Colunistas – Página: 284 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Colunistas

Meu primeiro encontro com Florbela (abril/2016)

Lisboa, tarde fria de janeiro de 2014. Após alguns imperiais no Ramiro, seguimos a pé, sem destino, rumo às ruas do Chiado. Na companhia de dois amigos que, após poucos minutos de caminhada, cansados, sentaram num café para apreciar um charuto. Em frente, uma livraria. Deixei-os lá entregues ao prazer do tabaco e entrei ali, onde dentro de instantes – ela e eu – nos conheceríamos. Mexi e baguncei tudo o que via pela frente. Não havia orado pelo encontro. Nenhuma reza especial havia feito. Mas dei sorte. Ou seria destino? Bati o olho numa estante lá no fundo da livraria. Pareciam livros fora do circuito. Foi místico. Vi uma coisinha sem cor, meio bege, meio apagada, magrinha, sem graça, sem atrativo. Era ele, o livro. Era (d)ela: Florbela Espanca. Quando li seu nome na capa sabia que já tinha ouvido falar, mas não sabia quando, onde e como. Envergonha-me, hoje, isso. O fato é que não a conhecia, seja superficialmente, seja profundamente. Aquele era realmente nosso primeiro encontro. Danei-me a folhear. Sentei-me ao chão. Fiquei boquiaberto com o que lia. Estava golpeado. Não acreditava. O poder daquela poesia densa, amarga, triste, erótica e egocêntrica, nocauteou-me. Não conseguia parar de ler. Como uma mulher pode ter escrito tudo isso no início do século passado? Florbela me atingiu como um raio. Tudo o que escreveu fez com a alma. Emociona-me a cada encontro. Conheço sua obra há apenas dois anos. Ainda estou a conhecer, na verdade. Sua vida conturbada talvez tenha sido o motor de tanta crueldade nas palavras. Escrevia sem autopiedade. Numa sociedade patriarcal foi corajosa e à frente do seu tempo. Amo Florbela. Às vezes quero encontrá-la, beijá-la, abraçá-la. Nosso primeiro encontro foi inesquecível. Tenho pena, raiva, amor, curiosidade e tesão pela flor, que é bela, e que espanca minha alma com tanto sentimento. Farei uma visita ao seu túmulo este mês, na Vila Viçosa, Portugal, onde nasceu e foi enterrada. Eis uma das várias obras-primas da poetisa alentejana: Fanatismo Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida. Meus olhos andam cegos de te ver. Não és sequer razão do meu viver Pois que tu és já toda a minha vida! Não vejo nada assim enlouquecida. Passo no mundo, meu Amor, a ler No misterioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida!… “Tudo no mundo é frágil, tudo passa. Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, digo de rastros: “Ah! podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

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Na capela da Jaqueira (abril/2016)

Se alguns templos pernambucanos se sobressaem pela importância de suas obras de arte, havendo outros que se destacam por sua história, a capelinha de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras, na Jaqueira, tem, no seu passado, a marca do romantismo, com a triste história de Maria Theodora e Domingos José Martins. Neste nosso Arruando vamos até ao Sítio das Jaqueiras, na antiga Estrada de Ponte D’Uchoa, onde o capitão Henrique Martins, em 1766, iniciou a construção dessa capela em honra de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras, como demonstram os ex-votos hoje existentes no Museu do Estado de Pernambuco. Herique Martins era um português, natural da vila de Oeiras, nas cercanias de Lisboa, onde foi batizado em 10 de agosto de 1704, sendo filho legítimo de Manoel Martins e Páscoa Duarte. Era seu pai um mestre sapateiro que trabalhou como caseiro do negociante Jacques Koster, que o mandou por várias vezes a Pernambuco no comércio de tecidos. Numa dessas viagens, Henrique Martins veio a casar com uma jovem do Recife, Ana Maria Clara, filha do capitão João Machado Gaio e de Ana Gomes de Barros. Passou a ser comerciante abastado no Recife, acionista da Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba, com posto nas milícias e nas ordens portuguesas, onde era familiar do Santo Ofício e Oficial da Ordem de Cristo. Henrique Martins e sua mulher vieram demonstrar grande devoção à Virgem da Conceição. Sendo ele ligado a vários artistas em atividade em Pernambuco, particularmente pela sua atuação como “administrador das obras” da Igreja do Corpo Santo, no Bairro do Recife. Vários ex-votos do século 18, atualmente integrando o acervo do Museu do Estado de Pernambuco, estão a narrar fases de sua vida na qual ele implora pela intercessão da Virgem Maria em seu favor e até de um escravo que, caindo da Ponte d’Uchoa, fora salvo das águas do rio Capibaribe “em dias de agosto de 1770”. Na construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição, no sítio das Jaqueiras, em Ponte d’ Uchoa, vê o professor Ayrton Carvalho o traço do mestre-pedreiro Francisco Nunes Soares, o mesmo que, segundo D. Clemente Maria da Silva Nigra, seria o responsável pelas obras de construção da fachada da Igreja do Mosteiro de São Bento de Olinda (1761-63), tendo também trabalhado na igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes (1785-86). Henrique Martins faleceu em agosto de 1782, estando com os seus negócios arruinados, registrando-se um alcance de 8:101$849, retirado da Bula da Santa Cruzada do Bispado de Pernambuco, da qual era ele tesoureiro-mor. Seus bens, dentre os quais o sítio da Conceição da Ponte d’Uchoa (Jaqueiras) e sua capela, foram a hasta pública e arrematados por Domingos Afonso Ferreira. Em 1816, eram senhores daquela propriedade o rico comerciante português Bento José da Costa e sua mulher Ana Maria Teodora, com atuação em várias irmandades do Recife, inclusive “administradores das obras” da Igreja do Corpo Santo (1801).Trata-se de uma das joias do barroco brasileiro. O templo tem o seu interior valorizado pelo trabalho de artistas, entalhadores e douradores, bem como por raros azulejos portugueses policromados, com cenas de caça, pesca e vida de José do Egito. No forro, painéis do século 18 retratam o casamento, a anunciação e a assunção de Nossa Senhora e os demais focalizam a padroeira, emblema da Virgem e motivos florais. O púlpito, em estilo rococó, apresenta, em sua face voltada para o solo, um grande sol em talhada dourada. Painéis a óleo sobre madeira representam São João Batista, São Felipe de Néri, Santo Henrique e “um fingimento de púlpito para representação de Santo Antônio pregando.” Na capela-mor, ornada com um gracioso altar rococó pintado de faiscado, azul, vermelho, branco e ouro, conserva-se a sepultura do coronel Bento José da Costa, “falecido em 10 de fevereiro de 1834 na idade de 75 anos a cuja memória dedicam este monumento sua saudosa esposa e seus 11 filhos”. Fora esse templo objeto de um Breve de indulgência, datado de Roma de 13 de novembro de 1781, no qual o papa Pio VI concede a todos os fiéis “que verdadeiramente arrependidos de suas culpas, confessando-se e comungando, visitarem a Capela de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras… desde as primeiras vésperas do dia da festividade da mesma Senhora até o sol posto do mesmo dia e aí rogarem a Deus pela paz e concórdia etc.” Segundo José Antônio Gonsalves de Mello é esse o único documento conhecido, contemporâneo da data da construção dessa capela, com a denominação de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras, em alusão ao trecho do rio Capibaribe, margeado por barreiras, onde está localizada. Saqueada em 1950, ocasião em que foram roubadas todas as portas e janelas internas e externas do andar superior, bem como os armários da sacristia, foi a Capela da Jaqueira restaurada pela diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sob a direção do professor Ayrton Almeida Carvalho, com as suas obras conclusas em 1959. Os jardins que a circundam são de autoria do paisagista Roberto Burle-Marx, cujo projeto foi presenteado ao 1º Distrito da DPHAN e executado pela Prefeitura do Recife, na administração do prefeito José do Rego Maciel. Em 1976 foi novamente a Capela da Jaqueira objeto de furto, quando de lá foi retirada a imagem de sua padroeira, que, segundo alguns, passou a fazer parte de uma coleção particular do Rio de Janeiro. Nessa capelinha, que mais parece saída de um conto de fadas, Maria Theodora, filha do mesmo Bento José da Costa, casou, em 16 de março de 1817, com Domingos José Martins. Na mesma capela, veio Maria Theodora em oração pedir pela sorte do marido, preso na Bahia, por sua participação como chefe da Revolução Republicana de 6 de março de 1817. Condenado à morte, foi arcabuzado em 12 de junho do mesmo ano, juntamente com os mártires padre Miguelinho e o advogado José Luiz de Mendonça. Do cárcere, na véspera de sua execução, Domingos escreveu para a sua amada um soneto, depois impresso no Recife pela Tipografia

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O peso do Estado (abril/2016)

Em geral as discussões sobre o papel do Estado na economia estão contaminadas por fortes argumentos ideológicos. As polêmicas sobre Estado mínimo e/ou capitalismo de Estado são muito extensas na mídia e na literatura acadêmica. Não vou entrar nesse debate porque está dominado, na sua maior parte, por uma discussão ideologicamente obscurantista. O Estado tem que ser funcional, ou seja, tem que atender às demandas do cidadão por bens e serviços públicos de qualidade, pois, governos – os gerentes passageiros do Estado – são financiados com o dinheiro que pagamos de impostos. É factual também que, ao controlar grandes empresas, o Estado, através dos governos de plantão, possa utilizá-los para fins ilícitos, quer seja para apropriar privadamente recursos, quer seja para desviá-los para financiar partidos políticos. O escândalo da Petrobras é emblemático de como a desonestidade associada à má gestão é capaz de abalar profundamente a saúde financeira e a imagem de uma empresa que, no passado, foi orgulho dos brasileiros. É preciso regular e instituir boa governança corporativa nas estatais para reduzir os riscos de que esses problemas sejam recorrentes. Escritas tais considerações analisaremos agora o peso do Estado nas economias pernambucana e recifense medido, não pela sua contribuição ao PIB, mas pela presença no mercado de trabalho formal. Usaremos os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) geradas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para os anos de 2004 e de 2014. Considerando o Estado como o conjunto do setor público, incluímos nesse universo as informações dos governos federal, estadual, municipal e das empresas estatais. Em 2014, a participação da massa salarial nominal recifense, entendida como a soma de todas as remunerações pagas pelo setor público na cidade, correspondia a 51,7% da massa salarial total. Ou seja, no Recife, mais da metade das remunerações formais, isto é, de pessoas empregadas com carteira de trabalho assinada, regidas, portanto, pela CLT, ou pertencentes ao regime do serviço publico nas diversas esferas de governo, está abrigada no setor público. Esse percentual já foi mais elevado 10 anos antes; em 2004 foi de 55,3%, tendo diminuído pela presença crescente do setor privado impulsionado pelo substantivo bloco de investimentos que aportou em Pernambuco, conduzindo a um maior dinamismo do mercado de trabalho recifense, que experimentou uma forte geração de empregos formais em paralelo a uma queda nas taxas de desemprego. Para o conjunto do Estado a participação é menor e também decrescente, evoluindo de 45,0%, em 2004, para 42,1% em 2014. O percentual da massa salarial recifense é maior do que no Estado de Pernambuco porque o município é sede regional de instituições federais (tribunais, por exemplo) com jurisdição maior do que o território pernambucano, sendo também a sede do Governo do Estado. Os dados, por conseguinte, são inequívocos ao revelarem uma forte presença do setor público no conjunto de remunerações do município, e embora menor, também, do Estado. Em tempo de inflação e crise fiscal, os funcionários públicos de todos os níveis de governo e de empresas estatais têm perdas reais de salário e não têm aumento nominal como, de resto todos os trabalhadores. Por outro lado, uma boa parte desses servidores é estável, ou seja, não podem ser demitidos a não ser por motivos graves e após inquérito administrativo ou judicial. Contrariamente ao setor privado, o ajuste não é feito pelo lado das demissões, mas apenas pelo da contenção da massa salarial nominal. Além disso, os salários dos trabalhadores do setor privado são mais flexíveis para baixo enquanto os do setor público são rígidos. O setor privado, quando não demite, negocia salários mais baixos ou recontrata com remuneração inferior. Isso não é possível no setor público a não ser para os não concursados detentores de cargos comissionados. A massa salarial nominal do setor público, contudo, não aumenta apenas por motivo de reajuste, pois possui a propriedade, protegida pela legislação, de apresentar um crescimento vegetativo devido à concessão de anuênios, bônus, promoções, etc. Assim, a manutenção ou baixo crescimento da massa salarial nominal do setor público funciona como mecanismo de sustentação da renda, minimizando o impacto da crise econômica sobre o nível de atividade local. Tem, portanto, uma característica anticíclica enquanto a massa salarial do setor privado cai com a recessão, sendo pró-cíclica. Argumento ainda que as remunerações do setor público respondem, em parte, pela alta e invariante desigualdade de renda no Recife, uma vez que os salários pagos pelo setor público não apenas são bem mais altos do que no setor privado, mas também crescem mais rapidamente. Analiso isso depois. Até breve.

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O bom humor

Voando entre Natal e o Recife, lendo a revista de bordo, deparei-me com uma reportagem sobre “os barbixas”, grupo de humoristas. Durante o texto o repórter explica que é difícil arrancar alguma resposta séria dos integrantes do grupo. Levam tudo na brincadeira e no bom humor. Nunca escrevi sobre isso, mas agora o faço: acredito no bom humor como estilo de vida. O pacto que fiz com o bom humor é irrevogável e irretratável. Pode acontecer o que for. E olhe que já aconteceu um lote de merda: AVC na minha madrinha (querida Fatinha), choque (e morte) do meu pai, autismo no meu filho, ligamento do joelho rompido, separação de casais queridos, liturgias cansativas dos ritos processuais no dia a dia da vida forense, seca no Sertão, trânsito caótico, contas pra pagar, etc. Nada disso é capaz de me tirar o bom humor, a alegria de viver. Claro que muitas coisas me entristecem, mas logo vejo o lado positivo em tudo e cuido de extrair da situação alguma coisinha engraçada. É o famoso “rir da própria desgraça”. Não, meu senhor, não é um texto de autoelogio. Não, minha senhora, não estou me “amostrando”, nem me exibindo. Muito menos ficando doido. Estou somente a relatar – porque acredito piamente nisso – que o bom humor cura, ameniza, ensina, empurra pra frente, alivia, engrandece. O sorriso é o alimento da alma. É o que nos faz seguir adiante. Nada forçado. Assim, natural mesmo. Tudo bem que em certas ocasiões posso beirar a tabacudice. Mas ser tabacudo tem lá seus encantos. Quando minha mãe iniciou um relacionamento após ficar viúva, bateu uma ciumeira danada. Coisa boba, de filho. Mas logo cuidei de brincar com as pessoas que, tentando tratar o assunto com seriedade, me diziam “você tem que entender, ela ficou viúva muito cedo”. Minha resposta era sempre ”você diz isso porque não estão comendo sua mãe, tão comendo é a minha”. Pronto! Logo todo mundo caía na risada e o papo sério se transformava em alto astral. Nem por isso deixei de sofrer os problemas que a vida me proporcionou. Mas o bom humor sempre me salvou de tudo e de todos. Lembro que um dia após a morte de painho, estávamos trancados no silêncio profundo do quarto de mãe. Eu, ela e Edmar, meu irmão. Em meio àquelas horas de silêncio fúnebre e no seio daquela tristeza imensa, arrisquei dizer que “dessa vez Deus botou sem cuspe e lambuzado na areia” (perdoem a heresia). E meu irmão emendou com um “tomamos no oiticica”. Assim, caímos na gargalhada, e depois choramos. Choramos muito. Até hoje a gente chora. Mas nunca deixamos de intercalar esses choros com muitas risadas. Doido, eu!? Sou nada! Eu sou é bem humorado. Só isso. Mas peço a Deus que pegue leve porque não sei até onde aguento. Tenho medo de ficar sisudo e amargurado. Se isso um dia ocorrer, peço que me enterrem vivo porque não suportarei ficar por aqui. Aliás, se eu perder a capacidade de rir de tudo é porque, na verdade, já estarei morto.

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A esquecida rua do Imperador

Dentre as ruas que marcaram o centro do Recife, destaca-se a Rua do Imperador D. Pedro II, a primeira surgida na ilha entre os anos de 1606 e 1613, quando os frades franciscanos nela fizeram erguer o convento e uma igreja dedicada a Santo Antônio. Por ocasião da invasão holandesa, em 1630, foi o Convento de Santo Antônio cercado por muralhas e transformado no Forte Ernestus, uma fortificação retangular com quatro baluartes, dispondo de 19 canhões de diversos calibres. Nesta rua fixou residência o Conde João Maurício de Nassau-Siegen, que aqui chegou como governador do Brasil Holandês em 1637, ocupando uma casa então localizada na atual esquina da Rua Primeiro de Março. Nela o sábio Georg Marcgrave (1610-1648) instalou o primeiro observatório astronômico em terras das Américas e iniciou seus estudos sobre a fauna, flora e tipos humanos da região. Naquele local ele ergueu uma torre de observação em madeira, onde instalou o seu telescópio com o qual fez observações sobre o nosso céu e documentou o primeiro eclipse solar, ocorrido em 13 de novembro de 1640. No extremo norte da ilha, o Conde de Nassau fez erguer o Palácio das Torres (Friburgo) em 1642, rodeado por jardins, árvores frutíferas e dois grandes viveiros para criação de peixes, construindo assim um Jardim Zoobotânico destinado às experiências e estudos dos membros de sua comitiva de cientistas. O trajeto do caminho do palácio, margeado pelo Capibaribe, veio a ser aplainado e transformado em pista de esportes equestres (cavalhadas, corridas, etc.), sendo no seu extremo construído o templo religioso dos calvinistas franceses (1642). No final do século 17 foi criada a Ordem Terceira de São Francisco que iniciou a construção da monumental Capela Dourada dos Irmãos Noviços, construída entre 1695 e 1697, junto ao Convento Franciscano. Os Irmãos Terceiros de São Francisco, irmandade constituída pelos mais ricos comerciantes da então Vila de Santo Antônio do Recife (1709), logo iniciaram a construção do seu templo cujas obras se estenderam de 1702 a 1828. Em 1731 a primitiva Rua de São Francisco recebeu o prédio da Cadeia Pública (hoje ocupado pelo Arquivo Público Estadual) e, por conta dele, a denominação de Rua da Cadeia Nova, pois a primitiva prisão continuaria no bairro do Recife. O primitivo templo dos calvinistas passou a ser ocupado pelo Colégio dos Jesuítas (1686). Com a expulsão dos padres da Companhia de Jesus do Brasil (1757), o conjunto de prédios veio a ser ocupado pelo Palácio dos Governadores da Capitania, seguindo-se do Tribunal da Relação de Pernambuco e pela igreja do Divino Espírito Santo, esta a partir de 1855. No ano de 1859 o Recife recebe com grandes festas a Família Imperial Brasileira, que desfila em grande cortejo na então Rua do Colégio, naquele 22 de novembro. É nesta ocasião que o D. Pedro II, emocionado com a calorosa recepção quando do seu desembarque, haveria exclamado: “Pernambuco é um céu aberto…” A partir da visita da Família Imperial, a antiga Rua da Cadeia mudou seu nome para Rua do Imperador D. Pedro II. Com o centro religioso de devoção, com o Convento de Santo Antônio a receber, todas as terças-feiras, centenas de devotos, durante todo ano… Com suas calçadas largas a permitir a formação a um só tempo de dezenas de conglomerados de homens a falar de política, futebol, vida alheia, negócios e tanta coisa mais… Com os diversos centros administrativos no seu entorno, como o Palácio da Justiça, Fóruns Cível e Criminal, Secretaria da Fazenda, a secção regional da Ordem dos Advogados do Brasil, cartórios, repartições, redações de grandes jornais (Jornal do Commercio, 1919), instituições culturais (Gabinete Português de Leitura, 1850; Arquivo Público Estadual, 1945), bancos, escritórios de advocacia, casas comerciais, bares… Até recentemente, era a Rua do Imperador uma das mais movimentadas da cidade do Recife. A sua história, porém, se confunde com a própria história do Recife… As pedras do seu calçamento testemunharam o caminhar para a forca mártires das revoluções liberais, a exemplo de Agostinho Bezerra Cavalcanti e Frei Joaquim do Amor Divino Caneca (1825)… Foi da sacada de um dos seus sobrados que o então estudante da Faculdade de Direito do Recife (que funcionava no prédio do antigo Colégio dos Jesuítas), Antônio de Castro Alves (1847-1871), conclamava a Mocidade Acadêmica naquele seu Improviso, quando da questão Ambrósio Portugal (1867): Moços! A inépcia nos chamou de estúpidos! Moços! O crime nos cobriu de sangue! Vós os luzeiros do paí­s, erguei-vos! Perante a infâmia ninguém fica exangue Protesto santo se levanta agora, De mim, de vós, da multidão, do povo; Somos da classe da justiça e brio, Não há mais classe ante esse crime novo! Sim! mesmo em face, da nação, da pátria, Nós nos erguemos com soberba fé! A lei sustenta o popular direito, Nós sustentamos o direito em pé!

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Sucesso de Miriam           

Depois de atuar na assessoria do pai, Julião Konrad, Miriam Konrad Viezze partiu para carreira solo e faz sucesso com a filial do The Black Angus que comanda no Shopping Recife, com espaço do restaurante e da loja de vinhos. E tem outros grandes projetos para este ano. Vendas Pesquisa do Portal Administradores, com cinco mil entrevista, revela que 70% das pessoas se incomodam muito ao serem recebidos numa loja com o tradicional “Olá, posso ajudar?”, sempre acompanhado de um insistente sorriso meigo. Som ruim Cada vez mais comum encontrar aviões com serviço de som interno deficiente, não se conseguindo ouvir com clareza o que o comandante fala. Aprendizado Pouco a pouco os recifenses vão entendendo que é fundamental fazer a reserva de mesas nos restaurantes badalados, especialmente nas sextas e sábados. Muita gente ainda acaba voltando da porta por falta de lugar. Problema Os prefeitos das principais cidades do País estão com um problema comum: a alta geométrica do desemprego tem obrigado muita gente a abandonar planos de saúde e escola particulares dos filhos. Isto acarreta forte aumento nos custos da saúde pública e nas escolas municipais. Brilho feminino Silvana Aguiar Arruda herdou do pai, Severiano Aguiar o gosto pelo trabalho no turismo; da mãe, Glorinha Aguiar, a elegância, o dinamismo. Casada com Sérgio Arruda, forma um dos casais mais queridos da nossa sociedade. Depois da aposentadoria do pai, assumiu o comando da Sevagtur, uma das maiores agências de viagens do Estado, onde faz um trabalho dos mais competentes, com destaque para os grandes grupos que leva, todos os anos, para férias na Disney e excursões exclusivas no Carnaval. Faz parte de um grupo que constantemente realiza excursões de bicicleta, por roteiros charmosos na Europa. E é também, excelente anfitriã, especialmente em festas que faz na sua casa de Toquinho. Nova sede de Suape               O secretário Thiago Norões acompanha as obras de conclusão da nova sede de Suape, no seu complexo industrial e portuário. O prédio tem uma bela arquitetura e até um heliponto, que vai facilitar a visita de empresários que pretendam investir no espaço. Bacharéis Funcionam atualmente no Brasil mais de mil cursos de direito autorizados pelo Ministério da Educação. Só em São Paulo são 250. Em Pernambuco, 32, mas só três receberam o selo de qualidade da OAB: Damas, UFPE e Unicap. Moto O técnico do Santa Cruz, Marcelo Martelotti, costuma ir para os treinos da equipe a bordo de sua poderosa moto, que usa também nos seus passeios na cidade. Garante que pilota com toda precaução no trânsito.

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A MÍDIA

Pesquisa com 33 mil pessoas de 28 países, feita pela consultora Edelman, mostra que a mídia está bem na fita: globalmente subiu de 45% para 47% e, separadamente, no Brasil, de 51% para 54%. O GANDHI DESCONHECIDO Esta verdade nova vem por conta da jornalista e escritora Caitlin Moran. Ela lista um rosário de maus costumes de Gandhi, garantindo que pesquisou e conheceu o lado escuro do Mahatma, que na vida íntima familiar era fissurado por sexo e até capaz de gestos de crueldade. Nos quase 20 anos que viveu na África, praticou vários atos de racismo. Teria até afirmado que a população branca da África do Sul deveria predominar no país, fazendo dos negros minoria social. Quando foi preso, ficou revoltado por ter ficado na mesma prisão dos negros, e não para onde eram levados os brancos em reclusão. Ainda afirmam que o grande pacificador da Índia pouco se preocupava em ajudar aos que precisavam. E mais: Gandhi acreditava que a mulher era responsável por despertar e liberar a libido sexual do homem e dizia que o impulso sexual masculino era involuntário e incontrolável, cabendo ao sexo feminino preservar a sua sexualidade. Para tentar domar a sua libido, usou diversas meninas menores de idade, levando para a cama e dormindo nu até com uma sobrinha-neta. Foi publicado no livro Great Soul, de Joseph Lelyveld, que Gandhi teve experiências homossexuais, inclusive com o arquiteto judeu Hermann Kallenbach, por quem teria se apaixonado loucamente. A morte trágica e a propaganda pessoal teriam feito dele uma figura capaz de superar todos os erros e falhas. INCENTIVO À CULTURA O rico empresário Roberto Medina jogou R$ 6 milhões a mais no “pé do cipa”, convencendo o governo federal de que o superlucrativo Rock in Rio precisava de uma ajudazinha da Lei Rouanet. Quem precisa não recebe, mas quem tem a chave da porta do poder faz a água correr para o mar. DRAMÁTICA HISTÓRIA DE CHIFRE Vai sair um livro de Anna Sharp, neta de Ana Ribeiro, mulher de Euclides da Cunha. Como todos sabem, o autor de Os Sertões foi assassinado por Dilermando de Assis, que comia a mulher dele. Cunha descobriu o romance entre sua mulher e o garanhão que era oficial do Exército e campeão de tiro. Quando o escritor tentou a vingança, ele reagiu matando-o. Foi uma legítima defesa, no dia 15 de agosto de 1909. Alguns anos depois, o filho de Euclides da Cunha tentou vingar o pai, mas foi também assassinado pelo oficial Dilermando, macho da mãe dele. Agora a nova escritora vem contando que Euclides tratava a esposa, avó dela, muito mal desde o dia do casamento. Ela casou com 15 anos e, quando ele teve tuberculose, tentou obrigá-la a beber o seu sangue.

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O ciclo da economia de Pernambuco: 2005-2015

Ao longo dos dez anos de circulação da Revista Algomais, a economia de Pernambuco passou por mudanças na base produtiva e infraestrutura. Nos dois governos de Jarbas Vasconcelos (1999-2006) foram criadas as pré-condições políticas, os programas de desenvolvimento e as primeiras negociações que conduziram a um período de forte crescimento econômico durante o Governo Eduardo Campos (2007-2014) que ampliou e consolidou um ambiente de negócios que trouxe para Pernambuco um bloco de investimentos da ordem de R$ 105 bilhões, dois terços dos quais foram alocados ao setor industrial e endereçados, em grande parte, para Suape. Os governos do PSB ousaram politicamente para atrair esses investimentos, inovaram na gestão pública e assumiram para si e em parceria com o setor privado importantes investimentos em infraestrutura econômica, especialmente rodovias. Na segunda metade da década passada houve a feliz convergência de um bom desempenho das economias internacional e nacional, estabilidade macroeconômica e a chegada à maturidade dos investimentos realizados em Suape, fruto do esforço de sucessivos governos desde 1974. Durante o período 2005-2015, as taxas de crescimento anual do PIB de Pernambuco – à exceção do ano de 2007– situaram-se sempre acima das taxas brasileiras. Com isso o PIB por habitante cresceu 7,0%, em termos reais, entre 2010 e 2013. Mudanças na estrutura econômica do Estado ocorreram durante esse período. A construção civil avançou substancialmente pois a ela coube o papel de edificar e de instalar os novos equipamentos produtivos e de construir a nova infraestrutura. Assim, a participação da construção civil no PIB aumentou de 5,6%, em 2005, para 9,4%, em 2013, constituindo-se, nessa fase, no principal motor da economia pernambucana. Estavam sendo implantadas novas cadeias produtivas na economia do Estado e outras estavam se modernizando, gestando uma nova conformação do aparelho produtivo com a presença das indústrias naval, petróleo e gás, offshore e automotiva. As indústrias de alimentos e bebidas se modernizaram e se interiorizaram. Evidentemente que, concluídos esses investimentos e iniciadas as operações desses empreendimentos, estão sendo observadas mudanças graduais na estrutura econômica do Estado, fenômeno que foi desacelerado mais recentemente por causa da crise econômica. Esse dinamismo econômico se manifestou claramente nos indicadores do mercado de trabalho. A ocupação total, segundo a PNAD, cresceu 1,2% ao ano entre 2005 e 2014, liderado pelo pujante crescimento do emprego na construção civil que se expandiu no mesmo período à taxa de 7,1% anuais, seguido dos setores transporte, armazenagem e comunicação (6,1%) e de alojamento e alimentação (5,1%), que se beneficiaram da expansão dos investimentos puxada pela construção civil. Esses setores aumentaram sua importância relativa no conjunto da ocupação durante esse período: a construção civil elevou sua participação de 5,5%, em 2005, para 9,0% em 2014 enquanto os setores de transporte, armazenagem e comunicações e o de alojamento e alimentação subiram, respectivamente, de 4,3% para 6,4% e de 3,6% para 5,5%. Com a demanda por mão de obra em ascensão, especialmente nas ocupações de baixa e média qualificação da construção civil, o rendimento médio real de todos os trabalhos da população ocupada com 10 anos ou mais elevou-se ao ritmo de 5,4% ao ano, bem superior à apresentada para o País como um todo (4,1%), durante o período 2005-2014. Com isso taxa de desemprego caiu de 11,0%, em 2005, para 8,7% em 2014. O emprego formal também cresceu expressivamente durante esse período contribuindo para reduzir a taxa de informalidade no mercado de trabalho, uma característica estrutural da economia pernambucana. O estoque de emprego formal segundo a RAIS cresceu 4,4% ao ano entre 2005 e 2015, sendo que a construção civil se expandiu ao ritmo de 7,5% e os serviços e o comércio às taxas, respectivamente, de 6,3% e de 5,9% anuais. Esses crescimentos teriam sido bem mais expressivos durante o período não fosse o efeito da crise econômica que queimou 9,6 mil e 89,8 mil empregos com carteira, respectivamente, em 2014 e 2015. Isso significa que a crise extinguiu parte, mas ainda deixou intactos significativa parcela dos empregos gerados durante aquele período. Se houve um ciclo virtuoso de fatores que propiciaram um robusto crescimento da economia de Pernambuco no início do período que estamos analisando, ocorreu o inverso no seu final, ou seja, nos anos de 2014 e de 2015 quando a crise começou a manifestar seus primeiros impactos sobre o Estado. No rastro da economia mundial, ainda em recuperação da crise de 2008, a economia nacional, devido aos sucessivos equívocos e voluntarismo da política econômica do Governo Dilma, entrou em forte recessão. Pernambuco ficou exposto e absorveu os efeitos da retração no nível de atividade da economia brasileira. Além disso, a crise atingiu o Estado no momento em que o mercado de trabalho estava fragilizado pela grande desmobilização – previsível e inevitável – de mão de obra ocorrida em decorrência da conclusão da fase de implantação dos investimentos produtivos e em infraestrutura, especialmente em Suape. O mercado de trabalho foi pego, portanto, na fase de transição da implantação para a de funcionamento de vários empreendimentos produtivos e de infraestrutura. E finalmente, a economia estadual sofreu as consequências econômicas das investigações no âmbito da Operação Lava Jato. O envolvimento da Sete Brasil que, para produzir sondas que seriam alugadas a Petrobras, tinha feito várias encomendas ao Estaleiro Atlântico Sul, viu-se obrigada a cancelar contratos que desencadearam efeitos em cadeia que atingiram severamente a recém-instalada indústria naval e o setor metalmecânico da economia estadual. A Refinaria Abreu e Lima, por outro lado, ficou inconclusa. Os números são inequívocos: a economia estadual retrocedeu 2,2% entre janeiro e setembro de 2015 comparada com o mesmo período de 2014, o Estado perdeu quase 90 mil empregos em 2015, a taxa de desemprego voltou aos 11% no final de ano passado e o rendimento médio real do trabalho caiu quase 1% em termos reais, corroendo parte dos ganhos observados nos anos anteriores. Todavia, quando forem restabelecidas as condições políticas e econômicas para a retomada do crescimento, Pernambuco poderá se recuperar com mais rapidez devido ao grande bloco de investimentos feitos anteriormente, embora continuem a pairar incertezas

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A vitória do acaso

Por formação, desde pelo menos o primeiro dia de faculdade, e também por dever de ofício da consultoria, tenho lidado a cada dia com planejamento há mais de 40 anos, seja de projetos, seja de clientes e parceiros, seja da TGI e, como não poderia deixar de ser, seja de minha própria trajetória pessoal e profissional. Ao longo desse tempo, muitas coisas aconteceram como resultado do planejado, outras não aconteceram e algumas mais aconteceram mesmo sem terem sido planejadas. Dentre essas últimas, do ponto de vista pessoal, nunca me passou pela cabeça, como algo planejado com antecedência, nem fazer exposição nem publicar um livro de fotografias, bem como nunca me passou pela cabeça participar do projeto de uma revista, menos ainda de um projeto vitorioso que hoje completa 10 anos como o da Algomais. Da emergência das coisas não planejadas mas bem sucedidas, tirei o ensinamento que passei a adotar no meu dia a dia de planejamento e pode ser enunciado do seguinte modo: “planeje o mais que puder, mas deixe sempre a porta aberta para o acaso”. Em não poucas situações ele se impõe de forma avassaladora. No que diz respeito à Algomais, foi um acaso e tanto que terminou se transformando num projeto de absoluto sucesso. Uma revista que, desde o seu número zero, se pauta pela defesa do nosso Estado e que, de fato, pratica a missão que definiu para si: “Prover com pautas ousadas, inovadoras e imparciais, informações de qualidade para os leitores, sempre priorizando os interesses, fatos e personagens relevantes de Pernambuco, sem louvações descabidas nem afiliações de qualquer natureza, com garantia do contraditório, pontualidade de circulação e identificação inequívoca dos conteúdos editorial e comercial publicados.” Além dessa fidelidade absoluta à missão, outro fator distingue a Algomais no meio jornalístico pernambucano: o funcionamento ininterrupto, desde o seu primeiro número em 2006, do Conselho Editorial que, de fato, pautou, avaliou e qualificou, com suas reuniões mensais, cada uma das 120 edições que hoje se completam. Na condição de colunista mais antigo da revista (desde o número zero), nesta mesma Última Página, presidente licenciado do Conselho Editorial e sócio da SMF/TGI, editora da Algomais, só tenho que me congratular orgulhosamente com o acaso. Não fora ele, eu não estaria participando desta experiência fantástica.

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O que falta ser tombado

O governador Paulo Câmara empossou, em data de 29 de dezembro último, o novo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural, além de lançar o Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco e o Prêmio Ariano Suassuna de Cultura e Dramaturgia. Composto por 14 membros, sendo sete representantes da sociedade civil e sete designados pelo Governo, o colegiado tem entre suas atribuições a missão de deliberar sobre tombamentos de patrimônios, eleição para novos patrimônios vivos, além de outros assuntos relacionados à política de preservação cultural. Diante da existência de um novo conselho, começo por voltar a arruar pelas ruas, becos, ladeiras, praias, pontes e avenidas do Recife e de Olinda, e vejo, em cada passo, elementos originários dos séculos 17 e 18, tão presentes neste início de século 21, apesar da degradação levada pelo abandono e pelo descaso de que foram vítimas. Aqui e ali uma paisagem, um recanto de praça, uma rua deserta ou mesmo um prédio isolado, são marcos de um passado a necessitar do amparo do competente tombamento por parte desse Conselho, com base Lei Estadual nº 7970, de 18 de setembro de 1970, regulamentada pelo Decreto nº 6239, de 11 de janeiro de 1980. No âmbito da preservação da paisagem, eu chamaria a atenção para o panorama da calha do Rio Capibaribe, em sua extensão que vai da BR-101 até a sua foz no Bairro do Recife, que, dia a dia, vem sendo ameaçada por causa da necessidade do disciplinamento de suas margens, merecendo assim um estudo por parte desse conselho visitando sua preservação. No âmbito do patrimônio construído, surge como primeiro conjunto necessitado de urgente preservação o Cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro das Salinas, projetado pelo engenheiro José Mamede Alves Ferreira, no governo de Francisco do Rego Barros (futuro Conde da Boa Vista) e inaugurado em 1º de março de 1851. Possui arquitetura radial com os túmulos distribuídos ao longo de ruas que convergem para um ponto central, onde está localizada a capela (1853), o nosso primeiro templo religioso em estilo gótico, disposta no formato de cruz grega, fechada por uma só abóbada, tendo ao centro um grande crucificado de origem francesa fundido em ferro. Seguem-se no rol das propostas o tombamento das sedes dos sítios urbanos do século 18, ainda presentes em nossa paisagem como os Sítios e Capelas de João de Barros, do Senhor Bom Jesus dos Aflitos, do Manguinhos, a qualquer momento passíveis de uma incorporação imobiliária. Outros espaços urbanos, como a Praça Maciel Pinheiro, com seu casario e fonte de mármore, esculpida em Lisboa pelo artista Antônio Moreira Ratto, em 1875, hoje ameaçado pelo abandono e degradação que vem sofrendo, e o Pátio da Fundição Capunga, com todo o casario do seu entorno, localizado na Avenida Joaquim Nabuco no mesmo bairro. A praça central da cidade, a Praça da Independência, popularmente conhecida como Pracinha do Diario, é outro objeto de nossa proposta por nela estar situado o primitivo prédio do Diario de Pernambuco, cuja redação nele funcionou até o ano de 2005. Fundado em 7 de novembro de 1825, por Antonino José de Miranda Falcão, o Diario é em nossos dias o mais antigo jornal da América Latina e o decano da imprensa diária em língua portuguesa. A nossa lista sugere também o tombamento dos jardins públicos criados no Recife de forma pioneira pelo paisagista Roberto Burle Marx, ao tempo que dirigia a Diretoria de Parques e Jardins do Recife (1934-1937), notadamente a Praça de Casa Forte (1934), Praça Euclides da Cunha no Benfica (1935), a Praça Farias Neves Sobrinho e todo Horto de Dois Irmãos, a Praça Dezessete, o Parque Treze de Maio, a Praça do Derby e outros que se seguiram como a Praça Salgado Filho (Aeroporto). Não poderiam ser esquecidos, nesta relação, os conjuntos arquitetônicos que se tornaram marcantes na vida do Recife que hoje sobrevivem pelo simples acaso, não pairando sobre eles qualquer diploma específico de preservação, como é o caso do casario característico da Rua Benfica, de Apipucos, do Poço da Panela, de Ponte D’Uchoa (com antiga estação dos trens da maxambomba), das casas contíguas ao Museu da Abolição, os gradis de ferro das casas existentes ao longo das avenidas Dois Irmãos, Dezessete de Agosto, Parnamirim e Rui Barbosa; os exemplares da arquitetura eclética do século 19 e início do século 20 presentes nas ruas da Imperatriz Tereza Cristina, Nova e Imperador D. Pedro II, no Pátio do Livramento, Pátio do Terço e nas ruas do bairro de São José. Na Rua das Flores, exatamente esquina com a Avenida Dantas Barreto, encontra-se clamando por tombamento o notável mural do artista Francisco Brennand, com 32 m de comprimento, iniciado em 24 de agosto de 1961 e concluído em 24 de abril de 1962, alusivo às duas Batalhas dos Montes Guararapes (1648 e 1649), com versos escritos pelos poetas César Leal e Ariano Suassuna. Um destaque especial para os velhos solares pernambucanos, tão importantes como as antigas vivendas do Barão Rodrigues Mendes (Academia de Letras) e Barão de Beberibe (Museu do Estado), estes tombados nacionalmente, mas outros encontram-se à espera da iniciativa do novo colegiado, como o Solar da Família Baptista da Silva, o Colégio Damas, o Colégio Agnes, o Palácio do Arcebispado, o Solar dos Tavares da Silva e o Solar dos Amorins. Como se não bastasse os exemplos aqui citados, restam ainda os templos construídos no século XVIII, verdadeiras joias da nossa arquitetura religiosa, todos desprovidos de proteção, a exemplo das igrejas de Nossa Senhora do Livramento, Santa Rita de Cássia, Rosário dos Pretos da Boa Vista, Nossa Senhora da Saúde do Poço da Panela, Nossa Senhora da Boa Viagem, da matriz da Várzea, da Moita do Engenho da Torre merecendo a atenção do novo conselho de preservação, visando o seu urgente tombamento. São todos eles testemunhas de um patrimônio construído e hoje ameaçado, para usar a imagem do poeta Ascenso Ferreira, pelas “panzer divisões de prédios-cimento-armado” que “estão tomando de assalto nossa Recife colonial…”

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