K-POP: a febre sul-coreana chega ao Recife

De imediato, o visual e a música podem parecer estranhos ou no mínimo peculiares. Cabelos coloridos, roupas personalizadas, coreografias com uma pegada pop e um idioma pouco escutado por esse lado do continente – quer dizer, até certo tempo. Isso porque, pelo menos nos últimos cinco anos a música pop coreana, conhecida como K-POP, vem contagiando uma legião de fãs no mundo inteiro com as girls e boys groups. No Brasil não foi diferente. O negócio é tão sério que feiras, campeonatos e grupos covers vem sendo criados para legitimar esse sucesso que aos poucos está se consolidando no País.

Desde o fenômeno do filme High School Musical, em 2006, não houve outra manifestação artística forte que chamasse a atenção pela dança, música e performance. Até mesmo o conceito americano de boyband e group mudou com o passar do tempo e o que se viu foi um investimento maior na qualidade sonora, e, consequentemente, com performances que não exigiam tantos passos. Nesse momento, o que antes girava em torno dos Backstreet Boys, das britânicas Spice Girls ou até mesmo de musicais jovens, ganhou uma conotação asiática. O K-pop conseguiu romper a fronteira ocidental e driblar a indústria fonográfica americana, como o grupo Bangtan Boys, popularmente conhecido como BTS, um dos nomes de maior sucesso do gênero.

Além da técnica da dança, os grupos sul-coreanos destacam-se pela coreografia bastante elaborada e de um figurino padronizado entre os integrantes da equipe. Nos seus clipes é possível ver que existem referências americanas, assim como nas canções que misturam letras em coreano e inglês, como forma de aproximar outras culturas ao estilo musical, mas sem perder traços da cultura hallyu (nome dado a cultura pop sul coreana). No Brasil, foram formados grupos covers de diversas bandas, que se vestem semelhante aos ídolos e fazem coreografias inspiradas nas boys e girls bands coreanas.

O desenvolvedor de sistemas Wellton Ferreira, 27, conta que uma das coisas que o fez acompanhar o gênero foi a misancene dos grupos. “Geralmente eles apresentam uma performance muito bem amarrada que chama atenção de quem curte a combinação de dança e música, além da diversidade musical, porque no mesmo gênero é possível escutar uma canção agitada para balada e ouvir outra mais calma”, explica.

Em 2011, após assistir o primeiro concurso de dança de k-pop no Recife, no evento de cultura geek chamado Omakê, o desenvolvedor de sistema se interessou pelas apresentações e resolveu procurar por alguns grupos no Youtube. “Até então, eu gostava da cultura japonesa, por causa dos animes, mas não conhecia músicas coreanas. Foi quando passei a acompanhar um grupo chamado Infinite”, relata Ferreira. De lá para cá, ele foi mergulhando na cultura asiática e a partir do momento que começou a febre dos concursos covers de k-pop em Pernambuco resolveu encarar o palco e se apresentar na categoria solo no evento de cultura pop Super-Con.

Após ter ficado em segundo lugar, ele foi convidado para entrar no K-Hyung Max, primeiro grupo pernambucano formado por cinco meninos, no qual se apresenta até hoje em vários concursos no Estado – que, geralmente, acontecem no Centro de Convenções da UFPE e no Classic Hall –, e por várias capitais brasileiras, como Natal, Maceió, São Paulo e Brasília. “Normalmente, os ensaios acontecem em uma academia que alugamos, uma vez por semana”, conta Ferreira. Quando precisam realizar ensaios extras para as apresentações, eles recorrem a espaços públicos, como nos parques da Jaqueira e Dona Lindú.

Outro que compartilha dessa paixão pelo k-pop é o estudante de medicina, Esdras Andrade, 26, conhecido pelos amigos como Frajola. Atualmente no grupo cover do BTS e do Infinite, chamado Faster- Z, ele teve o primeiro contato com o mundo pop sul-coreano em 2011 por meio dos amigos que fazem cosplayers. “Eu me vestia de personagens de anime, então eles me apresentaram o k-pop e gostei”, narra. Assim como Welton Ferreira, ele participou do primeiro campeonato de dança coreana no Estado com o grupo K-Hyung.

Segundo Frajola, o motivo que o atraiu para o universo sul-coreano foi a liberdade de poder ser quem quiser. “Bem menos preconceituoso em relação a sexualidade, porte físico, cor do cabelo e roupas”, justifica.
Atualmente existem cerca de 40 grupos de dança no Estado disputando premiações que chegam a valer R$ 4 mil para o primeiro colocado, dependendo do formato do evento. Entre os principais encontros de k-pop em Pernambuco estão o Anima Recife, Super-Con e o Festival da Coreia.

A universitária Carolina Alencar vem pesquisando a cultura sul-coreana em Pernambuco para o projeto de conclusão de curso O fenômeno hallyu e o impacto na vida dos jovens e observa que o crescimento desse gênero foi gradativo. “Prova disso é que alguns festivais como o da Coreia, que surgiu em 2014, tinham um público pequeno de frequentadores que não passava de mil. No ano passado chegou a quase 10 mil pessoas”.

Ela acompanha o estilo musical asiático desde 2011, quando foi apresentada por meio de uma amiga que gostava de animes, e conta que o escolheu como tema do seu projeto de conclusão de curso por sua afinidade com o assunto. “Já visitei a Coreia, fui colaboradora de site e rádios nacionalmente, participo de grupos da cultura coreana. É algo que eu amo e não me importo em passar mais seis meses estudando e me aprofundando sobre o k-pop”, justifica.

Ela acredita que um dos fatores fundamentais para a divulgação desse fenômeno asiático no Estado foram os concursos de danças dos festivais de cultura japonesa. “O gênero virou uma atração desses eventos, alguns deles, inclusive, oferecem um espaço chamado de k-pop stage, como se fosse uma arena voltada para os apreciadores da cultura hallyu”, relata Carolina. Já o integrante do grupo vencedor do Anima Recife 2018, Ace Dance Group, Tulio Feitosa, 21, aponta a internet como uma das grandes responsáveis pelo crescimento dessa febre coreana. “O Youtube é o maior captador de audiência, os clipes possuem milhões de visualizações, e as redes sociais ajudam na divulgação dos trabalhos dos artistas”, ressalta. Há sete anos acompanhando o gênero sul-coreano, com experiência em três grupos, ele observa que, por ser uma cultura com grande propagação, ela agrada e atinge um público variado. “Independe de faixa etária e classe social. Tanto que as bandas são apreciadas na periferia ou num bairro nobre”, ressalta Feitosa.

A prova do crescimento do k-pop no Recife foi a vinda do boy group MVP, que pela primeira vez esteve na capital pernambucana, que passou a integrar a rota de apresentações do estilo musical. Os sul-coreanos realizaram um fanmeeting, uma espécie de show reduzido com poucas músicas e mais contato com os fãs, no Teatro Imip, com arrecadação de alimentos para a Fundação Alice Figueira.

*Por Paulo Ricardo Mendes (algomais@algomais.com)

Confira o clipe de um dos principais grupos de k-pop:

Veja a performance do grupo pernambucano vencedor do Anima Recife 2018:

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