Arquivos Cultura E História - Página 349 De 374 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Cultura e história

Os 6 passos de nossa cerveja de cada dia (por Rivaldo Neto)

A produção de cervejas vem ganhando diariamente cada vez mais rótulos e com isso invadindo o mercado e diversificando estilos e ganhando cada vez mais novos adeptos e amantes da bebida. Esse momento especial que vive o mercado se dá muito pela mudança de comportamento dos consumidores que ao se depararem com cervejas especiais, importadas, com melhores insumos e, consequentemente, fazendo com que nosso paladar fique mais apurado e exigente. Mas você sabe quais são os passos básicos para a produção de uma cerveja? São 6 passos que que vamos descrever abaixo para que nós, amantes da bebida possamos ter uma noção básica e assim conhecê-los. 1 – Maltagem: Antes de seguir para o processo de produção, os grãos passam por um outro processo que damos o nome de maltagem. O açúcar presente nos grãos serve de alimentos para as leveduras durante o processo de fermentação. Esses açúcares ficam presos nas moléculas de amido e daí os grãos são levados ao malteador e molhados. Depois a mistura é aquecida lentamente para assim estimular a germinação. Quando a semente dá os primeiros sinais de que vai crescer, o amido é quebrado em uma substâncias mais simples. Posteriormente após essa fase a germinação é interrompida para o malte secar. Ele é colocado no forno e quanto mais aquecido for, mais escuro se tornará o malte.   2 – Moagem: Nessa outra fase da produção, já na cervejaria os grãos de cevada e outros cereais (os quais depende da cerveja que se quer produzir), são triturados para obter o grist (grão quebrado). Essa quebra facilita a liberação dos açucares no momento em que for molhado, durante o processo da brassagem. A escolha dos grãos é muito importante, eles que irão determinar o teor alcoólico, cor da bebida e o seu sabor. Maltes claros, torrados em temperaturas baixas dão origem as cervejas de baixa fermentação (Lagers, Pilsens...), já grãos com mais torra e escuros dão origens as cervejas da alta fermentação (Ales, Stouts, Porters...).     3 – Brassagem: Tem também o nome de mashing e quando o grist se mistura com a água quente no recipiente para produzir o mosto, que é como se fosse uma papa e que deve descansar durante algum tempo. No momento em que descansa o calor da água no malte libera os açucares. Isso é a brassagem propriamente dita. Podendo ser feita por infusão, como nesse caso, como pode ser também por decocção, que é o quando alguns cervejeiros retiram um pouco do líquido, passando para outro recipiente e esquentam em temperaturas bem mais altas. E logo depois devolver ao mosto. Quando as temperaturas são mais altas, se extraem açúcares mais doces e com mais complexidade. 4 – Cozimento: Logo depois da brassagem, o mosto, que a essa altura está rico de açucares, é coado através de um fundo de resíduos de grãos. Enquanto o mosto vai saindo, os grãos são lavados com água quente e liberam o que se resta de açúcares. E depois é fervido. É nesse processo que muitos cervejeiros incluem mais lúpulo, em um processo que chamamos de dry hopping. Este processo também impede a atividade bacteriana.       5 – Fermentação: Após o processo de cozimento e o mosto coado e o lúpulo residual removido e os demais ingredientes também, então se dá um banho de serpentina rapidamente para esfriar. Após o resfriamento do mosto, o mesmo é posto no tanque de fermentação. A temperatura posta no tanque de fermentação irá ter uma importante finalidade e por isso deve-se ter bastante cuidado nesse processo, pois se for alta demais o fermento morre, se baixa demais levará tempo para agir. Essa é a fase mágica da transformação, onde são incluídas as leveduras. O fermento se alimenta dos açúcares e produzem dióxido de carbono, álcool e milhões de novas células de fermento. É comum as cervejarias terem suas próprias cepas e as reutilizarem sempre que desejarem.   6 – Maturação: Com o final da fermentação, o que muitos chamam de “cerveja verde”, o fermento é removido do líquido posto em outro recipiente para maturar e evoluir com o tempo, causando assim uma fermentação secundária das leveduras restantes e os sabores e aromas começam a se sobressair. O tempo desse processo é variável. Depois disso ela pode ir para o envase em barril, lata ou garrafa. Daí a bebida é levada para filtrar e pasteurizar ou não, dependendo do que se quer atingir e o objetivo do tipo da cerveja produzida, como seus estilos ou subestilos.         MUNDO CERVEJEIRO O bairro da Madalena ganhou um novo espaço para os amantes das boas cervejas. A Ponto Capunga Conveniência conta com uma pequena Beer Cave com serviços de bar e petiscaria. Um espaço agradável e bem localizado, excelente para um bom happy hour. Endereço: Ponto Capunga Beer Conveniência - Rua José Osório, 153 – Madalena    *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e apreciador de boas cervejas nas horas vagas

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Federação que poderia ter sido (1817-1824)

O Brasil poderia ter sido uma original e autêntica federação. A Revolução Pernambucana (1817), com seu ato final sequenciado na Confederação do Equador (1824), antagonizou o contraponto federalista durante o processo de emancipação do Brasil de Portugal (1822). A radicalização política inviabilizou o pacto constitucional federal ou qualquer outro. Dissolvida a Constituinte (1823), o Estado brasileiro foi fundado goela à baixo (1824), outorgado, centralizado, endividado e regionalmente fraturado. O projeto federalista perdeu na marra, e há dois séculos nos tem sido vendida a poderosa narrativa dos vencedores: o Brasil só é o que é, do tamanho que é, exuberante como é, com a mesma língua, e sendo o país do futuro que sempre foi, porque sua unidade foi conquistada, com mão firme, pelos pais fundadores da pátria; convinha massacrar e apagar a memória dos movimentos separatistas que, a exemplo das ex-colônias da América espanhola, teriam provocado a divisão do território brasileiro entre diversas repúblicas caudilhistas. Essa orgulhosa versão patriótica pegou, mas, em pleno bicentenário da Revolução Pernambucana, e às vésperas do bicentenário da Independência do Brasil, já passou da hora de revisitar, repensar e recontar essa história: havia um projeto federalista alternativo. Era “a outra Independência”, na distanciada visão do imortal Evaldo Cabral de Mello; conduzida pelos “bispos sem papa”, no engajado proselitismo luso-brasileiro de José Bonifácio de Andrada e Silva. O Brasil poderia ter sido uma monarquia constitucional federal, integrada pela união das províncias regionais autônomas do nascente território brasileiro, com maior equilíbrio na divisão político-econômica entre o eixo central da Corte e os demais eixos regionais periféricos. O processo político, liderado por D. Pedro I e José Bonifácio, enveredou para a radicalização: separatista e republicana, nas províncias do “Norte”, lideradas por Pernambuco; centralizadora e autoritária, no eixo central hegemônico da Corte imperial; a alinhada elite política do eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais sagrou-se vencedora. O fato de um legítimo projeto federalista ter sido vencido no nascimento do Estado brasileiro explica muito das nossas marcas. Em arriscada síntese de dois séculos: Pernambuco perdeu Alagoas e o Oeste Baiano, enredando-se numa longa decadência refletida na sua participação relativa nas atuais estatísticas nacionais; o Norte e o Nordeste brasileiro também ficaram bem atrás do centro político-econômico; e o Brasil conseguiu, com instituições políticas já esgarçadas, tornar-se república e federação apenas no papel (desde 1891), fracassando no projeto de criar um imenso mercado comum nacional, integrado em um território de dimensão e diversidade continental, com equilíbrio espacial e pessoal da sua riqueza. Nosso DNA político, os objetivos nacionais mal resolvidos e as escolhas postas ao Estado brasileiro durante sua história ganhariam considerável senso de clareza cívica se os eventos ocorridos entre 1817-1824 fossem popularizados em uma linguagem atual. Como o mineiro Tiradentes e o português-carioca Dom Pedro I, Frei Caneca também merece uma minissérie global. Não faltariam drama e comparação com nosso quadro político contemporâneo. Não apenas bandeira e a tradição libertária pernambucanas nos foram legados entre 1817-1824. Entre a espada desembainhada do Leão Coroado e a execução de Frei Caneca, um genuíno sentimento federalista emergiu e foi asfixiado. Contra a centralização autoritária e populista, a irresponsabilidade fiscal da Corte sediada no Rio de Janeiro e o desequilíbrio regional na divisão política e econômica do Brasil. Nosso destino no século 21 dependerá muito do sucesso dessa retomada da consciência federalista perdida. Já perdemos duas décadas.

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Novo filme de M. Night Shyamalan chega aos cinemas (Por Wanderley Andrade)

É fato que, na indústria do cinema, altos orçamentos não garantem bons filmes, nem sucessos de bilheteria. Às vezes, sujeitar-se às amarras dos grandes estúdios pode trazer marcas difíceis de apagar à carreira de um diretor. "Difíceis de apagar, não impossíveis", pode dizer hoje M. Night Shyamalan, diretor indiano que, após lotar salas de exibição com os filmes Sexto Sentido (1999) e Corpo Fechado (2000), envolveu-se em projetos caros e ruins, como os criticados Fim dos Tempos (2008) e Depois da Terra (2013). O retorno a boa fase aconteceu em 2015, com o surpreendente A Visita. Detalhe: um filme de baixíssimo orçamento, considerando os padrões hollywoodianos. Custou US$ 5 milhões, faturando mais de US$ 90 milhões. E nesta quinta-feira estreia nos cinemas brasileiros o novo filme do diretor: Fragmentado, produção que se tornou febre nos EUA, liderando as bilheterias por três semanas consecutivas.   Fragmentado também teve baixo orçamento, na verdade custou pouco mais que A Visita: US$ 9 milhões. Para termos uma melhor noção da boa recepção, nas três primeiras semanas de exibição nos EUA, o filme somou cerca de US$ 98,4 milhões. O longa conta a história de Kevin (James McAvoy), um homem que sofre de transtorno dissociativo de identidade, problema que leva o indivíduo a ter múltiplas personalidades. No caso de Kevin, 23, para ser mais exato. Ele sequestra três adolescentes, que farão de tudo para tentar escapar de um possível fim trágico. James MacAvoy não decepciona, mesmo com um desafio de tamanha proporção. Interpretar um personagem tão complexo não deve ter sido tarefa simples. E pensar que, antes de MacAvoy, Joaquin Phoenix era o ator mais cotado para o papel. Outra personagem de grande importância para a trama é a Dra Fletcher, psicóloga de Kevin, interpretada com excelência por Betty Buckley. É através dela que nos aprofundamos nas múltiplas personalidades do antagonista. Para os papéis das adolescentes Claire, Marcia e Casey, foram escaladas, respectivamente, Haley Lu Richardson, Jessica Sula (bem fraquinhas, por sinal) e a boa atriz Anya Taylor-Joy, mais conhecida por sua atuação no filme A Bruxa. M. Night Shyamalan entrega ao público personagens complexos, muito bem construídos. Além do próprio Kevin, outra que chama a atenção é Casey, que já no início do longa recebe das amigas o estigma de problemática. Descobriremos, no decorrer da história, que por trás de seu mau comportamento há um difícil segredo do passado que poderá, inclusive, selar seu destino na trama. A boa montagem interpõe à narrativa principal flashes de momentos vividos por Casey ainda criança, da traumática relação com o tio. A opção amarra bem o roteiro, evitando possíveis pontas soltas na história. Com Fragmentado, M. Night Shyamalan mostra que definitivamente está de volta à boa forma, que ainda não perdeu o jeito de surpreender o espectador, nem o fôlego para trazer às telas grandes thrillers. *Por Wanderley Andrade é jornalista e crítico de cinema (7wanderley@gmail.com) LEIA TAMBÉM Cinema argentino na Netflix  

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O traduzir dos sentimentos em Lunátipos

André de Sena é um desses autores que discorre sobre cenários e personagens com absoluta precisão. Em seu livro de contos Lunátipos - Edições Bagaço – 2014, é patente a observação. No conto História de Mar, por exemplo, assim destaca o protagonista em dado momento da narrativa em primeira pessoa: “Quando criança, eu descobri que de qualquer lugar da cidade poderia ver o mar. Aos poucos ele passou a olhar mais para mim do que eu a ele, gigantesca hidra cujos tentáculos de rios dominam a cidade e se espraiam pelo interior das residências e fui me incomodando com isso até ser envolvida pela gaze escura do medo”. Aqui combina com sutileza símile e metáfora com total consciência.   Ainda em História de Mar, adere ao imaginário discursando sobre sonhos assustadores, quando a colocação de cada palavra vislumbra sua função e o efeito compatível com a poética desejada. “Há uma estranha visão de cidades antigas e clássicas, templos de mármore que servem de âncoras para galeões que descansam mansamente no mar, atracados às suas colunas por pesadas cordas, sugerindo contraditoriamente ao espírito uma sensação de extrema inquietude... Observo o movimento intenso, mas tranquilo, desses portos luxuriantes e as ondas não são ameaçadoras; antes borrifam os degraus de mármores a brincar como crianças... Mas um sentimento opressor toma vulto vindo talvez daquele próprio lugar, que sinto já ter realmente existido”. No conto Ilha de Cipango, ao lado do personagem Tomás, percorre as alamedas do inusitado com vontade de abraçar o horizonte: “Agora todas as coisas são nossas e só com o nosso desaparecimento deixarão de existir. Sinto a ilusão entre os dedos, acaricio árvores, encho a mão com grãos de areia, movo o braço dentro das ondas, tal o médico que estuda a anatomia de Deus”.   Mas é em Lunátipos, conto que dá título ao livro, que Sena anda de mãos dadas com o fantástico e nos apresenta o melhor de sua verve ficcional, exercitando criatividade na concepção dos peixes-monstros, com feitio feminino, habitando um cenário que alterna ondas encrespadas, odores de mangue, com ventos gélidos paridos nas noites de uma praia inóspita. A escrita nos envolve tal serpente malfazeja, mas que se torna cúmplice das expectativas do leitor. Num dos trechos também dá as mãos à loucura imaginosa: “Nesse dia estive no inferno... Após destruir aqueles monstros, comecei a correr pelo terreno perigoso dos arrecifes, sem sentir mais dor alguma... mas as chuvas e furiosas ondas lavavam minhas feridas... Tive a impressão que outras entidades me seguiam para me destruir, emitindo sons inexplicáveis. O oceano inteiro estava contra mim e não sei se era o vento responsável por aquelas notas”.   *Paulo Caldas é escritor

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Ser geek é indicar tecnologia para amigos e família

Qual o Geek que nunca deu conselhos sobre compras tecnológicas para parentes e amigos? Na hora de trocar de celular, câmera, computador, você sempre é o escolhido. Eu, particularmente, adoro passar dicas. A gente não consegue comprar tudo, não é mesmo? Indicar um produto é uma boa ação e uma forma legal de recebermos novas informações sobre as tecnologias através dos depoimentos dos novos usuários. Mas o que indicar? A primeira dica é: “Não é para você”. Como apaixonados por tecnologia que somos, nossa tendência é pensar logo nas melhores configurações de computadores, no celular mais poderoso, na câmera com maiores opções e oferta de lentes. Mas, lembre-se, as necessidades do seu amigo ou parente podem não ser iguais às suas. Muitas vezes, um notebook mais leve é uma opção melhor do que ter placa de vídeo dedicada, monitor em 4K. Um celular com uma boa câmera frontal, ou melhor portabilidade, pode ser uma opção mais viável para seu amigo que ama selfies. Uma câmera automática pode ser o pesadelo para você, mas exatamente o que seu amigo precisava. Pensando nisso, fizemos uma lista com algumas sugestões de computadores para você indicar ao seu amigo que não costuma ficar por dentro do universo tecnológico. Quer mais dicas? Nas próximas edições da Pernambuco Geek, você poderá acompanhar a lista de câmeras, tablets e celulares. Central Multimídia É cada vez mais comum o uso de computadores como centrais multimídia. A pessoa pode resolver seus problemas simplesmente instalando um Google Chromecast em sua TV, mas, para outros, ter um dispositivo com uma gama maior de opções pode dar a flexibilidade necessária. Nesse caso, você pode formatar aquele notebook velho, que está sem uso, para rodar filmes, músicas, e até conferir aquelas fotografias que nunca saíram do seu HD Externo. (Um dia, revelo essas fotos!). Não tem um notebook antigo dando bobeira ou quer um dispositivo novo? Dê uma olhada nos mini PCs. Dependendo da configuração (ver vídeo abaixo), essa opção também é superlegal para quem tem pouco espaço na bancada. Alguns modelos deixam acoplar o PC na parte traseira do monitor, transformando em um All In One. Existem ainda modelos mais simples, como o Intel Compute Stick, com configuração para rodar arquivos mais leves. Os preços variam de R$ 600 a R$ 4.000. Notebook Portátil Há uns anos, vimos o estouro dos netbooks e ultrabooks. Os primeiros foram rapidamente esquecidos diante do sucesso do segundo grupo. Aos poucos, fomos nos acostumando a não ter leitores de CDs e DVDs. Hoje, tudo está na nuvem. Os avanços tecnológicos diminuíram os componentes ao ponto de termos computadores que aguentam todas as tarefas rotineiras (até edição de vídeos) e pesam menos de 1kg. Se você tem dinheiro sobrando ou é um apaixonado pela Apple, vai sem medo. O MacBook tem um ótimo desempenho e portabilidade. (Além de ser lindo). Se quiser um notebook para aguentar uma rotina pesada, tem ainda modelos da HP, Samsung, Dell e Asus, mas os preços também não são lá muito atrativos. Quer economizar? Vai usar para navegar na web e editar arquivos na nuvem? Os Chromebooks têm ganho cada vez mais adeptos, apesar de não oferecerem tudo que seus concorrentes têm.             Notebook Gamer A redução do tamanho dos componentes teve impacto também no universo gamer. As placas de vídeo portáteis estão cada vez mais robustas, se aproximando do desempenho de desktops. Provavelmente, se você quer realmente jogar tudo no seu PC, a solução seja montar uma torre. Mas, para grande parte das pessoas, rodar em uma configuração menor ou jogar alguns jogos indies pode ser o suficiente. No momento, com uma placa 960M, da Nvidia, você consegue jogar praticamente todos os jogos em uma configuração razoável. É pensando nelas que indicamos o modelo abaixo.

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A história de um vigário

No Recife Antigo, centro econômico brasileiro em parte do século 19, existe uma rua chamada Vigário Tenório. Lamentavelmente, poucos sabem quem ele foi. Para começar, defina-se que a palavra vigário define o religioso que, investido dos poderes de outro, exerce em seu nome suas funções. No uso informal, porém, de forma nada airosa, vigário é quem trapaceia, faz velhacaria, é vigarista, enfim. Tanto que na música Tamo aí na atividade (sic), a banda Charlie Brown Júnior canta Eu nasci pobre mas não nasci otário. Eu é que não caio no conto do vigário. Quer saber o porquê da expressão conto do vigário? Conta-se que no século 18 havia uma disputa entre os vigários de duas paróquia de Minas Gerais por uma imagem sacra. Um deles, então, para pôr fim à disputa, propôs amarrar a santa a um burro que estava solto na rua, exatamente entre as duas igrejas. A paróquia para a qual o burro fosse ficaria com a imagem. Assim foi feito. Logo depois, porém, descobriu-se que o burro pertencia ao vigário da igreja vencedora. Foi aí que a expressão conto do vigário, passou a ser sinônimo de embuste, mas o que você vai ler a seguir não é ficção, não é conto. É pura história. História do Brasil, do heroico vigário Tenório. Em 1817 eclodiu a Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução dos Padres. Um ano antes houvera uma grande seca no Estado, causando queda na produção do açúcar e do algodão que sustentavam a economia, o que redundou em miséria para grande parte da população. Faltavam farinha e feijão. E tendo a fome como conselheira, a revolta se tornou inevitável. É ai que entra em cena um dos mais valorosos e destemidos homens da nossa história: O padre Pedro de Souza Tenório ou mais notadamente o vigário Tenório. Educado na Universidade de Coimbra, Portugal, designado para a paróquia da vila de Nossa Senhora da Conceição, hoje Vila Velha, em Itamaracá, ali ele revolucionou não só a prática pastoral, mas a agricultura, com as mais modernas técnicas agrícolas, e implantando novas culturas de cana-de-açúcar e máquinas revolucionárias para a época. Acontece que a revolta foi descoberta, e toda a guarnição do forte se preparou para a guerra. O padre Tenório, por sua vez, cercou o forte com os paroquianos e uma pequena tropa vinda em seu auxílio. Só que enquanto fazia o cerco, relata o romance A Noiva da Revolução, o vigário Tenório mandou perguntar se o comandante do Forte Orange estava contra ou a favor do novo governo, e a resposta foi que “quem quisesse saber fosse lá indagar, pessoalmente...” Ele foi. Sozinho. Arrostando todos os riscos. Rendeu toda a guarnição portuguesa e deu voz de prisão ao juiz de Goiana, ali refugiado, obrigando-o a bradar “viva a revolução, viva a pátria e viva a liberdade!” Motivados pelo exemplo, os revoltosos dominaram os demais distritos, todavia, meses depois, o movimento foi sufocado, resultando em severa punição dos seus líderes. Pedro de Sousa Tenório, vigário de Itamaracá, sofreu o mais abjeto vilipêndio. Foi enforcado, teve a cabeça decepada, as mãos cortadas, o corpo amarrado a dois cavalos e arrastado pelas ruas do Recife, transformando-se em um mártir da liberdade do Brasil. Sua cabeça e as mãos foram pregadas em um poste da Vila de Goiana, até caírem, e em seguida depositados na Igreja da Misericórdia naquela Vila. O que restou do corpo atrelado aos cavalos foi sepultado no cemitério da igreja de Santo Antônio, no Centro do Recife. Nascido em 29 de junho de 1779, Pedro de Sousa Tenório, o Vigário Tenório, foi morto em 10 de junho de 1817, aos 38 anos de idade. Por tudo o que ele foi, por sua luta, por sua bravura, por seu martírio, ele é muito mais do que uma rua estreita do Recife Antigo. Ele é um exemplo que não pode desaparecer da memória dos pernambucanos. *Por Marcelo Alcoforado

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Ele acordou (por Joca Souza Leão)

Ó só o filme qu’eu vi na TV outro dia. Pra variar, não sei o título. Quando zapeei, já tava rolando. A história de um cozinheiro, melhor, chef, inglês. O bonitão, aí na faixa dos trinta e alguma coisa, três estrelas do Guide Michelin, fazia o maior sucesso com um restaurante chic em Paris. Mas, aí, pira. Álcool e drogas. Perde tudo. Grana, estrelas e restaurante. Vai tudo pro vinagre. Nova York. Subempregos para manter álcool e pó. Vira, entre outras coisas, fritador de hambúrgueres no Madison Square Garden. E come o pão que o diabo amassou. Fundo do poço. Até que pinta sua última chance. Londres. Como nos filmes clássicos Os sete samurais e Sete homens e um destino, reúne os melhores profissionais de cada especialidade. No caso, os cães chupando manga da haute gastronomie. Da sous-chef (uma francesinha por quem ele se derrete) ao chef de partie, passando pelos bambas em molhos e salteados, grelhados, peixes, canapés, sopas, massas, doces e confeitaria. No salão, gerente e maitre pra restauranter nenhum botar defeito; sommellier francês, barman inglês, garçons e commis do ramo, até os stwards, responsáveis pela limpeza e montagem dos equipamentos, eram os melhores e mais bem pagos da cidade. Ia “tudo bem, muito bem, bem, bem” – como diria Arrelia. Té que, um dia, ficam sabendo da iminente visita secreta ao restaurante de um avaliador do Guide Michelin. E a cozinha vira um pandemônio. O chef tem um acesso de fúria e estrelismo, grita e xinga todo mundo; até a francesinha, namorada e subchefe, joga pratos e panelas pra todo lado. Caos total. E o pior de tudo (ou melhor?) é que a visita secreta do Michelin gorou, o cara não foi naquela noite nem nada. Bem, o filme vai por aí e, no final, apesar de não ser filme americano, termina tudo às mil maravilhas. Você já deve ter visto, caro leitor, esses programas de televisão com chefes paulistas famosos julgando candidatos a cozinheiro, né? Nunca entrei na cozinha de um restaurante famoso, mas sempre achei que esses chefes tentam temperar suas cozinhas com a grosseria de lendários chefs internacionais, sobretudo franceses. Em alguns momentos, verdadeiros carrascos. Esporro pra todo lado. Comentários humilhantes. E os pobres coitados dos pretendentes a cozinheiro, geralmente pessoas simples, submetem-se a tudo e ainda têm que lutar contra o tempo exíguo marcado por um relógio implacável. Quanto mais arrogante e autoritário aparentar o chefe diante das câmeras, mais o sacripanta pretende que a gente acredite qu’ele é um dos gênios da milionária cozinha paulistana. Há muitos anos, fui visitar minha tia Odete, Dedé, na casa dela no bairro do Zumbi (hoje, tudo ali é Madalena). Dedé estava de cócoras diante do forno, furando e regando um assado, com toda a paciência do mundo: “É um pernil, meu filho. Mas ele tá tão tristinho.” Fomos conversar no terraço. De instante em instante, ela levantava e ia à cozinha furar e regar o pernil. De lá, ouvi sua voz emocionada: “Joca! Ele acordou!” 17Comida feita com raiva pode dar fama e dinheiro a quem a faz, mas deve fazer mal à barriga da alma de quem a come. A comida de Dedé era a melhor comida do mundo porque ela era cozinheira de verdade, gostava de cozinhar e cozinhava com amor. Não era chefe de nada nem de ninguém. Era amiga de Maria Pequena, a cozinheira da casa. E assim foi servido o delicioso pernil naquela noite de Natal. E, de sobremesa, modéstia à parte, uma bela fatia de Bolo Souza Leão. Pra gente, na intimidade, o bolo de Dedé.

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O clichê do primeiro post

Chega a ser clichê o que se espera da primeira edição de uma coluna. O autor fala um pouco sobre ele, explica o motivo que o fez assinar este espaço, os assuntos que farão parte da rotina de tópicos discutidos ao longo da vida da coluna. Normalmente, fica para o final uma pequena amostra do que o leitor pode esperar. Consciente de que falar de um clichê é tão ordinário quanto o próprio, iniciemos pelo final. Todo Geek que se preze já leu alguma obra de Douglas Adams. Provavelmente, você já teve acesso a alguma edição da sua famosa série O Guia do Mochileiro das Galáxias. Se não, corra logo no seu Kindle ou em sua livraria favorita, sob a pena de perder a carteirinha de Geek por falsidade ideológica. Não à toa toda uma campanha criada há alguns anos definiu o Dia Nerd como o Dia da Toalha (se não entendeu, a resposta provavelmente está escondida em algum dos cantos do número 42). Gênio criativo que era, Douglas Adams trabalhou ainda como editor de roteiro da série britânica Doctor Who (conversaremos sobre ela em um futuro). Falecido em 2001, Douglas Adams representa um pouco do que nossa comunidade tanto ostenta. Personagens espertos, deslocados, temas complexos. Tudo isso destilado em um texto agradável, cheio de segundas intenções e ironias. Assim, não poderia deixar de estar presente nesta primeira coluna. Para os interessados em seus personagens, assistam à série Dirk Gently's Holistic Detective Agency, disponível no Netflix (veja trailer abaixo). Baseado em um livro de mesmo nome, o seriado já teve sua segunda temporada confirmada. Curiosamente, a obra original assinada por Douglas Adams data de 1987, ano de nascimento do autor desta coluna. E assim chegamos a mim. Meu nome é Ivo Henrique Dantas. Sou jornalista, geek nas horas vagas (e às vezes na minha profissão), mestre em comunicação e professor. Acho que você já percebeu o que poderá encontrar neste espaço. Todas as quartas-feiras, a gente vai conversar um pouco sobre livros, séries, filmes, jogos, tecnologia. Então, pegue sua toalha, e bem-vindo à Pernambuco Geek.    

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Cinema Argentino na Netflix (por Wanderley Andrade)

Duas indicações ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, uma estatueta na bagagem. Esse é o saldo em menos de sete anos do cinema argentino. Em 2010, o filme "O Segredo dos Seu Olhos" levou o prêmio. Em 2015, "Relatos Selvagens" foi indicado. E se voltarmos um pouco mais na história, veremos que nossos vizinhos levaram em 1985 outra estatueta. O ganhador da vez fora o longa "História Oficial". Alguns nomes do cinema argentino se destacam, como os diretores Juan José Campanella, Daniel Burman e Pablo Trapero e atores como Ricardo Darín e Norma Aleandro (indicada ao Oscar em 1985). E nossos hermanos continuam produzindo bons filmes. Se você ainda não assistiu a algum, uma boa opção seria recorrer aos serviços de streaming. Para facilitar sua busca, indico aqui duas produções que encontrei na Netflix. Agora é só pegar a pipoca! Elefante Branco (2012) Dirigido por Pablo Trapero, diretor argentino indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes por Leonera (2008) e ganhador do Leão de Ouro de melhor diretor no Festival de Veneza por O Clã (2014), Elefante Branco trata de assuntos bem comuns aos brasileiros, como o crescimento desordenado das favelas, o tráfico de drogas e o consequente aumento da violência. No filme, Elefante Branco é o nome de um prédio construído na década de 30, projetado para ser um dos maiores hospitais da América Latina. Após passar por problemas, como o golpe de 55 na Argentina, a obra fora abandonada, transformando-se em moradia para dezenas de famílias e abrigo para viciados. Nesse cenário está o padre Julián, interpretado por Ricardo Darín. Sua influência na comunidade não se resume às celebrações das missas e batizados. Com a ajuda da assistente social Luciana (Martina Gusmán) auxilia os moradores em questões ligadas à falta de moradia e problemas relacionados às drogas. Até que Julián descobre que sua saúde não vai bem e terá que procurar alguém para o substituir. É quando entra na história o padre francês Nicolás, interpretado pelo ator belga Jérémie Renier. Nicolás traz consigo o trauma de quase ter morrido num massacre durante um trabalho missionário no Amazonas e de ter perdido vários amigos. A ida à Argentina representará não apenas um recomeço, mas também oportunidade para apagar o remorso por não ter feito algo que evitasse essas mortes. Elefante Branco tem um bom roteiro, com protagonistas complexos, bem construídos. Destaco a boa atuação de Jérémie Renier, que consegue imprimir na tela todo o drama interior vivido por Nicolás. Seu personagem precisará enfrentar, além dos traumas do passado recente, o conflito entre o celibato e sua paixão por Luciana. Tese Sobre um Homicídio (2013) Mais um filme com Ricardo Darín. Desta vez um thriller. O ator interpreta o professor de Direito Criminal Roberto Bermudez. Sua rotina começa a mudar quando uma mulher é encontrada morta na faculdade em que leciona. As circunstâncias e detalhes relacionados ao homicídio levam Roberto a crer que o autor do crime seria um de seus melhores alunos, Gonzalo, vivido por Alberto Ammann. A trama é ancorada na busca (meio paranóica) de Roberto por provas de que Gonzalo é realmente o culpado. Para isso, aproxima-se de Laura, irmã da vítima, interpretada pela bela atriz Calu Rivero. O diretor Hernán Golfrid consegue conduzir a história muito bem, sustentando o suspense até os minutos finais, a ponto de levar o espectador a suspeitar de todos, inclusive do próprio Roberto. Difícil não falar da boa atuação de Ricardo Darín, que mostra no filme por que é considerado um dos principais atores do cinema argentino. *Por Wanderley Andrade é jornalista e crítico de cinema (7wanderley@gmail.com)

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João Bosco e Danilo Caymmi se apresentam no Teatro de Santa Isabel

O Canto Brasil traz para o Recife cantores renomados da Música Popular Brasileira. Os shows de Danilo Caymmi, no dia 15 de março, e João Bosco, dia 31 de março, serão realizados no charmoso Teatro de Santa Isabel. Os renomados ícones da MPB farão única apresentação e os ingressos são limitados. A abertura dos shows dá espaço para os nomes pernambucanos Cláudia Beija e Henrique Macedo. O projeto pernambucano Canto Brasil surgiu com o objetivo de construir um espaço permanente para fortalecer o intercambio de artistas nacionais consagrados e talentos da música pernambucana. A ideia é a cada mês trazer um músico diferente sempre com o show de abertura de algum artista local. Em março, Danilo Caymmi e João Bosco dão início ao projeto que deve seguir o ano todo. Danilo Caymmi – Cantor, compositor, flautista e arranjador, integrou a Banda de Tom Jobim em turnês nacionais e internacionais, participando da maioria dos arranjos. Compôs trilhas sonoras para novelas e seriados da televisão brasileira e participou de inúmeras gravações com grandes nomes da música. Barítono de uma família de vozes marcantes capaz de igualar-se ao baixo do pai Dorival Caymmi quando emposta a voz ou ao registro da mãe Stella Maris quando aveluda, Danilo é hoje um dos mais requisitados cantores da MPB. Com Tom Jobim, começou a cantar as músicas, “A Felicidade” e “Samba do Avião”, recebendo críticas no mundo inteiro, o que o estimulou ao trabalho solo. Na apresentação do Recife acompanhado ao violão por Davi Mello, músico também do grupo "Noites do Norte", interpretará músicas próprias como Andança, Casaco Marron, O bem e o Mal, sucessos do seu pai. João Bosco – Reconhecido e aclamado no mundo como um dos melhores artistas da nossa Música Popular Brasileira. Compositor, violinista e cantor, João Bosco é um fenômeno, sua melodia, seu ritmo e sua harmonia, além de censo de arranjos, ultrapassam os níveis aceitáveis pelos mestres. Seu violão, suas levadas antológicas por descreverem o ritmo brasileiro comprovam a diversidade de nossa ritma de maneira rica, sua voz alinha todo esse universo sonoro com modesta intervenção. Serviço: Danilo Caymmi Data: 15 de março de 2017 Local: Teatro de Santa Isabel Hora: 20h30 Show de abertura: Cláudia Beija Os ingressos começam a ser vendidos a partir do dia 3 de março na bilheteria do teatro e no site compreingressos.com com os seguintes valores: Plateia e frisas: R$ 100 e R$ 200 Camarotes: R$ 90 e R$ 180 Ingresso social: R$ 120 + 1kg de alimento. João Bosco Data: 31 de março de 2017 Local: Teatro de Santa Isabel Hora: 20h30 Show de abertura: Henrique Macedo

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