Diante de um cenário de altos juros, junto com as políticas macro do governo, dificuldades no mercado internacional e crises de grandes empresas, o crédito corporativo no Brasil está em queda. Endividadas, empresas têm recorrido à renegociação de dívidas, além de recuperação judicial e extrajudicial, para tentar sobreviver. A tendência, segundo especialistas, é que as condições de crédito se normalizem até o fim do ano, facilitando a operação das companhias brasileiras. Mas, há variáveis que influenciarão nesse caminho.
O cenário financeiro não parecia estar muito preocupante, mas, duas coisas mudaram nos últimos meses: a perspectiva de queda da Selic ficou mais distante, além do caso Americanas, que fez cair drasticamente o volume de novas operações de crédito corporativo de grau de investimento no mercado de capitais desde que a crise na empresa foi anunciada. Já os bancos ficaram mais seletivos para oferecer crédito/empréstimo as empresas.
Uma questão que também influencia é a política macro do governo, como plano fiscal, reforma tributária e limite de taxas de juros. “Existe uma preocupação no mercado financeiro com o plano fiscal do Brasil, a ideia da reforma tributária é zerar o déficit das contas até 2024, mas o sentimento ainda é de ceticismo se isso de fato será possível. Por isso as preocupações aumentam, fazendo com que o COPOM não reduza a taxa SELIC, o que encarece bastante a dívida das empresas, aumentando o seu custo financeiro”, explica Felipe Tavares, assessor de investimentos na Dapes Investimentos.
Em abril, a inadimplência alcançou 6,5 milhões empresas brasileiras. Esse foi o maior número registrado pelo indicador da Serasa Experian desde 2016, quando começou a série histórica. O valor das dívidas também atingiu quantia recorde, somando R$ 117,5 bilhões. Em média, cada CNPJ possui cerca de sete contas negativadas.
Uma saída para as médias e grandes empresas sempre foi recorrer à emissão de dívidas no mercado de capitais, através de debêntures, CRI’s ou CRA’s. Porém, o momento é delicado para o crédito às empresas no Brasil, pois elas têm sofrido com a escassez de crédito e dificuldade de renegociar dívidas, que leva a recuperações judiciais, extrajudiciais e falências. “O mercado de crédito, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas ficou bastante estressado neste início de 2023, o Brasil tem vivenciado uma onda de pedidos de falências e recuperações judiciais esse ano, o que faz com que as instituições financeiras diminuam a oferta de crédito, além de aumentar as taxas dos empréstimos”, comenta Felipe.
Para Felipe, o impacto da crise da Americanas no mercado de crédito foi grande e é um dos motivos que tem levado os bancos a dificultarem a concessão de crédito. “No começo do ano, o Brasil presenciou um pedido de recuperação judicial em uma das maiores varejistas nacionais, a Americanas. Isso também causou um estresse no mercado de crédito corporativo, vimos um aumento substancial nas taxas requeridas pelos investidores para comprar as dívidas das companhias, mesmo que saudáveis, além de uma diminuição do número de novas ofertas”.
A expectativa é que um cenário de maior normalidade seja observado ao longo dos próximos meses, além disso, o efeito da recuperação judicial da Americanas deve perder importância ao longo do tempo. “Estamos começando a verificar uma normalização agora, e acreditamos que no segundo semestre esse mercado já deva estar de volta ao normal”, finaliza o assessor.