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A comida no 1º Congresso Afro-brasileiro, Recife, 1934

“(...) O afro-brasileiro que hoje se reúne, às 15 horas, com toda simplicidade, numa sala do Santa Izabel tal venha a ser o início de um movimento considerável de cultura e da acção social. A primeira tentativa seria de clarificação do ambiente brasileiro no sentido de separar o preto do escravo (como já queira Nabuco, que neste mesmo Santa Izabel fez a campanha da abolição) e de reconhecer no negro, assim rehabilitado, uma raça capaz e com contribuições já notáveis para o desenvolvimento nacional. Ao mesmo tempo que cheia de possibilidades e aptidões magnificas. Por muito tempo nos dominou, um arianismo-ridículo, ligado a preconceito de classe e de exploração econômica. (...) O afro-brasileiro representa reação necessária. O sangue negro no Brasil não deve ser vergonha para ninguém. Nem o sangue negro nem a influência africana, que alcança o todo brasileiro sincero o authentico como uma enorme ‘mancha mongólica’ que se tivesse alastrado a alma nacional”. (Jornal Diário de Pernambuco de 1934) Reunido no Teatro de Santa Izabel, de 11 a 16 de novembro de 1934, sob a organização de Gilberto Freyre, e tendo contado com a participação de notáveis da época como Cícero Dias, Di Cavalcanti, Mario de Andrade; e representantes de Maracatus, Xangôs, e outros segmentos populares e tradicionais, que buscavam diálogos e referências sobre as matrizes africanas, ocorreu o 1º Congresso Afro-brasileiro. E a perspectiva teórica que orientava este 1º Congresso encontrava-se num intervalo entre duas Grandes Guerras mundiais, e representava questões raciais, sociais, econômicas e culturais. Gilberto Freyre, já um culturalista notável, que acabara de publicar em 1933 “Casa-Grande & Senzala”, oferece um rico acervo de revelações e transgressões, à época, que privilegiava as relações multiétnicas. Gilberto também buscava uma igualdade de representações sobre as questões africanas e afrodescendentes, que já dominavam o seu interesse antropológico e humanista. Destaque para uma forte tendência de Gilberto Freyre para as questões da arte, e de uma valorização ainda em construção que se chamaria de patrimônio cultural. Estas questões uniam-se numa busca por um entendimento interrelacional para o respeito à alteridade do homem africano e do homem afro-brasileiro. Muito relevante, e conceitualmente orientador para o 1º Congresso Afro-brasileiro, foi a carta lida por Gilberto Freyre durante a abertura deste Congresso. “ O 1º Congresso Afro-brasileiro manifesta sua solidariedade a essas classes contra toda forma de opressão; louva a ação da Assistência Psicophatas em Pernambuco, reconhecendo nas seitas africanas de organização definida como cultos religiosos e resguardando-as das perseguições policiais; o 1º Congresso Afro-brasileiro protesta contra a atitude da Commissão de Censura Esthetica do Recife querendo fazer desta capital uma cidade de cores delicadas. O 1º Congresso Afro-brasileiro protesta contra toda espécie de descriminação contra negros ou mestiços, que ainda se verifique no Brasil. (...)”. Integrado a este amplo olhar de Gilberto Freyre para questões tão complexas e diversas da temática afro-brasileira, há um tema preferencial que é a comida nas suas múltiplas dimensões culinárias, técnicas e simbólicas. Assim, no dia 14 de novembro, na programação deste 1º Congresso, ocorreu um jantar afro-brasileiro que trazia o seguinte cardápio: acarajé; inhame com mel; farinha de mandioca; “beijo-de-mandioca”; e, cocada. Creio que o acarajé servido foi o frito no azeite de dendê, no formato convencional de uma colher de sopa, que é o que faz parte dos oferecimentos rituais dos Xangôs de Pernambuco. Outro ingrediente que fazia parte do jantar era o inhame, que até hoje, em muitas localidades do Recife e, em especial, nas feiras e mercados populares, é chamado de “inhame-da-costa”, uma referência que atesta a sua procedência africana. A farinha de mandioca, ingrediente tão popular na região, geralmente é servida como um acompanhamento ou no preparo de pirões ou farofas. Havia ainda dois preparos doces que era o “beijo-de-mandioca” e a cocada, como atestações da civilização do açúcar, dominante e fundamental na região.

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“Bolo que te quero bolo”

Tão próximo do açúcar, das receitas das casas, dos doces de rua, dos mercados, das padarias, das “boleiras ”,Gilberto Freyre desenvolve um olhar afetivo que se junta ao método de traduzir as relações sociais pelos muitos preparos culinários com os doces do cotidiano e da festa, em especial destacando o bolo enquanto uma verdadeira comida- símbolo de Pernambuco. Gilberto Freyre no seu livro “Açúcar: em torno da etnografia, da história e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil” com numerosas receitas raras de doces e bolos da região e, para efeitos de comparação, algumas de outras áreas brasileiras e outras tantas de Goa (Índia Portuguesa), reunidas e selecionadas pelo autor ; afirma seu olhar e a sua plural leitura sobre uma multiculturalidade fundadora da civilização do açúcar, dos doces e na formação de paladares regionais que valorizam o que é doce. E Gilberto localiza e enfatiza a doçaria de Portugal, diga-se uma doçaria já mundializada a partir do século XVI, e destaca as muitas opções de receitas de bolos, sim muitos, variados, para as casas, para as festas, para as devoções religiosas. No caso do Nordeste os bolos identificam os engenhos de açúcar ,enquanto verdadeiros brasões construídos nas receitas particulares e autorais, que são essencialmente simbólicas de uma história e de uma família. Para Gilberto, cada bolo é muito mais do que uma receita. O bolo traz uma variedade de temas, de personagens, de localidades, de santos de devoção, entre tantos outros motivos. Cada bolo tem a sua individualidade, e marca, e assim mostra seus territórios de afetividade, de celebração, de religiosidade, de homenagem. Cada bolo é certamente uma realização gastronômica de estética e de sabor, e na sua maioria traz ingredientes nativos, “da terra”, mais uma maneira de atestar identidade. Assim, bolo São Bartolomeu, bolo Divino, bolo São João, bolo Souza Leão; bolo Souza Leão à moda da Noruega, bolo Souza Leão-Pontual, bolo de milho D. Sinhá; bolo de milho Pau-d’alho, bolo Guararapes, bolo Paraibano, bolos fritos do Piauí; bolo de bacia à moda de Pernambuco, bolo de rolo pernambucano, entre tantos. O bolo traz uma intenção, uma assinatura, uma receita; uma intenção pessoal ou coletiva, regional. Ele marca o terroir do doce em Pernambuco. Também o significado de um bolo é repleto de valores familiares, de festas, de ritos de passagem; dos prazeres de se viver o milho, a mandioca, o chocolate, as frutas, os cremes; as coberturas de açúcar e frutas cítricas com a técnica do “glacê mármore”, branco e compacto, uma verdadeira delicia de cobertura, e se o bolo for o de frutas mergulhadas no vinho do Porto ou Moscatel, com a estimada receita de “bolo de noiva”, uma releitura do bolo de frutas inglês, um bolo do tipo “bolo-presente” para festas e celebrações. Chegadas, permanências, sugestões, informações gerais, experiências pessoais, etnografias participativas; festas de santos, especialmente os de junho, com rica culinária a base de milho; festas em casa com a família; festas no tempo de carnaval com filhoses e suas caldas perfumadas; ou no Natal, pastéis de carne temperada e pulverizados de açúcar; num verdadeiro laboratório de gostos, de buscas, de descobertas pela boca e pela emoção. Contudo está no bolo, na sua variedade e nos seus estilos, onde o pernambucano encontra sua identidade, sua história e seu pertencimento cultural. RAUL LODY.

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Porto Digital e MPPE lançam segundo ciclo de inovação aberta

O Porto Digital e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) abrem, nesta quinta-feira (8), a chamada para o segundo ciclo de inovação aberta do órgão. Entre as áreas de atuação que podem contar com a contribuição de soluções construídas no ciclo estão infância, educação, patrimônio público, extrajudicial criminal e inteligência investigativa, com possibilidade de investimento de até R$ 1 milhão distribuídos entre os MVPs aprovados durante o processo. O ciclo de inovação aberta realizado em conjunto entre as duas entidades tem como objetivo estruturar e apoiar o Laboratório de Inovação Tecnológica e de Negócios (MPLabs) do Ministério Público de Pernambuco e fomentar e desenvolver o ecossistema expandido de inovação do parque tecnológico. A chamada já está disponível online no site do Porto Digital (http://bit.ly/Chamada2_MPPEeOIL) e as inscrições para participação estão abertas (http://bit.ly/Inscricao_ChallengeDay). Entre as novidades do segundo ciclo estão a ampliação do ecossistema expandido do Porto Digital, com participação aberta também para empresas instaladas no inovabra habitat, espaço de coinovação do Bradesco em São Paulo. Com isso, startups e empresas dos dois polos de tecnologia poderão fazer conexões para propor soluções construídas em conjunto para o MPPE e formatar novos negócios. Também podem participar pesquisadores que atuem em disciplinas ligadas aos temas. O ciclo seguirá a metodologia de inovação aberta do Open Innovation Lab (OIL), programa desenvolvido pelo Porto Digital que identifica desafios em grandes empresas e as conecta com o ecossistema expandido do Porto Digital. A rodada contempla três fases iniciais: desafios, prototipagem e desenvolvimento de Mínimo Produto Viável (MVP), em um período de aproximadamente 5 meses. No momento inicial, os interessados se inscrevem no Challenge Day, que será realizado no dia 26 de agosto, para compreenderem melhor os desafios propostos pelo Ministério Público e assim poder desenvolver possíveis soluções. Caso se interessem pelos desafios, os participantes deverão preencher um formulário específico, até o dia seguinte (27), para se inscrever em até dois desafios sobre os quais deverão trabalhar no restante do ciclo. Já no dia 28, haverá uma Round Table - atividade de debate e conexão entre os participantes. Os eventos serão realizados simultaneamente no Recife e em São Paulo. Na etapa seguinte, os participantes irão desenhar soluções para os desafios, com foco na prototipagem. Já na terceira e última fase, o objetivo é construir um Mínimo Produto Viável da solução. Ao final desse ciclo, o MPPE pode escolher MVPs para aceleração da solução desenvolvida. O investimento do MPPE nos MVPs escolhidos pode ser de até R$ 1 milhão no total, negociado caso a caso e de acordo com a complexidade. O produto ainda contará com propriedade intelectual compartilhada, sendo possível a empresa vender a solução para instituições terceiras. Serviço Chamada para o 2º Ciclo de Inovação Aberta | Porto Digital e MPPE Chamada: http://bit.ly/Chamada2_MPPEeOIL Inscrição: http://bit.ly/Inscricao_ChallengeDay Challenge Day: 26 de agosto Round Table: 28 de agosto

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Briga do Sport é contra a queda

Por Houldine Nascimento O bom começo do Sport no Campeonato Brasileiro deu a falsa impressão de que o clube faria uma competição sem sustos, mas a realidade veio à tona após a pausa da Copa do Mundo. O técnico Claudinei Oliveira teve bastante tempo para aprimorar o trabalho junto aos seus comandados, mas a sensação de quem assiste a um jogo do time pernambucano é a de total desarranjo. Contra a Chapecoense, nesse domingo (5), o Sport abusou das bolas alçadas na área. Segundo o site Footstats, foram 40 cruzamentos e apenas 12 certos. Isso comprova a falta de preparo dos jogadores para quebrar a marcação de um adversário notoriamente frágil, que, assim como o Leão pernambucano, luta contra o rebaixamento. No único lance efetivo no primeiro tempo, a Chape abriu o placar com Wellington Paulista logo aos 13 minutos, numa falha de marcação do sistema defensivo do Sport, envolvendo Deivid, Ernando e Ronaldo Alves, que não reúne condição de estar entre os titulares. A posse de bola rubro-negra foi de 61%, revelando um falso domínio. Sem efetividade,  o time apresenta um futebol letárgico. De tanto levantar bola na área, o Sport arrumou um gol na bacia das almas com o centroavante Carlos Henrique já nos acréscimos, evitando a derrota e a demissão de Claudinei. A próxima partida do Leão é contra o líder São Paulo, no domingo (12), na Ilha do Retiro. O confronto vai proporcionar o reencontro de Diego Souza com a torcida rubro-negra. Qualquer provável revés do Sport acarretará a saída do técnico.

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