Leonardo Dantas Silva – Página: 4 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Leonardo Dantas Silva

Tereza: Rainha de Cabinda, escrava em Pernambuco

No município de Ipojuca, na Mata Sul de Pernambuco, viveu uma escrava, de nome Tereza, que antes do seu cativeiro fora “Rainha de Cabinda”, como atestavam os anéis de cobre dourados que trazia nos braços e nas pernas. A colonização de Ipojuca tem início em cerca de 1560, com a implantação da agroindústria do açúcar nas terras férteis do massapê do seu território. Para mão de obra necessária ao plantio e produção foram, de início, escravizados os índios caetés, logo depois substituídos por africanos trazidos da Costa da África. Por ocasião da invasão holandesa, em 1630, existiam em Ipojuca 67 engenhos, 20 dos quais de fogo morto; destes, cinco foram confiscados pela Companhia das Índias Ocidentais. Dentre os engenhos em atividade, “o Sibiró de Baixo ficava localizado na margem direita do Rio Sibiró, a uma boa milha ao sudoeste do engenho Sibiró de Cima (de Riba) ou Sibiró do Bom Jesus (Sirinhaém), pertencente a Manoel de Navalhas”. Suas terras tinham duas milhas de extensão, com uma várzea razoável, mas a maior parte consistia de pastos. Sua moenda era movida à água, podendo produzir, anualmente, 3.000 a 4.000 arrobas de açúcar e pagava de imposto 80 arrobas de açúcar branco, encaixado, levado para o passo do engenho”. (Relatório de Schott, 1636). Fato curioso é que em dezembro de 1816 o viajante francês Louis-François de Tollenare conheceu nesse engenho uma rainha africana chamada Tereza, na condição de escrava do engenho Sibiró, segundo registra no seu livro: Notas Dominicais (Recife, 1978). Trava-se de uma bela mulher, de 27 a 28 anos, muito alegre e faladeira. Tereza fora rainha em Cabinda, na região de Loango, também situada na África Centro-Ocidental. Flagrada em adultério, acabou sendo considerada à escravidão em sua terra. Escreveu Tollenare: “Quando chegou ao Brasil trazia nos braços e nas pernas anelões de cobre dourados; as suas companheiras testemunhavam-se muito respeito. Era imperiosa e recusava-se a trabalhar” “Nós europeus, supomos logo que os grandes revezes da fortuna despertam considerações; mas, Tereza foi violentamente fustigada; submeteu-se a sua sorte e, de má rainha que fora, tornou-se uma excelente escrava. Há dois anos, uma das negras que trabalham na moenda adoeceu; Tereza foi designada para substituí-la; pouca afeita àquele trabalho, teve a infelicidade de deixar que uma das mãos fosse presa nos cilindros, quis desvencilhar-se com outra mão, que também foi agarrada; ambas ficaram esmagadas, sendo necessário a amputação dos dois braços. Vi a pobre Tereza neste lamentável estado”. E o viajante Louis-François de Tollenare termina por se compadecer do destino de Tereza, esta rainha africana transformada em escrava em terras da Zona da Mata de Pernambuco, registrando esse pungente depoimento: Os ternos sentimentos que a precipitaram do fastígio das grandezas, não na abandonaram no seu humilde cativeiro. Tereza coroada pelo amor, invoca aqui este Deus para sua consolação; há três meses deu à luz um filho, cujo pai ignora quem seja. Prendi ao colar de sua majestade uma agulheta de ouro que nos fez bons amigos, ou, para me expressar mais respeitosamente, colocou-me tão na sua mercê, que só dependeu de mim fazer ao Rei de Cabinda o ultraje do qual Jocondo se consolou”.

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As falsas verdades do Brasil Holandês…

No Recife, para os menos avisados e mequetrefes de plantão, todo passado vem do chamado Tempo dos Flamengos, do período holandês (1630-1654) melhor dizendo. Até a nossa tradicional Praça da República, o Passeio Público do Campo das Princesas, cuja planta do seu ajardinamento assinada por Emilio Beringuer encontra-se datada de cinco de setembro de 1875, tem sua origem atribuída ao Conde João Maurício de Nassau, que esteve no Recife entre 1637 a 1644! Na verdade, no seu tempo, foi o Conde de Nassau responsável pela construção no local do Palácio de Friburgo e seu horto (detalhado em planta baixa por Caspar van Baerle, em 1637), então apelidado de Palácio das Torres. Mas, com o seu retorno aos Países Baixos, foi o horto destruído por conta da Guerra da Restauração Pernambucana (1645-1654), segundo acentua Tadeu Rocha (1967): “Do antigo Palácio e do seu parque nada mais resta…”. O primitivo palácio durou até 1769, quando veio a ser demolido, dele restando, tão somente, uma pequenina construção, registrada por Robert Southey (1774-1843) in History Brazil (1819), na qual funcionava o Erário Régio, “e o espaço em redor tornara-se um grande descampado passando a ser chamado de Campo do Erário, cujo polígono é detalhado por F.A. Pereira da Costa (Anais, v.4, p.209)”. No Campo do Erário foram depois construídos o Palácio da Presidência da Província (1843) e o Teatro de Santa Isabel (1850). As duas novas construções que pontuavam o velho descampado viriam ser apreciadas pelo imperador D. Pedro II, chegado ao Recife em 22 de novembro de 1859. A municipalidade de então rendia homenagem ao lhe impor nova designação de Campo das Princesas, conforme comprovam as fotografias obtidas pelas lentes de Augusto Sthal (c. 1855), reproduzidas em publicação de Gilberto Ferrez, Raras e Preciosas Vistas e Panoramas do Recife – 1755-1855 (Coleção Pernambucana, v.14); bem de acordo com as imagens de Emil Bauch (1852) e Louis Schlappriz (1863). Somente em 1862 é que apareceu na imprensa um pedido de arborização de alguns logradouros do Recife, dentre os quais o Campo das Princesas, cujo gradeamento e calçada no seu entorno aparece em relatório da Presidência da Província de 1º de março de 1871, com a nova denominação de Passeio Público. Em 1871, orçamento da Repartição de Obras trata da aquisição de um gradil, quatro portões em ferro, oito bancos com dois tipos e ornatos, quatro figuras com lampiões globulares, quatro estátuas “representando a Justiça, a Fidelidade, a Amazona e a Concórdia”, juntamente, “com quatro estátuas representando o inverno, o estio, a primavera e o verão” (Arrais, 2004). O Passeio Público vem ser inaugurado em 1872, segundo noticia o Diario de Pernambuco nas suas edições de 19 e 21 de outubro daquele ano. A planta do ajardinamento do novo Passeio Público, assinada por Emile Beringuer, encontra-se datada de cinco de setembro de 1875, conforme original no Arquivo Público o Estado. No que diz respeito ao registro iconográfico dos jardins do Campo das Princesas ver as fotos de Marc Ferrez (1875) e de outros profissionais, publicadas no livro Jardins do Recife – 1872-1937, de Aline de Figueirôa Silva (CEPE, 2010). O interessante disso tudo é que, para os desavisados e mequetrefes [homem presumido de sabido; Padre Antônio Vieira, Cartas, 41. Tomo, 1], os jardins da atual Praça da República foram originários do Horto do Conde João Maurício de Nassau (1642). Como no cancioneiro popular: Há sinceridade nisso, Não há…. Não há…

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Engenho do Meio, o que sumiu no tempo

Arruando por terras do primitivo Engenho do Meio (Século 16) ingressamos no Campus da Universidade Federal de Pernambuco, criada em 20 de junho de 1946, onde se localizam os principais centros de ensino e pesquisa. Parte da área do antigo Engenho do Meio fora adquirida em 1949 pelo então reitor da Universidade do Recife Joaquim Amazonas (1879-1959) aos irmãos Antônio Luiz e Ricardo Lacerda Brennand, proprietários da Usina São João da Várzea, dando início à implantação da Cidade Universitária. A tarefa de planejamento e construção dos prédios da universidade fora entregue à equipe dirigida pelo professor italiano Mário Russo (1917-1996), que contou com o auxílio dos arquitetos Everaldo Gadelha, Heitor Maia Neto, Maurício Castro e Severino Vieira Leão. O que poucos têm conhecimento é que, dentro da área do campus universitário, existe em nossos dias uma comunidade denominada de Arruado do Engenho Velho sobrevivente do primitivo engenho de João Fernandes Vieira (c.1613-1681). As terras do primitivo Engenho do Meio, situavam-se à margem direita do Rio Capibaribe, estando hoje ocupada pelas comunidades do Engenho do Meio, Torrões, Roda de Fogo e Cidade Universitária. Dos primitivos começos preserva-se, na atual Estrada do Forte, as ruínas do Arraial Novo do Bom Jesus (1645), bastião de vital importância nas guerras de expulsão dos holandeses (1645-1654). Por causa do falecimento de João Fernandes Vieira, em 1681, essas terras passaram a pertencer à sua mulher, dona Maria César, que continuou residindo na casa grande do engenho, existente até o final da década de 1940 quando se transformou em ruínas com o início das obras do novo campus universitário. Naquela casa grande ocorreram as reuniões que deram origem ao movimento revolucionário denominado de Insurreição Pernambucana (1645) que veio proclamar João Fernandes Vieira chefe supremo da Revolução e governador da Guerra da Liberdade e da Restauração de Pernambuco. Pela incúria e desinteresse dos responsáveis pelo projeto do novo campus universitário, a primitiva casa grande veio ruir constituindo-se em prejuízo irremediável para o nosso patrimônio histórico-cultural. De modo a marcar a primitiva sede do Engenho do Meio, às margens do riacho Cavoco, foi erguida a estátua pedestre de João Fernandes Vieira, moldada em bronze pelo artista Bibiano Silva, assinalada por uma placa: O Governador das Liberdades, 1645-1654. Neste local existiu a casa de João Fernandes Vieira, onde a 13 de junho de 1645 os restauradores declararam guerra aos holandeses que ocuparam este país. *Por Leonardo Dantas Silva

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O Recife nos tempos do Zeppelin

No seu imaginário, o Recife ainda convive com as imagens da presença do Graf Zeppelin em nossos céus, que se tornou o maior acontecimento do século 20 entre nós. Dentre as novidades dos anos de 1930, famosa pelo aparecimento de novos hábitos e costumes, antecedendo a Segunda Grande Guerra, foi o surgimento do Graf Zeppelin, inaugurando linha direta, bimestral, com a Europa, em 22 de maio de 1930, fazendo a rota Friedrischafen-Sevilha-Rio de Janeiro. Pelo noticiário, registrado no Diario de Pernambuco, do dia 23 de maio, e depoimentos dos que viveram esse tempo, a exemplo do industrial Ricardo Brennand, 91 anos, se tornaram um verdadeiro acontecimento na cidade, as chegadas e partidas do dirigível, que cruzava o Atlântico em 59 horas de viagem. No dia seguinte do seu voo inaugural, assim noticiava o Diario de Pernambuco: Um vivo interesse se desenhava em todos os semblantes entorno desse acontecimento destinado a marcar uma data inesquecível na vida da cidade. […] Às 18 horas e 35 minutos o dirigível foi avistado no Recife e logo entrou a tocar, para divulgar a boa nova, o carrilhão do Diario de Pernambuco, cujos terraços estavam ocupados por famílias do nosso escol social. […] O Diario de Pernambuco, em sua edição do dia seguinte, às 16 horas, era já compacta a multidão de curiosos que se empilhavam nas torres das igrejas e até nos tetos das casas – inclusive nos terraços dos edifícios mais altos: Moinho Recife, Palácio da Justiça, Diario de Pernambuco, Hotel Central, etc. No mais alto da cúpula do Palácio da Justiça, em verdadeiro esporte de equilíbrio, agrupavam-se algumas dezenas de pessoas. O terraço desta folha, já às 17 horas, estava repleto de numerosa e compacta assistência. […] – Chegarei pouco depois do pôr do sol, foi a mensagem do comandante Eckener. […] É ele! É ele! É uma estrela! gritava o povo. Mas a dúvida em breve dissipou-se. Alguns instantes mais e a sombra branca do imenso pássaro aéreo começou a surgir e a crescer. Já eram então visíveis os dois focos de proa e popa marcando o vulto imenso que desfilava dentre as nuvens. Precisamente às dezoito e meia passava o Graf Zeppelin, mais baixo a cerca de 300 metros de altura, sobre a torre da Catedral de Olinda…. E logo começou-se a ouvir o surdo rugido das suas hélices possantes …. Mas pode mencionar-se o emocionante espetáculo da nave imensa a deslizar dentro da noite, sobre a cidade, rumando do norte ao poente, numa grande curva, direto ao Campo do Jiquiá, como se conhecesse o caminho; como uma ave retardatária que torna-se ao pouso, mil vezes demandado. O Zeppelin estava sob o comando do Comandante Hugo Eckener, que, juntamente com o infante Dom Affonso de Espanha, foi saudado pelo então secretário particular do governador Estácio Coimbra, Gilberto de Mello Freyre, após a sua amarração no Campo do Jiquiá (Afogados). Para o menino Ricardo Brennand, que se acostumara a assistir à passagem do Zeppelin da varanda da Casa de Ferro da Usina São João da Várzea, fora a mais importante imagem de sua infância. Um dos detalhes que mais o fascinou foi quando, numa recepção oferecida por sua família à tripulação do dirigível, na mesma Casa de Ferro da Usina São João da Várzea, constatara ele que as mulheres da tripulação do Comandante Hugo Eckener usavam, em vez de saias, “bermudas folgadas até os joelhos” (!) Eram os Tempos do Zepellin, na sua linha regular ligando a Europa ao Brasil e à Argentina, relembrados pelos mais antigos e assim descritos pela verve poética de Ascenso Ferreira: – Apontou! – Parece uma baleia se movendo no mar! – Parece um navio avoando nos ares! – Credo, isso é invento do cão! – Ó coisa bonita danada! – Viva seu Zé Pelin! – Vivôôô! Deutschland über alles! Chopp! Chopp! Chopp! – Atracou! O Graf Zeppelin realizou 63 viagens unindo o Recife à Europa. Seis anos depois do seu primeiro voo, em 1936, o Zeppelin veio a ser substituído por outro dirigível, o Hindenburg, que possuía 804 pés de comprimento; 76 pés menos do que o transatlântico Titanic e 228 pés maior do que um Boeing 747. Este último realizou sete viagens ao Brasil, antes do incêndio que o destruiu, em 1937, ao pousar em Lakehurst, no estado norte-americano de New Jersey, deixando uma imensa saudade, naqueles que viveram os Tempos do Zeppelin.

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Igarassu, ninguém foi mais do que tu

Ao desembarcar na feitoria de Pernambuco, localizada às margens do canal de Santa Cruz, em 9 de março de 1535, o primeiro donatário Duarte Coelho Pereira, depois de demorar-se ali por alguns meses, partiu em direção ao norte deixando em terras de Igarassu o vianês Afonso Gonçalves e uma parte da nobre gente que trouxera consigo. A presença dos portugueses na região data dos primeiros anos da colonização, ainda quando da instalação da feitoria de Cristóvão Jacques em dezembro de 1516, de onde, 10 anos mais tarde, era embarcada para Lisboa a primeira remessa de açúcar produzido no Brasil. Segundo Arlindo Rubert já nesse tempo possuía a feitoria um capelão, sendo Igarassu uma das mais antigas paróquias do Brasil. Em 1535, quando da tomada de posse de Afonso Gonçalves daquelas terras, exercia as funções de vigário o padre Pedro da Mesquita nela se mantendo até 1559. Lutas com os índios potiguaras, que habitavam a região, dificultaram os primeiros dias da colonização, como está a testemunhar a Igreja dos Santos Cosme e Damião, erguida em memória da vitória alcançada em 27 de setembro de 1535. Em 1548, volta o núcleo populacional a sofrer um novo assédio dos indígenas, conforme conta o aventureiro alemão Hans Staden em seu livro publicado na Alemanha em 1557. Desde o século 17 vem a então povoação ostentando o título de Mui Nobre, sempre leal e mais antiga Vila da Santa Cruz e dos Santos Cosme e Damião de Igarassu. O que parece, no entanto, é que a Vila de Santa Cruz, que Duarte Coelho pretendeu criar nas margens do Canal do rio Timbó, jamais foi concretizada o que fez a Câmara de Igarassu apropriar-se de sua referência, de forma a justificar a sua precedência em relação a Olinda. Elevada à categoria de Leal Vila, por alvará de 1811, recebeu o predicado de cidade em 1872. Em 1935, lei estadual a considera “cidade monumento”, sendo o seu conjunto arquitetônico e urbanístico tombado em nível federal, sob o n.º 51 do Livro Arqueológico, Paisagístico e Etnográfico, em 10 de outubro de 1972 (Processo n.º 359-T). Santos Cosme e Damião Bem presente em telas e desenhos assinados por Frans Post, pintor holandês que esteve em Pernambuco a serviço do conde João Maurício de Nassau entre 1637 e 1644, a Igreja dos Santos Cosme e Damião de Igarassu é considerada a mais antiga do Brasil. A tradição de sua construção remonta ao ano de 1535, sendo erguida pelo vianês Afonso Gonçalves, companheiro do donatário Duarte Coelho em suas andanças pela Índia, em agradecimento à vitória alcançada pelos portugueses em luta contra os índios da região. Segundo frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, sua construção se deve “à última vitória a 27 de setembro, dia dos gloriosos mártires Santos Cosme e Damião, e as suas memórias consagraram logo aquele lugar, levantando nele igreja sua, e dando princípio a uma povoação, que depois passou a vila, com os nomes dos santos mártires, e foi a primeira da capitania de Pernambuco”.

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N. S. de Nazaré do Cabo de Santo Agostinho

Para os primeiros navegadores europeus chegados à costa de Pernambuco, o Cabo de Santo Agostinho, antes chamado pelo navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón de Santa Maria de la Consolacion, apresentava-se como sendo de “terra baixa (com) muito arvoredo junto ao mar e parecendo alguns campos sem árvores”, segundo observação do piloto português Luís Teixeira, in Roteiro de todos os sinais etc., manuscrito elaborado entre 1582 e 1585. Para aquele homem do mar, o Cabo de Santo Agostinho era o primeiro acidente geográfico, situado a oito graus e meio, avistado por qualquer navegador procedente da Europa, na costa brasileira: Virei correndo a costa para o norte e terei aviso que se vir algumas barreiras ao longo do mar em demanda ao Cabo de Santo Agostinho, vê-lo-ei cortado e lança-se ao mar e faz um focinho como de baleia, em cima dele um monte, redondo de arvoredo, como cerca. Em 1597, o piloto-mor da Carreira das Índias Mateus Jorge, ao descrever o Cabo de Santo Agostinho faz referência a uma ermida branca localizada no alto. No Exame de Pilotos, publicado em 1614, Manuel de Figueiredo, piloto e cosmógrafo do Reino de Portugal, registra que, em dia claro, se avista aquela igrejinha dedicada a Nossa Senhora de Nazaré. A construção da ermida, como sendo obra do fim do século 16 e primeiros anos do século 17, parece ter confirmação na lápide que marca a colocação da sineira, datada de 1603 ou 1605, segundo relatório de pesquisa do professor Ayrton Almeida Carvalho, durante os trabalhos de restauração da igreja (1959). Frei Agostinho de Santa Maria, no seu Santuário Mariano (1722), informa que a construção do atual templo data de 1627, ocasião em que se edificou uma capelinha de abóbada e sobre essa uma torre com coruchéu, destinada ao balizamento do ancoradouro pelos navegantes. A devoção de Nossa Senhora de Nazaré seria originária de Portugal, devido à semelhança existente entre a paisagem do Cabo de Santo Agostinho e o promontório da praia de Nazaré, localizada junto à vila da Pederneira, em Alcobaça (Portugal). O mesmo frei Agostinho conta que pouco depois um ermitão chegou ao local carregando consigo uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, originária da vila da Pederneira, com a qual pedia esmolas e a colocou no altar da dita capela. O Arraial de Nazaré do Cabo foi tomado pelos holandeses, em 1635, sendo o seu reduto arrasado, restando tão-somente, segundo relatório de Adriaen van der Dussen (1639), quatro peças de metal de seis libras, bombardas e uma paliçada, que servia de guarda avançada. Com a sua retomada pelos luso-brasileiros, em 1640, o senhor do Engenho Salgado, Pedro Dias da Fonseca, inicia a reconstrução da capela, concluída nas festas do Natal de 1648. Expulsos os holandeses em 1654, o terreno onde se erguera a Capela de Nossa Senhora de Nazaré veio a ser doado, em 1687, aos frades carmelitas do Recife que iniciaram, junto ao templo, a construção de um pequenino convento. As obras se estenderam de 1692 a 1731, como se depreende da inscrição latina existente no corredor que antecede a sacristia, comemorativa da conclusão dos trabalhos.

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GOIANA: Ordem Terceira & Convento Carmelita

  Nos anos que se seguiram à Restauração de Pernambuco (1654) do domínio holandês, os moradores de Goiana, vila situada no caminho da Paraíba, sentindo a distância que os separava de Olinda, solicitaram ao Bispado da Bahia a criação de um convento carmelita. A pretensão dos moradores foi atendida em 11 de janeiro de 1666, quando o Cabido metropolitano de Salvador deferiu o requerimento do frei Alberto do Espírito Santo, vigário provincial da ordem carmelita no Brasil, que retornou a Pernambuco com a boa nova. As obras de construção tiveram início naquele mesmo ano, 1º de novembro de 1666, em terras doadas pelo capitão-mor Filipe Cavalcanti de Albuquerque. Inicialmente consistia o primitivo convento de uma capelinha, construída em taipa, unida a um conjunto com seis celas para abrigo dos frades, que veio receber a denominação de Santo Alberto de Sicília, em homenagem ao seu fundador, frei Alberto do Espírito Santo. A construção inicial permaneceu até o ano de 1679, quando o frei Marcos de Santa Maria promoveu uma campanha para a construção de um novo convento e igreja de pedra e cal no local do primitivo convento. A obra, iniciada em 28 de outubro daquele ano, contou com as generosas contribuições dos moradores de Goiana, dentre os quais o mestre-de-campo André Vidal de Negreiros, cujo filho Francisco Vidal de Negreiros, vestia o hábito da Ordem do Carmo. Comprometeu-se o ilustre cabo-de-guerra a destinar anualmente aos frades carmelitas 120 arrobas de açúcar branco produzidas por seus engenhos, a exemplo do que havia feito, em data anterior, quando da construção do primitivo convento. A generosidade do mestre-de-campo perpetua-se após a sua morte, quando por meio de testamento manteve a destinação das 120 arrobas de açúcar branco, retiradas da produção de seus engenhos, nos 10 anos seguintes, destinadas às reformas e alterações de que viessem a necessitar. A fachada da igreja conventual é obra do Século 18 com seu frontão curvo, posto acima do entablamento ondulante, apresenta nicho com imagem e na sua parte mais alta cruz e pináculos. Na parte inferior da mesma fachada, encontramos portas e janelas em meio arco. A torre, em construção robusta, exibe em seu campanário elementos que podem datá-la como sendo construção contemporânea à reconstrução do século 17, salvo o lanternim em forma de meia-laranja. No seu pórtico assinalam-se obras em talha, com imagens do século 18, destacando-se, ainda, junto ao altar-mor, a Capela do Senhor Bom Jesus dos Passos e a imagem de Nossa Senhora da Soledade. Segundo o Guia dos bens tombados, “diversos elementos da fachada – em especial as portas e janelas em meio arco – registram épocas diferentes de construção”. “Cornijamento ondulante, encimado por frontão curvo, vazado por nicho com a imagem, pináculos e cruz. Torre bulbosa, com pináculos. O convento é de sólida e vasta proporção, tendo, no centro, o característico claustro monacal. No pavimento térreo, onde funciona o Colégio Santo Alberto, além das salas de aula, existem os refeitórios, cozinha e outras dependências conventuais. No andar superior, as celas, bibliotecas e sala capitular”. A entrada do convento fazia-se através de um copiar [alpendre], cujos vestígios restantes são apenas as duas colunas encostadas à parede da portaria. No forro da mesma portaria, podemos notar uma pintura dos profetas Elias e Eliseu, datada também de 1719. A Igreja e o Convento do Carmo de Goiana foram objeto de visita de D. Pedro II, em 6 de dezembro de 1859, “na igreja encontrei epitáfios cujas datas é que me interessaram; sepultura de 1688 de João Paes de Bulhões e sua mulher e filhos; sepultura de Francisco Afonso Veras e de sua mulher Tereza de Jesus… ores … agosto de 1719. Sepultura [que não se lê bem] de 1687.” “O religioso, um dos quatro que costumam residir neste convento, pertence à Província Carmelita de Pernambuco, e supõe que a fundação do convento teve lugar há 200 anos. Os papéis foram todos estragados, quando da Revolução Praieira, ocorrida em 1848. Lanço e meio do claustro está em ruínas, destelhado, e parte das paredes caídas, o resto foi reparado”. (D. Pedro II,Viagem a Pernambuco em 1859) Ao lado direito do Convento de Santo Alberto da Sicília encontramos, um pouco recuada, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, cuja construção remonta ao ano de 1753. Em sua singeleza, ostenta a igreja dos irmãos terceiros um frontão barroco, com as suas curvas e contracurvas, encimado por uma cruz central ladeada por duas ordens de pináculos, uma única porta de madeira com almofadas, as três janelas do coro, com arcos rebaixados, conservando sobre estas o brasão em pedra calcária com os símbolos da Ordem Carmelita. No seu interior, elementos valiosos em talha dourada e os painéis pintados no teto da capela-mor despertam a atenção do visitante. Em sua nave principal destaca-se o altar-mor, com outros quatro altares laterais, alterados em suas formas originais, seguindo-se de dois púlpitos em ferro que compõem o restante do seu patrimônio. As fachadas das duas igrejas têm características do século 17, muito embora o monumental cruzeiro esculpido em pedra, que domina o centro da praça, esteja datado de 1719. O perfil barroco deste último, com os motivos orientais que o adornam, parece revelar a influência que sobre o artista exerceu o também monumental conjunto do Convento Franciscano da Paraíba. O conjunto encontra-se inscrito como Monumento Nacional pelo IPHAN no livro das Belas Artes v. 1, sob o n.º 216 e 229, em 25 de outubro de 1938; Histórico v.1, n.º 106, em 25 de outubro de 1938 (Processo 147-T/38 e Processo n.º 173-T). Texto e fotos de Leonardo Dantas Silva  

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GOIANA II: Igreja do Rosário dos Homens Pretos & Pardos

As irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos têm sua origem no século 16, quando os jesuítas de Olinda fundaram as primeiras associações religiosas destinadas à doutrinação dos africanos recém-chegados da Guiné. Tal iniciativa foi referendada pelo papa Gregório XIII que, na segunda metade daquele século, estimulou a criação de tais confrarias para “doutrinar os escravos recém-chegados nos costumes e dogmas da religião católica”. Tais irmandades, com o tempo, se transformaram em sociedades de ajuda mútua, promovendo funções para atender ao cativo por ocasião de doenças e de sua morte, como também promovendo as festas dos seus padroeiros – Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, dentre outros –, bem como festividades outras de caráter profano, como as coroações dos Reis Negros, documentadamente conhecidas desde o ano de 1666. Outro aspecto que também marcou essas irmandades foi o da luta pela emancipação do negro escravo, pois, no mais das vezes, delas provinham o empréstimo necessário para aqueles irmãos que desejavam comprar a sua alforria. A irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Goiana tem sua origem no final do século 17, segundo se depreende de carta do vigário daquela paróquia, datada de 10 de setembro de 1802, constante do arquivo do Convento de Santo Alberto, na qual faz menção a existência dessa igreja em 1692. A sua igreja, construída no século 18, teve sua fachada e campanário refeito, segundo desenho em estilo rococó, quando da reforma de 1835. Possui uma única torre erguida do lado do evangelho, com janelas na sineira, esta coroada por bulbo de nervuras, ostentando pináculos diferentes dos existentes no frontispício. No seu frontispício, um óculo destinado à iluminação do interior do templo completa o conjunto no qual se encontram três portas e três janelas no coro. Além do altar barroco de São Benedito com dois nichos, há cinco retábulos de madeira em rococó tardio. Dois corredores dão acesso às suas duas sacristias, numa das quais encontra-se esculpida em pedra calcária uma fonte representando dois delfins.

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Igrejas de brancos, pretos e pardos

Na cidade de Goiana, município da Zona da Mata Sul de Pernambuco, com 78.940 habitantes, situado a 62 km do Recife, o visitante observador vai encontrar novidades em sua caminhada, dentre as quais, igrejas destinadas ao culto de brancos, pretos e pardos, numa sucessão de oragos (santos) no mínimo curiosa para os nossos dias. No nosso roteiro, que irá se prolongar pelos próximos números da nossa revista, iremos conhecer os templos dedicados à Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos (Século 17), Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Século 17), Convento de Hospital de Nossa Senhora da Conceição dos Homens Pardos (Século 19) e o conjunto da Ordem Terceira e Convento Carmelita de Santo Alberto (Século 17). A primeira dessas igrejas é a Matriz de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, cuja denominação bem demonstra o sentimento de separação racial existente no Brasil colônia de então. Embora sendo uma pequena vila, Goiana possuía três irmandades distintas, classificadas conforme a coloração da pele dos respectivos irmãos. Ao descrever a Vila de Goiana, em observação datada de 20 de outubro de 1810, o viajante inglês Henry Koster observa ser esta “uma das mais florescentes de Pernambuco, estando situada sobre uma margem do rio do mesmo nome, em uma grande curva nesse local, quase a rodeando”. A paróquia de Nossa Senhora do Rosário fora fundada pelo Bispo do Brasil, dom Frei Antônio Barreiros, provavelmente quando de sua visita pastoral à capitania de Itamaracá no ano de 1584, a quem pertencia, então, a povoação de Goiana. Com a transferência da sede da capitania de Itamaracá, da Vila de Nossa Senhora da Conceição de Itamaracá, para a Vila de Goiana, em 7 de janeiro de 1711, surgiu a necessidade de se criar a Irmandade da Misericórdia, em substituição à extinta Santa Casa de Misericórdia de Vila Velha. A instalação daquela irmandade, porém, só veio a se concretizar em 1º de julho de 1722, funcionando inicialmente na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos. Anos mais tarde, terminadas as obras da igreja, os irmãos da Misericórdia resolvem construir, no mesmo local, um hospital destinado ao atendimento das pessoas pobres e sem recursos, tendo a bênção inaugural acontecido em 1759. O Hospital da Santa Casa de Misericórdia foi o primeiro erguido naquela Vila de Goiana e contava, na sua inauguração, com 20 leitos destinados a enfermos de ambos os sexos, tendo para isso solicitado ao rei de Portugal, “a extensão dos mesmos privilégios e favores de que gozavam as casas de Olinda e da Paraíba”, no que não tiveram a acolhida. Para essa igreja foram trazidos, em 1870, os restos mortais do mestre-de-campo André Vidal de Negreiros (1606-1680), que até então se encontravam na capelinha de Santo Antônio do Engenho Novo de Goiana. Estes, por sua vez, foram posteriormente transferidos para a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, nos Montes Guararapes, onde hoje se encontram ao lado dos restos mortais do mestre-de-campo João Fernandes Vieira, figuras de maior representação no movimento da Insurreição Pernambucana (1645-1654), quando das guerras contra os holandeses.

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Santo Antônio do Carmo de Olinda

Em Olinda, saindo-se do antigo Varadouro da Galeota, contornando o morro de São Bento, pela Avenida Sigismundo Gonçalves, chega-se à colina onde se encontram a Igreja do Carmo de Santo Antônio e as ruínas do seu convento, cujos primórdios datam do ano de 1588. Os frades carmelitas, porém, já se encontravam em Olinda desde o ano de 1580. Quando, vindos de Beja (Portugal), iniciaram contatos para a fundação deste convento, que viria a ser o berço da Ordem Carmelita no Brasil e sede de sua província, a partir de 1591. A antiguidade do monumento é comprovada por Germain Bazin, ao constatar a existência de alguns túmulos com inscrições datadas do Século 17: 1612, Antônio Fernandes Pessoa, na capela do Bom Jesus dos Passos; 1623, Dona Ignez de Góes, na capela da Boa Morte; 1624, D. Diogo de Verçosa, no cruzeiro. Com a destruição de Olinda pelos holandeses, em novembro 1631, e a subsequente demolição dos seus edifícios, com o seu material aproveitável sendo transportado para o Recife, a fim de ser utilizado nas novas construções, muito sofreram a igreja e o convento dos frades carmelitas. Exteriormente, relata Pereira da Costa, ficou a fachada do monumento reduzida a uma terça parte da sua elevação, vendo-se juntar à portaria da clausura a seção inferior da torre do lado do Norte e um cornijamento geral que, ao correr da altura do primeiro pavimento da larga fachada do templo descansava sobre quatro colunas que ladeiam a sua grande porta de entrada. Essas ruínas compreendem ainda umas peças laterais, esparsas, à parte do Sul, onde ficava a igreja da Ordem Terceira, como demonstra tela do pintor holandês Frans Post, atualmente no Museu Real de Amsterdã. A Igreja do Carmo de Olinda, por sua grandiosidade, chama a atenção do visitante, conservando o conjunto a sua aparência primitiva do século 17. A planta apresenta uma ampla nave, ladeada por quatro capelas, cercada por tribunas, possuindo uma capela-mor bastante profunda, conservando uma decoração da segunda metade do século 17, constatando-se o emprego abundante da pedra lavrada em seus altares e colunas. O altar-mor, emoldurado por retábulo de talha, encontra-se ricamente decorado, estando ladeado por colunas. O professor José Luiz Mota Meneses faz referência à existência de um retábulo-mor primitivo, uma espécie de altar fingido, pintado sobre a parede, e sobre o qual foi levantado, aproximadamente em 1770, o atual retábulo, nitidamente de gosto rococó. O altar fingido foi descoberto quando do desmonte do altar-mor, para restauração, e, segundo Germain Bazin, sua moldura de arquivoltas, cercando um camarim pintado na parede de fundo, cujo estilo o dataria como pintado entre os anos de 1660-1670. Sendo um exemplo raro dos altares pintados que decoravam as igrejas enquanto se providenciava a construção do altar em talha. O retábulo que veio a substituir o originalmente pintado não recebe a tradicional douração, sendo simplesmente pintado de branco. Colocado no mesmo nível do piso, o altar-mor prolonga-se até atingir as cadeiras laterais confeccionadas em madeira decoradas por talhas. O piso revestido de mosaicos prolonga-se até o arco cruzeiro que marca o limite entre capela e nave. O teto pintado é formado por abóbada de alvenaria que nasce sobre as grossas paredes, e tão perfeitamente assentada que não é possível notar a emenda entre o muro e o corpo abobadado. O arco cruzeiro, a exemplo da capela-mor, também foi decorado, primitivamente, com uma imitação de retábulo pintado sobre o reboco da parede.  O detalhe aparece quando da restauração de um altar de talha, que o encobria há séculos, imitando um modelo de transição entre os protobarrocos e os de estilo franciscano, apresentando colunas contornadas em espiral por folhas de parreira. A Igreja do Convento Carmelita de Olinda tem planta em nave única, coberta com telhado em duas águas, não apresentando forro, sendo o acabamento interno do telhado simples em madeira aparelhada. O cruzeiro apresenta a singularidade de não ter cúpula, seus dois grandes arcos têm a mesma altura do arco da capela nova e apresentam as mesmas características arquitetônicas. Primitivamente, a nave central possuía treze capelas laterais, distribuídas do cruzeiro para a fachada. Em nossos dias, o número de capelas encontra-se reduzido a quatro, distribuídas de cada lado da nave, que se comunicam com a mesma através de arcadas, e cuja cornija do entablamento está na mesma altura da cornija do transepto. O conjunto encontra-se inscrito como Monumento Nacional no livro das Belas Artes v. 1, sob o n.º 217, em 5 de outubro de 1938; Histórico v.1, n.º 108, em 5 de outubro de 1938 (Processo n.º 148-T/38). Texto e fotos de Leonardo Dantas Silva

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