Leonardo Dantas Silva – Página: 7 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Leonardo Dantas Silva

Por que mudar os nomes das ruas?

Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância”…, confidenciava o poeta Manuel Bandeira, enquanto o poeta e compositor Antônio Maria, numa de suas crises de banzo da terra pernambucana, cantava: “Rua antiga da Harmonia, da Amizade, da Saudade, da União… são lembranças noite e dia…”. Os nomes das ruas e demais logradouros de uma cidade por vezes se perpetuam através dos séculos, como acontece com cidades portuguesas, de Lisboa, Porto ou Évora… Mas entre nós, só para atender a modismos e aos políticos de plantão, estão sempre a mudar designações tradicionais: Cais do Apolo, para Avenida Martin Luther King; Estrada da Imbiribeira, para General Mascarenhas de Morais; Estrada do Brejo, para Vereador Otacílio Azevedo; Travessa do Gasômetro, para Rua Lambari; Rua Formosa, para Conde da Boa Vista; Rua dos Sete Pecados Mortais, para Tobias Barreto; Rua do Crespo, para Primeiro de Março; Rua Lírica, para Visconde de Uruguai; Travessa João Francisco, para Cassimiro de Abreu; Beco do Quiabo, para Eurico Chaves; Beco da Facada, para Guimarães Peixoto, numa sucessão de contínuas mudanças. Nesta cidade de Santo Antônio do Recife – “Ingrata para os da terra, boa para os que não são”–, ainda conserva algumas ruas que, como nos engenhos de Ascenso Ferreira, só os nomes nos fazem sonhar: da Concórdia, da União, da Saudade, do Sossego, da Amizade, Nova, da Hora, do Progresso, Imperial, Real da Torre, Real do Poço, Flor de Santana, Direita, Velha, da Glória, da Alegria, dos Prazeres, dos Aflitos, das Graças, das Flores, da Praia, das Calçadas, do Padre Muniz, do Dique, do Porão, dos Pescadores, da Carioca, do Marroquim, do Rangel, do Observatório, do Arsenal de Guerra, da Praia, da Congregação, da Matriz, do Hospício, do Aragão, do Veras, Estreita e Larga do Rosário, do Livramento, do Fogo, das Águas Verdes, do Chora Menino, da Aurora, do Sol, da Fundição, do Futuro, das Ninfas, do Veiga, da Matriz, dos Artistas, do Lima, do Pombal, do Padre Inglês, do Cupim, do Encanamento, das Ubaias, numa sequência de nomes que a voragem do “progresso” ainda não corrompeu. Nos dias atuais, eis que um forte movimento se faz presente em favor de acrescer nomes de certas figuras às tradicionais denominações de nossas ruas e avenidas. Neste sentido, a Lei Orgânica do Município, que em seu artigo 164, estabelece que seja obrigatoriamente ouvido o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano quando da mudança de qualquer nome de rua, praça ou avenida da cidade do Recife, vem sendo atropelada pelos “Senhores Vereadores”. Fazendo ista grossa para tal dispositivo, contrariando formalmente o que determina a Lei Orgânica do Município do Recife, os chamados “representantes do povo” ensaiam agora o expediente de acrescer aos nomes tradicionais, novas denominações que nada têm a ver com a consagrada toponímia da cidade do Recife. Tal expediente teve início com a mudança da denominação do Aeroporto dos Guararapes, que, como num passe de mágica, recebeu o adendo de Gilberto Freyre, seguindo-se da Avenida Norte, hoje acrescida com o nome do Governador Miguel Arraes, e, mais recentemente, a antiga Estrada de Beberibe que veio a ser Avenida Beberibe Santa Cruz Futebol Clube! E o expediente não parou por aí… Já se encontra em pauta a mudança da Praça do Arsenal da Marinha agora acrescentada com o nome do passista amazonense Nascimento do Passo; a mudança do tradicional Largo dos Coelhos, com o nome acrescido do cantor Reginaldo Rossi… De quebra, teremos a Estrada Velha do Bongi que já tem o seu nome encomendado (!) Com tais mudanças propostas pelos nossos vereadores, logo mais teremos dezenas de tradicionais nomes de ruas e avenidas do nosso Recife, consagrados por séculos pela toponímia popular, mudados para “doutor ou vereador fulano de tal”… Tudo como previra o poeta Manuel Bandeira em 1925! Pelo andar da carruagem, a canção de Alceu Valença e Vicente Barreto, não mais contará em seus versos com o tempo presente, mas no tempo passado, por obra e graça daqueles que hoje se intitulam “fiéis representantes do Povo do Recife”. Na Madalena revi teu nome/Na Boa Vista quis te encontrar/Rua do Sol, da Boa Hora/Rua da Aurora, vou caminhar /Rua das Ninfas, Matriz, Saudade/Na Soledade de quem passou/Rua Benfica, Boa Viagem/Na Piedade, tanta dor/Pelas ruas que andei, procurei/Procurei, procurei… te encontrar/Pelas ruas que andei, procurei/Procurei, procurei te encontrar.

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Um Jardim Botânico na cidade

Plantas conhecidas da população, como coqueiro e bananeira, vieram do exterior e foram transplantas em terras olindenses Em Olinda, desde os primeiros anos da colonização, os jardins das ordens religiosas serviram para aclimatação de vegetais exóticos, transplantados para o Brasil, do Oriente, da África e da própria Europa. Depois de devidamente adaptados, esses vegetais exóticos, cultivados inicialmente pelos padres jesuítas e frades franciscanos, vieram a dar um novo colorido à paisagem brasileira, a exemplo do coqueiro, da bananeira, da cana-de-açúcar e de tantas outras espécies, que passaram a confundir-se com a própria flora nativa. Mangueiras, coqueiros,/cajueiros em flor,/cajueiros com frutos/já bons de chupar …/Mangabas maduras,/mamões amarelos,/mamões amarelos/que amostram, molengos,/as mamas macias/pra gente mamar… É o colorido da flora pernambucana, nos versos do poeta Ascenso Ferreira, in Trem de Alagoas, onde se misturam vegetais nativos (mangabas e cajus) com o exotismo das espécies aqui aclimatadas (mangas e mamões). O coqueiro (Cocos nucifera), incluído pelo poeta Oscar Brandão no Hino de Pernambuco – “Salve ó terra dos altos coqueiros!” –, é originário do Sudeste Asiático ou das ilhas polinésias. A sua cultura já se encontrava bastante desenvolvida em Pernambuco, no século 16, segundo demonstram as cartas jesuíticas de José de Anchieta e Simão de Vasconcelos ao descreverem os “formosos coqueirais de Olinda” como possuidores de uma amenidade singular. Na primeira metade do século 17 essa monocotiledônea já se encontrava tão disseminada que o conde João Maurício de Nassau, quando da construção de sua Mauritiopolis, chegou a transplantar 700 coqueiros adultos para seu jardim. Segundo depoimentos do Frei Manuel Calado e de George Marcgrave, bem como do relato de Gaspar van Baerle (1584-1648), algumas dessas árvores possuíam caules que alcançavam 50 pés (15,24 metros), sendo transportadas de uma “distância de três ou quatro milhas, em carros de quatro rodas… Já eram septuagenárias e octogenárias e por isso diminuíram a fé do antigo provérbio: árvores velhas não são de mudar”. A partir da segunda metade do século 17, começaram a ser introduzidos em larga escala no Brasil alguns vegetais exóticos transplantados do Oriente. É conhecida a ordem Régia de 1677 determinando ao Vice-Rei da Índia a remessa para o Brasil de plantas, estacas e sementes, de canela, cravo, pimenta, noz-moscada e gengibre dados ao conhecimento ao governador de Pernambuco, Aires de Souza Castro, em 1678. Com esses vegetais vieram mangueiras e jaqueiras, em 1682, seguindo-se de outras plantas hoje integradas à nossa paisagem. Em 1797 e 1798, o Conde de Linhares, D. Rodrigo de Souza Coutinho, ministro português, se empenhava na introdução de novos vegetais, que contribuíssem para o desenvolvimento da agricultura, recomendando estabelecer, com a menor despesa possível, um Jardim Botânico em Olinda, onde se cultivassem plantas “assim indígenas como exóticas”, segundo informação de José Antônio Gonsalves de Mello. Entretanto, somente em 1811 viria esse Jardim Botânico a ser estabelecido em Olinda, no antigo Jardim dos Padres da Companhia de Jesus (século 16). Naquele ano foram para aqui transplantadas uma grande quantidade de vegetais recolhidos da Guiana Francesa, quando da ocupação pelo governo português em represália à invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão. Do jardim daquela possessão, chamada de “La Gabrielle”, veio para Pernambuco e foram plantadas no Horto Del Rei, hoje conhecido como Sítio do Manguinho, variedades de plantas, algumas já aqui existentes, como a caneleira, a pimenteira, o girofleiro, e outras desconhecidas, como a fruta-pão, a caramboleira, o sapotizeiro, a pinheira, a groselheira da Índia, a nogueira de Bancour, a cássia amarga, a jalapa. O Jardim Botânico de Olinda teve importante papel na divulgação desses vegetais e de outros que nele foram sendo introduzidos desde 1811, quando de sua fundação. Em 1817, o viajante francês Louis François de Tollenare viu ali muitas mudas de cacau e cana-de-açúcar de Caiena (ou caiana, como veio a ser conhecida). Sem referência específica de quando foram plantados no Jardim, consta, contudo em 1839 e 1840 que já ali eram distribuídas mudas de palmeira-real, cipreste, Chá-da-índia, fruta-pão, de massa e de caroço (este último difícil hoje de se encontrar), e outras. Dessa distribuição beneficiaram-se muitos sítios recifenses e propriedades rurais diversas de Pernambuco (…) – além das mudas remetidas para outras províncias brasileiras e para fora do Brasil. Nesse Jardim funcionou um curso de Botânica e de Agricultura (1829), do qual era professor o cirurgião pernambucano Joaquim Jerônimo Serpa, no qual se inscreveriam muitos estudantes do Curso Jurídico de Olinda. Em 1845 foi o Jardim Botânico de Olinda extinto, sendo o seu terreno a princípio alugado e mais tarde vendido, pertencendo até recentemente à família Manguinho; daí a denominação popular de Sítio do Manguinho ou o Horto Del Rei. A importância do Jardim Botânico de Olinda foi depois ressaltada por Filipe Mena Calado da Fonseca que, em carta ao Diario de Pernambuco, publicada na edição de 7 de novembro de 1854, chama a atenção para a divulgação entre nós da grama de Angola, popularmente conhecida como capim de planta, que fora transportada das margens do Rio Bango (Angola) para o Brasil em 1811. Além desta, outras espécies foram vulgarizadas entre nós, como a pimenta da Índia, o fruta-pão, a tamareira, o bilimbi, a carambola, o sagu, o sapoti, dentre outras. Ainda sobre a importância dos jardins de aclimatação de Olinda, vale lembrar a publicação do naturalista Manuel Arruda da Câmara (c 1752-1811), Discurso sobre a utilidade de jardins nas principais Províncias do Brasil (Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1810). Na qual apresenta uma “lista das plantas que merecem ser transplantadas e cultivadas”. Da Ásia: árvore do pão, salepo, sagu, chá, sene, ruibarbo, escamônea, batatas do Japão, gota gama, loureiro, cássia, verniz da China, verniz do Japão, Khola buu, peônia, évano, bambu, árvore das camisas, sangue de dragão, santalino, árvore do sebo, laca. Da África: baobá, tamareira, matiboeira, pau escarlate, tacula, canume-nume, imbondeiro, agraiá, grama de Guiné [destinada à alimentação do gado na zona do semiárido]. Da Europa: oliveira, castanheiro, nogueira, pinheiro, pinheiro manso, morangos, ameixeiras, damasqueiro ou abricó, cerejeira, ruiva dos tintureiros, rapa língua, fiadeira, malva, verbasco. Da América Setentrional: falva cássia, magnólia maior,

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