Olinda, de onde se vê… – Revista Algomais – a revista de Pernambuco
Arruando pelo Recife

Arruando pelo Recife

Leonardo Dantas Silva

Olinda, de onde se vê…

Com a sua paisagem tecida de sonho e claridade, impregnando pelas diversas tonalidades de verde, nas águas do seu mar, e de azul e outras cores no crepúsculo do seu céu, Olinda vem fascinando a todos que a conhecem desde os primórdios de sua colonização.

A sua paisagem litorânea, povoada de jangadas e outros tipos de embarcações, foi uma sedução para esses viajantes ao longo dos séculos sendo hoje fonte de deleite e de paz para o visitante e mesmo os próprios olindenses.

Para Joaquim Nabuco, esta paisagem tem seus fascínios quando vista do alto, de onde “o olhar não precisa mover-se para apanhar a totalidade do cenário que se prolonga à beira do mar, salpicado das velas brancas das jangadas, penas destacadas das grandes asas da coragem, do sacrifício e também da necessidade humanas!

Em passeio por Olinda e seus arredores, como cicerone do escritor português Ramalho Ortigão, em 1887, Joaquim Nabuco assim descreve a paisagem, quando vista do terraço da Sé de Olinda:

O que faz a grande beleza deste nosso torrão pernambucano é em primeiro lugar o seu céu, que muda a cada instante, leve, puro, suave, onde as nuvens parecem ter asas, e que não é o mesmo em um minuto; é depois o nosso mar, verde, vibrátil e luminoso, as nossas areias tépidas e cobertas de relva, os nossos coqueiros, que vergam desde o soco até ao espanador de um brilho metálico e dourado, com que parecem ao longe sacudir as nuvens brancas, as jaqueiras e mangueiras cuja sombra rendada é um oásis de frescura e abundância…

Em sua descrição, publicada no jornal O Paiz (Rio de Janeiro), em sua edição de 30 de novembro de 1887, Joaquim Nabuco, pinta, com a mão de um mestre, as belezas do seu torrão natal, utilizando-se das mais contagiantes cores de sua palheta.

… não é uma dessas vistas de altura, das quais o mar fica tão abaixo aos pés do espectador, que perde o movimento e a vida, parecendo uma tela diáfana estendida sobre o fundo vazio do ar, vistas em profundidade, que dão vertigem e nas quais a perspectiva é tão longínqua como se víssemos por um óculo virado. A vista de Olinda é outra; é uma vista em comprimento, em que os planos sucedem-se uns aos outros como o desenvolvimento da mesma sensação visual, em que desde Olinda até ao  Recife, e mais longe até o Cabo de Santo Agostinho, o olhar não precisa mover-se para apanhar a totalidade do cenário que se prolonga à beira do mar, salpicado das velas brancas das jangadas, penas destacadas das grandes asas da coragem, do sacrifício e também da necessidade humanas!

O que mais impressionava o visitante e seu cicerone era a limpeza da cidade: “O que primeiro fere a vista […] é a limpeza da cidade, a brancura de toda ela. Vê-se bem a cidade de um povo de rio, que vive n’água, como o pernambucano. É um reflexo da Holanda, que brilha aqui!”.

Possuído do orgulho de ser pernambucano, enfatiza Joaquim Nabuco, com o seu poder de observador:

 Para conhecer uma paisagem não basta vê-la, é preciso muito mais, é preciso que as duas almas, a do contemplador e a do lugar, cheguem a entender-se, quantas vezes elas nem mesmo se falam! Não é a todos que a natureza conta os seus segredos e inspira o seu amor, mas mesmo com os poucos de quem ela tem prazer em fazer pulsar o coração é preciso que eles se aproximem dela sem pressa de a deixar, com tempo para ouvi-la. Os viajantes nunca estão nessa disposição de espírito em que é possível estabelecer-se o magnetismo da paisagem sobre os sentidos, de fato sobre o coração. Felizmente Ramalho Ortigão é uma máquina fotográfica instantânea, que apanha num segundo o seu objetivo todo, e acontece que hoje as boas máquinas percebem e notam sombras na pele, que não se veem a olho nu, e que servem para conhecer a enfermidade latente. Ele não terá sentido os eflúvios desta nossa terra, os quais talvez seja preciso ser pernambucano para sentir e que podem não ter realidade e magia senão para nós mesmos, mas a impressão que lhe causou a nossa Veneza há-de render-nos uma pintura que durará como as gravuras holandesas do Século XVII.

Por Leonardo Dantas Silva
*Publicado originalmente em 16 de abril de 2018

Deixe seu comentário

+ Confira

Assine nossa Newsletter

No ononno ono ononononono ononono onononononononononnon