Jones Albuquerque: “Estamos diante de um risco altíssimo de nova onda”

Diante do avanço da pandemia na Europa e dos alertas de aumento de números de casos no Brasil, o repórter Rafael Dantas conversou com o pesquisador Jones Albuquerque sobre o risco de Pernambuco viver o crescimento de uma nova onda da Covid-19. Ele, que atua no IRRD (Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco) da UFRPE e no Lika (Laboratório de Imunopatologia Keizo-Asami) da UFPE, defende um “break-down” e acerta para a taxa de reprodução do coronavírus no Estado.

Em que momento da pandemia estamos atravessando em Pernambuco? Como ele é caracterizado?

O mundo, como um todo, está, pelo que parece, atravessando sua 3a. grande “onda”, como alguns gostam de chamar, de infecção e de óbitos por COVID-19 [Fontes: irrd.org e www.worldometers.info].

Alguns Países perceberam as 3 ondas como o Japão, outros países como a Polônia só esta última, a Europa como um todo, duas ondas. E Pernambuco? Bem, Pernambuco percebeu a 1a. e continua nelas desde então como o Brasil e os Estados Unidos, que não conseguiram conter as infecções e decidiram “conviver” com o Coronavirus. Agora, Pernambuco e o Brasil parecem seguir em ascensão síncrona da Infecção com os Países da Europa e com o mundo como um todo.
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Esse aumento de casos recente é o prenúncio de uma nova onda ou é ainda a primeira que estava estabilizada num platô alto e apresentou um novo crescimento? Qual a taxa atual de contágios?

Parece os dois: resquícios dos feriadões e do processo de reabertura progressiva de atividades mesmo com taxas diárias de centenas de infectados/dia e a entrada na nova onda de infecçao que atinge o mundo como um todo.

Nossa taxa de contágio encontra-se acima de 1, em 1.07 (Fonte: https://www.irrd.org/covid-19/graficos-interativos/) mesmo com testagem limitada pela capacidade operacional do LACEN e Laboratórios privados. Entretanto, o Risco Epidêmico (verde- baixo, amarelo-moderado e vermelho-alto) piorou bastante desde o dia 05 de novembro que estávamos apresentando risco moderado com tendência a risco-baixo com a média acumulada dos 14 dias anteriores (Fonte: https://www.irrd.org/covid-19/diagramas-de-risco/):

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Quais as principais mudanças que você aponta entre o auge da pandemia (entre abril e maio) e esse período atual? Quais os maiores aprendizados e quais as maiores ameaças comparando esses dois momentos?

As principais mudanças que observa-se é que: (1) os hospitais e intensivistas fizeram um excelente trabalho e aprenderam muito rapidamente como lidar emergencialmente com COVID-19 e isso, per si, já reduz bastante a mortalidade. (2) a Secretaria de Saúde aprendeu e já sabe como ampliar leitos e instalar hospitais de campanha. (3) uma fração da população e dos estabelecimentos realmente aprendeu a se prevenir e se cuidar e isso garante um mínimo de proteção à população. Estamos nos aculturando a viver assim: sob risco.

Mas nem tudo está melhor. Por exemplo, entre o auge da pandemia e agora, a mobilidade das pessoas está pior (bares, igrejas, escolas, tudo funcionando), muito alta para os padrões de infecção que estamos agora. E, comparativamente com abril, nosso o risco COVID-19 agora é bem maior que lá em abril. As principais ameaças são: (a) não sinalizamos as cidades do estado com placas de risco COVID (pontos de ônibus, feiras livres, praças, shopping centers) e a população perdeu a vigilância e está muito exausta de tudo isso e, por isso, não sabemos como irá tolerar medidas mais rígidas, se assim forem necessárias; Sinalizações feitas pelas próprias comunidades para afixarem e distribuírem entre seus moradores:

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(b) como sabemos um pouco mais sobre COVID-19, podemos nos iludir que já compreendemos a doença e estamos seguros. Mas lembremo-nos que os Países de Europa e o próprio USA também tiveram os mesmos “aprendizados” e observemos como estão agora, em colapso dos seus sistemas; (c) a maior ameaça de todas, o descrédito das pessoas na autoridades sanitárias que segue aumentando. Assim, seguir os protocolos estipulados pelo Governo de Pernambuco para a convivência econômica durante a pandemia se torna cada vez mais raro entre a população em geral, é visível.

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O quão estamos preparados para lidar com uma nova onda de casos?

A Secretaria de Saúde aprendeu como organizar suas atividades para absorver COVID-19 ao processo de vigilância, O Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco validou indicadores muito mais precisos que os até então utilizados pelo monitoramento epidemiológico, por exemplo, esta 3a. onda de infecção foi detectada em crescimento no estado em 15 de outubro (Fonte: https://www.irrd.org/covid-19/ricci/):

Mas, mesmo assim, sendo sinalizado com antecedência e incorporando COVID-19 às práticas diárias de vigilância, não estamos preparados para combater a doença preventivamente. Continuamos adotando as mesmas práticas do plano de convivência econômica: observando os doentes graves, leitos e óbitos. O risco de se monitorar a doença assim, pelo fim dela (doentes graves, leitos ocupados e óbitos), é que já começamos perdendo vidas para doença. E quando se perceber que a “onda” está muito forte, é porque ela já estará gigante, uma vez que COVID-19 acomete 80% das pessoas levemente.
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Inicialmente na Europa, na sua segunda onda, havia uma perspectiva de que o número de casos era muito alto, mas havia uma menor mortalidade. Isso se confirmou ou não? Nesse momento de reaceleração de casos em PE, a relação de novos casos x mortes tem sinalizado menor mortalidade ou não?

Sim a mortalidade continua baixa, mas o volume de infectados está muito maior dessa vez, alguns países apontaram cifras de até 1000% maior que na 1a onda européia. Assim, mesmo a mortalidade de COVID-19 continuando baixa, o que preocupa é o volume de infecção. Hoje, por exemplo, recordes de óbitos/dia em vários Países novamente (Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/)

Lembremos que estamos numa PANdemia de COVID-19 e o Brasil já detém uma das piores taxas de mortes/milhão de habitantes do mundo e, Pernambuco não é diferente, infelizmente.
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Diante do fato da população ter perdido o “medo” e ter cansado das medidas de proteção e associando isso à expectativa da vacina e às festividades de final de ano, podemos dizer que estamos num momento de grande risco? Esses cenários mais críticos de redução de engajamento da população deve ter ocorrido em outros países e outras epidemias. O que fazer diante dele?

Sim estamos diante de um risco altíssimo. E estes cenários de cansaço da população e ter-se “acostumado” às mortes diárias eleva ainda mais o risco. O que fazer? Precisamos dar um novo “freio de arrumação” no vírus circulando na população. E agora, a única alternativa, antes de uma vacinação eficaz, é bloquear a circulação do vírus limitando a mobilidade das pessoas, o chamado “Break-Down” que vários países europeus e asiáticos adotaram e já começam a controlar minimamente a infecção. Precisamos travar a circulação das pessoas de novo. Infelizmente, parece ser a única saída. Só que agora, como a infecção está síncrona, terá que ser um bloqueio síncrono no Estado. Já está mais que comprovado que bloqueios assim reduzem drasticamente o pico da Infecção. Pernambuco mesmo foi um excelente exemplo lá em abril. Agora, precisa dar o exemplo de novo para o País.

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