Arquivos Entrevistas - Página 26 De 31 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Entrevistas

"Estamos sofrendo um desmonte de políticas culturais muito radical"

Numa entrevista no Restaurante Bragantino, no Mercado da Encruzilhada, o secretário de Cultura de Pernambuco Gilberto Freyre Neto conversou com os jornalistas Cláudia Santos e Rafael Dantas sobre sua atuação no setor público e planos para o próximo ano. Ele comentou ainda como foi sua relação como neto do sociólogo Gilberto Freyre e tratou do potencial de exploração cultural da cachaça e dos mercados públicos, duas de suas paixões. Em primeiro lugar, porque você escolheu que a entrevista fosse feita no Mercado da Encruzilhada e qual a sua relação com os mercados públicos? Primeiro, gosto muito de bolinho de bacalhau. Segundo, gosto muito de cachaça. Esse ambiente é o primeiro teatro, é o primeiro cinema, é o primeiro tudo da produção cultural do mundo. Para a cultura, o mercado tem um simbolismo muito forte. Esse é um dos primeiros equipamentos culturais que a gente tem e Pernambuco tem uma riqueza muito grande de mercados. Não sou um gerente de nenhum, não está na minha pasta, mas a gente precisa reconhecer o papel desses espaços como composição da nossa identidade. Estamos aqui tomando uma cachaça, comendo bolinho de bacalhau. Iguarias estrangeiras que aqui chegaram e se transformaram em produtos brasileiros. Como é ser secretário de cultura em Pernambuco no período em que o País é presidido por Jair Bolsonaro, que tem um desalinhamento político com o Estado? Nunca achei que a cultura fosse algo de responsabilidade única do Estado. De certa maneira eu tenho um viés liberal, ao mesmo tempo, entendo que o Brasil é uma federação. Cada estado pode e deve ter sua própria política alinhada com planos outros, que podem ser federais ou, no nosso caso específico, também com os municípios. Acho que tudo isso faz parte do universo republicano. Ao mesmo tempo, faço uma autocrítica: a nossa República nunca deixou de ter um imperador. Somos muitos centralistas, sempre fomos extremamente dependente de uma política do plano nacional. Mas o que está acontecendo hoje é o ultraliberalismo no Brasil. Da noite para o dia se desligou uma chave e se ligou outra. Estamos sofrendo um momento de desmonte de políticas de forma muito radical. Isso eleva a responsabilidade dos estados em todas as frentes, não apenas na cultura. No caso específico da cultura tem sido bastante danoso, porque há políticas de salvaguarda que estão em xeque. Os estados que têm a riqueza e a dimensão da atividade cultural como a nossa sofrem um impacto muito forte dessa desestruturação. Quais são os problemas que mais lhe preocupam neste momento? Alguns programas alimentam a capilaridade da cultura pernambucana e nordestina. O desligamento dos motores que vinham do plano federal quebra essa alimentação e isso gera uma superdependência no plano estadual. Mas existe uma limitação muito forte do Estado em absorver, da noite para o dia, o apoio à gama de manifestações em atividade, uma energia que só existia porque o plano federal atuava de forma muito objetiva. Então, isso desestrutura a dinâmica que foi construída nos últimos 20 anos. É algo que assusta bastante o poder público porque no fundo, estamos falando de uma camada da população que não vive da cultura, ela sobrevive da cultura. A ausência de uma política de proteção vai quebrar esse pilar que é basilar para a identidade do povo nordestino e de Pernambuco. No novo contexto passamos a ser protagonistas da esperança da manutenção dessas estruturas sociais que têm uma dependência forte do papel do Estado. Mas eu vejo que isso precisa ser equilibrado. Não acho que o Estado tem que ser a única ferramenta, a sociedade civil precisa participar. Estou falando de todo pernambucano, de todo nordestino. Nós precisamos ter uma política de consumo da nossa cultura. Tudo nosso é de graça porque o Estado paga. Esse é um cenário em que nenhuma indústria cultural é sustentável. O desmonte do cinema é um campo que tem preocupado mais a Secretaria de Cultura? Temos visto muita ação sua nessa área. O cinema talvez seja, entre as camadas das indústrias culturais, aquela mais bem estruturada em Pernambuco. A estruturação dessa cadeia, no caso específico, gera muito valor. Temos filmes sendo produzidos diariamente. Alguns com repercussão internacional, outros realizados em coprodução com diversos parceiros de outros países. Mas é uma cadeia que depende diretamente de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual, e de recursos do Fundo de Incentivo à Cultura de Pernambuco. A ausência de uma política no plano federal, mais uma vez, transfere uma escala gigante de dependência para o plano estadual. Pernambuco é um dos estados que certamente vai ter um grande sofrimento pela ausência de uma política nacional estruturada. Já existe hoje um impacto pela não liberação de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual. Isso é um problema que precisa ser atacado. Há uma grande discussão na Ancine, que esperamos que se resolva em breve para que volte a ter uma atuação dinâmica e qualificada para que essa cadeia de valor não se perca, porque ela migra com muita facilidade. Os técnicos que trabalham no audiovisual precisam ter uma atividade econômica constante para permanecer naquele território. Eles são bastante qualificados e podem migrar com suas habilidades, com os seus saberes, para outros campos ou para outros territórios. Isso seria uma grande perda para Pernambuco também na geração de empregos. Eu posso fazer uma comparação. Acabamos de participar da inauguração de uma fábrica de medicamentos extremamete refinada aqui, custou mais de R$ 600 milhões e que vai empregar 180 profissionais, porque o nível de requisito técnico na operação dela diminui a necessidade de mão de obra. No cinema é exatamente o contrário. Bacurau, filme de Kléber Mendonça, empregou mil pessoas. É uma dinâmica de uso extensivo de mão de obra das diversas camadas técnicas e nos diversos ciclos de produção do audiovisual. Tanto dos habitantes de determinada cidade, convidados incidentalmente para alguma atividade, até o técnico de ponta que vai trabalhar no refinamento de som em um laboratório no exterior ou no nosso Porto Digital, no Portomídia. Você fala bastante da paradiplomacia (política de

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"Boemia faz parte da cultura de uma cidade"

Quem costuma frequentar a noite recifense certamente já se divertiu em alguma festa promovida por Paulo Braz nos últimos 30 anos. Mentor de festejos memoráveis, quando a capital pernambucana ainda sofria os tristes e duros anos de chumbo da ditadura militar, Braz também abriu casas noturnas que ficaram célebres. Foram mais de 30 festas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, feita no seu negócio atual, a Mercearia do Braz, no bairro da Boa Vista, ele conta sua surpreendente trajetória como funcionário do Banco Central, psicólogo e promotor da boemia. E ainda divulga uma novidade: após 10 anos sem organizar festejos de ano novo, ele paneja montar um Réveillon no Bar Biruta, no bairro do Pina. Como um funcionário do Banco Central tornou-se o rei da noite recifense? Este ano lancei o livro Meu peito é feito de festa, onde conto essa história. Nasci no interior da Paraíba, cheguei no Recife, aos 15 anos, em 1969. Morava na casa de um tio que eu nem conhecia. Estudei no colégio interno dos padres franciscanos, que foi uma coisa muito boa para mim porque eu logo cedo desenvolvi o hábito da leitura, que foi minha tábua de salvação. Por que? Porque descobri a arte. Eu ia na biblioteca pegar livro emprestado e me preparei. Eu tinha uma bagagem cultural melhor do que a de meus primos daqui que já tinham 16, 17 anos. E o que me restava era fazer concursos. Passei na Embratel, no Banco do Brasil, na Faculdade de Psicologia e entrei no Banco Central, em 1976. Naquela época, você podia trabalhar seis horas, havia perda de salário, mas para mim era mais interessante, porque podia atender no consultório. O Banco Central era uma instituição muito séria, mas sabia que aquilo não ia me satisfazer, e comecei a participar da vida cultural da cidade. Acontece que surgiu o Congresso de Psicologia em Havana e, nessa época, o Brasil ainda nem tinha relações diplomáticas com Cuba. Fomos num grupo de 10 psicólogos do Recife, de um total de 300 da América Latina. Quando cheguei lá, fiquei encantado com o estilo de vida dos cubanos, com sua alegria, com a dança, com a soltura da pélvis dos homens cubanos, com a festa, com o rum, com o charuto, com toda essa festa tropical latina. Enquanto lá eles comemoravam a vida, a gente vivia uma ditadura, o Recife era uma cidade triste. Quando voltei, pensei em promover festas com a alegria cubana. Na época, a gente se encontrava na loja Allegro Cantante, que foi a primeira a fazer a passagem do vinil para o CD. Era frequentada por publicitários, jornalistas e o pessoal de música. Eu saia do Banco Central e ia pra lá. Um dia eu falei: tô querendo fazer umas festas temáticas, um negócio bacana mesmo. Daí, eu e um grande amigo, Wagner Nogueira, diretor de arte da Italo Bianchi, saímos da loja e fomos continuar a bebedeira na casa dele. Contei pra ele como queria a festa e ele começou a rabiscar o cartaz do evento. A partir desses encontros, desses brainstorms, surgiram as primeiras festas temáticas. Como eram os temas dessas festas? A primeira, O Baile, teve no cartaz de divulgação uma arte com Rita Hayworth e aconteceu no The Pernambuco British Town Club, antigo clube dos ingleses que ficava no Recife Antigo. Depois promovi Os incríveis anos 60, que tinha como cartaz uma arte lembrando o disco Sgt. Pepper's, dos Beatles. O estilo de música era o das big bands, ou jazz, ou salsa. Nos 200 anos da Revolução Francesa, fizemos uma festa inspirada em Coco Chanel e no filme O Baile, de Ettore Scola, e trouxemos ninguém menos que Bibi Ferreira para cantar as canções de Edith Piaf. A ditadura terminou em 1985/1986, mas as pessoas não costumavam frequentar as ruas à noite. Aí eu descobri o Forte das Cinco Pontas, a Torre Malakoff, a Rua do Bom Jesus, que estavam em ruínas. Comecei a promover festas temáticas nesses locais. Era uma forma de levar as pessoas para lá. Fiz mais de 20 festas temáticas, também promovi Réveillon, os festejos do bloco Siri na Lata. Depois eu evoluí para casas noturnas. Qual o perfil do público? O "público cabeça" da cidade. Abri a casa Calypso, junto com os sócios Murilo Cavalcanti e Mário Delli Colli, na Rua do Bom Jesus, que estava se descolando de ser uma ruína para ser o point da cidade, no Governo Jarbas. Eu já estava tão esperto que enxergava onde deveria abrir um negócio. Sabia que o local iria se transformar numa espécie de Bourbon Street, rua boêmia de Nova Orléans, que eu tinha acabado de visitar. Enquanto os outros empresários escolhiam casas já restauradas, preferi uma que estava em ruínas, mas tinha boa localização. Transformou-se num dancing. Quando a Rua do Bom Jesus foi totalmente restaurada, com grande número de frequentadores do Recife e turistas, todo mundo ficava bebendo nos bares e a minha casa era a única pra dançar. Por volta das 22h, o pessoal já estava alegrinho e vinha dançar no Calypso. Depois eu abri o Cuba do Capibaribe no Paço Alfândega, que também foi um grande sucesso. E esta foto de Chico Science (na parede do bar, há uma fotografia do artista com um caranguejo na mão apontando para a placa da Rua do Bom Jesus)? Foi do Réveillon do Bom Jesus, em 1995. Chico estava despontando e aí propus: Chico vamos fazer o Réveillon? O empresário dele não queria. Aí fiz pressão. Esperei, às 5 horas da manhã para que ele descesse do apartamento dele para convencê-lo de que aquela seria a melhor opção para ele se apresentar no Recife naquele fim de ano. Algumas outras pessoas ajudaram no convencimento. E foi um sucesso! Essa foto aí, é Chico na Rua do Bom Jesus, dizendo “olha, o Réveillon vai ser aqui”. E pretendo fazer o próximo Réveillon no bar Biruta, no Pina. Como você conciliava o emprego no BC e a administração das casas noturnas? Eu me afastei

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Cesar poderá ter base em Portugal em 2020

Há muito tempo, o Cesar atua em mercados de outras regiões do País e no exterior. Esse processo de internacionalização tem-se intensificado e a empresa do Porto Digital planeja abrir uma base na Europa no ano que vem. Uma situação na qual o CEO da instituição de inovação, Fred Arruda, está confortável. Afinal, ele já morou em várias cidades, como o Rio de Janeiro e hoje se divide entre São Paulo, sua atual moradia, e o Recife, onde passa 10 dias a cada mês. Sinal dos novos tempos, quando a tecnologia permite residir num local distante da empresa em que se trabalha. Mas ao ser perguntado onde nasceu, o recifense não titubeia: “sou torcedor doente do Santa Cruz! Tanto é que meu nome é Fred Arruda”. Foi com esse bom humor que ele conversou com Cláudia Santos e Rafael Dantas sobre o setor de TI e as perspectivas do Cesar. Ao assumir o Cesar, você disse que uma das ações será desenvolver estudos e políticas públicas. Poderia detalhar esse projeto? Fizemos uma pesquisa para saber como atuam centros de inovação de referência ao redor do mundo e percebemos que eles se envolvem em políticas públicas e na realização de estudos. O que muitos deles não fazem é desenvolver softwares. Inspirados nessa referência, incluímos isso no nosso portfólio. Não que antes não fizéssemos, mas não tínhamos metas e hoje temos indicadores que medem nosso envolvimento em políticas públicas. Este ano, por exemplo, está tendo uma mudança grande na Lei de Informática e estamos nos envolvendo mais fortemente em duas políticas, uma na mudança do que chamamos de processo produtivo básico da fabricação de celular no Brasil. Também estão em curso mudanças para atender demandas de ordem tributária. E aí todo o ecossistema de inovação envolvido nisso tem dado suas contribuições e o Cesar não é diferente. Também estamos envolvidos com a empregabilidade no setor, temos um buraco grande de mais de 100 mil vagas. Estamos construindo políticas para isso com as entidades de classe. E quanto aos estudos? Essa área de estudos está dentro da Cesar School, onde 90% dos professores são profissionais que atuam com projetos no Cesar e outros são parceiros. Os negócios são integrados, só que nosso foco é inovação em rede. Não sabemos tudo, atuamos muito com os parceiros do ecossistema de inovação nos quais estamos inseridos, o Porto Digital é o maior deles, mas também estamos dentro do polo tecnológico de Manaus, do Vale do Pinhão (que está sendo formado em Curitiba), de Sorocaba (SP). Na cidade de São Paulo não temos esse movimento formado, mas estamos dentro do Inovabra, que é um hub para esse tipo de discussão. Também atuamos no Rio de Janeiro. Como tem sido a atuação no Rio já que a cidade enfrenta problemas? Estamos lá há muito tempo com projetos educacionais, mas agora estamos com uma pessoa de negócios. De resto, a cidade é maravilhosa, tem a maior concentração de PHDs do País, foi capital federal e conserva o patrimônio histórico e cultural, há também as universidades, a área de comunicação ainda tem muita coisa lá por causa da Globo, e ainda se destaca nas áreas de seguros, de óleo e gás, educação. Além disso, meu telefone ainda é 021. Morei sete anos e meio lá e tenho um carinho e um respeito muito grande pelo Estado. Não temos uma regional constituída no Rio, mas, com clientes que virão muito em breve – vocês vão ter notícias boas! – vamos montar uma regional pra valer lá. Acho que a hora de investir numa cidade tão sofrida como o Rio é agora, na hora da baixa. Gerar emprego, ofertas de educação. O que vocês têm feito para solucionar a escassez de capital humano? O gap existe, por algumas razões. Primeiro a demanda é crescente pela tecnologia da informação, há vários setores do País em que a tecnologia tende a substituir o trabalho humano, então demanda profissionais que construam essas tecnologias. Há outra situação de muita gente saindo para o exterior. O Brasil e os EUA são os países que mais perdem profissionais de TI para a Europa e a Ásia. No nosso caso tem a ver com o que o jovem espera para seu futuro. Infelizmente temos um contexto de insegurança delicado no País. Além disso, é uma tendência do jovem sair do ensino médio, já com inglês relativamente fluente. Assim, ele está pronto para viver experiências lá fora. O que estamos fazendo é nos adaptar a essa realidade do home office. Hoje, muito pontualmente, temos profissionais que não trabalham nas bases do Cesar, que moram em Florianópolis, Petrolina, Canadá, Washington. Também existe a movimentação para fazer com que as mulheres voltem a frequentar o setor de tecnologia. Outra ação é sensibilizar alunos de ensino médio, mostrando que as profissões que mais vão demandar no futuro têm muito a ver com tecnologia. Investimos ainda em parceria, temos vários parceiros que a gente chama de butiques de desenvolvimento de software. São empresas menores, com 10 a 15 funcionários, que são pessoas muito capacitadas, que preferem uma outra dinâmica de trabalho. Se eu capto um projeto em que não há nenhuma restrição legal de contratar um parceiro, uso essa rede. É um outro caminho para minimizar a necessidade de contratar pessoas dentro da instituição. Existe uma crítica de que o salário pago no Porto Digital é baixo. O Brasil tem algumas empresas de base tecnológica na área financeira, que a gente chama de unicórnios. Elas pagam um salário desproporcional ao resultado financeiro que geram. Competir com essas empresas é muito difícil. O que tentamos fazer é dar uma perspectiva de carreira. Hoje o jovem profissional não é atraído só por salário, mas também por propósito e a gente tenta trabalhar esse propósito para que ele se sinta partícipe da construção de uma estratégia do ecossistema e se sinta mais valorizado do que se sentiria numa empresa onde ele é mais um. Você anunciou que uma das prioridades da gestão será o reposicionamento do

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"Brasil envelheceu antes de enriquecer e não dá conta do idoso"

Você já se preocupou sobre como será sua vida na terceira idade? Ou enfrenta dificuldade com os idosos da sua família que precisam de atenção especial que os filhos e netos não conseguem atender? Essas e outras questões complexas que envolvem o envelhecimento da população brasileira foram analisadas pela diretora médica do Geriatrie, Carla Núbia Borges. A professora da Unicap e membro da Câmara Técnica de Geriatria do Cremepe trata ainda, nesta entrevista concedida a Rafael Dantas, da sexualidade do idoso e da necessidade de políticas públicas voltadas para essa população. Segundo Alexandre Kalache (ex-diretor do programa de envelhecimento saudável da Organização Mundial de Saúde), para se envelhecer bem é preciso acumular quatro capitais: a saúde, o conhecimento, os relacionamentos, o financeiro além do propósito. Você concorda? Concordo totalmente. Isso mostra o quanto a saúde não é mais a ausência de doença, mas esse complexo entre a saúde social, mental e física. É importante se ter metas, propósitos e sonhos. Você precisa cuidar de tudo ao mesmo tempo. Não adianta estar com todos os exames em dia e não ter família, ser sozinho, ter pouca participação social. Ou o contrário, o idoso ser superssocial e participativo, mas não cuidar da saúde. É um contexto com vários pilares. Se um pilar desses cair, você tem adoecimento. É muito comum o idoso ter doenças, não é exceção, mas ele pode ter uma vida bastante funcional. Quais os benefícios de cuidar da saúde social? A saúde social é essa interação com a família e amigos que é muito importante. Ao cuidar da saúde social, o idoso se previne da depressão. As pessoas que têm participação social se cuidam mais e consequentemente têm outros ganhos, como ter propósitos e sonhos. Essa é uma fase de resgate. Não se pode mergulhar na velhice inativo e inútil. É preciso trabalhar bem a questão da vida após a aposentadoria. Afinal, o que você fará após se aposentar, depois que não tiver aquele grupo de amigos? Se você não fez seu capital financeiro, será prejudicado também na aposentadoria. Se não cuidou da saúde, vai entrar nessa fase da vida só gastando dinheiro com doença. São vários cuidados a serem tomados concomitantemente ao longo da vida, que precisam começar muito antes da velhice. Em menos de 20 anos, o Brasil vai dobrar sua população idosa, algo que na França demorou 145 anos. Quais os desafios do País para atender às necessidades desse rápido aumento da longevidade no futuro, especialmente quando estamos numa recessão e continuamos sendo um país em desenvolvimento? O Brasil deu uma guinada de uma longevidade de mais ou menos 45 anos nos anos 1950 para uma expectativa de vida de 75 ou 76 anos nos dias de hoje. E a população da quarta idade, acima dos 80 ou 85 anos, é a que mais cresce proporcionalmente. Isso porque, antigamente, tínhamos muitas doenças infectoparasitárias, pessoas morriam de malária, diarreia, tuberculose. Mas com a revolução industrial, vieram a penicilina, os antibióticos, o início do tratamento do câncer, o diagnóstico das doenças mais precoce, a vacinação, o anticoncepcional. As famílias que tinham 20 filhos começaram a ter menos, graças ao controle da natalidade. Então, menos crianças nascendo, mais vida longeva. O que acontece: nós envelhecemos antes de enriquecer, diferente dos países de primeiro mundo, que enriqueceram antes de envelhecer. Então, é preciso preparar a população. A pessoa quando envelhece no primeiro mundo, os filhos não ficam em casa, mas os idosos têm todo um acesso à saúde na residência, à acessibilidade, às políticas públicas engajadas para o idoso na cultura, no lazer, na saúde, no benefício. Eles têm mais suporte para o envelhecimento. Porém, a questão da intergeracionalidade é mais característica dos países subdesenvolvidos, mais latinos. Nosso idoso geralmente vai para a casa do filho ou o filho para a casa do idoso. Mas o Brasil envelheceu antes de enriquecer e o País não está dando conta de tantas pessoas envelhecidas. Na questão social não se dá valor aos idosos. Na questão de trabalho também, chegou aos 40 ou 50 anos é descartado. Então ninguém aproveita essa bagagem de experiência. Isso está começando a mudar. É preciso de mais programas culturais voltados ao idoso e não só ao jovem. Na questão de saúde, mais de 92% deles não têm planos de saúde. Onde estão? No SUS. Esse pessoal está na atenção básica e nos hospitais de média e alta complexidade, que não têm suporte para aguentar tanta demanda. Eles sofrem e morrem na fila de tanta espera. Que tipo de política pública é necessária para que os idosos tenham qualidade de vida? O idoso precisa se sentir respeitado. O respeito lhe gera muitos pontos positivos. Se chegar a um posto de saúde com respeito à sua idade, com atendimento prioritário, ele se sentirá mais feliz. Se as famílias trabalharem mais a humanidade, o amor, não abandonarem o idoso, ele vai se sentir mais feliz, comer melhor, dormir melhor. Vai ter mais participação social, indo aos grupos de idosos que estão fazendo uma festa ou uma palestra. Como uma política pública pode influenciar nisso? Levando informação para as escolas, os adolescentes e as famílias sobre o que é envelhecer e que precisamos ser respeitosos com os idosos. Devia-se oferecer turismo e cultura a essa população, mas o idoso está em casa isolado e oprimido. Qual é o estímulo que ele terá para sair de casa e participar das atividades sociais? Ele vai adoecer e se isolar. Talvez informar sobre o respeito e sobre o que é envelhecer seja a política de mais impacto. Ela cai como uma bomba e gera vários pontos positivos. Que tipo de preconceito sofre o idoso? Preconceito de que não pode dar opinião. Preconceito de que não pode mais fazer nada, de que ele é inútil. De que velhice é doença. De que todo esquecimento é tratado como demência. Preconceito de que ele quer tirar vantagem por ser velho, mas na verdade é um direito adquirido. Então, há o preconceito de que o idoso não

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"Nosso diferencial é a capacidade de adaptação às mudanças"

Tudo é superlativo quando o assunto é o Polo de Confecções de Santa Cruz do Capibaribe, cidade do Agreste pernambucano. Prova disso é o Moda Center Santa Cruz, centro atacadista do setor que reúne mais de 10 mil pontos comerciais, entre boxes e lojas, onde são comercializadas peças no atacado e no varejo. Na baixa temporada recebe até 60 mil visitantes de várias partes do País, em dois dias de feira, que se tornam 160 mil na alta temporada. Cláudia Santos e Rafael Dantas foram até a cidade e conversaram com Bruno Bezerra, presidente da CDL-SCC (a Câmara de Diretores Lojistas da cidade) para falar sobre seus planos à frente da entidade, que é focada em moda. Bezerra elogia a capacidade da economia local de se adaptar às mudanças, desde os tempos em que girava em torno da feira de mangaio. Agora toda essa flexibilidade é voltada para as oportunidades da internet e a preservação ambiental. Quais são seus planos na CDL-SCC? O principal propósito é sermos conhecidos nacionalmente como uma CDL que tem foco em moda e criatividade, porque é a vocação da região. Criamos câmaras setoriais, como a de Moda e Criatividade, de Escolas, de Atacadista de Tecido e Armarinho, de Arquitetos e Engenheiros, de Representantes de Escritório e de Representação de Confecção. Essas câmaras promovem um envolvimento maior dos empreendedores. Qual o resultado dessas câmaras? A Câmara de Representantes, por exemplo, promove uma rodada de negócios, em agosto, cuja movimentação estimada é de R$ 8 milhões. A intensão da Câmara de Moda e Criatividade é trazer gente mais nova para cá para trabalhar com criação. Vamos desenvolver alguns cursos, entendendo como é a realidade daqui. Hoje temos uma dependência grande do Sistema S, mas nem todos os cursos deles atendem à nossa demanda em 100%. Sempre tem aquele espaço para se criar algo mais focado, levando em consideração nossas particularidades. Qual o tamanho do polo? É muito difícil mensurar em termos de faturamento porque existem vendas que acontecem em outros Estados, mas foram geradas aqui. Temos um estudo mostrando que há empreendedores de 54 municípios (18 dos quais são da Paraíba) que escoam sua produção a partir da venda que fizeram no Moda Center. Há também uma quantidade expressiva de empreendedores de Moreno (na Região Metropolitana do Recife). Eles produzem lá e, semanalmente, escoam a produção na feira. Como, em geral, ela acontece em um dia, o empreendedor pode passar o restante da semana cuidando da produção, vem para cá na segunda-feira comercializar e depois retorna. Nosso mercado é sobretudo o Norte e o Nordeste, mas já conseguimos entrar no Centro Oeste, em Minas Gerais e em São Paulo. Qual o principal desafio do Polo de Confecções? Temos uma enxurrada de conhecimento acessível, sobretudo na internet. O desafio é ter clareza do que precisa ser aprendido. Há uma dinâmica muito grande da economia, que pode promover uma determinada mudança e, quando a gente acha que aquela mudança vai começar a se estruturar, ela já não existe mais, há um novo processo em andamento. Aí, você tem que evocar Darwin: os que sobrevivem não são os mais fortes ou inteligentes, são os que melhor se adaptam às transformações. Se você estudar a história do setor de confecções, que é a história de Santa Cruz, a cidade mãe do polo, verá que nosso grande diferencial foi a capacidade de nos adaptarmos às mudanças. Na década de 1940, Santa Cruz era distrito de Taquaritinga do Norte, mas o distrito já tinha uma feira de mangaio maior que a da sede. Temos essa habilidade de comercializar em feira, nosso primeiro ambiente de negócios. Daí surgiu a oportunidade de migrar da agricultura e pecuária de subsistência para confecção (que num primeiro momento também foi de subsistência) que era vendida também nas feiras. Com o surgimento da máquina de costura industrial, a produção aumentou. A feira já não era suficiente para escoar o que era produzido. Por isso, os mascates começaram a viajar para vender esses produtos para, por exemplo, Irecê, na Bahia, na época da colheita de feijão. Depois a feira começou a ganhar uma estrutura com o Moda Center. Nesse meio tempo, veio a rodada de negócios, depois chegaram os escritórios de representação. O empresário do Pará, por exemplo, que tem uma rede de lojas, contrata esses escritórios para comprar aqui e fazer a logística de levar para lá. Agora, com as redes sociais, está melhor ainda. Empresários postam as mercadorias no Instagram, os seguidores veem e já correm para o WhatsApp para fazer o pedido. Muitas empresas participam da feira só para entregar os produtos. Montamos um estúdio de fotografia na CDL porque, hoje, uma boa foto de moda rende tão bem quanto um bom atendente. Algumas profissões estão acabando, mas outras são criadas, como o gestor de mídias sociais. Um dos cursos que mais ofertamos é o de gestão dessas novas mídias. O Instagram é a rede social que a moda do mundo inteiro escolheu, por ser muito visual, e moda é sobretudo imagem. Criamos também o primeiro concurso de modelo fotográfico, porque há escassez desses profissionais, em razão da demanda das empresas locais. Essa habilidade de acumular esses canais de venda com competência é o que faz toda a diferença. Quem vê de fora, não conhece essa dinâmica, pensa que é só a feira, mas para alguns ela é o menor canal. Hoje, também, há questões estratégicas que precisam ser trabalhadas junto com outras associações. Por isso, criamos uma governança que funciona basicamente aqui no prédio da CDL com: Moda Center, Ascap (Associação Empresarial de Santa Cruz do Capibaribe) e Ascont (Associação Santacruzense de Contabilistas). Começamos a ter ações em conjunto enquanto ambiente de negócios. Essa preocupação do setor em se atualizar se reflete no tema desta edição do EMP (Estilo Moda Pernambuco), Moda 4.0? Sim. A indústria 4.0 é uma realidade que vem dominando o processo industrial do mundo inteiro e precisamos estar antenados com essas transformações. Precisamos entender o funcionamento da inteligência artificial e os

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O futuro é pra quem tem capacidade de aprender

Oscar Wilde sonhava com o dia em que as máquinas fizessem todo trabalho braçal realizado pelos humanos. Estamos muito perto disso, segundo Silvio Meira, um dos idealizadores do Porto Digital e professor extraordinário da Cesar School. Hoje colheitadeiras e caminhões autônomos já cortam a cana-de-açúcar e a transportam para a moenda sem a presença de trabalhadores. Mas, a tecnologia não foi capaz de liberar todos os homens para o desenvolvimento intelectual, como torcia o escritor irlandês. Nesta entrevista a Cláudia Santos e Rafael Dantas, Meira prevê um aumento do desemprego ainda maior no País, caso não haja políticas e estratégias para inserirem o País entre as nações “provedoras de soluções para o mundo”. Ele também defende uma mudança profunda no sistema educacional do País. Analistas dizem que após a retomada da economia, grande parte dos desempregados não será absorvida pelo mercado. Você concorda? Sim e acho que a situação vai piorar muito por falta de estratégia, de visão de mundo e de políticas públicas. Temos um grande desafio histórico e contínuo que é a transformação do trabalho. O trabalho se transforma o tempo todo, se não fosse assim, estaríamos todos no campo. A agricultura aconteceu nos últimos 15 mil anos. Nos EUA, em 1850, havia 60% da força de trabalho atuando no campo. Em 2015, este percentual é de 3%, mas ao mesmo tempo, foram criados empregos nos setores de educação, serviços, de governo, financeiro, saúde e varejo. Nos anos 60 e 70, as fábricas contratavam grande volume do capital humano, que agora foi reduzido. Primeiro porque foram introduzidos novos parâmetros de qualidade do trabalho. Se você analisar uma fábrica de automóvel nos anos 50 ou 60, verá um esquadrão de pessoas dentro de cabines de pintura que eram quentes, com poluentes agressivos que encurtavam a vida de quem trabalhava nelas. À medida em que houve a automatização das fábricas, as pessoas foram retiradas dessas posições, que eram trabalhos repetitivos ou insalubres ou os dois, ou eram atividades nas quais humanos não conseguiam fazer com o mesmo grau de precisão repetidamente durante muito tempo. Esse processo de introdução de tecnologias da informação e comunicação e controle na sociedade vem acontecendo desde a década de 50 e chegou agora a um patamar de performance em que se tornou prático, econômico e viável, basicamente qualquer pessoa montar um negócio eletrônico em quase qualquer setor da economia. Qual a consequência disso? O trabalho que você estava fazendo ou será feito de uma forma radicalmente diferente ou vai ser feito num outro lugar, ou vai ser executado por um sistema de informação. A McKinsey (consultoria empresarial americana) fez uma estimativa que aponta que o Brasil terá uma força de trabalho, em 2030, de 110 milhões de pessoas. Temos uma taxa de desemprego da ordem de 15% hoje. A estimativa é que 14% da força de trabalho do Brasil vai ser deslocada (isto é desempregada) nos próximos 15 anos, ou seja, além dos 15% que estão procurando emprego, outros 14% terão o seu trabalho deslocado. Situação pior enfrentam países sofisticados economicamente. A Alemanha terá 25% da força de trabalho deslocada, porque eles investem mais rapidamente, têm uma indústria globalmente mais competitiva que precisa continuar competitiva. Na China, que terá 17% da força de trabalho deslocada, as prefeituras de cidades industriais estão investindo na robotização das fábricas para continuarem competitivas globalmente e os empregos mais sofisticados ficarem naquela cidade. O que você precisa proteger não é o trabalho nem o emprego, são as pessoas e elas só podem ser protegidas com educação. As escolas estão preparadas para formar profissionais para essa realidade? Não. O que as escolas do mundo fizeram até agora: sistematizaram o conhecimento do passado, prepararam esse conhecimento dentro de pacotes estruturados e entregaram para uma performance no presente, mas deveria ter uma certa continuidade para o futuro. Como vivemos no espaço de aceleração da evolução do conhecimento e sua aplicação na sociedade, as escolas têm que parar de fazer esse processo de codificar o passado. Precisam extrair do passado quais são as leis fundamentais para determinadas classes de trabalho ou de competências ou de performances que você quer no mercado e preparar as pessoas em função dessas leis ou das estruturas fundamentais de conhecimento de certas áreas para as pessoas continuarem aprendendo. Não existe mais o “me formei”, você tem que sair no último grau de aprendizado do qual você esteve com a cabeça de aprendiz. O futuro não é pra quem tem conhecimento, é pra quem tem capacidade de aprender. Se pegar a simples capacidade de saber coisas, ela está 100% disponível na internet. As pessoas têm que ter base para aprender continuamente. Isso significa: saber a língua do país e matemática (que inclui programação). É necessário capturar a expressão do mundo e entendê-la, perceber o mundo de uma maneira sofisticada, isso é línguas e os contexto linguístico na história, na geografia, na sociologia, na política e assim por diante. É preciso saber modelar o mundo, isso é matemática, e programar o mundo, isso é computação. São condições para fazer qualquer coisa em qualquer área. Se você quiser ser um profissional um pouco além do seu local, deve saber também inglês. Como os governos estão se preparando para esse desemprego futuro? Em países como Japão, Alemanha, Suíça, Singapura, Suécia, Coreia, a regeneração da máquina econômica funciona numa outra velocidade porque eles se interpretam como provedores de soluções para o mundo. Isso faz com que as novas indústrias demandem da máquina pública um conjunto de ações derivadas de políticas e de estratégias que vão prover esses caras com esse novo trabalhador. Ao invés de terem um montador de máquina, terão um programador de robô. O Brasil tem um megaproblema: possui pouquíssimas empresas que competem globalmente e todas as empresas globais competem dentro do espaço econômico brasileiro que é grande: um mercado 220 milhões de consumidores. O impacto disso é que pouquíssimas empresas brasileiras precisam de inovação e criatividade feita no Brasil, porque não competem globalmente, e quase nenhuma empresa global que compete

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"Muitas jovens mães se guiam pelo Google"

Décadas atrás, quando as famílias eram maiores, havia um convívio mais intenso entre parentes de diferentes faixas etárias e quase sempre contava-se com a presença de um bebê. Hoje, com os núcleos familiares menores, a primeira criança que muitas jovens mães pegam no colo é o seu filho. Sem referência, elas recorrem à ciência, livros de autoajuda, psicólogos e até à internet para encontrar uma receita sobre como cuidar dos pequenos. Neste mês em que se comemora o Dia das Mães, Cláudia Santos e Rafael Dantas, conversaram com a psicanalista Ana Rocha, do CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem) para analisar essas mudanças. Ela também comenta a crescente participação dos pais nos cuidados com os filhos e a dificuldade dos adolescentes em vivenciar uma frustração. Hoje a mulher tem a opção de ser ou não mãe, ter filho mais jovem ou com mais idade. A escolha dessas opções traz angústia para ela? Penso que sim. Conquistamos a possibilidade de escolha, que é uma coisa muito importante. Há algumas gerações, a única razão de ser da vida de uma mulher era a maternidade e o casamento. Hoje você pode escolher a sua realização pessoal com ou sem a maternidade. Avalio que nisso há um gerador de ansiedade que não está restrito às mulheres. Em um curto espaço de tempo fizemos uma desconstrução vertiginosa de como era a vida há 100 anos. Era o tempo da família patriarcal, que se sustentava num mundo também extremamente hierarquizado, respaldado do ponto de vista da política dos Estados totalitários. As relações do mundo profissional eram muito hierarquizadas também. Tudo isso dava respaldo a essas famílias. Com os avanços dos princípios democráticos, como a igualdade de direitos, a inclusão e legitimação das diferentes formas de pensar e de existir, há uma transformação das relações que se tornaram mais horizontalizadas. Um mundo onde tem, potencialmente, lugar para todos. Estamos lutando por isso, que não está acabado. Mas, essa mudança teve desdobramentos para o núcleo familiar. A mãe naquele modelo antigo não perguntava o que ela precisava fazer com o filho. Isso se passava de geração em geração pela tradição. Quando desconstruímos isso, quem vai dizer o que é uma boa mãe ou um bom pai? Os livros de autoajuda? Os especialistas? A ciência? Os psicólogos? Os educadores? Isso provoca muita angústia. Esse é o nosso desafio, não só das mulheres. É saber como a gente vai criar um outro jeito de ser pai e mãe sem ficar no saudosismo de antigamente. Ainda não existe um novo modelo? Não. O que cada um precisa compreender, não só as mulheres, é que nós precisamos forjar o nosso jeito de ser pai e mãe dos nossos filhos. As pessoas não têm nos procurado para fazer uma terapia pessoal ou por achar que seus filhos precisam. Mas por insegurança. Por não saber como devem agir com os seus filhos nas mais diferentes idades. Os pais ficam muito preocupados, por quê? Apesar de tudo o que conquistamos, fica no imaginário de que aquela forma de criar do passado era a melhor do mundo. Mãe dentro de casa, totalmente dedicada aos filhos. Ora, é só a gente lembrar como eram as famílias no passado. Havia muito sofrimento também. Todas as grandes famílias que a gente conhece têm pessoas com muitos distúrbios. Aquele modelo não assegurava felicidade. As mulheres eram muitos infelizes. Por outro lado, é verdade que em determinadas etapas da vida da criança é necessário o cuidado dos pais presencialmente. Pelo menos nos dois ou três primeiros anos de vida, na primeira infância. Você não pode sair de manhã e retornar à noite quando o filho já estiver dormindo. A criança muito pequena precisa se realimentar da presença dos pais. Como tem sido a transformação do papel dos homens no cuidado dos filhos? As conquistas das mulheres têm favorecido aos homens para que se aproximem também dessa experiência do cuidar. Poder se envolver com seu filho, colocar para dormir, dar uma mamadeira, poder brincar. É uma experiência para além de chegar a criança pronta, tomada banho e o pai cheirá-la e entregá-la de volta para a mãe. Isso tem dado a chance para as crianças desenvolverem com os pais uma aproximação que nunca tiveram antes. Alguns homens têm tomado isso como oportunidade de enriquecimento pessoal muito grande. Enquanto outros se sentem extremamente humilhados por isso. As mulheres lidam bem com isso? Quando ficamos repetindo essa fala da dupla jornada é como se, de alguma maneira, houvesse a resistência de algumas mulheres de sair desse lugar de rainha do lar. Existe uma certa ambivalência. Ao mesmo tempo que há um orgulho enorme do que consegue fazer e dar conta, muitas vezes a mulher reclama do cansaço. Mas muitas delas não suportam ver os filhos se aproximarem muito do pai. Há um desalojamento que todos estamos fazendo. Se queremos olhar pelo lado negativo, podemos. Mas eu prefiro olhar pelo lado positivo. Todos ganham. Que tipo de transformações estão acontecendo nas crianças com a participação maior dos seus pais, em relação às outras gerações? Há um ganho enorme. Como isso pode ser mensurado? Há alguns anos era impensável um pai ter a guarda compartilhada. A não ser quem queria infernizar a esposa. Antigamente quando um homem se separava da mulher, via seus filhos a cada 15 dias. Todo processo de acompanhar, educar, protagonizar como figura paterna estava impedido. A maioria dos pais não fazia muita questão disso também. Não era uma coisa sofrida. Hoje, cada vez mais, o que vemos são os pais desejando compartilhar. Pegar o filho na escola alguns dias, levar para dormir em casa, algumas vezes na semana participando das atividades escolares. E o efeito que tem para a criança é de uma vinculação extremamente diferenciada quando os pais se ocupam dos cuidados com eles. As vezes se tem a ideia de que brincar com os filhos é o que eles querem. Ora, brincar é ótimo. Mas o que eles preferem mesmo é brincar com outras crianças. O que

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Nossa cozinha é muito mais que bolo de rolo

Nas últimas décadas, especialistas em gastronomia têm valorizado a singularidade de alimentos e a forma típica como são preparados numa área geográfica. É o tão falado terroir. Em Pernambuco, Claudemir Barros tem sido um dos chefs que mais enaltece a riqueza dos quitutes da terra. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele fala da influência de sua mãe, cozinheira do restaurante Leite, que fazia carne de sol e queijo coalho no quintal de casa, das suas pesquisas sobre a culinária sertaneja e da necessidade de estudantes e profissionais valorizarem os ingredientes nordestinos. Como começou a sua paixão pela gastronomia nordestina? Minha mãe foi cozinheira líder do Leite, naquele tempo não havia chef. Ela trabalhou durante 17 anos no restaurante e, por ser muito gorda, tinha medo de morrer e os quatro filhos ficarem à mercê. Ela, então, obrigava todos a cozinhar. Também obrigava a gente a plantar e ter o que comer no quintal de casa. A comida que eu lembro bem que minha mãe fazia era uma peixada. Mas ela valorizava também a carne de sol que era feita dentro de casa, assim como o queijo coalho. Vocês plantavam e faziam queijo numa casa no Recife? Morávamos no Jordão Baixo, que hoje é um bairro, mas antes era considerado como uma cidade interiorana. Como minha mãe foi do interior, fazia as coisas acontecerem dentro de casa. Ela colocava sal na carne e jogava no sereno para fazer a carne de sol. Como havia uma abundância de leite, ela fazia com que ele coalhasse e virasse queijo. Requeijão ela também fazia na própria panela e eu e meus irmãos aprendemos tudo isso. Como não tínhamos condições financeiras, tudo era feito em fogareiro e panela de barro. Como começou a trabalhar na área gastronômica? Como falei, minha mãe nos obrigava a ser cozinheiros. Minha irmã mais velha, aos 15 anos, ao ver a necessidade chegando em casa, foi procurar emprego. Hoje ela é aposentada como cozinheira de uma creche. Meu irmão encostado a ela, Jorge, fez curso de cozinheiro no Senac e foi para o quartel, onde trabalhou como taifeiro (cozinheiro). Hoje é oficial aposentado e, não cozinha mais. Cláudio é sub chef num hotel em Porto de Galinhas. Ou seja, a família toda está nesse ramo. Quando eu era menino via minha mãe ser procurada aos domingos – dia em que o restaurante Leite fechava – por pessoas que queriam que ela fizesse comida em suas casas. Eu dizia para mim mesmo: eu queria que um dia alguém chegasse na porta da minha casa me convidando para cozinhar. Sempre tive essa vontade de querer ser igual a minha mãe e, quando completei 17 anos, fui para o Senac me profissionalizar. Depois trabalhei num restaurante francês em Candeias, depois num outro numa praça do Shopping Recife. Em seguida, fui convidado a trabalhar no Sheraton, onde passei oito anos. Também trabalhei no hotel Golden Beach, em Piedade. Foi quando me mandaram para São Paulo fazer estágio e, quando retornasse, abriria o Mingus que hoje fica em Boa Viagem. Fui chef ainda do Wiella, desde a sua abertura, onde trabalhei 14 anos. Depois comecei a fazer consultoria. Foi quando meus atuais sócios me perguntaram: “por que você não abre um restaurante próprio?” Eu respondi: Por que não tenho tempo (diz rindo e esfregando o polegar com o indicador). Eles disseram: “a gente vai arrumar tempo pra você. Se você abrisse um restaurante, como seria?” Dei a ideia do Oleiro para eles. Eles me perguntaram quando estaria apto a abri-lo e respondi: quando vocês me arrumarem tempo (risos). Cinco dias depois eles me procuraram, dizendo que havia esta casa aqui, propondo o projeto. Como você fez a pesquisa sobre a culinária nordestina que resultou no livro Sonhos & Sabores? Falar da pesquisa é falar de estágios que eu fiz. Fui para São Paulo fazer estágio no Emiliano (restaurante) com a equipe do chef Laurent Suaudeau, um francês radicado no País há mais de 30 anos. Ele se destacou muito por valorizar os ingredientes do nosso País. Logo em seguida, estagiei com Alex Atala, que não preciso dizer quem é. Comecei a observar que essas pessoas cresceram olhando para trás, olhando os ingredientes existentes na sua região, valorizando-os. Foi quando comecei a pesquisar os costumes no interior. Fui a cidades como Frei Miguelinho e fiz um vídeo com um senhor de 84 anos. Perguntava o que ele comia, porque a comida dele era feita daquele jeito e sempre batia com aquilo que nossas mães ensinam pra gente dentro de casa. Passei a levar essas informações para eventos em São Paulo e me diziam que eu precisava tirar aquilo do vídeo e colocar no prato. Passei a fazer menu degustação só com ingredientes daqui. Virei uma referência tanto fora como dentro do Estado. O Recife é considerado o terceiro polo gastronômico do País. Em quê? Por quê? Vi a necessidade de mostrar uma cozinha pernambucana que é muito mais que bolo de rolo, não tirando o mérito, de maneira alguma, do bolo de rolo. Quanto mais eu pesquisava, mais uma coisa me levava a outra. Quando eu estava pesquisando um ingrediente, chegava um senhorzinho ou uma senhorinha e dizia assim: “você já comeu palma?” Eu havia assistido a reportagens sobre esse ingrediente e sabia que era considerado vergonhoso, porque é dado aos animais. Percebi que havia um leque de ingredientes exóticos no Sertão tanto quanto há na Amazônia. Mas há muito preconceito contra esses alimentos, não é? Existe, sim, o preconceito. Ele está alicerçado na região Nordeste. As pessoas têm vergonha do que comeram e ainda comem. Vou usar a palma como exemplo: quem come esse alimento sente vergonha porque as pessoas que vivem na cidade demonstram pavor dele porque aprenderam na televisão que aquilo era errado. Mas se a gente olhar com olhos gastronômicos, veremos que aquele alimento foi o que nutriu aquela família. Uma pessoa percebeu que o gado se nutria de palma e começou a dar também a seus familiares. E quantas pessoas

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É importante preservar direitos básicos do trabalhador

Bruno Baptista elegeu-se presidente da OAB-PE (Ordem dos Advogados do Brasil-seccional Pernambuco) concorrendo numa chapa única, algo incomum para a entidade, que sempre teve eleições disputadas, e para o momento atual do País onde as opiniões são tão radicalmente polarizadas. Nesta conversa com Cláudia Santos e Rafael Dantas, Baptista falou dos planos da sua gestão e da participação da ordem em assuntos importantes para o País e o Estado como a violência urbana e as reformas trabalhista e da Previdência. Quais são seus planos à frente da OAB-PE? Nossa meta é aproximar ainda mais a OAB dos advogados e da sociedade, para que sirva como uma caixa de ressonância da sociedade e da advocacia. Queremos valorizar cada vez mais as prerrogativas profissionais que são muito mais direitos do próprio cidadão. Quando você tem um advogado atuando com respeito às prerrogativas é o cidadão, o cliente dele, quem tem essa garantia. Também nos voltamos para os jovens advogados. Quando eu comecei, há 18 anos, a grande dificuldade era ter meu próprio escritório e pagar despesas de condomínio, secretária, telefone. Hoje, oferecemos dentro da nossa sede, um local onde o advogado vem gratuitamente e pode atender o seu cliente. Por outro lado, precisamos dar uma atenção maior para aqueles que atuam no interior. Por fim, planejamos uma gestão administrativa com transparência. A gestão anterior de Ronnie Duarte deu um grande avanço em relação a isso. Quais as ações para aproximar a OAB da sociedade? A OAB tem um papel que ultrapassa as barreiras das representações da classe. Todos os grandes momentos da história recente do País tiveram a participação da OAB. Então é fundamental que a OAB de Pernambuco tenha uma maior participação nos momentos importantes do Estado. Por exemplo, hoje nós enfrentamos um grave problema de insegurança pública e é essencial que participemos do debate, contribuindo e não apenas criticando, até porque não temos partido político. Nosso papel é contribuir. O mesmo acontece na saúde pública. A OAB, em razão do número de advogados que possui e em razão da representatividade da categoria, pode apoiar esses debates. Qual a análise que o senhor faz sobre a violência no Estado? Na implantação do Pacto pela Vida houve uma redução dos crimes dolosos contra a vida e de roubos, e a gente tinha uma sensação de segurança maior. Mas houve problemas na execução do Pacto Pela Vida. Ultimamente deu uma melhorada, mas ainda estamos longe da situação ideal. Não tenho dúvida de que um dos principais problemas que o cidadão tem hoje em dia é a insegurança de não poder andar na rua, de sair de casa sem saber se vai voltar, e de ficar preocupado com os filhos que estão na rua. Ano passado promovemos um debate com a participação de especialistas de todo o País, inclusive fizemos sugestões para o governo, como a valorização da carreira policial e o aparelhamento das delegacias no interior do Estado. Foram várias sugestões, algumas de fácil execução, que não demandam muitos recursos. O importante é congregar os esforços e que todo mundo – polícia, cidadão, OAB, judiciário, Ministério Público – participe para achar o melhor caminho. Como o senhor analisa o projeto anticrime do ministro Sérgio Moro? Vejo alguns pontos positivos. Mas existem muitas questões que ainda serão submetidas ao Supremo Tribunal Federal. Por exemplo, a prisão após julgamento em segunda instância: não adianta se mudar a lei sem antes o Supremo determinar se isso é inconstitucional ou não. Minha opinião é que é. Mas o projeto não ataca o ponto principal da insegurança. Acho que elevar a pena de uma maneira geral não coíbe criminalidade. O que coíbe é a ausência da impunidade. Ninguém vai deixar de delinquir porque a pena é maior mas, sim, quando souber que delinquindo será preso efetivamente e irá responder pelo crime que praticou. As estatísticas mostram que a maior parte dos homicídios que acontece no País não chega à solução, assim como os roubos. A gente não pode encarar esse projeto como uma panaceia, uma solução de todos os males, porque não é. São necessárias várias outras coisas para a gente ter uma melhora na questão da insegurança e da criminalidade. Como vocês conseguiram o feito de concorrer com uma chapa única em tempos de tanta polarização? Isso é um motivo de muito orgulho para nós, já que vivemos em um momento de tanta divergência. Nossas eleições normalmente são bem disputadas. Acho que se deve a uma gestão bem aprovada e a uma chapa que representa todos os setores da advocacia. Nossa chapa tem mais de cem pessoas, tem todo tipo de advogado (iniciantes, veteranos, da capital, do interior). Essa pluralidade contribuiu muito para a formação da chapa única. Como o senhor avalia as críticas do presidente nacional da OAB Felipe Santa Cruz de que a Lava Jato não pode se prolongar por tanto tempo? A Lava Jato foi e continua sendo fundamental para o País. É muito importante para se acabar com a ideia que se tinha no Brasil de que os poderosos não são punidos. O presidente fez a declaração muito mais no sentido de criticar os métodos da Lava Jato e, aí, realmente eu acho que ele tem a razão, de que se extrapola às vezes o devido processo legal, como a ampla defesa. A crítica, eu acredito, tenha sido ao método e não à operação. Quanto à reforma da Previdência Social, como realizá-la sem afetar os direitos do trabalhador? Já está pacificado de que a reforma é necessária. Temos um sistema previdenciário, que vem dos anos 1980, 90, e ocorreram mudanças como a expectativa de vida da população. Hoje há pessoas que chegam à idade produtiva com 70 anos e que produzem muito bem. O que eu acho é que a reforma tem que focar em dois pontos. O primeiro é acabar com os privilégios, não se admite hoje a manutenção de privilégios, que eram justificáveis no momento em que tínhamos 30 pessoas contribuindo para um inativo. Hoje a proporção é de três

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"Há muito investimento represado"

Durante a campanha e no discurso da posse ao Governo de Pernambuco, Paulo Câmara prometeu estimular a geração de emprego e renda no Estado. Enfrentar esse desafio é a prioridade para o economista e empresário Bruno Schwambach ao assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Nesta entrevista concedida a Rafael Dantas, ele disse focar na atração de investimentos e no incentivo ao empreendedorismo. Qual a sua trajetória antes de atuar no poder público? Sou economista de formação e empreendedor por vocação. Comecei fazendo eventos em sociedade com amigos. Depois empreendi dentro dos negócios da família. Morei em Salvador durante cinco anos e montei as operações da nossa empresa por lá. Quando o mercado em que a gente atua (segmento de automóveis), começou a estagnar com a crise, começamos a olhar o que poderíamos fazer para gerar eficiência e diminuir a estrutura. Concentramos as operações e a gestão a partir do Recife. Fechando esse ciclo lá, optei por empreender em outros setores. Estava saindo em 2016 dessa operação, quando o prefeito Geraldo Julio me fez o convite para contribuir na gestão pública. Se fosse um pouco antes ou um pouco depois não daria, pois estaria mergulhado em outro projeto. Como foi essa experiência? A proposta era interessante, pois visava a pensar no desenvolvimento econômico de forma sustentável, passando pela formação de pessoas. Abrangia desde a mão de obra da cidade, envolvia as agências de emprego, escolas de formação profissional, empreendedorismo, economia solidária e artesanato. Conseguimos integrar um pouco essas áreas, trabalhando muito a questão da desburocratização. Isso criou um ambiente favorável para quem quisesse empreender na cidade. Tivemos alguns avanços, como reduzir o tempo para abertura de empresa de 100 dias para 72 horas. Agora na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, quais são seus planos? De novo fui pego de surpresa. Estava fazendo o trabalho na prefeitura, quando recebi o convite do governador para contribuir, desta vez no Estado. A principal missão ficou muito clara na forma como ele montou o secretariado e nas mensagens da campanha. A preocupação dele é a geração de emprego e renda. Vamos trabalhar todo secretariado e com o governador para melhorarmos o ambiente de negócios, aproveitarmos as oportunidades que possam acontecer, continuar os projetos que estavam em andamento e tentar retomar os que eventualmente pararam. Além de criar um clima favorável pensando sempre na geração de emprego e renda. Qual o foco dessas ações? Estamos muito otimistas com esse momento do Brasil. Em 2014, quando o governador assumiu, o País estava entrando numa crise econômica forte, que depois se desdobrou numa crise política e numa perseguição ao Estado desde o Governo Dilma. Depois vem o impeachment, Temer assumiu e também teve uma questão política muito forte contra Pernambuco. Depois, quando o ambiente nacional estava ficando mais favorável, a denúncia do Joesley Batista deixou o Brasil parado até a eleição. Ninguém tinha coragem para fazer investimentos. Estamos num novo contexto, com um novo presidente. Apesar de estarmos num outro campo político, na parte econômica vemos com bons olhos as medidas que eles apontam que pretendem fazer. Concordamos com um novo pacto federativo, com menos Brasília e mais Brasil, um maior liberalismo econômico. Espero que eles possam traduzir esse discurso em medidas concretas que tragam a confiança para o investimento privado voltar a acontecer. Há muito investimento represado. Precisamos de um cenário de estabilidade e de confiança. Tanto o investimento privado como recursos de fora devem chegar mais forte para o Brasil agora, se o Governo Federal conseguir implantar as medidas que anuncia. E Pernambuco? Cabe a gente estar preparado para esse momento. É uma função nossa estar com os projetos bons e prontos na mão, com essa articulação que Pernambuco sempre teve, por meio da AD Diper. Pretendemos manter isso e agilizar, pegando a analogia com o que aconteceu com a prefeitura. Queremos manter a tradição que Pernambuco tem, mas fazer da forma mais ágil possível. Não há uma preocupação de que a perseguição se repita, já que Pernambuco segue desalinhado politicamente com o Governo Federal? Estamos vivendo um novo momento. O Governo Federal ainda transmite sinais contraditórios, dependendo do ministério. Mas o que percebemos é que na parte da economia o discurso está muito firme, menos ideológico e mais consistente com as necessidades do País. O próprio governador pediu uma audiência com o presidente Bolsonaro para tratar das questões importantes para Pernambuco. Ele já deu sinais que desarmou o palanque e quer diálogo. Estamos esperançosos de que isso possa acontecer, com um diálogo mais coerente e correto possível, pensando na necessidade do povo. Acreditamos que não acontecerá nenhum tipo de perseguição ideológica. Quais as questões estratégicas que dependem do Governo Federal? Temos uma série de projetos de infraestrutura em andamento, como a Transnordestina e vários ramais da transposição do Rio São Francisco, que pretendemos implantar e que exigem convênios. Temos a parte das estradas, além de projetos de dragagem e recuperação do Porto do Recife. Sobre Suape, há uma série de projetos de infraestrutura que dependem do Governo Federal e que são importantes. Também partiremos em busca da iniciativa privada. Quais os setores em que é possível atrair investimentos privados? Quando falamos de Pernambuco sempre falamos do mercado do Nordeste. Pernambuco tem uma posição geográfica estratégica importante para a região. Na medida em que a gente consiga ter confiança na economia, tenho segurança de que esses investimentos irão acontecer. Cabe a Pernambuco estar preparado para isso e buscar esses investimentos. Temos uma estrutura montada para isso, inclusive com inteligência de mercado para identificar os segmentos potenciais. Um exemplo é a privatização do Aeroporto do Recife, que está iminente de acontecer. É outra interlocução que pretendemos fazer com o Governo Federal. Quais os alvos do Estado? Temos a previsão de uma ampliação de toda a estrutura da FCA (Fiat Chrysler Automobiles), que é um investimento muito importante, dos sistemistas e de novos produtos. Eles têm batido recordes de produção e estamos brigando com outros países e estados por esse investimento de produtos novos. Em Suape temos os

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