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Francisco Cunha

Se o modelo de desenvolvimento de PE está esgotado, o que colocar no seu lugar?

*Por Francisco Cunha

Na apresentação que fiz no final de novembro no Teatro RioMar, quanto do 25º lançamento anual da Agenda TGI, tive oportunidade de dizer que, ao que as evidências começam a apontar com mais clareza, estamos às voltas com o esgotamento do modelo de desenvolvimento de Pernambuco, gestado em meados do século passado.

De fato, este modelo foi esboçado pela Comissão de Desenvolvimento de Pernambuco (Codepe, precursora do Condepe – Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco), criada em 1952 pelo governador Agamenon Magalhães, e contou com a contribuição vital do padre dominicano francês Louis-Joseph Lebret, fundador do movimento Economia e Humanismo, conhecido como Padre Lebret, que esteve no Estado em 1954 e produziu o clássico Estudo sobre Desenvolvimento e Implantação de Indústrias, Interessando a Pernambuco e ao Nordeste.

No lendário estudo, o Padre Lebret reconhece a inequívoca vocação portuária de Pernambuco e recomenda a ampliação do porto do Recife para o sul, dada a impossibilidade de sua expansão a norte e a leste do local onde surgiu (atual Bairro do Recife). Além disso, recomenda também a articulação do porto com um complexo industrial que comportaria refinaria, montadora de automóveis, estaleiros e outras indústrias “leves”, tudo suportado pela malha rodoferroviária (com destaque para o futuro traçado da Transnordetina). Com isso, lança as bases do complexo industrial-portuário de Suape, iniciado na década de 1970 e, hoje, um sucesso como um dos melhores portos do Brasil e vocação inequívoca como hubport internacional.

Exceto pelo trecho pernambucano da transnordestina, ainda numa pendenga construtiva sem fim, praticamente todo o “desenho” esboçado pelo Padre Lebret foi executado com as derradeiras “peças” sendo implantadas (estaleiros, refinaria, montadora e inúmeras indústrias “leves”) nos governos Jarbas Vasconcelos e Eduardo Campos, no início do Século 21.

Coincide com a finalização da implantação do “desenho” do padre, típico da era da industrialização ancorada na economia do petróleo, a emergência de duas importantíssimas tendências de peso: as aceleradas mudanças climáticas e a disrupção digital que trazem em seus bojos, respectivamente, as ameaças do aquecimento global e a da Inteligência Artificial destruidora de empregos.

Sendo um Estado que foi dramaticamente mutilado pelo Império Brasileiro no Século 19, em represália às revoluções de 1817 (com a perda da Comarca das Alagoas) e de 1824 (com a perda da Comarca do São Francisco), Pernambuco tem hoje um território mais de 80% incrustado no semiárido nordestino, o mais populoso do mundo, profundamente impactado pelas mudanças climáticas, com temperaturas mais altas e quantidades mais baixas de água. Por outro lado, essa escassez de recursos naturais foi historicamente compensada pela qualidade dos recursos humanos que, agora, encontram-se sob a séria ameaça da disrupção digital. Isso só para falar em apenas duas tendências de peso contemporâneas…

Por outro lado, podem ser observadas oportunidades que os novos tempos colocam como é o caso das energias renováveis, do hidrogênio verde, da conectividade internacional, da diversidade bioclimática, da capacidade instalada de inovação tecnológica, dentre outras. Todavia, não vemos nenhum tipo perceptível de preparação para o aproveitamento dessas oportunidade em moldes semelhantes àqueles praticados pela Codepe e pelo Padre Lebret em meados do século passado, diante dos desafios então contemporâneos da sobra de energia elétrica gerada pela Chesf e da industrialização para o desenvolvimento ancorada na era do petróleo.

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