Relatei para alguns amigos, advogados, a ideia de criar um podcast para falarmos de fracassos. Trazer a conhecimento do público – especialmente os jovens advogados, na intenção de ajudá-los a não cometerem os mesmos erros – os reveses que tomamos ao longo da nossa vida profissional.
A intenção em relatar episódios malsucedidos ao longo da trajetória de cada um – quem não os possui? – poderia acender um farol para quem está no início dessa estrada esburacada, muitas vezes escura e dificilmente trafegável, chamada advocacia. Seria fundamental que jovens advogados entendessem a arcabuzada que é o exercício do direito. Nesse tiroteio, muitas vezes você fere, e outras tantas é ferido. Pode-se ir do mais cavo abismo às brancas nuvens num piscar de olhos.
Para minha surpresa tive pouca adesão. Advogados, infantilmente, não toleram que se ouça por aí sequer uma estalada das suas falhas, quanto mais um estrondo dos seus erros. Os causídicos desejam apenas o bramido de suas vitórias. Evidentemente que elas são fundamentais. Mas para fins de aprendizado direcionado à jovem advocacia, a vivência – constituída tanto de vitórias quanto de derrotas, e não ensinadas nas universidades – é algo que se deve passar aos recém-chegados e aos mais tenros operadores do direito, como faz um pai em relação aos seus filhos. Quando se está diante de uma geração que não tolera falhar e nem mesmo suporta uma vida imperfeita, essa necessidade se faz ainda mais irrefutável.
Esclareço que os fracassos a que me refiro são sobretudo aqueles no campo do empreendedorismo jurídico e da estratégia porque na parte técnica propriamente dita, erros não devem ser admitidos, apesar de existirem aos montes. As universidades brasileiras não preparam os advogados a gerirem e venderem, por exemplo. Mas, de repente, meninos e meninas, ainda com cicatrizes de espinhas recém- saradas, se lançam à frente de uma empresa, que muitos ainda insistem chamar de escritório de advocacia, ou à frente de um departamento jurídico de uma corporação privada qualquer, tendo que tomar decisões das mais importantes que impactam a muitos.
A velha advocacia precisa compreender que é preciso abrir a caixa preta dos fracassos para que a jovem advocacia possa com eles aprender. Chega de esconder seus insucessos. Deixemos emergir das profundezas da vaidade as nossas experiências malsucedidas e compartilhemos com os novatos. Os nossos fracassos têm muito a ensinar aos novos.
Certamente os novatos saberão enxergar que o nosso sucesso é fruto da soma dos nossos fracassos. Que tal compartilharmos nossas histórias com os mais jovens? Que tal falarmos disso de uma maneira leve e com pitadas de humor, afinal, é preciso fechar ciclos para fracassar em algo novo.