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Cultura e história

200 anos da Convenção de Beberibe

*Por Rafael Dantas Em 5 de outubro de 1821, os revolucionários pernambucanos que enfrentaram o capitão-general português Luiz do Rego Barreto conseguiram uma vitória determinante com a assinatura da Convenção de Beberibe. O então governador, o último lusitano do Estado, deixava o poder e aceitava a realização de eleições em Pernambuco. Pleito esse que ocorreu semanas depois e foi vencido por Gervásio Pires. Tal movimento, que possuía um caráter constitucionalista, é considerado o primeiro episódio da Independência do Brasil, que aconteceu com quase um ano de antecedência ao Grito da Independência. A Convenção de Beberibe é um dos episódios finais desse movimento revolucionário que teve início na Zona da Mata Norte, poucos meses antes, com a formação da Junta Governativa Provisória de Goiana. A Revolução de 1821, apesar de ter saído vencedora, com seus pleitos atendidos, ela é menos conhecida que as duas outras que se passaram naquele período: a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador, de 1824. Os principais nomes do movimento de 1821 na verdade estavam presentes já em 1817. Felippe Menna Calado da Fonseca e Manuel Clemente Cavalcanti de Albuquerque, por exemplo, foram presos após Luiz do Rego Barreto derrotar as forças revolucionárias de 1817, permanecendo 4 anos em Salvador. Após libertos, por determinação da Revolução do Porto, eles voltam para Pernambuco, mas se refugiam nos engenhos da mata norte onde articulam a revolta que derrubaria seu algoz. Em 29 de agosto de 1821, após reunir tropas no Engenho Tamataúpe de Flores (na época pertencente ao município de Nazaré da Mata, mas hoje é território de Buenos Aires), os revolucionário chegam à Casa de Câmara e Cadeia de Goiana com o objetivo de instituir a Junta de Governo Provisória. Apesar de certa resistência, eles formam essa junta que começa um enfrentamento a princípio diplomático e posteriormente militar contra Luiz do Rego Barreto. O presidente eleito por essa junta foi o goianense Francisco de Paula Gomes dos Santos. O argumento dos revolucionários para a formação dessa junta e da realização de eleições era decorrente também de determinações da Revolução do Porto, de 1820, que estavam sendo desconsideradas pelo português que foi colocado em Pernambuco por Dom João VI. Em solo pernambucano, um dos motivos que fortaleceu os revolucionários era a alta rejeição de Luiz do Rego Barreto, que foi responsável por alguns episódios sanguinários contra o povo pernambucano, além da cobrança de altos impostos que dificultavam a economia local. As tentativas de resistência de Luiz do Rego Barreto foram anuladas pelos revolucionários, que conseguiram a deserção de uma parcela significativa do exército sob domínio do português. Com sagacidade e inteligência militar, a Junta de Goiana avança para o Recife, consegue cercar a cidade e se instalar na vila de Beberibe. Após ver esgotados os seus esforços, o governador envia negociadores para firmarem um acordo com os vencedores, que foi a Convenção de Beberibe. Pernambuco ficava assim independente de Portugal um ano antes do restante do País. No Recife, um monumento erguido pelo artista plástico Abelardo da Hora em 1972 - construído na ocasião da comemoração dos 150 anos da Independência do Brasil - faz homenagem à Revolução de 1821, instalado na Praça da Convenção de Beberibe. Essa história vitoriosa e relevante nos esforços de libertação brasileira de Portugal infelizmente tem seu reconhecimento ainda muito restrito, mesmo em Pernambuco. *Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com) Referências: DELGADO, Luiz. A Convenção de Beberibe, UFPE, 1971. MACHADO, Teobaldo. As Insurreições Liberais em Goiana. Cepe, 1990. . LEIA TAMBÉM 7 livros para conhecer a Convenção de Beberibe e Junta de Goiana

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Uma entrevista com o revolucionário Felippe Menna Calado

*Por Rafael Dantas A maioria dos pernambucanos nunca ouviu falar de Felippe Menna Calado da Fonseca (Felipe Mena). Ele foi preso na Revolução Pernambucana de 1817 e foi um dos líderes da Revolução de 1821, tendo atuado como secretário da Junta de Goiana. Esse movimento, em que ele foi um dos protagonistas, foi responsável pela derrubada do último governador português em Pernambuco, Luiz do Rego Barreto. Uma mudança no cenário político que tornou Pernambuco independente de Portugal um ano antes do Grito da Independência e que abriu caminho para as primeiras eleições, que consagraram Gervásio Pires como governante. Felippe Menna Calado deixou escrito um livro de memórias sobre essa revolução tão pouco conhecida. A partir da transcrição de parte dos textos dessa publicação, que ficou guardada no volume XIII (1908-1909) da Revista do Instituto Histórico Geográfico de Pernambuco, apresentamos hoje uma entrevista com perguntas nossas ao texto do revolucionário. O livro foi escrito quando ele tinha já 82 anos. Os textos referente às respostas de Menna Calado têm pequenas adaptações dos seus originais para facilitar a leitura e compreensão. Qual a motivação que o Senhor teve para escrever o livro "O Movimento Revolucionário de Goiana de 1821"? Sem poder imaginar interesse algum para o público, nem para a minha família a publicação dessas recordações, contudo para não levar à sepultura o sobrenome de emperrado, cedi à minha família e a meus amigos. Estas recordações, mal alinhavadas, provam não obstante o espírito e o objeto, que houve naquele movimento imaginado por meu amigo Manoel Clemente Cavalcanti de Albuquerque e por mim. Quando começou o seu envolvimento com os movimentos políticos daquela época? Desde pouca idade, ligado a todos os interesses do Brasil sentia-me dedicado a sua prosperidade; daí proveio-me cingir-me ao movimento tresloucado, mas nobre, de 1817, nessa província onde espero terminar a vida. A consequência foi ser arrebatado pelo redemoinho que envolveu os impensados republicanos dessa era, sendo levado com número grande de comprometidos para a cadeia da Bahía, onde entramos trezentos e tantos. Com o tempo decorrido de outras prisões, ali completamos quase quatro anos. Como o Senhor recebeu a notícia de que havia 12 mil homens a serviço do General Luiz do Rego Barreto em 1821, além de exércitos no Maranhão, Bahia e no Rio de Janeiro para defender os interesses de Portugal no Brasil?  Todas estas aterradoras notícias, despertando os brios brasileiros, fizeram que nesse atropelo se discutisse um meio de quebrar esse cordão sanitário (assim era chamado essa linha de exércitos que estavam distribuídos no Maranhão, na Bahia, em Pernambuco e no Rio de Janeiro) voltando-se todas as vistas para Pernambuco. Nesta diligência ocorreu a necessidade de promover-se uma revolução que lançasse fora da província o General Luiz do Rego, a enxorrada de oficiais e a tropa de Portugal. Após a descoberta dos dois primeiros líderes desse movimento pelos espiões de Luiz do Rego Barreto, como o Senhor e seu amigo assumiram o comando do movimento? Os pareceres eram tão discordes sobre o chefe a nomear que eu e meu amigo Manuel Clemente nos levantamos e dissemos: Se acreditam em nós, nos oferecemos para realizar o projeto e botar para fora o General Luiz do Rego, oficialidade e tropa de Portugal. Aceitou-se o nosso oferecimento e dali partimos para Pernambuco em fins de maio de 1821. Em princípio de junho seguinte chegamos aqui. Por que a opção do movimento de começar pelo interior? Lembrados do mau êxito que tiveram os dois líderes enviados da Bahia anteriores, mandamos vir cavalos e partimos no mesmo dia em que chegamos para o interior da província, indo nos hospedar no Engenho Cangaú, do Sargento-mor Joaquim Martins da Cunha Souto Maior, mui distinto cavalheiro e exímio patriota. Ali, longe da vizinhança da cidade do Recife, do General Luiz do Rego e das atmosferas dos seus espiões e aduladores, começamos o estudo das circunstâncias em que se achava o País e das pessoas que era preciso para que tivéssemos bom êxito no nosso plano. Por quanto tempo vocês planejaram a revolução? Neste estudo levamos dois meses e pouco, mais ou menos. Como passaram esse tempo sem serem descobertos? As nossas cautelas eram tamanhas que mesmo os nossos maiores amigos ignoravam as nossas intenções. Nem mesmo o senhor de engenho que nos alojara soube o fim que nos propunhamos, senão no dia que rebentou a revolução. Como foi o dia em que vocês partiram do Engenho Tamataúpe de Flores em direção à Goiana para iniciar a revolução? Em frente à tropa eu li um manifesto. Finda a leitura apresentei as manifestações precisas a fim de eletrizar a tropa e animá-la. Com o número de 600 e tanto fuzileiros e de cavalaria incitamos a marcha para Goiana. Eram cinco horas da tarde e o tempo estava carregado e logo começou a chuva, que continuou até as quatro da madrugada quando chegamos nas proximidades de Goiana. Ali passou-se uma revista e acharam-se menos de 200 homens. Após essa entrada em Goiana, eleição da Junta Governativa e trocas envio de correspondências para o Governador, quando você iniciaram o caminho em direção à tomada do Recife? No dia 15 de setembro começou a marcha para o Recife. Formada a guarda avançada de toda a força, dos esquadrões de cavalaria, dos esqudrões de linha, pago, dos esquadrões de Goiana, de Mocós, de Nazaré, de Limoeiro, de Paudalho, de Igarassu e toda a tropa. Marchou em sua frente o primeiro batalhão de caçadores e na retaguarda marchava o Governo e empregados dele. Após os confrontos em Olinda, Afogados e outros lugares da cidade, quando vocês chegam em Beberibe? Havendo-se as tropas que se defenderam do ataque em Olinda, recolhido aos seus quarteis no Engenho Fragoso, na Lagoa da Santa, nos Fornos de Cal e em parte da estrada de Beberibe, tratou-se da marcha para essa povoação a fim de colocar ali o quartel-general. O Governo foi para a povoação de Beberibe que estava ocupada. Como ocorreu a rendição do Governador Luiz do Rego? (Luiz do Rego) tratou de chamar o

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7 imagens de lugares da Revolução de 1821 Antigamente

No próximo dia 29 será celebrado o bicentenário do estopim da Junta de Goiana. Esse movimento conduziu a Revolução de 1821 que culminou na Convenção de Beberibe, que expulsou o último governador português em Pernambuco e determinou a realização de eleições, que elegeram naquele ano Gervásio Pires. As fotos e ilustrações abaixo não são daquela época, mas apontam os lugares da revolução de décadas ou até de mais de um século atrás. Ponte da Boa Vista. Não a atual, mas na antiga ponte o governador português Luiz do Rego sofreu um atentado. O goianense João de Souto Maior atirou contra o militar, mas não de forma fatal. João Souto Maior fica conhecido como "Leão de Tejucupapo". Esse episódio aconteceu em julho de 1821. . Casa de Câmara e Cadeia, atual Paço Municipal Heroínas de Tejucupapo. A imagem é do Álbum Ilustrado de Goiana. Os revolucionários de 1821 saíram do Engenho Tamataúpe de Flores, na época território de Nazaré da Mata, mas hoje em Buenos Aires, até a Casa De Câmara e Cadeia de Goiana, onde formaram a Junta Governativa Provisória de Goiana. . A foto abaixo é do Paço Municipal de Goiana, antiga Casa de Câmara e Cadeia. Princípio do século XX. (Fonte: Domínio Público). As duas imagens estão contidas no Projeto Executivo de Requalificação do Paço Municipal de Goiana, do Governo do Estado em 2014. . Igreja Nossa Senhora da Soledade ou Convento da Soledade, uma casa de recolhimento da época. A historiografia registra que no Sítio da Soledade, não na igreja, a tropa se reuniu. A logomarca apresentada pelo IHAGGO neste ano, desenvolvida pelo designer Raul Kawamura, traz o detalhe arquitetônico da Igreja da Soledade. . Igreja da Ordem Terceira do Carmo (Goiana, PE), 1858, imagem de Auguste Stahl. No centro de Goiana estão localizados o conjunto carmelita formado pelo Convento de Santo Alberto, a Igreja da Ordem terceira do Carmo e o Cruzeiro. De acordo com o historiador Josemir Camilo, o Convento do Carmo de Goiana serviu de prisão para os absolutistas que não queriam aderir ao movimento liberal de 1821. . Antiga Casa de Câmara e Cadeia de Igarassu. Igarassu, na época escrito como Igaraçu, foi um dos locais onde as tropas avançam em direção ao Recife. Houve um confronto com os portugueses, mas muitos desertaram permitindo o avanço dos revolucionários. . Cenário do Beberibe no século 19. Gravura de F. H. Carls em 1878. A região foi ocupada pelos revolucionários e foi o local onde foi assinada a Convenção de Beberibe, em 5 de outubro de 1821. . Catedral da Sé, em Olinda, foi o local onde aconteceu a eleição para governador de Pernambuco em 1821, que escolheu Gervásio Pires. . *Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com) **Publicado originalmente em 27 de agosto de 2021

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7 livros para conhecer a Convenção de Beberibe e Junta de Goiana

A formação da Junta de Goiana e a assinatura da Convenção de Beberibe são dois atos que remontam à Revolução de 1821. Com inspirações e personagens ainda da Revolução de 1817 e preparando o caminho para a Confederação do Equador de 1824, o movimento marcou a derrubada do último governador português em Pernambuco um ano antes da Independência do Brasil e marcou ainda as eleições que elevaram Gervásio Pires à governança do Estado. Todos os livros já são antigos e nem sempre fáceis de serem encontrados. O caminho principal é pelos sebos. Neste ano há uma expectativa sobre a publicação de um livro sobre 1821 pelo doutor e historiador Josemir Camilo, que realizou recentemente uma vasta pesquisa sobre esse movimento. Convenção de Beberibe, por Luiz Delgado Esse é um livro básico para compreender esse movimento, que foi produzido a partir de uma palestra produzida pelo professor e historiador Luiz Delgado, em 1971, quando o movimento completou 150 anos. Ele tem pouco mais de 30 páginas e traz o texto integral da Convenção de Beberibe. . As Insurreições Liberais em Goiana, por Teobaldo Machado Esse livro fala sobre os três movimentos (1817, 1821 e 1824) sob a ótica do protagonismo da cidade de Goiana. De fácil leitura, é muito recomendado para compreender as razões da cidade da Mata Norte ter liderado o enfrentamento contra Luiz do Rego. . A outra independência, de Evaldo Cabral de Mello Também não é exclusivo de 1821, mas o clássico do historiador Evaldo Cabral de Mello apresenta o movimento que nasceu em Goiana dentro do contexto dos esforços da independência do Brasil. Ele critica a historiografia oficial que privilegiou na sua narrativa a atuação de Dom Pedro I como libertador do Brasil do domínio português. O livro analisa o processo de Independência a partir de Pernambuco. Este é o livro mais fácil de ser localizado dessa nossa lista, por ter edições mais recentes. . O patriotismo constitucional: Pernambuco 1820-1822 O livro de Denis Antônio de Mendonça Bernardes, da Editora Universitária da UFPE (2006), dedica algumas páginas ao movimento que derrotou Luiz do Rego, em 1821. . Movimento Revolucionário de Goyanna Esse registro foi realizado por Felipe Mena Calado da Fonseca, um dos revolucionários presos em 1817 e um dos principais líderes do movimento de 1821. Esse é um livro de memórias, que ele escreveu já na sua terceira idade. Essa é uma publicação mais rara, que foi arquivada na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco há mais de um século. . Memória Justificativa de Luiz do Rego Essa é a publicação do ex-governador português, derrotado pelos revolucionários de 1821, na ocasião de sua defesa judicial na época de sua queda, no ano seguinte à Convenção de Beberibe, em 1822. Nesta publicação, inclusive, ele faz a sua versão do Massacre do Rodeadouro, episódio sangrento da sua trajetória em Pernambuco, que aconteceu no município de Bonito. . Biografia de Gervásio Pires, de Antônio Joaquim de Melo Esse não é um livro diretamente do movimento, mas uma biografia do governador eleito a partir dele. Para compreender a eleição e o período posterior à Convenção de Beberibe, a dica é essa biografia do governador Gervásio Pires, que foi reeditada nos anos 70. Também um livro com alguma dificuldade de ser encontrado e que traz uma perspectiva do governante, que foi bastante incompreendido em sua época. Com esses três livros, a historiografia reserva aos interessados nessa história, 200 anos depois, a perspectiva de um dos mentores do movimento (Mena Calado), do derrotado (Luiz do Rego) e do governador que ascende a partir do movimento (Gervásio Pires). . *Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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1821: Como Pernambuco se libertou de Portugal antes do Brasil?

Em 1821, aproximadamente 11 meses antes do Grito do Ipiranga, Pernambuco expulsava o último governador português de suas terras e ficava independente de Portugal. O movimento revolucionário, que começou pela Junta de Goiana e se encerra com a assinatura da Convenção de Beberibe é pouquíssimo conhecido e de difícil compreensão da maioria da população. A Revolução de 1821, que foi tema de capa da última edição da Algomais, volta a ser destaque hoje nesta entrevista concedida ao jornalista Rafael Dantas, pelo historiador George Cabral. O presidnete do Instituto Histórico de Olinda conta os fatores motivadores desse movimento e os seus efeitos até mesmo na consolidação no movimento de independência do Brasil. Quais os principais motivadores que levaram a formação da Junta de Goiana e, posteriormente, a Convenção de Beberibe? Pernambuco sofreu uma brutal repressão após a Revolução de 1817. Havia um profundo descontentamento entre os pernambucanos com o governador enviado pelo rei Dom João VI para a província, o general Luiz do Rego. Existem numerosos testemunhos de atos autoritários e violentos do general português. Nem as obras que ele realizou na província, principalmente estradas, foram suficientes para granjear a simpatia dos pernambucanos. Quando a notícia da Revolução do Porto chegou a Pernambuco, em outubro de 1820, os pernambucanos começaram a se articular para eleger um governo local, pois essa era a determinação das Cortes Constitucionais que se reuniram em Lisboa. O general Luiz do Rego não acatou de imediato as ordens vindas de Lisboa, preferindo aguardar o posicionamento do rei (que estava no Rio de Janeiro) e, ao mesmo tempo, tentando manter o controle sobre a província. Quando finalmente criou uma junta de governo, o general se colocou como presidente e não abriu mão do poder. As Cortes ordenaram também a libertação dos revolucionários pernambucanos de 1817 que estavam presos havia quase quatro anos em Salvador. Quando eles chegaram a Pernambuco, em maio de 1821, as pressões sobre o general aumentaram. Em julho de 1821 ele foi vítima de uma tentativa de assassinato no Recife, conseguindo escapar com vida. Foi então ordenada a prisão de dezenas de pernambucanos, sendo 40 deles enviados a Lisboa. Em agosto de 1821, Felipe Mena Calado da Fonseca e Manuel Clemente Cavalcanti de Albuquerque arregimentaram tropas e apoios nos vários engenhos e vilas da região da mata norte da província (Paudalho, Nazaré, Tracunhaém, Limoeiro e Goiana). Essas tropas se reuniram em Goiana e, em 29 de agosto de 1821, elegeram uma junta governativa provisória e constitucional. Partiram de Goiana em direção ao Recife exigindo a retirada imediata do general Luiz do Rego. Os pernambucanos ansiavam profundamente para ter o direito de constituir um governo localmente eleito, com bases constitucionais e ao mesmo tempo, expulsar o governador e os militares portugueses que eram a personificação da opressão do absolutismo da monarquia portuguesa. Além da assinatura da convenção, o que de fato aconteceu neste bairro que é da periferia do Recife?  Por que os revoltosos escolheram esse local e não avançaram mais para o centro do Recife? As terras hoje compreendidas no bairro de Beberibe começaram a ser ocupadas com o cultivo de cana-de-açúcar desde o século XVI, quando foram doadas como sesmaria dada por Duarte Coelho a Diogo Gonçalves. A povoação originou-se de um engenho fundado na margem direita do rio. Em meados do século XVIII as edificações originais do velho engenho não mais existiam, mas a área continuava habitada e uma nova capela começou a ser erigida e foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Em 1850, frei Caetano de Messina reedificou a capelinha que deu origem a atual igreja. A área do entorno da povoação também serviu como fornecedora de madeiras para Olinda e Recife. Em 1821, o povoado ainda pertencia ao território de Olinda. A junta de Goiana distribuiu suas tropas formando um cerco ao Recife que começava em Rio Doce (Olinda) até Afogados (ao sul do Recife). Era essencial privar o Recife dos mantimentos que chegavam pelos caminhos que conectavam o interior com o litoral. A povoação de Beberibe ficava mais ou menos no centro dessa linha de cerco, sendo um local estratégico, portanto. Chegou a ter alguma batalha nesta região ou era mais um ponto de apoio do movimento? Ocorreram combates nos arredores de Olinda (Fragoso) e em Afogados. Enquanto estava em Beberibe, a Junta recebeu a visita de um capitão de navio inglês que necessitava adquirir víveres para o seu barco. Sua esposa, Maria Graham, o acompanhou na ida até Beberibe e deixou um relato sobre o episódio. Houve uma participação popular ou foi uma articulação mais restrita às elites? É verdade que o exército chegou a reunir algumas dezenas de milhares de "soldados"? Os acontecimentos de 1821 contaram com mobilização popular, embora nem sempre os participantes tivessem plena consciência das bandeiras que defendiam. A ideia de constitucionalismo começava a se expandir pelo mundo ocidental a partir das experiências revolucionárias dos EUA e da França. Ao mesmo tempo, começavam a surgir as nações independente no que antes havia sido a América Espanhola. A transformação do súdito em cidadão era algo que era muito pouco compreendido naquele momento (de fato, a compreensão das responsabilidades da cidadania até hoje ainda não foi plenamente alcançada em nosso país até hoje, duzentos anos depois). Logo, ocorreram mobilizações puxadas pelos senhores de engenho e pelos agentes políticos que tinham condições de arregimentar o apoio dos que faziam parte de suas redes clientelares. Existem alguns registros que falam de um "exército de milicianos". Como funcionava? O termo “milícia” naquele momento não tinha o significado nefasto que adquiriu nos últimos anos no Brasil. As milícias eram as tropas complementares formadas por todos os homens maiores de 16 anos e menores de 60 que podiam ser mobilizadas em casos especiais (como uma invasão externa ou um levante de escravizados). Essas milicias tinham os homens mais ricos das localidades como seus oficiais. Eles muitas vezes eram responsáveis por armar e alimentar os soldados destas milícias. No caso de Goiana, ocorre uma mobilização dessas “tropas” comandadas por senhores de

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Novo espaço da Galeria Garrido na Zona Sul

A Galeria Garrido inaugurou um novo espaço para aquisição de obras na cidade do Recife. O novo endereço fica em Boa Viagem, no antigo espaço da Galeria Mariana Moura. O local será como uma extensão da Garrido Galeria, situada na Zona Norte da cidade desde 2018. O nome do novo espaço é “Garrido Marinho”, resultante da parceria entre o advogado e galerista Armando Garrido e o empresário e colecionador de arte João Marinho. Essa nova operação também recebe a grife de joias Antonio Bernardo, que será liderada pela empreendedora Danielle Morais, esposa de Marinho. “A proposta é conceber um espaço que seja ponto de encontro para pessoas que gostam de arte, além de agregar os compradores de joias, que muitas vezes é o mesmo público, permitindo, ainda, reunir os amigos para bater um papo, tomar um café ou um drink e ouvir uma boa música”, comenta João Marinho. “Garrido foi a primeira pessoa com quem eu pensei em fazer essa parceria. Tudo o que se fala sobre arte hoje, eu sempre o indico. Muito gentilmente, ele organizou três leilões para o Movimento Pró-Criança, uma instituição à qual sou muito ligado. Amigos em comum e a paixão pela arte foram fatores que permitiram uma aproximação nossa e a realização de algumas parcerias. A Garrido Marinho é mais uma”, completa. Armando Garrido, por sua vez, pontua os principais fatores que contribuíram para a decisão de ambos assumirem essa nova parceria: “O convite de João Marinho partiu do fato de ele sempre ter acompanhado os nossos projetos, de ter visto o nosso crescimento a partir desse trabalho que a gente vem desenvolvendo com seriedade. Nós também acompanhamos a trajetória dele, não só como empresário, mas como colecionador e amigo dos artistas. E eu acho que nós temos muita coisa em comum. Antes de tudo, somos amigos dos artistas: a gente compra, investe, apoia e acredita. Então, decidimos unir forças. Ele tem o espaço, eu tenho o know-how. A Garrido Marinho será um braço da Garrido Galeria na Zona Sul, chegando com força total, já amadurecido e pronto para enfrentar esse mercado”. As obras que compõem a nova galeria pertencem às coleções de Armando Garrido e João Marinho. Os artistas que integram o atual casting da Garrido Galeria também terão os seus trabalhos disponibilizados no espaço em Boa Viagem. Os horários de visitação da Garrido Marinho são de segunda a sexta, das 10h às 19h, e, aos sábados, das 10h às 14h. SERVIÇO Horários de visitação: De segunda a sexta, das 10h às 19h, e, aos sábados, das 10h às 14h Endereço: Rua Professor José Brandão, n° 163, sala 4, Boa Viagem, Recife - PE

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Em formato híbrido, começa hoje a 13ª Bienal PE

A XIII edição da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, o maior evento literário do Nordeste, começa hoje (1º) e segue até o dia 12 de outubro, no Centro de Convenções, localizado em Olinda. Entre os convidados já anunciados, com participação presencial ou virtual, nomes como Mia Couto, André Dahmer, Christian Dunker, Ronaldo Correia de Brito, Heloisa Starling, Kleber Mendonça Filho, Jesse de Souza, Fabrício Carpinejar, Sri Prem Baba, Claudia Costin e Clarice Freire. Ao longo de 12 dias a Bienal PE promoverá aproximadamente 120 horas de programação, com atividades diversas. Estão previstas 20 oficinas presenciais, mais de 60 lançamentos literários, 50 palestras presenciais e outras 30 virtuais, apresentações artísticas e muito mais, totalizando 220 atividades (presenciais e virtuais). Além disso, na feira, o público poderá conferir mais de 320 estandes distribuídos em 9 mil m² do pavilhão interno do Cecon, uma área maior do que a da última edição. A previsão é movimentar mais de R$ 12 milhões em negócios durante os 12 dias de atividades ininterruptas. E há mais nomes confirmados na programação. São eles: Itamar Vieira Junior, Lourival Holanda, Silviano Santiago, Zoara Failla, Lucia Santaella, Renan Quianalha, Josélia Aguiar, Rodrigo Casarin, Rogério Pereira, Mariana Enriquez, Lavínia Rocha, Breno Perrucho, Cida Pedrosa e Marcelo Batalha. A participação de 89 livrarias e editoras também foi anunciada. Rogério Robalinho, produtor da Bienal PE ao lado de Guilherme Robalinho e Sidney Nicéas, adianta que a expectativa de público desta edição é de 350 mil pessoas, com 150 mil participando do evento de forma presencial e mais 200 mil acompanhando a programação remotamente, através da plataforma digital e-Bienal (www.ebienal.com). A curadoria do evento é assinada pelo jornalista e crítico literário Schneider Carpeggiani. Como de costume, duas grandes personalidades serão homenageadas pela Bienal PE. Uma delas é o educador pernambucano Paulo Freire (in memoriam), que em 2021 completaria 100 anos de idade, e a poetisa sertaneja Cida Pedrosa, vencedora do Prêmio Jabuti de Livro em 2020, na categoria Poesia. Edson Nery da Fonseca é homenageado da Fundaj na Bienal do Livro de Pernambuco Em vida, o bibliotecário e escritor Edson Nery da Fonseca (1921—2014) foi um dos mais notáveis conhecedores de histórias. Muitas lidas ou partilhadas dentro dos círculos distintos que frequentou. E boa parte vivida. Considerado o papa da biblioteconomia no Brasil, o pernambucano do Recife teve papel imprescindível na criação dos primeiros cursos universitários da especialidade, colaborou com a modernização das bibliotecas no Século XX, sempre ao lado de grandes nomes. Na 13ª Bienal do Livro de Pernambuco, Nery da Fonseca é homenageado pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). A abertura oficial do estande da Fundaj será no sábado (2), às 17h. Na ocasião, a Orquestra dos Meninos de São Caetano entoará músicas em celebração ao homenageado, o qual tinha grande apreço por músicas eruditas e músicas pernambucanas. Ao todo, serão apresentadas 17 canções, entre elas a composição “No Jardim de um Mosteiro”, de Albert Ketèlbey e “Suíte Nordestina”, de José Ursicino da Silva. “Nery da Fonseca está entre os grandes nomes que marcam a história desta Fundação. Nos Anos 1980, exerceu funções de prestígio e importância à sua altura, como superintendente do Instituto de Documentação, como coordenador de Assuntos Internacionais e como assessor da presidência desta Casa”, recorda o presidente da Fundaj, Antônio Campos. “A homenagem antecipa o centenário de nascimento do escritor, a completar-se em dezembro deste ano. Livros dele, sobre ele e filmes começam a chamar a atenção para a importância de sua obra”, completa o diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), Mario Helio. Na profissão pela qual é reconhecido até os dias atuais, o pernambucano registra marcos como a criação da Biblioteca Central, da Universidade de Brasília (UnB), onde formatou também o curso de Biblioteconomia. Colaboradora do Programa Memória do Mundo, da Unesco, a socióloga Gilda Verri lembra que foi convidada para cursar o mestrado na UnB por sugestão de Nery. “A partir do convívio com ele minha admiração por seu trabalho com bibliografia (disciplina de Ciência da Informação) cresceu. Ele trouxe para o país questões bibliográficas no campo das Ciências e das Humanidades”, destaca Verri, que também é formada em Biblioteconomia. No Distrito Federal, Nery da Fonseca tem sua assinatura também no acervo da biblioteca do Palácio da Alvorada. O projeto foi confiado a Antônio Houaiss e Francisco de Assis Barbosa, mas coube a ele a compra, tombamento e catalogação dos exemplares. Na cidade natal Recife, ele fundou o primeiro curso de Biblioteconomia do Nordeste e reformou as bibliotecas da Faculdade de Direito e da Escola de Engenharia. Autor de “Introdução à Biblioteconomia” (Briquet de Lemos, 2007), o bibliotecário foi um forte defensor da informatização dos acervos, ainda que muitos colegas o criticassem por acreditar que a modernização acabaria com o valor do livro. Em “Literatura e Vida Literária: diário de confissões”, o crítico literário Álvaro Lins sublinhou: “Edson Nery da Fonseca, então jovem escritor, tornou-se a nossa maior competência e autoridade em biblioteconomia e bibliografia, presentemente, em sentido nacional e internacional”. No curso da história, assistiria nos bastidores as mudanças do Brasil. Foi professor sob a reitoria do intelectual baiano Anísio Teixeira, na UnB. Recebeu do próprio antropólogo Darcy Ribeiro, quando então ministro da Educação de João Goulart, o convite para montar a Biblioteca Central. Em Brasília, Edson foi também assessor do então presidente José Sarney. Dentre os seus orgulhos, estava o título de maior especialista da obra do sociólogo e escritor Gilberto Freyre. Nery da Fonseca foi também amigo pessoal do autor de “Casa Grande & Senzala” e idealizador da Fundaj. Pela Editora Massangana, da Casa, ele lançou os títulos “Um livro completa meio século” (1983), um ensaio sobre o maior clássico freyriano, e “Em torno de Gilberto Freyre” (2007), publicado 20 anos após a morte do mestre de Apipucos. Ao todo, dedicou 135 ensaios à obra de Gilberto Freyre. Mas também foi amigo de Manuel Bandeira, cujos versos ele sabia de cor e salteado. Era dado a “falar” seus versos. Detestava o termo “recitar”.

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Documentário da periferia do Recife será exibido em Paris e Chicago

O documentário Elos da Matriarca, produzido pelo estudante do curso de Cinema da UFPE, Thor de Moraes Neukranz, foi selecionado para a 17ª edição do Festival Brésil en Mouvements, que começa hoje (1) e segue até o dia 3 de outubro no Cinéma Les Parnassiens, em Paris. A produção também foi selecionada para o First Nations Film and Video Festival, que em Chicago, nos Estados Unidos. Esse evento acontecerá entre os dias 1 a 10 de novembro. O documentário usa imagens de arquivo da família do seu diretor e foi filmado no bairro de Água Fria, nm Recife, onde ele vive. O filme é o trabalho de conclusão do curso de Neukranz, que nesta obra mistura técnicas e estéticas audiovisuais. Elos da Matriarca retrata a avó de Neukranz, Luzinete Lupercina, ao longo de 25 anos, abarcando das animadas festas da família na década de 1990 até a dramática luta contra a pandemia de hoje. As cenas de 2020 foram filmadas com o celular do cineasta, sem o auxílio de nenhum outro equipamento audiovisual. A produção independente também não contou com apoio de recursos públicos ou privados. Recentemente a obra foi selecionada para o 14º Encontro de Cinema Zózimo Bulbul, do Rio de Janeiro, e o 11ª Circuito Penedo de Cinema, de Maceió, em Alagoas. Também está na programação de exibições do documentário o 14º Ciné-Brésil que acontecerá na Maison internationale de Rennes. Quem é Thor Neukranz?   Nascido em 1991 no Recife, Thor de Moraes Neukranz é filho de um imigrante alemão branco e uma brasileira preta. Os contrastes sociais e raciais sempre foram marcantes em sua vida. Viver por toda a vida em Água Fria, no subúrbio do Recife, inflamou seu olhar crítico. Após três anos estudando Engenharia Agrícola e Ambiental na UFRPE, em 2014 o recifense passou a fazer parte do Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco, que constrói o cineclube itinerante THCine. Assim começou a engajar-se na análise de documentários para a curadoria do grupo e a fazer cursos relacionados à produção audiovisual, deixando a engenharia. Em 2016 formou-se documentarista através da oficina da escola de cinema francesa Ateliers Varan feita no Recife. No projeto realizou o documentário Dibuiar, que foi selecionado para as edições de 2017 do DOC-Cévennes e do Festival Brésil en Mouvement, mesmo ano em que o pernambucano ingressou no curso de Cinema da UFPE.

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quiabo

Quiabo: sabor africano

O quiabo, como o jiló, é um ingrediente cuja a preferência e uso culinário é pessoal e passional. Quem gosta de quiabo tem que gostar da sua baba, porque quiabo sem baba não é quiabo. E assim também é com o jiló, com o seu “amargoso” inconfundível, senão não é jiló. O quiabo é uma leguminosa muito popular que é o tema de inúmeras receitas, e as mais tradicionais sempre dizem: quiabo tem que ter baba. Particularmente, eu gosto muitíssimo da baba do quiabo, que é uma marca da leguminosa, e que caracteriza as suas receitas. O quiabo faz parte da culinária do cotidiano e das festas de matriz africana com as chamadas comidas moles. Tanto o quiabo quanto o jiló vêm do continente africano, e consequentemente têm uma forte presença na mesa baiana. Tais como outros produtos africanos como: o azeite de dendê; o lelecum e o bejerecum para temperarem doces; o ataré ou pimenta da Costa, um tipo de pimenta seca. O quiabo é também conhecido como quigombó, gombô, entre outros nomes em línguas africanas. O seu uso estende-se do Brasil ao Caribe, além de outras localidades com presença afrodescendente expressiva, como é o caso de Nova Orleans, Estados Unidos. O quiabo está no clássico caruru inundado de dendê; nas quiabadas enriquecidas com camarões defumados e embutidos; e estes pratos são normalmente acompanhadas de pirão de leite ou com muita farinha de mandioca. O quiabo também integra a receita do tão conhecido molho Nagô, importante complemento do acarajé e do abará. Ainda, faz-se com o quiabo uma comida ritual muito semelhante ao caruru, que é o amalá, isso na tradição afro-brasileira, com muitos quiabos e pimentas. Todas essas receitas trazem uma comida com viscosidade, e a baba do quiabo caracteriza e dá identidade para esses pratos que podem ser acompanhados por arroz branco, acaçá branco, bolas de inhame; ou recoberto com farinha de mandioca. O amalá é servido àqueles que frequentam, nas quartas-feiras, dia de Xangô, os candomblés da Bahia como, por exemplo, o Ilê Axé Opô Afonjá; e é nessa comensalidade que o sagrado também se manifesta. É a celebração da comida como uma homenagem a este orixá. Adoro quando os quiabos estão bem verdes, novinhos, especialmente se foram escolhidos um a um, conforme a maneira tradicional de se comprar, ou seja, quebrando a pontinha do quiabo. Assim, verifica-se sua qualidade para que haja um bom desempenho da receita, e para que os preparos sejam saborosos, e os temperos possam imperar, pimentas frescas ou secas, gengibre, dendê, além dos camarões defumados . Creio que há um bom cardápio de comidas verdes na tradicional cozinha baiana com ingredientes como quiabo, jiló, maxixe, bredo, folha de taioba, folha de mostarda; maniçoba, na forma de “bolas verdes” feitas das folhas da mandioca já bem cozidas. E o verde também estas nas folhas usadas para embalar preparos como a pamonha de carimã, a moqueca de folha. O verde da folha indica o tipo de receita e a sabedoria de cozinhas artesanais. Ainda, nas chamadas “comidas verdes”, há o maturi, a castanha do caju bem verde, usada para preparar deliciosas moquecas ou frigideiras. A gastronomia tradicional de matriz africana é ampla e rica. E se vive nos quiabos as delícias das comidas moles, com “baba”, porque cada ingrediente tem uma marca, um sentido visual que caracteriza cada receita. O quiabo é um tema da mesa de matriz africana, e ele é tão marcante quanto o dendê, o camarão defumado, entre outros ingredientes que determinam estilos e linguagens culinárias que particularizam os rituais sociais da alimentação nas bases do que entende por etnoalimentação.

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Contos da Borborema e arredores

*Por Paulo Caldas No universo das Letras, Campina Grande concebeu nomes respeitáveis: Dione Barreto, Bráulio Tavares, Jessier Quirino, José Teles e Orlando Tejo, para citar só um quinteto que beijou as flores da Serra. Fernando Ribeiro de Gusmão, outro galo de campina, demonstra o mesmo apelo dos conterrâneos e, tal os tropeiros da Borborema, tem as alpercatas gastas pelo piçarro das trilhas. Nos escritos dedica-se ao conto, gênero insurreto ao império da verborragia, conforme lembra, enfático, Edgar Allan Poe. Este “Contos da Borborema e arredores”, traz duas cancelas expressivas: a da escritora Lourdes Rodrigues, expert na condução de claricianos, e a de Fernando Pessoa, não o do além mar, mas o do aquém, o das Pedras que cantam por aqui. A leitura seduz desde “A rosa de Taperoá” e outros textos que vestem a trama do realismo mágico revelado por um certo Senhor Guarda-Roupa ou que desnudam protagonistas insólitos, em histórias tanto hilárias quanto curiosas, surpreendentes: Frei Chiquinho, O amarelinho cearense (de ascendência chinesa) e a prostituta Dandara. A publicação traz o selo da Editora Nova Presença, projeto visual de Ricardo da Cunha Melo e impressão da Luci Artes Gráficas Limitada. Os exemplares podem ser adquiridos na internet Amazon. *Paulo Caldas é escritor

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