Arquivos Comer - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

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Um olhar guloso

As refeições são acompanhadas pelo olhar, pelas palavras, por textos emocionais, por expressões estéticas; por louvações ou por críticas. E estes rituais do comer se iniciam quando se saboreiam as imagens dos pratos, das mesas, e de tudo mais que for mostrado no acervo desse banquete. Tudo isto faz parte da construção subjetiva da alimentação. Assim, os cenários e as pessoas se tornam comestíveis. Há uma verdadeira dramatização à mesa para que se cumpra este ritual. Come-se com garfo e faca. Come-se com colher de prata, de madeira, de osso. Come-se com hashi. Come-se “de mão”. Come-se sobre folhas de palmeira, sobre folhas de papel. Porém, come-se primeiramente com os olhos, e depois com o com o corpo inteiro. Comer é uma ação muito mais ampla do que simplesmente a ingestão de sais minerais, proteínas e gorduras para se nutrir. E é a partir das muitas maneiras de se relacionar socialmente com a comida e com a bebida que são estabelecidos os diferentes tipos de comportamentos culturais. São verdadeiras parcerias emocionais que marcam o reconhecimento e as próprias memórias ancestrais. Tudo isto ocorre porque a alimentação é um processo de simbolização de referências, que são tanto históricas quanto pessoais. Agregam-se a estes processos da alimentação o sentido de cada ingrediente, que é valorizado e respeitado no seu território, o terroir. Assim, sazonalidade, características como cor, aroma, forma, textura; e, finalmente sabor, criam a identidade do ingrediente que remete ao símbolo, ao sonho, ao desejo de comer, de viver o sabor, de se encontrar com a comida. Entretanto, é a busca pelo gosto mais gostoso que desperta o olho-grande, o olho-gordo, a vontade de comer cada vez mais daquilo que se gosta. Merengue, chantili, bomba-de-chocolate, sorvete, brigadeiro; frango no espeto; acarajé do tabuleiro da baiana, entre outros, são exemplos que motivam o desejo, o sonhar em comer a comida dos sonhos. Além disso, há uma relação da comida com o seu lugar de produção ou de consumo; seja o bolo daquela padaria escolhida ou a comida de um restaurante especial. A busca pelo sabor acontece quando a pessoa recorre as suas memórias, sonha, sente em si mesma uma ligação com aquela comida especial. E as narrativas, e justificativas, são muitas. São as conexões que as pessoas fazem para ampliar o significado de cada comida. Por exemplo, a maçã tornou-se um símbolo fundamental da moral cristã, enquanto fruto do paraíso, fruto primordial e ancestral do desejo, o fruto proibido; a romã ganha um amplo significado de fertilidade e multiplicidade nas tradições tanto do Ocidente quanto do Oriente. Sem dúvida, isto tudo ocorre porque cada ingrediente, processo culinário, resultado de receita, é essencialmente simbólico, emocional, e não apenas alimentar. "Comer com os olhos” é também uma preparação, a percepção que desperta o desejo, um estímulo que produz saliva, que traz à lembrança o sabor. Sonhar com o sabor e ficar com a boca cheia d’água; e, assumir aquele olho-gordo. É uma ação orquestrada sensorialmente em que atuam os olhos, o nariz, e os ouvidos, quando se percebe os sons dos pratos, das panelas, as vozes que chamam para o tão esperado momento; e finalmente tudo culmina num ritual ideológico que é marcado no corpo inteiro, o ato de comer. Porque come-se de corpo e alma. A comida integra-se aos diversos imaginários, sentimentos e sensações, e tudo isto faz parte das muitas formas de manifestar pertencimento. Gostar, desejar, querer comer “aquilo” ou aquele ingrediente, vem de uma motivação que é temperada pela história, pela sociedade, pela religiosidade; pelos papéis sociais que a cultura determina para homens e mulheres. Imaginar os sabores e experimentar a comida compõem momentos de uma relação íntima da pessoa com a sua cultura. E é ainda um dos mais notáveis exercícios de prazer no gozo dos sabores. Saciar a fome não é apenas uma necessidade biológica, mas uma necessidade moral, cultural simbolizada em princípios individuais e coletivos.  

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Idoso e a dificuldade de se alimentar

Engasgos frequentes durante a refeição, pigarros, tosse, dificuldade de mastigação, lentidão na hora de engolir, recusa do alimento e falta de apetite podem ser sinais de disfagia. Esse quadro não caracteriza propriamente uma doença, mas um sinal de alerta que algo não vai bem no organismo e, se negligenciado, pode levar à complicações que podem comprometer seriamente a saúde do idoso: desnutrição, desidratação e infecções respiratórias graves estão entre as principais consequências da falta de atenção à este problema. Como os idosos costumam conviver com doenças crônicas, o problema requer ainda mais atenção: além de aumentar a probabilidade de internação hospitalar, a disfagia representa um risco à própria vida do paciente. Por isso, identificar esses sintomas e buscar auxílio profissional quando o idoso começa a apresentar dificuldades na alimentação é fundamental para garantir sua saúde e qualidade de vida. O que causa a disfagia? - O processo normal de deglutição envolve diversas etapas neuromotoras que visam transportar o alimento da boca até o estômago de forma segura, evitando que pedaços da refeição sejam aspirados e entrem nas vias respiratórias. Anormalidades em qualquer uma das etapas desse processo podem caracterizar a disfagia, ou seja, a dificuldade de engolir alimentos sólidos ou líquidos. É importante esclarecer que ela não é uma alteração exclusiva da terceira idade, podendo ocorrer em qualquer etapa da vida. Mas sua incidência é mais comum em pessoas na terceira idade. A perda da dentição, do tônus muscular das estruturas faciais (maxilar, bochechas, língua) e o uso de próteses dentárias mal adaptadas são problemas comuns aos idosos que podem dificultar sua alimentação e reduzir seu apetite. De acordo com a nutricionista da Nova Nutrii, especializada em nutrição clínica, Jéssica Freitas “O maior risco nesses casos é a subnutrição e desnutrição comprometendo a saúde do idoso, especialmente se ele já convive com alguma doença crônica. Além disso, a disfagia causada por esses transtornos pode levar ao isolamento, uma vez que a refeição também é um ato social, que muitas vezes envolve familiares e amigos.” Outras causas comuns e mais delicadas da disfagia envolvem processos automáticos, que são executados pelo organismo sem o nosso controle. A partir do momento em que o alimento é engolido, as etapas subsequentes que passam pela laringe e esôfago são comandadas pelo cérebro de maneira autônoma, sem que possamos interferir. Quando qualquer anormalidade ocorre a partir desse ponto, pode ocorrer a sensação de engasgo, de sufocamento e dor ao engolir, levando a pessoa a tossir e/ou regurgitar o alimento. Sintomas como esse estão ligados à diversos problemas, que só podem ser diagnosticados precisamente por um profissional especializado como um fonoaudiólogo. Outra razão pela qual essa anormalidade é comum em pacientes idosos é que as funções que controlam a deglutição podem ser prejudicadas por distrofias musculares, cânceres e doenças neurológicas como derrames (AVCs), traumas no crânio e doenças degenerativas como o Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson, esclerose lateral amiotrófica e esclerose múltipla. Cuidados com a alimentação - É comum que aos primeiros sinais de dificuldade mastigação e/ou deglutição, o idoso corte deliberadamente determinados alimentos da dieta. Alimentos fibrosos ou duros como carnes, por exemplo, são consumidos cada vez menos ou em menor quantidade. Isso resulta em menor oferta de proteínas, carboidratos e outras vitaminas essenciais para manutenção da massa corporal e para obtenção de energia. “Uma das maiores preocupações em relação à disfagia é sua capacidade de comprometer ainda mais outros quadros clínicos do idoso, que normalmente já convive com doenças crônicas. A desnutrição e desidratação decorrentes desse problema aumentam as chances de necessidade de internação hospitalar, além de prolongarem o tempo de permanência nesse tipo de intervenção.” – explica Jéssica Freitas. Outro agravante é que a ingestão de líquidos requer maiores cuidados em pacientes com disfagia: como esses alimentos passam mais rapidamente pela garganta, têm mais chances de serem broncoaspirados. A entrada de alimentos e líquidos no pulmão é extremamente perigosa, podendo acarretar em pneumonias, graves infecções no sistema respiratório ou até mesmo asfixia. Isso significa que até mesmo um simples copo d´água pode ser um desafio para o idoso com disfagia. O que fazer então? “Pacientes disfágicos precisam ter a dieta adaptada para reduzir tanto o desconforto ao deglutir, quanto os riscos de broncoaspiração. A alteração da textura dos alimentos é um dos principais passos. A adoção de uma dieta pastosa e o uso de espessantes afim de “engrossar” e dar mais viscosidade à alimentos líquidos são medidas que podem ajudar a de deixar a água e outras bebidas mais espessas, facilitando a ingestão e minimizando o risco da broncoaspiração.” – explica a nutricionista. Porém, isso não significa que o idoso passará a ter uma alimentação monótona, com gosto de remédio ou até mesmo insípida: “Já existem produtos específicos para alterar a textura do alimento, sem modificar sua cor ou sabor, facilitando a introdução de espessantes na dieta.” Além disso, a nutricionista explica que por mais que exista a necessidade de amassar ou processar os alimentos, isso não significa que a dieta do idoso deve se restringir à papas: “Purês e alimentos liquidificados podem facilitar a aceitação, mas para que fiquem mais atrativos e saborosos, é recomendado que se amasse e sirva os alimentos separadamente. Dessa forma preserva-se o sabor, cor e odor do alimento, estimulando o paladar e permitindo maiores variações, mesmo em uma dieta pastosa.” - aconselha Jéssica. Da mesma forma, a interação social é muito importante: sempre que possível, o idoso deve fazer as refeições à mesa, juntamente com a família, para tornar essa hora mais agradável. Cuidados durante a refeição também devem fazer parte da rotina do idoso: comer e engolir vagarosamente, manter a postura durante a alimentação e atentar-se a higiene bucal são medidas que devem ser feitas diariamente. É importante que cuidadores e familiares supervisionem a alimentação de idosos, mesmo que eles tenham independência para se alimentar sozinhos, afim de auxiliar em qualquer dificuldade. Quando a situação é mais delicada e o paciente encontra-se acamado, o cuidador / familiar deve ter sempre o cuidado de deixar o idoso em posição

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Estimular a mastigação estimula a fala

O primeiro alimento da vida de um bebê é o leite, mas logo nascem os dentinhos, juntamente com o desejo de comer tudo o que veem pela frente. Aí se inicia o processo de fortalecimento da mastigação, na qual os pais são extremamente importantes para educar a criança neste período. Mais do que aprender a mastigar novos alimentos, o fortalecimento da mastigação está diretamente ligado à fala do bebê. Segundo o especialista em Saúde Bucal e Estomatologia Sérgio Kignel, os órgãos estimulados na mastigação são os mesmos utilizados no ato da fala e, desta maneira, se exercitados de forma e por tempo adequados, estarão prontos para a nova função. "Tudo isso exige um trabalho muscular preparatório ao desenvolvimento da fala. Essa evolução contínua tanto estrutural quanto funcional permite a vocalização dos primeiros sons inicialmente sem qualquer significado, mas com o passar do tempo agregam um valor significativo, e o bebê inicia o processo de balbucio e vocalização como forma de comunicação", explica Kignel. O fortalecimento da mastigação infantil se torna, portanto, um importante processo para a vida da criança. Neste período, os pais podem ajudar seus filhos, oferecendo os alimentos corretos para cada etapa, mas sempre com muita paciência. "Os primeiros alimentos a ser introduzidos devem ser pastosos e, progressivamente, os familiares poderão acrescentar os mais consistentes até chegar aos sólidos. O ideal é preparar esses alimentos na peneira, com o garfo e espremedor, para que não fiquem totalmente líquidos, evitando o uso do liquidificador", recomenda o especialista. Kignel esclarece ainda que, após os seis meses, os alimentos sólidos (mas nunca duros) ajudam a massagear a gengiva da criança e fortalecer a musculatura orofacial. Ou seja, não é preciso esperar o nascimento dos dentes para oferecê-los. Embora se deva respeitar o ritmo da criança, o ideal é que com um ano ela consiga alimentar-se como seus familiares, consumindo os alimentos em pequenos pedaços, separados no prato. "Pode-se começar reduzindo um pouco da quantidade do purê e ir complementando com algum alimento que tenha sido preparado para os adultos e que sejam fáceis de comer: refogados com batatas, peixe, omelete ou banana. Deve-se evitar alimentos que possam causar asfixia pela sua dureza ou porque se esmigalham facilmente", indica. Outros alimentos que devem ser evitados neste processo são os doces, embutidos e industrializados. "A ingestão destes alimentos pode deixar as crianças pequenas irritadas e dispersivas, além de provocar maior concentração de insulina no sangue. Balas e pirulitos (e outros doces com açúcar), também aumentam a quantidade de adrenalina", alerta o dentista. Sérgio Kignel ressalta também a importância da higiene bucal do bebê neste processo. O especialista indica a limpeza suave das gengivas, bochechas e língua da criança duas vezes ao dia, procurando remover os restos de leite ou alimentos acumulados. A dica é utilizar para a limpeza uma gaze ou a ponta de uma fralda envolta no dedo indicador e embebida em água filtrada e fervida. Pode-se também usar as dedeiras, que são dispositivos especiais de borracha ou silicone com pequenas elevações imitando as cerdas de uma escova de dente.  

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