Formação superior para alavancar o cooperativismo

Formação é palavra-chave para alavancar a competitividade encontrada pelo cooperativismo pernambucano para atravessar a crise. Em Pernambuco, onde mais de 134 mil pessoas estão integradas em alguma cooperativa, a Organização das Cooperativas Brasileiras em Pernambuco (OCB-PE) decidiu nos últimos anos investir na oferta de cursos de pós-graduação focada na gestão, construindo cursos em parceria com instituições de ensino superior do Recife. A iniciativa já formou mais de 80 alunos que participam de alguma das 264 das organizações em funcionamento no Estado.

“O sistema OCB-PE tem investido bastante na formação das pessoas, colaboradores e dirigentes das cooperativas do Estado. Entendemos que só através da educação podemos mudar e criar um cooperativismo novo. Essa especialização que ora fazemos é no sentido de preparar mão-de-obra para melhor prestar o serviço de gestão e governança. E com isso as cooperativas poderem prestar o seu trabalho para os cooperados e para a sociedade que as rodeiam”, afirma Malaquias Oliveira, que preside o sistema.

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Malaquias projeta organizar uma Faculdade do Cooperativismo em Pernambuco

O dirigente afirma que a motivação de fortalecer a formação partiu do diagnósticos traçado pelo sistema de que havia uma governança ruim em várias cooperativas, resultado de dirigentes pouco preparados. “Muitos dirigente eram produtores rurais que tinham dificuldade de administrar a cooperativa como negócio. Nosso alunos vem de todas as cooperativas, em geral são dirigentes ou gestores que estão no dia a dia dessas organizações. Ao final do curso essa gente é devolvida as suas cooperativas para exercer sua atividade melhorada. Com isso acreditamos que podemos melhorar os processos e consecutivamente o desempenho”.

Um dos alunos recém-formados é Adailson Freire. Aos 74 anos, ele foi o vovô da turma, mas continua na ativa na Cooperativa de Prestação de Serviços (Coosepe), que funciona em Olinda, além de apoiar o funcionamento da Associação de Desenvolvimento Rural Sustentável da Serra da Baixa Verde (Adessu), uma organização cooperada que atua com a agricultura familiar em Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde, no Sertão. “Eu preciso estar atualizado e tinha evidentemente que passar por um nova formação. Apesar da idade avançada, tenho necessidade de estar no mercado. Não quero ser inútil a sociedade. Mas quero poder ajudar as pessoas que precisam, como da agricultura familiar”, revela os motivos por retomar as salas de aula.

No trabalho com os cooperados da agricultura familiar, Freire explica as adequações que a organização está passando para ganhar competitividade. “Eles tem uma unidade de produção de polpas e outra que fabrica açúcar mascavo e rapadura. Estamos fazendo um trabalho de adequação à legislação, através das diretrizes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Atualmente esses produtos são levados para a feira agroecológica de Serra Talhada. Queremos cada vez mais profissionalizar essa atuação da parte operacional para entrar em novos mercados”, explica.

Integrante da Cooperativa de Produtores de Leite do Cariri Paraibano (Coapecal), Gilberto Manoel Paixão é outro aluno recém-formado pela pós-graduação. Veterinário e licenciado em ciências agrícolas, ele buscou a especialização para se aprofundar na gestão das cooperativas. “Sou responsável pela qualidade do leite e sempre dou palestras aos agricultores e criadores. O curso me trouxe muita qualificação, que consegui assimilar informações relevantes para o nosso setor que levarei para quem está na ponta da nossa produção”, afirma.

A Coapecal desenvolve captação de leite em 21 municípios, contando com 462 cooperados e com 230 funcionários. “Completamos 20 anos de trabalho. Apesar de sermos uma cooperativa pequena de agricultores familiares, estamos hoje entre os grandes produtores da região em função da nossa qualidade e presença no mercado”, afirma. Com 67 tanques de captação de leite, a cooperativa faz uma logística com caminhões isotérmicos para receber o produto dos cooperados. Transporta o leite para a indústria, onde é testado antes de entrar no processo de fabricação. “Tudo o que é de aprendizado que tive no curso é importante e eu pretendo levar para essa cadeia produtiva, principalmente sobre gestão e governança.

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Produção da Coopex Vale

Além de oferecer as aulas e instigar a pesquisa, os alunos da pós-graduação encerram o ciclo de formação com uma viagem técnica para conhecer experiências bem sucedidas no Estado. Neste ano o grupo discente foi para a região do Vale do São Francisco onde visitou a  Coopex Vale (Cooperativa de Produtores e Exportadores do Vale do São Francisco), a Cooperativa Agrícola Nova Aliança (Coana), o Sistema de Crédito Cooperativo do Vale do São Francisco (Sicredi) e a Unimed da região. Apesar da crise, todas essas organizações, ancoradas por gestões bem profissionalizadas, tiveram crescimento de faturamento nos últimos anos.

 

A última turma formada pela iniciativa aconteceu em parceria com a Faculdade Marista. Os dois primeiros grupos estudaram na Unicap e na Faculdade Maurício de Nassau. O próximo passo que está nos planos da OCB-PE é de criar uma Faculdade do Cooperativismo em Pernambuco, para oferecer graduações, como já acontece em outros três estados brasileiros. “Estamos na fase de discussões para a criação de uma faculdade do cooperativismo em Pernambuco, com objetivo de ser uma faculdade para a região Nordeste. Talvez a partir do próximo ano já tenhamos isso mais elaborado. Nossa proposta é de termos um curso superior em cooperativismo com extensão, pesquisa e graduação, além da pós graduação”, explica o presidente do sistema OCB-PE, Malaquias Oliveira.

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Turma formada em 2017 agrega alunos de diversas organizações cooperativas da região

CENÁRIO NACIONAL DA FORMAÇÃO

No Brasil existem poucos cursos superiores em cooperativismo. Ligados ao sistema OCB foram criadas apenas três faculdades. A pioneira foi a Escola de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), em Porto Alegre (RS), fundada em 2011. Depois dela foram criadas a Faculdade de Ensino e Pesquisa em Cooperativismo (Fepcoop), em Cuiabá; e mais recentemente, ainda em 2017, a Faculdade Unimed em Belo Horizonte.

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Escoop/RS foi a primeira faculdade do cooperativismo do Brasil

O curso mais antigo em formação de cooperativismo, no entanto, é uma graduação na Universidade Federal em Viçosa. Reconhecido como Bacharelado em Administração com Habilitação em Administração de Cooperativas desde 1991, essa formação em uma história mais antiga, que remonta ao ano de 1975, quando foi organizado o então curso de Tecnólogos em Cooperativismo.

*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@revistaalgomais.com.br)

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