Nos anos que se seguiram à Restauração de Pernambuco (1654) do domínio holandês, os moradores de Goiana, vila situada no caminho da Paraíba, sentindo a distância que os separava de Olinda, solicitaram ao Bispado da Bahia a criação de um convento carmelita.
A pretensão dos moradores foi atendida em 11 de janeiro de 1666, quando o Cabido metropolitano de Salvador deferiu o requerimento do frei Alberto do Espírito Santo, vigário provincial da ordem carmelita no Brasil, que retornou a Pernambuco com a boa nova.
As obras de construção tiveram início naquele mesmo ano, 1º de novembro de 1666, em terras doadas pelo capitão-mor Filipe Cavalcanti de Albuquerque. Inicialmente consistia o primitivo convento de uma capelinha, construída em taipa, unida a um conjunto com seis celas para abrigo dos frades, que veio receber a denominação de Santo Alberto de Sicília, em homenagem ao seu fundador, frei Alberto do Espírito Santo.
A construção inicial permaneceu até o ano de 1679, quando o frei Marcos de Santa Maria promoveu uma campanha para a construção de um novo convento e igreja de pedra e cal no local do primitivo convento. A obra, iniciada em 28 de outubro daquele ano, contou com as generosas contribuições dos moradores de Goiana, dentre os quais o mestre-de-campo André Vidal de Negreiros, cujo filho Francisco Vidal de Negreiros, vestia o hábito da Ordem do Carmo. Comprometeu-se o ilustre cabo-de-guerra a destinar anualmente aos frades carmelitas 120 arrobas de açúcar branco produzidas por seus engenhos, a exemplo do que havia feito, em data anterior, quando da construção do primitivo convento. A generosidade do mestre-de-campo perpetua-se após a sua morte, quando por meio de testamento manteve a destinação das 120 arrobas de açúcar branco, retiradas da produção de seus engenhos, nos 10 anos seguintes, destinadas às reformas e alterações de que viessem a necessitar.
A fachada da igreja conventual é obra do Século 18 com seu frontão curvo, posto acima do entablamento ondulante, apresenta nicho com imagem e na sua parte mais alta cruz e pináculos. Na parte inferior da mesma fachada, encontramos portas e janelas em meio arco. A torre, em construção robusta, exibe em seu campanário elementos que podem datá-la como sendo construção contemporânea à reconstrução do século 17, salvo o lanternim em forma de meia-laranja.
No seu pórtico assinalam-se obras em talha, com imagens do século 18, destacando-se, ainda, junto ao altar-mor, a Capela do Senhor Bom Jesus dos Passos e a imagem de Nossa Senhora da Soledade.
Segundo o Guia dos bens tombados, “diversos elementos da fachada – em especial as portas e janelas em meio arco – registram épocas diferentes de construção”. “Cornijamento ondulante, encimado por frontão curvo, vazado por nicho com a imagem, pináculos e cruz. Torre bulbosa, com pináculos. O convento é de sólida e vasta proporção, tendo, no centro, o característico claustro monacal. No pavimento térreo, onde funciona o Colégio Santo Alberto, além das salas de aula, existem os refeitórios, cozinha e outras dependências conventuais. No andar superior, as celas, bibliotecas e sala capitular”.
A entrada do convento fazia-se através de um copiar [alpendre], cujos vestígios restantes são apenas as duas colunas encostadas à parede da portaria. No forro da mesma portaria, podemos notar uma pintura dos profetas Elias e Eliseu, datada também de 1719.
A Igreja e o Convento do Carmo de Goiana foram objeto de visita de D. Pedro II, em 6 de dezembro de 1859, “na igreja encontrei epitáfios cujas datas é que me interessaram; sepultura de 1688 de João Paes de Bulhões e sua mulher e filhos; sepultura de Francisco Afonso Veras e de sua mulher Tereza de Jesus… ores … agosto de 1719. Sepultura [que não se lê bem] de 1687.”
“O religioso, um dos quatro que costumam residir neste convento, pertence à Província Carmelita de Pernambuco, e supõe que a fundação do convento teve lugar há 200 anos. Os papéis foram todos estragados, quando da Revolução Praieira, ocorrida em 1848. Lanço e meio do claustro está em ruínas, destelhado, e parte das paredes caídas, o resto foi reparado”. (D. Pedro II,Viagem a Pernambuco em 1859)
Ao lado direito do Convento de Santo Alberto da Sicília encontramos, um pouco recuada, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, cuja construção remonta ao ano de 1753. Em sua singeleza, ostenta a igreja dos irmãos terceiros um frontão barroco, com as suas curvas e contracurvas, encimado por uma cruz central ladeada por duas ordens de pináculos, uma única porta de madeira com almofadas, as três janelas do coro, com arcos rebaixados, conservando sobre estas o brasão em pedra calcária com os símbolos da Ordem Carmelita. No seu interior, elementos valiosos em talha dourada e os painéis pintados no teto da capela-mor despertam a atenção do visitante. Em sua nave principal destaca-se o altar-mor, com outros quatro altares laterais, alterados em suas formas originais, seguindo-se de dois púlpitos em ferro que compõem o restante do seu patrimônio.
As fachadas das duas igrejas têm características do século 17, muito embora o monumental cruzeiro esculpido em pedra, que domina o centro da praça, esteja datado de 1719. O perfil barroco deste último, com os motivos orientais que o adornam, parece revelar a influência que sobre o artista exerceu o também monumental conjunto do Convento Franciscano da Paraíba.
O conjunto encontra-se inscrito como Monumento Nacional pelo IPHAN no livro das Belas Artes v. 1, sob o n.º 216 e 229, em 25 de outubro de 1938; Histórico v.1, n.º 106, em 25 de outubro de 1938 (Processo 147-T/38 e Processo n.º 173-T).
Texto e fotos de Leonardo Dantas Silva