Nem sempre o Carnaval do Recife encontra-se povoado pelos “máscaras da terra”, como desejava o poeta Ascenso Ferreira:
E somente ficaram os máscaras da terra:
Parafusos, Mateus e Papangus...
e as Bestas-Feras impertinentes,
os Cabeções e as Burras-Calus...
realizando, contentes, o Carnaval do Recife.
Personagens para aqui trazidos pelas companhias teatrais europeias, logo ganharam às ruas a partir do final da primeira metade do Século 19, inserindo na paisagem carnavalesca o nossos coloridos palhaços, pierrôs, colombinas, dominós, arlequins e outros tantos personagens.
Acontece que outros mascarados, originários da vida rural de remotas regiões da Península Ibérica, vieram integrar manifestações populares do nosso Carnaval, a exemplo do Urso do Carnaval e do nosso popularíssimo Caboclo de Lança.
Assim, recebo da amiga Lavínia Maria Uva, que me envia notícias da realização em Lisboa, no mês de maio de 2019, do 14º Festival Internacional da Máscara Ibérica, com a participação de grupos de máscaras vindos de Portugal, Espanha, China (Macau), Colômbia, Hungria, Itália, País de Gales e Uruguai.
Ao receber as fotos, algo que já desconfiava, que me fora revelado nas minhas leituras do livro de Júlio Caro Baroja, El Carnaval (1979), alguns dos nossos “máscaras da terra” do Carnaval do Recife têm sua origem na Península Ibérica.
Assim lá estavam figuras semelhantes ao nosso caboclo de lança dos maracatus rurais, diabinhos, La Ursas e Caiporas de Triunfo, trasmudados na Máscara Gallega, nos Guirrios das Astúrias, nos mascarados da Trácia e no Kortilun gorria des Labour ....
Como sempre afirmo nos meus escritos e no meu livro, recentemente publicado Carnaval do Recife (Cepe, 2019): nada de novo diante dos nossos olhos; tudo, de novo.
*Por Leonardo Dantas Silva