Arquivos Saúde - Página 6 De 37 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Saúde

Depressão pós-parto na pandemia exige cuidados redobrados

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão pós-parto atinge de 12 a 20% das mulheres. No Brasil, segundo estudo da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, o transtorno acomete mais de 25% das mães. Segundo a Dra. Karina Tafner, ginecologista e obstetra, especialista em endocrinologia ginecológica e reprodução humana pela Santa Casa, e especialista em reprodução assistida pela FEBRASGO; trata-se de um grave problema que costuma se manifestar nas primeiras 4 a 6 semanas após o nascimento do bebê. O quadro mais leve e transitório de depressão, conhecido como “blues puerperal”, chega a acometer cerca de 50% a 80% das mulheres no pós-parto. Os sintomas, como tristeza, choro fácil e alteração de humor, têm início nos primeiros dias após o parto, com duração que pode variar de 7 a 15 dias, desaparecendo espontaneamente. “Já a depressão é mais grave, e pode surgir antes mesmo do parto, no final da gestação. Os sintomas são similares aos da depressão comum, como tristeza, apatia, ideias de culpa, insônia e até desinteresse pelo bebê. Uma das principais causas é o desequilíbrio hormonal em decorrência do término da gravidez, mas o mecanismo fisiopatológico desta condição ainda não é totalmente esclarecido”, explica Karina. No cenário da pandemia Some este quadro de depressão ao momento atual. Se estas mães já estão sofrendo do transtorno, imagine em meio a uma pandemia, um cenário ainda cheio de incertezas e muito medo? “A tendência à depressão pós-parto depende da interação de vários aspectos, incluindo genética e alterações hormonais que ocorrem durante a gravidez e no pós-parto. Mas fatores externos também contribuem muito para motivar o transtorno. A situação atual de apreensão extrema, seja pela saúde como pela economia, torna mais agravante o estresse natural da maternidade”, afirma Karina Tafner. Psicose pós-parto Um dos riscos, segundo a especialista, é a evolução para um quadro pior, especialmente se a mulher já tiver pré-disposição para transtornos mentais. “A psicose pós-parto é um exemplo. Trata-se de uma condição grave que afeta principalmente as mulheres com distúrbio bipolar ou histórico de psicose pós-parto anterior”. Segundo Karina, os sintomas, que começam geralmente durante as primeiras três semanas após o parto, são: - Alterações do sono - Pensamento confuso e desorganizado - Vontade extrema de prejudicar/fazer mal ao bebê, a si mesma ou a qualquer pessoa - Mudanças bruscas de humor e comportamento - Alucinações, que podem ser visuais, auditivas ou olfativas - Pensamentos delirantes e irreais Como ajudar O isolamento familiar e social é um dos fatores que pode provocar a piora da depressão. “Como estamos dentro desta realidade, é preciso redobrar a atenção e focar em aspectos que podem amenizar os sintomas, como evitar a privação do sono, seguir uma dieta saudável e sentir o apoio da família, mesmo de longe. A ajuda constante do parceiro é fundamental, tanto para a mulher como para o recém-nascido, cujos cuidados ficarão prejudicados por parte da mãe”. De qualquer forma, Karina Tafner afirma que, na suspeita do quadro de depressão, a puérpera deve ser encaminhada ao psiquiatra imediatamente. “Uma abordagem individualizada deve ser realizada, levando em conta fatores psicossociais, desejos e expectativas da mulher”. O tratamento da depressão pós-parto é feito com medicamentos antidepressivos combinados com psicoterapia. As medicações são eficazes na redução dos sintomas a curto prazo. “A sertralina é a primeira escolha em mulheres que estão amamentando, por ser o antidepressivo com menos efeitos adversos”, diz a ginecologista. No caso de psicose pós-parto, pode ser preciso internação hospitalar. Durante o tratamento, é indicado afastar a mãe do bebê por certo tempo, para segurança de ambos. “Reconhecer que a depressão é uma doença como outra qualquer, e incentivar o tratamento, é a melhor maneira de ajudar o reestabelecimento da mãe. Se ela tiver todo o suporte necessário, nem a pandemia será capaz de prejudicar o deleite da maternidade”, finaliza Karina Tafner.

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Fique em casa, mas não fique parado

Entre os efeitos colaterais das medidas de isolamento social adotadas para conter a COVID-19 está o aumento do sedentarismo, que pode contribuir para a deterioração da saúde cardiovascular mesmo em curtos períodos de tempo. Idosos e portadores de doenças crônicas tendem a ser os mais afetados. O alerta foi feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) em artigo de revisão publicado no American Journal of Physiology. Segundo os autores, o apelo feito por governantes e profissionais da saúde para que as pessoas “fiquem em casa” é válido na atual conjuntura, sem dúvida. Mas deve vir acrescido de uma segunda recomendação: “não fiquem parados”. “Uma pessoa precisa fazer ao menos 150 minutos de atividade física moderada a intensa por semana para ser considerada ativa, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde [OMS] e das sociedades médicas. O uso de academias e centros esportivos ficará limitado nos próximos meses, mesmo após o fim da quarentena. A atividade física realizada no ambiente domiciliar surge como uma alternativa interessante”, afirma Tiago Peçanha, bolsista da FAPESP de pós-doutorado e primeiro autor do artigo, que apresenta uma série de evidências científicas relacionadas ao impacto de curtos períodos de inatividade física sobre o sistema cardiovascular. Alguns dos estudos avaliados mostraram, por exemplo, que manter uma pessoa acamada durante 24 horas pode induzir atrofia cardíaca e redução significativa no calibre dos vasos sanguíneos em um período que variou entre uma e quatro semanas. Peçanha ressalta se tratar de um modelo agressivo, que não representa o que ocorre durante a quarentena. “Mas há outros experimentos relatados no artigo que são bastante representativos”, diz o pesquisador. Em um deles, voluntários foram induzidos a reduzir de 10 mil para menos de 5 mil o número de passos diários durante uma semana. Ao final, notou-se redução no diâmetro da artéria braquial (principal vaso do braço), perda da elasticidade dos vasos sanguíneos e danos ao endotélio (camada de células epiteliais que recobre o interior das veias e artérias). Há ainda experimentos em que os voluntários foram mantidos sentados continuamente durante períodos que variavam entre três e seis horas. O tempo de inatividade foi suficiente para promover alterações vasculares, aumento nos marcadores de inflamação e no índice glicêmico pós-alimentação. “Essas primeiras alterações observadas nos estudos são funcionais, ou seja, o coração e os vasos sanguíneos dos voluntários saudáveis passaram a funcionar de forma diferente em resposta à inatividade física. Caso a situação se prolongue, porém, a tendência é que se transformem em alterações estruturais, mais difíceis de reverter”, explica o pesquisador. Se indivíduos saudáveis podem correr atrás do prejuízo – literalmente –, o impacto do sedentarismo prolongado tende a ser nefasto para pessoas com doenças cardiovasculares e outras condições crônicas de saúde, como diabetes, hipertensão, obesidade e câncer. No caso dos idosos pode também agravar a perda generalizada de massa muscular – quadro conhecido como sarcopenia – e aumentar o risco de quedas, fraturas e outros traumas físicos. O grupo da FM-USP publicou artigo a respeito no Journal of the American Geriatrics Society. “Essas populações mais vulneráveis aos efeitos do sedentarismo também integram o grupo de risco da COVID-19 e, portanto, precisarão se resguardar em casa durante os próximos meses. O ideal é que encontrem estratégias para se manterem ativas, seja realizando tarefas domésticas, caminhando até o jardim, subindo escadas, brincando com os filhos ou dançando na sala. As evidências científicas indicam que a prática de exercícios no ambiente domiciliar é segura e eficaz para controlar a pressão, melhorar as taxas lipídicas, a composição corporal, a qualidade de vida e de sono”, afirma Peçanha. Para os pacientes de maior risco, principalmente aqueles não habituados à prática de exercícios, o pesquisador recomenda supervisão por profissionais de saúde, ainda que a distância, por meio de câmeras, aplicativos de celular e outros dispositivos eletrônicos. “Estudos mostram que as pessoas tendem a aderir melhor à atividade física quando se cria um ambiente on-line que favoreça o suporte social e a interação entre os praticantes.” Novas evidências Dados divulgados nos últimos meses por empresas que comercializam relógios inteligentes e aplicativos para monitoramento de atividade física indicam queda no número de passos diários de seus usuários desde o início do confinamento. “A norte-americana Fitbit, por exemplo, apresentou em seu blog, em 22 de março, dados de 30 milhões de usuários que mostraram uma redução entre 7% e 33% no número de passos dados por dia. No Brasil, há um levantamento feito pelo pesquisador Raphael Ritti-Dias pela internet com mais de 2 mil voluntários. Mais de 60% afirmam ter reduzido seu nível de atividade física após o início da quarentena”, conta Peçanha. “Essas ainda são evidências preliminares, mas há estudos em andamento que visam medir o efeito para a saúde da inatividade física durante a quarentena.” Uma dessas iniciativas está sendo conduzida na FM-USP, pelo grupo vinculado ao Projeto Temático “Reduzindo tempo sedentário em populações clínicas: o estudo take a stand for health”, coordenado pelo professor Bruno Gualano, coautor do artigo publicado no American Journal of Physiology. “Acompanhamos alguns grupos clínicos no âmbito do Temático, como mulheres com artrite reumatoide, pacientes submetidos a cirurgia bariátrica e idosos com comprometimento cognitivo leve. O objetivo é induzir o aumento da atividade física nessas populações por meio de ações do cotidiano, como passear com o cachorro ou descer dois pontos antes ao andar de ônibus, e avaliar os efeitos na saúde”, conta Peçanha. Agora, durante a quarentena, os pesquisadores têm monitorado mais assiduamente o grupo das mulheres com artrite reumatoide para medir o nível de atividade física e comparar com o do período anterior ao confinamento. “As pacientes estão usando acelerômetros [dispositivo que permite medir a atividade física e distância percorrida pelo indivíduo durante um período de tempo] em casa e ligamos com frequência para saber como está a qualidade de vida e a nutrição. Um grupo de pesquisadores vai até a residência para fazer medidas de peso, composição corporal, pressão e coleta de sangue”, explica. Metade das voluntárias será submetida a uma intervenção

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No mundo todo, 153 fármacos são testados em pacientes com COVID-19

Levantamento feito nas principais bases de dados sobre ensaios clínicos do mundo revela que 153 fármacos estão sendo testados em 1.765 estudos com pacientes que contraíram COVID-19. O número revela a dimensão do esforço científico global em curso para combater a doença, que conta ainda com outras frentes, como a compreensão dos mecanismos moleculares da infecção, o desenvolvimento de vacinas e a geração de dados epidemiológicos sobre a pandemia, por exemplo. Pesquisas relacionadas à busca de medicamentos e vacinas contra o novo coronavírus serão o tema do seminário on-line “Vetores saudáveis: Desenvolvimento de Medicamentos e Vacinas para a COVID-19 e os Desafios em Saúde no Brasil”, que será realizado nesta quarta-feira (10/06) pela Universidade de São Paulo (USP) e a Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp). O evento terá como expositores o médico Drauzio Varella; o pesquisador Adriano D. Andricopulo, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e diretor executivo da Aciesp; e Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e pesquisador do Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). “Uma análise cuidadosa dos 1.765 estudos em andamento revelou algumas surpresas e curiosidades. Entre as 153 substâncias químicas registradas nos testes clínicos há antivirais, antiparasitários e medicamentos desenvolvidos para diferentes condições”, diz Andricopulo, responsável pelo levantamento. Foram analisados dados das quatro principais bases on-line de estudos clínicos do mundo: Clinical Trials, mantida pelos National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos (1.001 registros); EU Clinical Trials Register, da União Europeia (51 registros); ISRCTN, que segue diretrizes da Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos (ICTRP), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas ICMJE (39 registros), e Chinese Clinical Trial Registry, da China (674 registros). Estudos brasileiros e de outros continentes são registrados em algumas dessas bases. Andricopulo é pesquisador e coordenador de transferência de tecnologia do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um CEPID apoiado pela FAPESP no IFSC-USP. O centro busca atualmente potenciais antivirais para o tratamento de COVID-19 entre compostos sintéticos e produtos naturais da biodiversidade brasileira, além de realizar estudos voltados ao reposicionamento de fármacos já existentes (leia mais em: agencia.fapesp.br/33270/) . Diversidade de medicamentos Pela metodologia conhecida como reposicionamento de fármacos, são testadas moléculas já aprovadas para outras doenças ou que estão em fase avançada de testes clínicos. Por isso, entre as 153 moléculas que estão sendo avaliadas para a COVID-19, há uma grande diversidade de classes terapêuticas. Os antivirais aparecem na liderança, com 26 candidatos. Outros 18 são medicamentos anticâncer, 14 imunossupressores, 13 anti-hipertensivos, 12 antiparasitários e 12 anti-inflamatórios. Entre os outros 58 candidatos estão antibióticos diversos, antiulcerosos, anticoagulantes, antidepressivos, antipsicóticos, vasodilatadores, antidiabéticos, corticosteroides e redutores de colesterol. Um dos mais promissores, até agora, é o antiviral remdesivir, desenvolvido originalmente para combater o vírus ebola. O medicamento, no entanto, tem a desvantagem de só poder ser administrado na forma injetável. Por isso, duas outras moléculas têm se destacado como alternativas superiores a ele. A EIDD-2801 ataca a mesma enzima viral que o remdesivir, mas pode ser administrada por via oral, em comprimidos. Além disso, os testes realizados até agora mostram que ela pode ser mais eficaz contra as formas mutantes do vírus, evitando a criação de resistência ao medicamento. Outra molécula semelhante e mais simples, a EIDD-1931, atrapalha o processo de transcrição do material genético do vírus, levando à interrupção da replicação. O pesquisador ressalta, porém, que não há vacina nem medicamento específico aprovado para a COVID-19 e que, por isso, o levantamento acende um sinal de alerta. “Ainda estamos distantes de alcançar um tratamento com 100% de eficácia e é pouco provável que isso ocorra no curto prazo. E a pouca eficácia dos medicamentos em investigação clínica sugere que o tratamento da COVID-19 deva ser feito com uma combinação de fármacos, de acordo com a avaliação do quadro e das condições de cada paciente”, diz. O webinar terá abertura de Sylvio Canuto, pró-reitor de pesquisa da USP; Vanderlan Bolzani, professora do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp) e presidente da Aciesp e Guilherme Ary Plonski, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. A mediação do debate será do jornalista Herton Escobar. O evento poderá ser acompanhado pelo site do IEA: www.iea.usp.br/aovivo. André Julião | Agência FAPESP

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Líderes que promovem cooperação ajudam a superar pandemias

Um grupo internacional de pesquisadores reuniu um conjunto de informações sobre respostas a desastres e pandemias e apontou uma série de comportamentos que podem contribuir para a superação da crise da COVID-19. Entre os resultados, os autores apontam as vantagens de ter líderes que promovam a cooperação entre as pessoas e a adesão às novas normas, da difusão de mensagens que tragam um senso de propósito comum entre a população e da diminuição da polarização política. O estudo, publicado na Nature Human Behaviour, foi liderado por pesquisadores da New York University e da Stanford University, nos Estados Unidos, e tem ainda autores de outras universidades norte-americanas, do Reino Unido, Holanda, China, Austrália, Canadá e do Brasil. “Quando começou a pandemia e ficou evidente o tamanho do problema, formou-se esse grupo para dar um panorama geral de como as ciências humanas e do comportamento poderiam contribuir na contenção da pandemia”, disse à Agência FAPESP Paulo Sérgio Boggio, professor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie (CCBS-UPM), único coautor brasileiro do estudo. Boggio coordena o Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social do CCBS-UPM e é pesquisador do Centro de Pesquisa Aplicada em Bem-Estar e Comportamento Humano (CEBEM), um Centro de Pesquisa e Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e pela Natura, com sede na Universidade de São Paulo (USP). “Não é exagero dizer que essa é uma pandemia sem precedentes em vários aspectos. Por isso, buscamos assuntos relacionados, como desastres e outras pandemias. Esses eventos nos ensinaram muito”, diz Jay J. van Bavel, professor da New York University, que coordenou a pesquisa com Robb Willer, da Stanford University. O grupo realiza atualmente uma pesquisa em mais de 60 países para verificar o quanto o que foi levantado no estudo se aplica especificamente à pandemia do novo coronavírus SARS-CoV-2. Propagação de informação sobre saúde O artigo mostra que crises como a atual criam uma oportunidade para líderes em diferentes níveis, nas famílias e locais de trabalho e até em comunidades e nações. Os líderes podem coordenar os indivíduos e ajudá-los a evitar comportamentos inadequados para a nova situação, como formar aglomerações e não usar máscaras, no caso da pandemia atual. Isso pode ser bastante positivo em comunidades mais pobres, onde líderes religiosos e comunitários podem ajudar a propagar informações de saúde que ajudem a conter a pandemia nesses locais. No entanto, se aplica também a autoridades em nível nacional. “Um exemplo emblemático de liderança positiva é a primeira-ministra da Nova Zelândia [Jacinda Ardern], que se colocou o tempo todo como mais uma cidadã do país e que estava junto com a população no enfrentamento da pandemia. O resultado foi muito positivo, com o país tendo praticamente erradicado novas infecções”, diz Boggio. No caso dos Estados Unidos e do Brasil, explica o pesquisador, as diferentes versões de presidentes e governadores sobre a gravidade do vírus podem abalar a confiança da população e prejudicar a adesão às novas normas de saúde, resultando, por exemplo, em níveis de isolamento abaixo do ideal. O alto grau de polarização política nos dois países também é visto como um fator que atrapalha a contenção do novo coronavírus, uma vez que estudos mostram que pessoas em polos opostos do espectro político tendem a duvidar de mensagens vindas do outro lado. “Líderes e membros da mídia devem destacar medidas tomadas em conjunto por ambos os lados, quando houver. Em outros contextos, isso reduziu a polarização e levou a uma visão menos enviesada dos fatos”, escrevem os autores. “Ter políticos, celebridades e líderes comunitários respeitados, com comportamentos exemplares, pode ajudar a promover a cooperação e condutas em prol da sociedade.” Além desses resultados, o estudo traz uma série de lições de outras crises que podem ajudar na contenção da pandemia e dos efeitos sociais causados por ela. Uma delas é que a solidariedade é a regra, enquanto o “pânico”, a exceção, em episódios como esse. Estudos sobre respostas a terremotos e outros desastres mostram que as pessoas tendem a ajudar umas às outras nessas situações. O destaque pela mídia de imagens de saques, ou de pessoas fazendo compras em excesso, traz uma ideia equivocada da situação e gera medo e ansiedade na população. Nesse sentido, os autores apontam que as mensagens que mais surtem efeito, sejam elas transmitidas pela mídia ou pelos líderes, normalmente obedecem a alguns requisitos, como enfatizar os benefícios para o indivíduo em seguir as novas normas, focar na proteção de outros (como pais e avós, por exemplo), alinhar-se a valores morais da pessoa (como a ênfase na família) e apelar para o consenso científico, social ou mesmo para a aprovação do grupo ao qual o indivíduo pertence (classe social, igreja etc.). Os pesquisadores destacam ainda que preparar as pessoas para lidar com notícias fraudulentas (fake news), garantindo informação de qualidade e argumentos contra boatos, pode ajudar a prevenir contra informações falsas durante a pandemia. Por fim, uma vez que as pessoas sentem necessidade maior de conexão com as outras, os pesquisadores recomendam o uso do termo “distanciamento físico” em vez dos usados atualmente. “A ideia do termo é também de enquadramento da informação. ‘Distanciamento’ ou ‘isolamento social' aumentam a conotação de um isolamento do contato humano. Mas, como temos muitas alternativas tecnológicas para interagir com os outros, o ideal seria chamar apenas de distanciamento ou isolamento físico. Isso ajuda a manter uma perspectiva mais positiva, de que os contatos sociais podem existir, contanto que se mantenha fisicamente afastado”, diz Boggio. O artigo Using social and behavioural science to support COVID-19 pandemic response pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41562-020-0884-z. André Julião | Agência FAPESP

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Ferramenta permite selecionar antígenos do coronavírus para criar vacina terapêutica

Uma ferramenta computacional tem ajudado pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaboradores internacionais a desenvolver uma vacina terapêutica contra o HIV, vírus causador da Aids, que já começou a ser testada em pacientes no Brasil. Um artigo divulgado recentemente na plataforma medRxiv, ainda em versão preprint (sem revisão por pares), o grupo validou a plataforma computacional e propôs adaptar a metodologia para criar uma formulação capaz de auxiliar na recuperação de pessoas com a forma grave da COVID-19. “A vacina terapêutica seria indicada para pacientes que começam a apresentar queda na saturação de oxigênio, o que pode ocorrer por volta do sétimo dia após o início dos sintomas. A ideia seria evitar que o quadro progrida para insuficiência respiratória”, afirma Ricardo Sobhie Diaz, professor da Disciplina de Infectologia na Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) e coautor do estudo. Com apoio da FAPESP, Diaz tem se dedicado a buscar, nos últimos oito anos, a "cura esterilizante" da Aids, ou seja, a eliminação completa do HIV do organismo. O tratamento atual, feito com um coquetel de fármacos, consegue zerar a carga viral. Mas o HIV pode voltar a se replicar caso a terapia seja interrompida. Uma das estratégias pesquisadas na Unifesp consiste em treinar determinadas células do sistema imunológico para “caçar” o vírus no organismo – mesmo que ele esteja na fase latente (inerte dentro dos linfócitos, sem replicação) ou escondido em regiões do organismo em que os medicamentos antirretrovirais não conseguem chegar. O trabalho conta com a participação de cientistas da Itália, da Alemanha e do Egito. “Desenvolvemos uma vacina de células dendríticas, também conhecidas como ‘apresentadoras de antígenos’. Essas células de defesa têm o papel de ensinar os linfócitos do tipo T-CD4 a reconhecer partículas de vírus, bactérias ou qualquer outro invasor. Estes, por sua vez, induzem os linfócitos do tipo T-CD8, também chamados citotóxicos, a buscar e a eliminar as células infectadas por aquele antígeno específico”, explica Diaz. No estudo da Unifesp, o “treinamento” das células dendríticas é feito na bancada do laboratório, de forma personalizada. Para isso, os pesquisadores fazem o sequenciamento do HIV presente em cada paciente, com foco em uma região do genoma viral conhecida como GAG (antígeno grupo-específico, na sigla em inglês), considerada altamente imunogênica (capaz de induzir resposta imune). Também é analisado o perfil genético de cada participante, por meio do sequenciamento dos genes que codificam os antígenos leucocitários humanos (HLA, na sigla em inglês). O objetivo, nesse caso, é descobrir quais são as proteínas usadas pelas células dendríticas para fazer o reconhecimento e a apresentação dos antígenos. “Desenvolvemos uma ferramenta computacional chamada Custommune para selecionar, com base nos dados genéticos, nanômetros virais [peptídeos formados por nove aminoácidos] capazes de induzir uma forte resposta antiviral naquele indivíduo. E então sintetizamos esses peptídeos em laboratório e os colocamos para interagir in vitro com as células dendríticas”, conta Diaz. As células dendríticas são obtidas a partir de uma amostra de sangue do paciente a ser tratado. Os pesquisadores extraem do soro sanguíneo um tipo de leucócito denominado monócito e o expõem a determinadas citocinas (proteínas que atuam como sinalizadores do sistema imune) que induzem a transformação. Após o treinamento, as células dendríticas são injetadas na região inguinal e nas axilas dos pacientes para que se disseminem pelo sistema linfático, onde deverão “capacitar” os linfócitos para eliminar o HIV. Resultados promissores A metodologia já foi testada em 10 pacientes, que receberam três doses da vacina. Análises preliminares indicam que a formulação promoveu uma resposta antiviral no organismo. “Após cada dose, colhemos uma nova amostra de sangue dos voluntários e extraímos os linfócitos T-CD4 e T-CD8. Em seguida, colocamos essas células para interagir, in vitro, com os mesmos peptídeos virais usados na composição da vacina terapêutica. Observamos que os linfócitos, nessa condição, passavam a produzir moléculas como interleucina-2, fator de necrose tumoral alfa e interferon gama – citocinas pró-inflamatórias características de uma resposta antiviral. A cada dose da vacina foi possível observar um aumento linear e significativo na produção das citocinas”, conta Diaz. Como controle, os pesquisadores colocaram os leucócitos dos pacientes para interagir com antígenos da bactéria Staphylococcus aureus e, nesse caso, não houve produção de citocinas. Todos os participantes do estudo já faziam uso do coquetel antiaids (antirretrovirais) há pelo menos dois anos e, portanto, não foi possível avaliar o efeito da vacina em termos de redução da carga viral, que já era indetectável desde o início do estudo. O tratamento com antirretroviral foi interrompido nessas pessoas e, em duas delas, o vírus não voltou a ser detectado no plasma sanguíneo na maior parte das amostras coletadas para análise. O grupo pretende ampliar o teste clínico para um grupo de 50 voluntários, mas os planos foram adiados por causa da pandemia de COVID-19. A proposta é combinar a vacina terapêutica com o coquetel de antirretrovirais padrão acrescido de dois fármacos normalmente não usados no tratamento da Aids. No caso da COVID-19, explica Diaz, a vacina terapêutica também teria de ser personalizada para cada paciente. “No artigo, o pesquisador Andrea Savarino [Università Cattolica del Sacro Cuore, Itália] simulou o uso da ferramenta para selecionar antígenos do SARS-CoV-2 que poderiam ser usados em uma formulação. A plataforma computacional permite desenvolver vacinas de células dendríticas, de peptídeos ou de DNA”, conclui Diaz. O artigo Custommune: a web tool to design personalized and population-targeted vaccine epitopes pode ser lido em https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.04.25.20079426v1. Karina Toledo | Agência FAPESP

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Pesquisadores defendem economia ambientalista para superar a crise causada pela COVID-19

A construção de novas rotas de desenvolvimento econômico baseadas na valorização e na valoração da biodiversidade e dos serviços prestados pela natureza (ecossistêmicos), como o fornecimento de água e a regulação climática, será crucial não só para evitar crises desencadeadas por novas pandemias como para superar a atual. A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do seminário on-line “Biodiversidade, crise climática, economias e pandemias”, que aconteceu em 22 de maio por ocasião do Dia Internacional da Biodiversidade. O encontro foi realizado por iniciativa da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos BPBES e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, com apoio do Programa BIOTA-FAPESP e da Academia Brasileira de Ciências ABC. “É fundamental a compreensão de que a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico não são processos antagônicos, mas interdependentes. Desenvolvimento não é viável sem uma base de sustentação dos processos naturais que geram os serviços ecossistêmicos, também conhecidos como contribuição da natureza para o bem-estar humano”, disse Cristiana Seixas, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação da BPBES. A produção em larga escala de alimentos, fibras têxteis e madeira, entre outros itens, pela rota atual, tem impactado diretamente na expansão de áreas de cultivo agrícola e de pastagem para áreas naturais em biomas brasileiros, como a Amazônia. Além de possuírem uma grande diversidade de animais, plantas e microrganismos, cuja interação gera os serviços ecossistêmicos, essas áreas de floresta estocam carbono e são reservatórios de vírus, bactérias e outros microrganismos, presentes em espécies selvagens de animais e com potencial de serem transmitidos para o ser humano, como ocorreu com o novo coronavírus, o SARS-CoV-2. Dessa forma, a destruição dessas áreas naturais causa a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, agrava a crise climática e aumenta o risco de novas pandemias, ressaltou Seixas. “Está claro que a escolha de consumo que fazemos hoje de alimentos, roupas ou utensílios domésticos tem implicações diretas na conservação ou destruição de áreas naturais e no risco de novas pandemias”, afirmou a pesquisadora. A fim de desacelerar a perda de áreas naturais, minimizar as mudanças climáticas e favorecer o desenvolvimento sustentável em longo prazo, será preciso promover mudanças em políticas públicas, nos padrões de consumo e investir em novos modelos de produção agropecuária que conservem a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. Além disso, será necessário desenvolver sistemas de produção industrial que operem em uma lógica de economia circular, evitando a poluição ambiental; investir na produção de energia renovável, saneamento básico e tratamento de efluentes, de modo a evitar a poluição de corpos d’água; e valorar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos nos processos econômicos, apontou Seixas. “Em geral, os serviços ecossistêmicos, que são gerados pela interação de animais, plantas, fungos e microrganismos, não são contabilizados nos custos de produção”, disse a pesquisadora. O serviço de polinização de culturas agrícolas de grande importância para a agricultura brasileira, como a soja (Glycine max) e a laranja (Citrus sinensis), realizado por abelhas e outros polinizadores, foi estimado em 2018 em R$ 43 milhões (leia mais em agencia.fapesp.br/29730). Já o valor total dos serviços ecossistêmicos prestados pela natureza nas Américas equivale ao PIB do continente, de mais de US$ 24 trilhões por ano, exemplificou Seixas. Estímulo à economia verde A crise econômica gerada pela COVID-19 deve resultar em uma retração de 5% a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, que em 2019 foi de US$ 87 trilhões. Essa redução da atividade econômica global – da ordem de US$ 5 trilhões a US$ 10 trilhões – é equivalente a perda de três a cinco vezes o PIB do Brasil, o nono maior do mundo, estimado em US$ 1,8 trilhão, comparou Carlos Eduardo Frickmann Young, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em economia ambiental. “Teremos uma crise de desemprego que certamente não tem paralelo no mundo pós Segunda Guerra Mundial”, disse Young. As crises econômica e fiscal – marcada pela queda de arrecadação de impostos – geradas pela pandemia devem resultar em um aumento dos gastos públicos dos países, voltados a apoiar atividades que contribuam para a recuperação de suas economias. Os critérios para a concessão desses incentivos devem levar em contar atividades que contribuam para o desenvolvimento de uma economia verde ou de baixo carbono, que não piorem as condições socioeconômicas atuais, avaliou Young. “O risco agora é que, em vez de ser desenhado um conjunto de incentivos econômicos que melhorem as condições socioeconômicas, se regresse ao modelo econômico anterior à pandemia, que é predatório e gera desemprego”, disse Young. De acordo com o pesquisador, o modelo econômico adotado pelo Brasil, por exemplo, baseado na agropecuária e na extração mineral, é pouco inclusivo. O setor agropecuário tem apresentado um déficit de 3,6 milhões de empregos nas últimas duas décadas, apontou.  "O modelo econômico em vigor no Brasil não gera empregos, dinamismo e crescimento econômico desejáveis. É fundamental ter, nesse momento, outra forma de incentivar a recuperação da atividade econômica do país”, avaliou Young. Na opinião de Eduardo Brondizio, professor da Indiana University, dos Estados Unidos, o momento atual representa uma janela de oportunidades para repensar a trajetória de desenvolvimento econômico e social do planeta. “Estamos em um momento crítico em que, de maneira sem precedentes, os países vão começar a investir, subsidiar e ajudar a recuperar vários setores da sociedade. Temos a oportunidade de escolher novos caminhos ou reforçar os existentes e que só servem aos interesses de grupos particulares”, avaliou. O pesquisador brasileiro, radicado há mais de 20 anos nos Estados Unidos, foi um dos coordenadores da primeira avaliação global da biodiversidade, publicada em 2019 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). O relatório produzido pelo órgão, que inspirou a criação da BPBES, indicou que a extinção de espécies de plantas e de animais tem ocorrido em uma escala sem precedentes e anteviu a possibilidade de surgir uma pandemia (leia mais em agencia.fapesp.br/30430). “O relatório mostrou que progressivamente estamos erodindo a fundação mais básica da nossa economia, que garante a saúde, segurança alimentar, disponibilidade de água e o bem-estar humano, que é a biodiversidade”,

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Ferramenta que permite editar genes pode ajudar a barrar Covid-19

Pesquisadores das faculdades de Medicina (FMRP) e de Odontologia (FORP) da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, estão desenvolvendo uma estratégia para combater a COVID-19 baseada em edição gênica. Por meio de ferramentas de biologia molecular e de bioinformática, eles criaram um sistema para simular mutações pontuais no gene que codifica a proteína ACE2 – à qual o SARS-CoV-2 se liga para entrar nas células humanas. O objetivo é desestabilizar a interação entre o vírus e as células para impedir a infecção. Desenvolvido no âmbito de um projeto apoiado pela FAPESP, o modelo foi descrito em um artigo publicado na plataforma preprints, ainda sem revisão por pares. “O sistema possibilita simular a inserção de mutações específicas na região do gene ACE2 que codifica a parte da proteína que adere ao vírus, sem prejudicar as funções fisiológicas da molécula”, diz à Agência FAPESP Geraldo Aleixo Passos, professor da FORP e da FMRP-USP e coordenador do projeto. Uma das principais funções do gene ACE2 é expressar o RNA mensageiro que orienta a produção da enzima conversora da angiotensina 2 – molécula essencial para o controle da pressão arterial. Por isso, medicamentos candidatos a combater a COVID-19 pela inibição desse gene reduziriam em tese a entrada do SARS-CoV-2 nas células, mas poderiam causar, como efeito colateral, aumento da pressão arterial, pondera Passos. “A edição gênica representa uma estratégia mais interessante para interferir na ACE2 porque permite modificar apenas a região da proteína que interage com o novo coronavírus, mantendo intacta a atividade biológica de conversão da angiotensina 2”, avalia o pesquisador. Por meio de estudos das características estruturais, os pesquisadores analisaram a proteína de superfície do SARS-CoV-2 – chamada spike – e da região da ACE2 que adere ao vírus e permite a sua entrada nas células – a alfa-hélice N-terminal – e identificaram resíduos de aminoácidos que funcionam como pontos de contato entre o novo coronavírus e a ACE2. “Podem existir outras regiões da ACE2 que interagem com o SARS-CoV-2, mas atacamos a que é mais conhecida”, explica Passos. Com base no sistema CRISPR/Cas9 – ferramenta molecular que permite inserir ou deletar nucleotídeos (blocos de construção do material genético) e até genes inteiros no genoma –, foram alterados os códons (trincas de nucleotídeos no DNA) dos resíduos de aminoácidos da alfa-hélice N-terminal da ACE2 envolvidos na ligação com o novo coronavírus. As alterações permitiram substituir aminoácidos críticos por outro, chamado alanina (Ala). Os resultados das análises de predição indicaram que essas mudanças (mutações pontuais) por edição gênica desestabilizaram a interação entre a alfa-hélice N-terminal da ACE2 e a proteína spike do SARS-CoV-2, sem interferir no centro ativo da proteína, mantido intacto. “Comprovamos em ensaios de bioinformática que a edição gênica é uma estratégia promissora para combater o novo coronavírus”, afirma Passos. Os pesquisadores estão buscando agora se associar com grupos de virologia para a realização de ensaios in vitro. Os pós-graduandos participantes do estudo produziram um vídeo explicativo sobre a pesquisa que foi um dos vencedores de um concurso promovido pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP para premiar os melhores curtas sobre pesquisas relacionadas à COVID-19 produzidos por estudantes de mestrado e doutorado da universidade. O artigo A Crispr-Cas9 system designed to introduce point mutations into the human ACE2 gene to weaken the interaction of the ACE2 receptor with the SARS-CoV-2 S protein (DOI: 10.20944/preprints202005.0134.v1), de Tanaka, P.; Santos, J.; Oliveira, E.; Miglioli, N.; Assis, A.; Monteleone-Cassiano, A.; Ribeiro, V.; Duarte, M.; Machado, M.; Mascarenhas, R.; Souza, A.; Brito, L.; Oliveira, L.; Donadi, E.; e Passos, G., pode ser lido em www.preprints.org/manuscript/202005.0134/v1. Elton Alisson | Agência FAPESP

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Saiba como fazer repelente natural e conheça plantas que afastam os insetos

Responsáveis pela transmissão de várias doenças, como dengue, zika e chikungunya os insetos fazem parte da rotina urbana. Neste período de reclusão, em que muitas pessoas estão em casa, é fundamental aproveitar o tempo para impedir a proliferação desses mosquitos e se proteger. Para ajudar a minimizar este problema, a Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Meio Ambiente, separou algumas dicas que ajudam a manter os insetos longe de casa e das pessoas, como o uso de repelente natural e plantas que afastam os insetos. De acordo com a arte-educadora Silvana Coutinho, a natureza está cheia de remédios naturais. “A própria natureza fornece uma variedade de compostos orgânicos que são poderosos contra mosquitos, moscas, formigas, baratas e outros insetos que se adaptaram tão bem à vida urbana”, comenta. Silvana ainda afirma que é possível investir em plantas que afastam os insetos, como arruda, jasmim, lavanda, hortelã, alecrim, citronela, poejo, capim-limão e erva-cidreira. Várias plantas podem ser compradas nas grandes redes de supermercado, alguns têm sessões exclusivas de plantas e jardins. “O cultivo de certas plantas repelentes pode não só deixar a casa mais charmosa, mas criar uma barreira contra os insetos. Geralmente as plantas aromáticas cumprem este papel, pois possuem óleos essenciais que na natureza têm o papel de repelir o ataque de pragas”, explica. Outra sugestão é fazer um repelente caseiro com álcool de cereais, cravo e óleo natural. É fácil, sai mais barato que os repelentes comprados, e é efetivo. Silvana Coutinho ensina o passo a passo de como preparar o produto. “O cravo-da-índia é um eficiente repelente natural contra pernilongos, inclusive contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus. Isto porque o seu cheiro característico, originado pela presença de eugenol em sua composição, é capaz de afastar mosquitos, além de moscas e formigas. A solução pode ser usada por adolescentes e adultos, incluindo gestantes após liberação médica”, diz. Ingredientes: 500ml de álcool cereal 100ml de óleo natural 50 gramas de cravo da Índia. Modo de fazer Quebre um pouco o cravo da Índia, em seguida coloque no álcool que deverá estar em um vidro escuro, e agite, deixe a mistura maturar por 15 dias em um local escuro e arejado, mexa no mínimo um vez ao dia, você vai observar a mudança na coloração, ao término dos quinze dias coe e coloque em um vidro a tintura e o óleo, seu repelente estar pronto para usar. O tempo de duração é de no máximo 3 horas. Modo de uso: Pulverize o repelente caseiro em toda a região do corpo exposta ao mosquito, como braços, rosto e pernas, e reaplique o repelente sempre que praticar esporte, suar, ou molhar-se. Silvana Coutinho, ao mesmo tempo, lembra que não se pode esquecer que uma das melhores alternativas é matar os mosquitos no nascedouro, ainda enquanto são larvas, evitando-se que cheguem à fase adulta, quando se tornam de fato perigosos, transmissores de doença. A forma de evitar isso é praticamente conhecida de todo mundo: deve-se se evitar o acúmulo de água limpa parada em garrafas de vidro ou PET, pneus velhos, tonéis e depósitos, pratinhos de vasos de plantas, vasos sanitários em banheiros não usados, bandeja externa de geladeiras, lixeiras, plantas que possam acumular líquido, ralos e calhas entupidas e lajes e outras superfícies desniveladas.

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Administração de Noronha libera praias para moradores com restrições

Após zerar os casos de coronavírus no arquipélago ao adotar o regime de quarentena, a administração flexibilizou a saída das pessoas na rua e, agora, anuncia que os moradores já podem frequentar as praias a partir desta segunda-feira, dia 25 de maio. O horário permitido é das 8h às 16h. Mas, para isso, os noronhenses precisam seguir medidas importantes para prevenção da doença, que estão disponíveis nas redes sociais da Ilha (Instagram e Facebook) e também nos grupos de WhatsApp dos moradores. Estão permitidas as atividades individuais físicas e náuticas, como natação e surf, e prática de esportes com até quatro pessoas, desde que não haja contato físico. Por outro lado, está proibido o consumo de bebidas alcoólicas, qualquer atividade comercial e o uso de guarda-sóis e toldos. A aglomeração com mais de cinco pessoas, também não é permitida. E segue a recomendação de manter um distanciamento de dois metros entre as pessoas. É importante lembrar que o descumprimento dessas medidas pode acarretar numa nova interdição das praias. A liberação das praias nesta segunda-feira estava nos planos do administrador da Ilha de Fernando de Noronha, Guilherme Rocha, desde que os casos de coronavírus foram zerados no arquipélago, no dia 8 de maio. "Num trabalho em conjunto com toda a sociedade noronhense, conseguimos zerar os casos. E isso foi uma grande vitória. Agora, estamos liberando as praias para os moradores e contamos com o apoio de todos nas medidas de prevenção para, aos poucos, voltarmos à nossa normalidade", destacou. O retorno às praias pós-quarentena também implica em um maior cuidado dos banhistas. O engenheiro de pesca e pesquisador Léo Veras, responsável pelo Museu do Tubarão alerta que é preciso redobrar as atenções para evitar o contato com os animais. "Percebemos que o não uso das praias encorajou a frequência de grandes tubarões nas regiões mais rasas. Desta maneira, as pessoas devem tomar alguns cuidados básicos de segurança e convivência. Por isso, não persiga, não tente toca e nem alimentar os tubarões. Se visualizar um animal maior do que você, saia da água". ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO Para que essa flexibilidade nas praias seja ampliada, a administração de Fernando de Noronha espera contar com o apoio dos moradores quanto ao estudo epidemiológico que já teve início na Ilha. Através dessa pesquisa, será possível avaliar a circulação do vírus, tornando Noronha um local protegido e seguro para a população. "É muito importante que os moradores recebam os pesquisadores em suas casas para esse estudo. Com os dados, será possível ter uma radiografia mais real da circulação do vírus na Ilha, que pode ocorrer de forma assintomática e silenciosa. Com as informações da pesquisa, a gente pode agir de forma mais precisa para bloquear essa possível presença do coronavírus. Vamos continuar juntos trabalhando por uma Noronha livre da doença", disse Guilherme. Além do estudo, a Vigilância Sanitária da ilha segue em prontidão. Qualquer sinal de sintoma gripal, o morador deve acionar o órgão pelos telefones (81) 3619-0956 / 99488-4366.

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Pesquisadores desvendam mecanismo que torna COVID-19 mais grave em diabéticos

Um grupo brasileiro de pesquisadores desvendou uma das causas da maior gravidade da COVID-19 em pacientes diabéticos. Como mostraram os experimentos feitos em laboratório, o teor mais alto de glicose no sangue é captado por um tipo de célula de defesa conhecido como monócito e serve como uma fonte de energia extra, que permite ao novo coronavírus se replicar mais do que em um organismo saudável. Em resposta à crescente carga viral, os monócitos passam a liberar uma grande quantidade de citocinas [proteínas com ação inflamatória], que causam uma série de efeitos, como a morte de células pulmonares. O estudo, apoiado pela FAPESP, é liderado por Pedro Moraes-Vieira, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), e por pesquisadores que integram a força-tarefa contra a COVID-19 da universidade, coordenada por Marcelo Mori, também professor do IB-Unicamp e coautor do trabalho.O artigo encontra-se em revisão na Cell Metabolism, mas já está disponível em versão preprint, ainda não revisada por pares. “O trabalho mostra uma relação causal entre níveis aumentados de glicose com o que tem sido visto na clínica: maior gravidade da COVID-19 em pacientes com diabetes”, diz Moraes-Vieira, pesquisador do Experimental Medicine Research Cluster (EMRC) e do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP, com sede na Unicamp. Por meio de ferramentas de bioinformática, os pesquisadores analisaram inicialmente dados públicos de células pulmonares de pacientes com quadros médios e severos de COVID-19. Foi observada uma superexpressão de genes envolvidos na chamada via de sinalização de interferon alfa e beta, que está ligada à resposta antiviral. Os pesquisadores observaram ainda no pulmão de pacientes graves com COVID-19 uma grande quantidade de monócitos e macrófagos, duas células de defesa e de controle da homeostase do organismo. Monócitos e macrófagos eram as células mais abundantes nas amostras e as análises mostraram que a chamada via glicolítica, que metaboliza a glicose, estava bastante aumentada. As análises por bioinformática foram realizadas pelos pesquisadores Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), e Robson Carvalho, professor do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (IBB-Unesp). Glicose e vírus O grupo da Unicamp realizou, então, uma série de ensaios com monócitos infectados com o novo coronavírus, em que eles eram cultivados em diferentes concentrações de glicose. Os experimentos foram feitos no Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve), que tem nível 3 de biossegurança – um dos mais altos –, e é coordenados por José Luiz Proença Módena, professor do IB-Unicamp apoiado pela FAPESP e coautor do trabalho. “Quanto maior a concentração de glicose no monócito, mais o vírus se replicava e mais as células de defesa produziam moléculas como as interleucinas 6 [IL-6] e 1 beta [IL-1β)] e o fator de necrose tumoral alfa, que estão associadas ao fenômeno conhecido como tempestade de citocinas, em que não só o pulmão, como todo o organismo, é exposto a essa resposta imunológica descontrolada, desencadeando várias alterações sistêmicas observadas em pacientes graves e que pode levar à morte”, diz Moraes-Vieira. Os pesquisadores usaram então, nas células infectadas, uma droga conhecida como 2-DG, utilizada para inibir o fluxo de glicose. Eles observaram que o tratamento bloqueou completamente a replicação do vírus, assim como o aumento da expressão das citocinas observadas anteriormente e da proteína ACE-2, aquela pela qual o coronavírus invade as células humanas. Além disso, usaram uma droga que está sendo testada em pacientes com alguns tipos de câncer. Assim como alguns análogos, a 3-PO inibe a ação de um gene envolvido no aumento do fluxo de glicose nas células. O resultado da sua aplicação foi o mesmo da 2-DG: menos replicação viral e menos expressão de citocinas inflamatórias. Os resultados que indicaram maior atividade da via glicolítica frente à infecção foram obtidos por meio de análises proteômicas dos monócitos infectados, realizadas em colaboração com Daniel Martins-de-Souza, professor do IB-Unicamp apoiado pela FAPESP. Por fim, as análises mostraram que o mecanismo era mediado pelo fator induzido por hipóxia 1 alfa. Como é estudada em diversas doenças, é sabido que essa via é mantida estável, em parte pela a presença de espécies reativas de oxigênio na mitocôndria, a usina de energia das células. Os pesquisadores usaram então antioxidantes nas células infectadas e viram que a hipóxia 1 alfa diminuía a sua atividade e, assim, deixava de influenciar o metabolismo da glicose. Como consequência, fazia com que o vírus parasse de se replicar nos monócitos, as células de defesa infectadas, que não mais produziam citocinas tóxicas para o organismo. “Quando intervimos no monócito com antioxidantes ou com drogas que inibem o metabolismo da glicose, nós revertemos a replicação do vírus e também a disfunção em outras células de defesa, os linfócitos T. Com isso, evitamos ainda morte das células pulmonares”, diz Moraes-Vieira. Os estudos com linfócitos T e a análise da expressão de hipóxia 1 alfa em pacientes foram realizados em colaboração com Alessandro Farias, professor do IB-Unicamp e coautor do trabalho. Como as drogas usadas nos experimentos com células estão atualmente em testes clínicos para alguns tipos de câncer, poderiam futuramente ser testadas em pacientes com COVID-19. O trabalho tem como primeiros autores Ana Campos Codo, bolsista de mestrado da FAPESP; Gustavo Gastão Davanzo, que tem bolsa de doutorado da FAPESP e Lauar de Brito Monteiro, também bolsista de doutorado, todos no IB-Unicamp sob orientação de Moraes-Vieira. “Esse trabalho só foi possível devido às colaborações, ao empenho dos alunos de pós-graduação, que tem trabalhado noite e dia nesse projeto, e ao financiamento rápido do FAEPEX [Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão] da Unicamp e da FAPESP”, diz Moraes-Vieira. O artigo Elevated glucose levels favor SARS-CoV-2 infection and monocyte response through a HIF-1α/glycolysis dependent axis pode ser lido em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3606770.   André Julião | Agência FAPESP

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