontrava na loja Allegro Cantante, que foi a primeira a fazer a passagem do vinil para o CD. Era frequentada por publicitários, jornalistas e o pessoal de música. Eu saia do Banco Central e ia pra lá. Um dia eu falei: tô querendo fazer umas festas temáticas, um negócio bacana mesmo. Daí, eu e um grande amigo, Wagner Nogueira, diretor de arte da Italo Bianchi, saímos da loja e fomos continuar a bebedeira na casa dele. Contei pra ele como queria a festa e ele começou a rabiscar o cartaz do evento. A partir desses encontros, desses brainstorms, surgiram as primeiras festas temáticas. Como eram os temas dessas festas? A primeira, O Baile, teve no cartaz de divulgação uma arte com Rita Hayworth e aconteceu no The Pernambuco British Town Club, antigo clube dos ingleses que ficava no Recife Antigo. Depois promovi Os incríveis anos 60, que tinha como cartaz uma arte lembrando o disco Sgt. Pepper's, dos Beatles. O estilo de música era o das big bands, ou jazz, ou salsa. Nos 200 anos da Revolução Francesa, fizemos uma festa inspirada em Coco Chanel e no filme O Baile, de Ettore Scola, e trouxemos ninguém menos que Bibi Ferreira para cantar as canções de Edith Piaf. A ditadura terminou em 1985/1986, mas as pessoas não costumavam frequentar as ruas à noite. Aí eu descobri o Forte das Cinco Pontas, a Torre Malakoff, a Rua do Bom Jesus, que estavam em ruínas. Comecei a promover festas temáticas nesses locais. Era uma forma de levar as pessoas para lá. Fiz mais de 20 festas temáticas, também promovi Réveillon, os festejos do bloco Siri na Lata. Depois eu evoluí para casas noturnas. Qual o perfil do público? O "público cabeça" da cidade. Abri a casa Calypso, junto com os sócios Murilo Cavalcanti e Mário Delli Colli, na Rua do Bom Jesus, que estava se descolando de ser uma ruína para ser o point da cidade, no Governo Jarbas. Eu já estava tão esperto que enxergava onde deveria abrir um negócio. Sabia que o local iria se transformar numa espécie de Bourbon Street, rua boêmia de Nova Orléans, que eu tinha acabado de visitar. Enquanto os outros empresários escolhiam casas já restauradas, preferi uma que estava em ruínas, mas tinha boa localização. Transformou-se num dancing. Quando a Rua do Bom Jesus foi totalmente restaurada, com grande número de frequentadores do Recife e turistas, todo mundo ficava bebendo nos bares e a minha casa era a única pra dançar. Por volta das 22h, o pessoal já estava alegrinho e vinha dançar no Calypso. Depois eu abri o Cuba do Capibaribe no Paço Alfândega, que também foi um grande sucesso. E esta foto de Chico Science (na parede do bar, há uma fotografia do artista com um caranguejo na mão apontando para a placa da Rua do Bom Jesus)? Foi do Réveillon do Bom Jesus, em 1995. Chico estava despontando e aí propus: Chico vamos fazer o Réveillon? O empresário dele não queria. Aí fiz pressão. Esperei, às 5 horas da manhã para que ele descesse do apartamento dele para convencê-lo de que aquela seria a melhor opção para ele se apresentar no Recife naquele fim de ano. Algumas outras pessoas ajudaram no convencimento. E foi um sucesso! Essa foto aí, é Chico na Rua do Bom Jesus, dizendo “olha, o Réveillon vai ser aqui”. E pretendo fazer o próximo Réveillon no bar Biruta, no Pina. Como você conciliava o emprego no BC e a administração das casas noturnas? Eu me afastei

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Cesar poderá ter base em Portugal em 2020

Há muito tempo, o Cesar atua em mercados de outras regiões do País e no exterior. Esse processo de internacionalização tem-se intensificado e a empresa do Porto Digital planeja abrir uma base na Europa no ano que vem. Uma situação na qual o CEO da instituição de inovação, Fred Arruda, está confortável. Afinal, ele já morou em várias cidades, como o Rio de Janeiro e hoje se divide entre São Paulo, sua atual moradia, e o Recife, onde passa 10 dias a cada mês. Sinal dos novos tempos, quando a tecnologia permite residir num local distante da empresa em que se trabalha. Mas ao ser perguntado onde nasceu, o recifense não titubeia: “sou torcedor doente do Santa Cruz! Tanto é que meu nome é Fred Arruda”. Foi com esse bom humor que ele conversou com Cláudia Santos e Rafael Dantas sobre o setor de TI e as perspectivas do Cesar. Ao assumir o Cesar, você disse que uma das ações será desenvolver estudos e políticas públicas. Poderia detalhar esse projeto? Fizemos uma pesquisa para saber como atuam centros de inovação de referência ao redor do mundo e percebemos que eles se envolvem em políticas públicas e na realização de estudos. O que muitos deles não fazem é desenvolver softwares. Inspirados nessa referência, incluímos isso no nosso portfólio. Não que antes não fizéssemos, mas não tínhamos metas e hoje temos indicadores que medem nosso envolvimento em políticas públicas. Este ano, por exemplo, está tendo uma mudança grande na Lei de Informática e estamos nos envolvendo mais fortemente em duas políticas, uma na mudança do que chamamos de processo produtivo básico da fabricação de celular no Brasil. Também estão em curso mudanças para atender demandas de ordem tributária. E aí todo o ecossistema de inovação envolvido nisso tem dado suas contribuições e o Cesar não é diferente. Também estamos envolvidos com a empregabilidade no setor, temos um buraco grande de mais de 100 mil vagas. Estamos construindo políticas para isso com as entidades de classe. E quanto aos estudos? Essa área de estudos está dentro da Cesar School, onde 90% dos professores são profissionais que atuam com projetos no Cesar e outros são parceiros. Os negócios são integrados, só que nosso foco é inovação em rede. Não sabemos tudo, atuamos muito com os parceiros do ecossistema de inovação nos quais estamos inseridos, o Porto Digital é o maior deles, mas também estamos dentro do polo tecnológico de Manaus, do Vale do Pinhão (que está sendo formado em Curitiba), de Sorocaba (SP). Na cidade de São Paulo não temos esse movimento formado, mas estamos dentro do Inovabra, que é um hub para esse tipo de discussão. Também atuamos no Rio de Janeiro. Como tem sido a atuação no Rio já que a cidade enfrenta problemas? Estamos lá há muito tempo com projetos educacionais, mas agora estamos com uma pessoa de negócios. De resto, a cidade é maravilhosa, tem a maior concentração de PHDs do País, foi capital federal e conserva o patrimônio histórico e cultural, há também as universidades, a área de comunicação ainda tem muita coisa lá por causa da Globo, e ainda se destaca nas áreas de seguros, de óleo e gás, educação. Além disso, meu telefone ainda é 021. Morei sete anos e meio lá e tenho um carinho e um respeito muito grande pelo Estado. Não temos uma regional constituída no Rio, mas, com clientes que virão muito em breve – vocês vão ter notícias boas! – vamos montar uma regional pra valer lá. Acho que a hora de investir numa cidade tão sofrida como o Rio é agora, na hora da baixa. Gerar emprego, ofertas de educação. O que vocês têm feito para solucionar a escassez de capital humano? O gap existe, por algumas razões. Primeiro a demanda é crescente pela tecnologia da informação, há vários setores do País em que a tecnologia tende a substituir o trabalho humano, então demanda profissionais que construam essas tecnologias. Há outra situação de muita gente saindo para o exterior. O Brasil e os EUA são os países que mais perdem profissionais de TI para a Europa e a Ásia. No nosso caso tem a ver com o que o jovem espera para seu futuro. Infelizmente temos um contexto de insegurança delicado no País. Além disso, é uma tendência do jovem sair do ensino médio, já com inglês relativamente fluente. Assim, ele está pronto para viver experiências lá fora. O que estamos fazendo é nos adaptar a essa realidade do home office. Hoje, muito pontualmente, temos profissionais que não trabalham nas bases do Cesar, que moram em Florianópolis, Petrolina, Canadá, Washington. Também existe a movimentação para fazer com que as mulheres voltem a frequentar o setor de tecnologia. Outra ação é sensibilizar alunos de ensino médio, mostrando que as profissões que mais vão demandar no futuro têm muito a ver com tecnologia. Investimos ainda em parceria, temos vários parceiros que a gente chama de butiques de desenvolvimento de software. São empresas menores, com 10 a 15 funcionários, que são pessoas muito capacitadas, que preferem uma outra dinâmica de trabalho. Se eu capto um projeto em que não há nenhuma restrição legal de contratar um parceiro, uso essa rede. É um outro caminho para minimizar a necessidade de contratar pessoas dentro da instituição. Existe uma crítica de que o salário pago no Porto Digital é baixo. O Brasil tem algumas empresas de base tecnológica na área financeira, que a gente chama de unicórnios. Elas pagam um salário desproporcional ao resultado financeiro que geram. Competir com essas empresas é muito difícil. O que tentamos fazer é dar uma perspectiva de carreira. Hoje o jovem profissional não é atraído só por salário, mas também por propósito e a gente tenta trabalhar esse propósito para que ele se sinta partícipe da construção de uma estratégia do ecossistema e se sinta mais valorizado do que se sentiria numa empresa onde ele é mais um. Você anunciou que uma das prioridades da gestão será o reposicionamento do

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"Brasil envelheceu antes de enriquecer e não dá conta do idoso"

Você já se preocupou sobre como será sua vida na terceira idade? Ou enfrenta dificuldade com os idosos da sua família que precisam de atenção especial que os filhos e netos não conseguem atender? Essas e outras questões complexas que envolvem o envelhecimento da população brasileira foram analisadas pela diretora médica do Geriatrie, Carla Núbia Borges. A professora da Unicap e membro da Câmara Técnica de Geriatria do Cremepe trata ainda, nesta entrevista concedida a Rafael Dantas, da sexualidade do idoso e da necessidade de políticas públicas voltadas para essa população. Segundo Alexandre Kalache (ex-diretor do programa de envelhecimento saudável da Organização Mundial de Saúde), para se envelhecer bem é preciso acumular quatro capitais: a saúde, o conhecimento, os relacionamentos, o financeiro além do propósito. Você concorda? Concordo totalmente. Isso mostra o quanto a saúde não é mais a ausência de doença, mas esse complexo entre a saúde social, mental e física. É importante se ter metas, propósitos e sonhos. Você precisa cuidar de tudo ao mesmo tempo. Não adianta estar com todos os exames em dia e não ter família, ser sozinho, ter pouca participação social. Ou o contrário, o idoso ser superssocial e participativo, mas não cuidar da saúde. É um contexto com vários pilares. Se um pilar desses cair, você tem adoecimento. É muito comum o idoso ter doenças, não é exceção, mas ele pode ter uma vida bastante funcional. Quais os benefícios de cuidar da saúde social? A saúde social é essa interação com a família e amigos que é muito importante. Ao cuidar da saúde social, o idoso se previne da depressão. As pessoas que têm participação social se cuidam mais e consequentemente têm outros ganhos, como ter propósitos e sonhos. Essa é uma fase de resgate. Não se pode mergulhar na velhice inativo e inútil. É preciso trabalhar bem a questão da vida após a aposentadoria. Afinal, o que você fará após se aposentar, depois que não tiver aquele grupo de amigos? Se você não fez seu capital financeiro, será prejudicado também na aposentadoria. Se não cuidou da saúde, vai entrar nessa fase da vida só gastando dinheiro com doença. São vários cuidados a serem tomados concomitantemente ao longo da vida, que precisam começar muito antes da velhice. Em menos de 20 anos, o Brasil vai dobrar sua população idosa, algo que na França demorou 145 anos. Quais os desafios do País para atender às necessidades desse rápido aumento da longevidade no futuro, especialmente quando estamos numa recessão e continuamos sendo um país em desenvolvimento? O Brasil deu uma guinada de uma longevidade de mais ou menos 45 anos nos anos 1950 para uma expectativa de vida de 75 ou 76 anos nos dias de hoje. E a população da quarta idade, acima dos 80 ou 85 anos, é a que mais cresce proporcionalmente. Isso porque, antigamente, tínhamos muitas doenças infectoparasitárias, pessoas morriam de malária, diarreia, tuberculose. Mas com a revolução industrial, vieram a penicilina, os antibióticos, o início do tratamento do câncer, o diagnóstico das doenças mais precoce, a vacinação, o anticoncepcional. As famílias que tinham 20 filhos começaram a ter menos, graças ao controle da natalidade. Então, menos crianças nascendo, mais vida longeva. O que acontece: nós envelhecemos antes de enriquecer, diferente dos países de primeiro mundo, que enriqueceram antes de envelhecer. Então, é preciso preparar a população. A pessoa quando envelhece no primeiro mundo, os filhos não ficam em casa, mas os idosos têm todo um acesso à saúde na residência, à acessibilidade, às políticas públicas engajadas para o idoso na cultura, no lazer, na saúde, no benefício. Eles têm mais suporte para o envelhecimento. Porém, a questão da intergeracionalidade é mais característica dos países subdesenvolvidos, mais latinos. Nosso idoso geralmente vai para a casa do filho ou o filho para a casa do idoso. Mas o Brasil envelheceu antes de enriquecer e o País não está dando conta de tantas pessoas envelhecidas. Na questão social não se dá valor aos idosos. Na questão de trabalho também, chegou aos 40 ou 50 anos é descartado. Então ninguém aproveita essa bagagem de experiência. Isso está começando a mudar. É preciso de mais programas culturais voltados ao idoso e não só ao jovem. Na questão de saúde, mais de 92% deles não têm planos de saúde. Onde estão? No SUS. Esse pessoal está na atenção básica e nos hospitais de média e alta complexidade, que não têm suporte para aguentar tanta demanda. Eles sofrem e morrem na fila de tanta espera. Que tipo de política pública é necessária para que os idosos tenham qualidade de vida? O idoso precisa se sentir respeitado. O respeito lhe gera muitos pontos positivos. Se chegar a um posto de saúde com respeito à sua idade, com atendimento prioritário, ele se sentirá mais feliz. Se as famílias trabalharem mais a humanidade, o amor, não abandonarem o idoso, ele vai se sentir mais feliz, comer melhor, dormir melhor. Vai ter mais participação social, indo aos grupos de idosos que estão fazendo uma festa ou uma palestra. Como uma política pública pode influenciar nisso? Levando informação para as escolas, os adolescentes e as famílias sobre o que é envelhecer e que precisamos ser respeitosos com os idosos. Devia-se oferecer turismo e cultura a essa população, mas o idoso está em casa isolado e oprimido. Qual é o estímulo que ele terá para sair de casa e participar das atividades sociais? Ele vai adoecer e se isolar. Talvez informar sobre o respeito e sobre o que é envelhecer seja a política de mais impacto. Ela cai como uma bomba e gera vários pontos positivos. Que tipo de preconceito sofre o idoso? Preconceito de que não pode dar opinião. Preconceito de que não pode mais fazer nada, de que ele é inútil. De que velhice é doença. De que todo esquecimento é tratado como demência. Preconceito de que ele quer tirar vantagem por ser velho, mas na verdade é um direito adquirido. Então, há o preconceito de que o idoso não

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"Nosso diferencial é a capacidade de adaptação às mudanças"

Tudo é superlativo quando o assunto é o Polo de Confecções de Santa Cruz do Capibaribe, cidade do Agreste pernambucano. Prova disso é o Moda Center Santa Cruz, centro atacadista do setor que reúne mais de 10 mil pontos comerciais, entre boxes e lojas, onde são comercializadas peças no atacado e no varejo. Na baixa temporada recebe até 60 mil visitantes de várias partes do País, em dois dias de feira, que se tornam 160 mil na alta temporada. Cláudia Santos e Rafael Dantas foram até a cidade e conversaram com Bruno Bezerra, presidente da CDL-SCC (a Câmara de Diretores Lojistas da cidade) para falar sobre seus planos à frente da entidade, que é focada em moda. Bezerra elogia a capacidade da economia local de se adaptar às mudanças, desde os tempos em que girava em torno da feira de mangaio. Agora toda essa flexibilidade é voltada para as oportunidades da internet e a preservação ambiental. Quais são seus planos na CDL-SCC? O principal propósito é sermos conhecidos nacionalmente como uma CDL que tem foco em moda e criatividade, porque é a vocação da região. Criamos câmaras setoriais, como a de Moda e Criatividade, de Escolas, de Atacadista de Tecido e Armarinho, de Arquitetos e Engenheiros, de Representantes de Escritório e de Representação de Confecção. Essas câmaras promovem um envolvimento maior dos empreendedores. Qual o resultado dessas câmaras? A Câmara de Representantes, por exemplo, promove uma rodada de negócios, em agosto, cuja movimentação estimada é de R$ 8 milhões. A intensão da Câmara de Moda e Criatividade é trazer gente mais nova para cá para trabalhar com criação. Vamos desenvolver alguns cursos, entendendo como é a realidade daqui. Hoje temos uma dependência grande do Sistema S, mas nem todos os cursos deles atendem à nossa demanda em 100%. Sempre tem aquele espaço para se criar algo mais focado, levando em consideração nossas particularidades. Qual o tamanho do polo? É muito difícil mensurar em termos de faturamento porque existem vendas que acontecem em outros Estados, mas foram geradas aqui. Temos um estudo mostrando que há empreendedores de 54 municípios (18 dos quais são da Paraíba) que escoam sua produção a partir da venda que fizeram no Moda Center. Há também uma quantidade expressiva de empreendedores de Moreno (na Região Metropolitana do Recife). Eles produzem lá e, semanalmente, escoam a produção na feira. Como, em geral, ela acontece em um dia, o empreendedor pode passar o restante da semana cuidando da produção, vem para cá na segunda-feira comercializar e depois retorna. Nosso mercado é sobretudo o Norte e o Nordeste, mas já conseguimos entrar no Centro Oeste, em Minas Gerais e em São Paulo. Qual o principal desafio do Polo de Confecções? Temos uma enxurrada de conhecimento acessível, sobretudo na internet. O desafio é ter clareza do que precisa ser aprendido. Há uma dinâmica muito grande da economia, que pode promover uma determinada mudança e, quando a gente acha que aquela mudança vai começar a se estruturar, ela já não existe mais, há um novo processo em andamento. Aí, você tem que evocar Darwin: os que sobrevivem não são os mais fortes ou inteligentes, são os que melhor se adaptam às transformações. Se você estudar a história do setor de confecções, que é a história de Santa Cruz, a cidade mãe do polo, verá que nosso grande diferencial foi a capacidade de nos adaptarmos às mudanças. Na década de 1940, Santa Cruz era distrito de Taquaritinga do Norte, mas o distrito já tinha uma feira de mangaio maior que a da sede. Temos essa habilidade de comercializar em feira, nosso primeiro ambiente de negócios. Daí surgiu a oportunidade de migrar da agricultura e pecuária de subsistência para confecção (que num primeiro momento também foi de subsistência) que era vendida também nas feiras. Com o surgimento da máquina de costura industrial, a produção aumentou. A feira já não era suficiente para escoar o que era produzido. Por isso, os mascates começaram a viajar para vender esses produtos para, por exemplo, Irecê, na Bahia, na época da colheita de feijão. Depois a feira começou a ganhar uma estrutura com o Moda Center. Nesse meio tempo, veio a rodada de negócios, depois chegaram os escritórios de representação. O empresário do Pará, por exemplo, que tem uma rede de lojas, contrata esses escritórios para comprar aqui e fazer a logística de levar para lá. Agora, com as redes sociais, está melhor ainda. Empresários postam as mercadorias no Instagram, os seguidores veem e já correm para o WhatsApp para fazer o pedido. Muitas empresas participam da feira só para entregar os produtos. Montamos um estúdio de fotografia na CDL porque, hoje, uma boa foto de moda rende tão bem quanto um bom atendente. Algumas profissões estão acabando, mas outras são criadas, como o gestor de mídias sociais. Um dos cursos que mais ofertamos é o de gestão dessas novas mídias. O Instagram é a rede social que a moda do mundo inteiro escolheu, por ser muito visual, e moda é sobretudo imagem. Criamos também o primeiro concurso de modelo fotográfico, porque há escassez desses profissionais, em razão da demanda das empresas locais. Essa habilidade de acumular esses canais de venda com competência é o que faz toda a diferença. Quem vê de fora, não conhece essa dinâmica, pensa que é só a feira, mas para alguns ela é o menor canal. Hoje, também, há questões estratégicas que precisam ser trabalhadas junto com outras associações. Por isso, criamos uma governança que funciona basicamente aqui no prédio da CDL com: Moda Center, Ascap (Associação Empresarial de Santa Cruz do Capibaribe) e Ascont (Associação Santacruzense de Contabilistas). Começamos a ter ações em conjunto enquanto ambiente de negócios. Essa preocupação do setor em se atualizar se reflete no tema desta edição do EMP (Estilo Moda Pernambuco), Moda 4.0? Sim. A indústria 4.0 é uma realidade que vem dominando o processo industrial do mundo inteiro e precisamos estar antenados com essas transformações. Precisamos entender o funcionamento da inteligência artificial e os

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