“O Brasil é hoje o único grande emergente com risco geopolítico perto de zero”
O economista Ricardo Amorim analisa o impacto do tarifaço,as oportunidades para Pernambuco e destaca o papel estratégicodo País no cenário internacional. Durante o Startup Summit, realizado na semana passada em Florianópolis, o economista Ricardo Amorim concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Rafael Dantas. Conhecido por sua análise direta e pela capacidade de traduzir tendências globais para o contexto brasileiro, Amorim abordou os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos, avaliando seus reais impactos sobre o PIB nacional e apontando caminhos de adaptação para empresas e setores estratégicos. O economista também trouxe a discussão para a realidade nordestina, destacando as oportunidades que Pernambuco pode aproveitar nesse cenário de rearranjo global. Do fortalecimento do Porto Digital e da indústria de tecnologia ao potencial de agregar valor às cadeias produtivas tradicionais, como frutas e açúcar, Amorim defende que o Estado tem condições de ampliar sua inserção internacional. Além disso, analisou os riscos e oportunidades que o Brasil carrega como um dos poucos mercados emergentes considerados estáveis no contexto geopolítico atual. O senhor compartilha da visão de que o tarifaço deve ser encarado mais como oportunidade do que como ameaça? Eu tenho uma postura construtivista em relação a qualquer coisa. O que isso significa? O otimista é ingênuo, é aquele cara que saltou do precipício e no começo acha que está caindo um ventinho gostoso, mas vai se esborrachar. Então, eu não acredito em otimismo ingênuo. Acredito que em qualquer situação podemos olhar para os problemas mas, também, para o que há de oportunidade. O tarifaço tem impactos muito reais, significativos, negativos, específicos. Se você tem uma empresa que exporta muito para os Estados Unidos e que está sujeita à tarifa de 50%, o tarifaço é um problemão, ponto final. Mas também significa que você precisa mudar o que está fazendo. Será que existem outros mercados para os quais você pode vender? Será que pode vender no Brasil? Será que há uma forma de reduzir o custo e mesmo com o tarifaço continuar exportando para os Estados Unidos e ganhando dinheiro? Enfim, é preciso buscar alguma alternativa. Mas o caso mais comum é quando a gente olha para o impacto da economia brasileira, as pessoas ficaram desesperadas por algo que não vai ser tão grande assim. Por quais razões o senhor avalia que o impacto será menor? O impacto direto do tarifaço é relativamente pequeno por algumas razões. A primeira é que a economia brasileira é fechada. O Brasil exporta só o equivalente a 15% do PIB. Países como Singapura, em relação ao tamanho da economia, exportam seis vezes mais. Segundo, os Estados Unidos são um parceiro comercial importante, mas está longe de ser o mais importante, que é a China, com 28% das exportações brasileiras. Depois vem a União Europeia, com 18%, e aí vem os Estados Unidos, com 12%. Então, se eu falar que o Brasil exporta 15% do PIB e 12% vai para os Estados Unidos, o que nós exportamos para os Estados Unidos equivale a 1,8% do PIB. E nem todas as exportações estão atingidas pelo tarifaço… Do que a gente exporta aos Estados Unidos, 55% não está sujeito ao tarifaço. Há uma alíquota para o Brasil de 10% de exportação, com um detalhe: a alíquota média americana hoje é de 15%. Então, nesse 55%, as empresas brasileiras estão melhores que as outras. Não é problema. Tem mais 19% que é sujeito ao que é chamado de tarifa externa comum. O que significa isso? Que esses produtos, não importa de que país eles são exportados, todo mundo paga a mesma tarifa. Sobraram 36%. Esses 36% têm o tarifaço de 50%. Esses têm um problema. É pouco mais de 1/3 das exportações brasileiras para os Estados Unidos. O impacto máximo que o tarifaço pode ter, se tudo que é exportado, sujeito à tarifa de 50% deixar de ser produzido daqui para frente, coisa que não vai acontecer, será 0,6% do PIB. O que deve acontecer com esses setores impactados? Tem uma parte que mesmo com 50% de tarifa vai continuar sendo exportada. Tem uma parte que não vai para os Estados Unidos, mas exporta para outro lugar. Tem uma parte que será vendida no Brasil. Mas vamos exagerar, vamos pegar o 0,6%. O tarifaço começou em agosto. Então, significa que seriam cinco meses neste ano. Então, o máximo que o tarifaço pode tirar do crescimento do PIB brasileiro em 2025 é 0,25%. Só que quando você olha, inclusive para o que está acontecendo com as expectativas de crescimento, elas estão subindo mesmo com o tarifaço. O que significa que o impacto é muito pequeno. Havia uma segunda possibilidade que era um impacto indireto, que é o seguinte, “Pô, vai ter tarifaço no Brasil”. O pessoal fica preocupado, pega o dinheiro que está no Brasil e manda para fora. Não está acontecendo. Como é que eu sei? Desde a data que o tarifaço foi anunciado, o real foi a moeda que mais se apreciou no mundo. O que isso significa? Que está entrando dinheiro no Brasil, não está saindo. Então não vai ter um impacto adicional. O resumo da ópera é: sim, pontualmente o tarifaço é relevante, mas para economia como um todo, o impacto negativo é muito menor do que as pessoas acham. E tem um impacto positivo. Qual é o impacto positivo? Eu estava falando da produção nova, mas tem uma segunda situação, que é o que já foi produzido na expectativa de ser vendido para os Estados Unidos. O produto que já está feito. Se os americanos não comprarem, alguma coisa o produtor terá que fazer: ou vender para outro país – mas achar um novo mercado externo rápido não é coisa fácil – ou, a maior parte será vendida dentro do Brasil. Então, o que significa? De uma hora para outra, vão colocar um monte de produto a mais no Brasil, resultado, os preços caem. A gente já viu isso no número de inflação que foi divulgado na semana passada, que foi uma deflação. A inflação pelo IPCA
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