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Além da Lenda agora é tema de livro

Depois do sucesso da exibição na TV Brasil, a turminha da série de animação Além da lenda, produzida pela Viu Cine,  desembarca no mundo fantástico da literatura. Comadre Fulozinha, Curupira e Negrinho do Pastoreio comandam as aventuras dos principais personagens do folclore nacional no livro Além da lenda, que será lançado na próxima terça-feira (28), no Espaço TODO GONZAGA, no Museu Cais do Sertão, às 15h, n o Bairro do Recife. A obra, que conta com ilustrações de Jacqueline Lima e edição da Viu Marcas, explora com bom humor as histórias por trás de cada lenda brasileira e as atualiza para os jovens que, imersos num mundo de tecnologia, desconhecem os elementos da oralidade e tradição nacional. A história mescla aventura e suspense. Pedro Pirueta, lenda responsável por cuidar das brincadeiras de rua, desapareceu e foi parar no mundo do Além da lenda, onde ficam aquelas criaturas que caíram no esquecimento. Com isso, Comadre Fulozinha, Curupira e Negrinho vão colhendo pistas em meio a floresta para descobrir quem foi esta lenda. As dicas vão levando os três parceiros a outras lendas famosas, como Cuca, Iara e Boitatá, que, aos poucos e com a ajuda do leitor, v ão apresentando quem foi Pedro Pirueta. Ao final de cada capítulo, o público ajuda na caçada em busca da lenda desaparecida pintando e escrevendo as pistas deixadas pelas famosas criaturas. O livro permite que o leitor desvende enigmas, resolva desafios, aprenda e relembre brincadeiras clássicas e crie as suas próprias brincadeiras. O livro Além da lenda, inspirado na série e filme com o mesmo nome, tem a autoria de Bruno Antônio, Erickson Marinho e Ulisses Brandão. As ilustrações são de Jacqueline Lima. “A nossa proposta foi dar esse ar mais lúdico e interativo na obra, buscando aproximar ainda mais o público da história das lendas brasileiras”, explicou Ulisses Brandão, um dos autores do livro. Além do livro, o público também poderá conferir o lançamento do vídeo de segurança do Museu Cais do Sertão, que foi produzido pela Viu Cine e estrelado pela turminha da série Além da lenda. Essa parceria foi possível graças ao processo de licenciamento de marcas. “Estamos ampliando ainda mais a prática do licenciamento de marcas, que fortalece o desempenho do produto ou serviço no mercado e ganha valor quando associado & agrave; imagem de projeto de sucesso, como o Além da lenda”, explica Tereza Farias, diretora-executiva da Viu Marcas.   SÉRIE E FILME O livro é inspirado na série e no filme. A série de animação pernambucana Além da lenda, produzida pela Viu Cine, retrata com humor e aventura uma crise existencial dos principais personagens do folclore brasileiro. A Cuca já não assusta mais a criança que não dorme no horário determinado. Boto, antes um irresistível sedutor, amarga a incapacidade de conquistar as pessoas. Preocupados com a possibilidade do desaparecimento e com a falta de credibilidade diante das crianças, eles vão recorrer a um terapeuta – o personagem Sr. H.  A primeira temporada da série conta com 13 episódios de 07 minutos e foi exibida, TV Brasil. No cinema, Comadre Fulozinha, uma das mais famosas lendas do folclore brasileiro, comanda as aventuras destas criaturas fantásticas no primeiro longa de animação produzido em Pernambuco. O filme conta uma história de resistência e aventura das lendas. O Livro Sagrado das Lendas Brasileiras está em perigo. A obra, que só pode ser lida no dia de aniversário do Saci Pererê, foi perdido pelo Negrinho do Pastoreio e caiu nas mãos de um garoto. Influenciado pela cultura pop, o menino começa a realizar alterações na essência das lendas, adaptando de acordo com o próprio gosto e os valores dos super-heróis. Diante d esse quadro, Comadre Fulozinha vai se juntar ao Negrinho do Pastoreio e ao Curupira para recuperar o livro e evitar que ele seja capturado pela Gata-Bruxa Witchika, o espantalho Jerry Moon e o espectro Midnight, figuras estrangeiras. Serviço LANÇAMENTO DO LIVRO ALÉM DA LENDA Terça-feira, 28 de agosto de 2018. 15h Espaço TODO GONZAGA, no Museu Cais do Sertão. 112 Páginas. Valor do livro: R$ 30,00 Entrada no museu é gratuita

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marcelino freire

Meus textos são gritos

Escritor sertanejo, radicado em São Paulo, Marcelino Freire é dono de um texto forte e enxuto, que tem sido reverenciado pelo público e crítica. Em 2006 ganhou o Prêmio Jabuti com Contos Negreiros. Na entrevista concedida a Cláudia Santos e Rafael Dantas, regada a risos e reflexões, ele fala sobre sua trajetória e critica a glamourização da literatura. Como foi sua infância no Sertão? Sou de Sertânia. Tem 26 anos que moro em São Paulo. Recentemente comecei a pensar de novo na saída da minha família do Sertão de Pernambuco para ir morar em Paulo Afonso, na Bahia. Quase me torno cidadão baiano. Quando eu tinha 8 anos de idade a família veio para o Recife. Minha mãe teve 14 gestações. Dessas, 9 vingaram e eu sou o caçula. Essas mudanças foram motivadas por trabalho? Foi a procura por melhores condições. Agora vocês viram que Sertânia foi manchete nacional, em função da Transposição do Rio São Francisco. Estou agora com 50 anos. Eu estaria esperando água até agora se estivesse na cidade, estaria pulando e fazendo festa naquele lago artificial como meus conterrâneos estão fazendo agora. (risos). Curiosamente, apesar de ter saído muito jovem, Sertânia não saiu de mim. Indiretamente eu peguei essa herança de meu pai. Ele tinha muito receio de que a gente, chegando no Recife, disesse que era do Recife. Acontece muito isso, quando você chega na capital, vindo do interior, você não é de Sertânia, de Cabrobó, você é já do Recife. Eu cheguei com 8 anos e fiquei até os 24. Fiz faculdade na Unicap, não terminei o curso de letras. Depois tive esse chamamento para São Paulo, deixei faculdade, deixei tudo. Lá todo mundo me perguntava de onde eu era, porque eu falava diferente. E eu afirmava com todas as letras: Sou de Ser-tâ-nia. Levei essa herança para São Paulo e estou lá até hoje. Como a literatura entrou na sua vida? Dessa necessidade de ler, de aprender logo. De ganhar uma profissão. Minha mãe insistia que a gente estudasse. Então muito novinho, uns 7 anos, eu já lia. Em um momento, com uns 8 ou 9 anos de idade, a poesia de Manuel Bandeira atravessou o meu caminho. Uma poesia que eu vi em uma gramática de um irmão mais velho. A poesia se chamava “O Bicho”. A partir dessa leitura eu quis ser aquele poeta. Eu gostei daquilo que ele falou para mim. Eu não sabia que existia um homem catando comida na minha rua. Eu via, mas não enxergava. Eu pensei: se ele diz uma coisa que eu não sei, ele deve ter outras coisas que eu não sei para me dizer. Fui atrás do livro do Manuel Bandeira, de outras poesias dele, numa casa que ninguém lia. Não havia biblioteca, daí uma professora sabendo desse meu encantamento, me deu uma antologia do Manuel Bandeira. Eu quis ser poeta a partir dessa contaminação que Manuel Bandeira exerceu em mim. Aí fui atrás de outras poesias e fiquei um menino melancólico. Um menino que achava que iria morrer tuberculoso. Manuel Bandeira tinha tuberculose, fui descobrir outros poetas com a mesma doença, Castro Alves, Augusto dos Anjos. Eu achava que iria morrer cedo. Eu tinha muita melancolia. Nunca fui de exercitar os músculos do corpo. Nunca fui bom de futebol ou de educação física. Eu era bom de escrever e ler poesia. Eu exercitava os músculos da alma. Qual foi a reação de sua mãe ao saber que você queria ser poeta? Nunca vi uma mãe criar um filho e querer que seja poeta quando crescer, mas dessas profissões que você sabe as funções que ela tem. Você sabe para que serve um médico, um engenheiro. Mas para que serve um poeta? Agora, curiosamente, o primeiro lugar que fui respeitado como escritor foi na minha casa, porque eu não era bom para exercitar esses músculos cotidianos. Levantar uma pedra, carregar um balde, fazer uma feira. Era péssimo. Agora me colocasse para escrever! Eu escrevia as cartas da casa. Lia as bulas de remédio da família inteira. Lia a Bíblia para minha mãe. Aí ela dizia: não mande Marcelino fazer isso, mande ele escrever. Eita menino que escreve bonito!. Porque o grande momento meu da criação era quando ela mandava eu escrever as cartas para as comadres dela. Eu escrevia aquelas cartas muito bonitas a partir do que ela noticiava para mim. Eu enfeitava e no final eu lia. E ela se emocionava. Na leitura da Bíblia, lembro que eu inventava milagres. Ela estava acompanhando a leitura, aí ela dizia: Jesus fez isso? Eu dizia: fez. (risos)! Nunca tive muita disposição para as coisas práticas, mas eu lia bastante. Lendo romances, contos, poesias, fui percebendo o poder da leitura. Ora, eu operava milagres (risos)! Eu emocionava pessoas escrevendo uma carta. Eu lia as bulas de remédio da família inteira. Se eu lesse uma bula errada eu matava todo mundo. Desconfie daquele que você julga o mais fraco da casa. (risos). Como foi participar das oficinas de Raimundo Carrero? A partir da leitura de Bandeira comecei a escrever poesia, participando de grupos de poesia já aqui no Recife. Participei de um grupo chamado Poetas Humanos. Paralelo a isso eu trabalhava em um banco. Fui office boy, escriturário e revisor de textos, no finado Banorte. Estava muito cansado do banco, eu ia ser chefe de seção. Quando me vi chefe de seção, eu disse: vou fechar a bodega, minha trajetória não vai por aí não. Cheguei em casa dizendo que fiz um acordo lá e deixei o trabalho. Meus pais disseram: meu filho, o que você vai fazer? Eu disse: vou dar o dinheiro da indenização para vocês e vou passar um tempo conhecendo os escritores dessa cidade. Olha que coisa, no final dos anos 80, deixei o banco numa semana, na outra eu vi um anúncio no jornal dizendo que o Carrero, que eu conhecia de livros, estava criando a primeira turma de criação literária no Recife. Eu disse: é isso! Me escrevi. Acontecia

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