“O ensino híbrido já é uma realidade na graduação brasileira”

O reitor Pedro Falcão fala sobre os desafios encarados pela Universidade de Pernambuco durante a pandemia e sobre os aprendizados que as instituições de ensino superior tiveram neste período. Ele foi um dos entrevistados na edição 187.3 da Revista Algomais e hoje publicamos na íntegra a entrevista concedida ao jornalista Rafael Dantas, em que ele tratou também sobre o futuro do ensino híbrido e acerca da importância das pesquisas e da aproximação da universidade com a sociedade.

Quais os principais desafios e aprendizados da UPE nessa travessia da pandemia? 
O maior desafio foi manter todas as atividades da Universidade, em todas as dimensões (ensino, pesquisa, extensão e gestão), com qualidade e equidade em cenários e contextos tão diversos. Somos uma instituição com estrutura multicampi (10 campi, 15 unidades de ensino, 3 hospitais universitários e 4 escolas de aplicação), espalhada em todas as macrorregiões do estado. Em cada região a pandemia se comportou de maneira diferente e isso precisou ser levado em conta na definição de nossas ações e atividades.

O mais complexo, nesta nova configuração, foi realizar as atividades de ensino de graduação de forma remota, com caráter emergencial e com equidade em nossos 54 cursos de graduação presencial, tendo em vista que somos muito diversos e o nosso país é constituído por uma grande desigualdade socioeconômica, que também está presente na Universidade. Era preciso motivar os nosso quase 14 mil estudantes a não desistirem de suas formações em andamento e fazer com que o ensino chegasse com qualidade e de forma igualitária a todos eles. Foi preciso muito estudo, muito diálogo (dentro e fora da Universidade) e busca de recursos financeiros.

Avançamos muito no uso de novas tecnologias na educação?

Era preciso formar, capacitar os professores e os estudantes que não estavam habituados ao ensino na perspectiva tecnológica ou em ambientes virtuais. Para isso, desenvolvemos o ambiente http://www.upedigital.upe.br/ que foi o pontapé inicial nesta direção. Mas conseguimos, na medida do possível, retomar o ensino com a participação da maioria dos estudantes tanto no semestre suplementar não obrigatório (com adesão de 86% do corpo discente) como nos semestres de 2020 e de 2021 em curso.
O maior aprendizado que temos tirado disso tudo é que a resiliência e a adaptabilidade, mais que nunca, estão presentes no contexto universitário. Essas características da atividade acadêmica nos instigaram a buscar alternativas e repensar modos de pesquisar, de ensinar e prestar serviços à sociedade. Uma prova disso são os registros no endereço eletrônico http://www.novocoronavirus.upe.br/ que reúne um conjunto de ações da universidade, principalmente no ano de 2020, desenvolvidas no contexto da pandemia da covid-19.
Lógico que houve um avanço significativo, algo já comum em países desenvolvidos, no uso de tecnologias em cenários de educação. O Brasil estava, de certa forma, cristalizado em algo que ele já conhecia e fazia pouco uso, galgando nesta perspectiva. A impossibilidade da vivência presencial neste período fez com que as coisas caminhassem mais rápido, num curto espaço de tempo. Não é que não soubéssemos que ferramentas utilizar e como utilizá-las em cenários educacionais. Mas, não era algo massificado, presente em vários ambientes e formações distintas.

A experiência radical do ensino remoto deve influenciar a universidade a adotar ao menos um modelo híbrido no futuro? Apesar dos impactos que essa experiência trouxe para todas as instituições, que vantagens o Sr. apontaria que podem ficar como um legado desse período?
Primeiro é preciso entender a legislação que rege a formação no ensino superior no país, a partir. Coforme a política da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), só há duas possibilidades de um curso de graduação no Brasil: presencial ou à distância. Em cada uma dessas modalidades, já é previsto um percentual de 20% a 40% de atividades à distância nos cursos presenciais (dependendo da área e do curso, considerando-se as peculiaridades de cada formação) e isso também se aplicada nos cursos à distância, só que de forma presencial. Então o ensino híbrido já existe, já é uma realidade na graduação brasileira. Apenas isso não é massificado. Talvez seja algo que precisemos repensar em algumas disciplinas ou componentes curriculares de formação mais geral, presentes na maioria das graduações. Mas isso é papel que compete ao Núcleo Docente Estruturante – NDE de cada curso. A UPE já vem avançando nesta perspectiva. Já temos, por exemplos, cursos de graduação presencial que permitem aulas e atividades com disciplinas à distância dentro do percentual estabelecido. O que precisa ficar claro são as metodologias adotadas. São perspectivas atuação com metodológicas e de formação diferentes nas atividades presenciais e à distância. O ensino remoto emergencial não é ensino à distância!

Uma das vantagens que vemos nesse processo é a diminuição das distâncias. Como dito antes, somo uma Universidade com estrutura Multicampi. O remoto possibilitou diminuir estas distâncias. Acredito, por exemplo, que há uma forte tendência que as reuniões de colegiado de curso, de conselhos, por exemplo, assim como muitos eventos acadêmicos, passem agora a ser realizados a partir desta perspectiva.

A pandemia expôs a importância do papel social das universidades? Como a ampla exposição do avanço da ciência e até mesmo dos trabalhos de extensão pode influenciar a atuação da universidade nos próximos anos?
Como a vacina, o uso de medicação e qualquer medida de profilaxia com relação à covid-19 dependeram e dependem da ciência, das pesquisas em andamento, claro que a universidade (que vinha sendo atacada maciçamente nos últimos tempos) ganhou destaque. A ciência se faz com base em evidências e isso foi, inclusive, um dos caminhos para enfrentarmos às fake news, por exemplo, que são montadas com base no “achismo”. A universidade caminha em várias direções e numa sociedade moderna e da informação, as respostas aos anseios são cada vez mais emergentes num curto espaço de tempo. Nesta direção, na Universidade, seja através da pesquisa ou da extensão, destaca-se a ciência, a pesquisa e a prestação de serviços como caminhos para enfrentamento da crise atual e das perspectivas de enfrentamentos futuros, que apresenta múltiplas faces e afligem o campo da saúde, sobretudo, mas também da economia e da educação.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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