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HOJE

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A perda do que nunca tivemos

Tem um poema de Pablo Neruda que diz assim: “se cada dia cai dentro de cada noite, há um poço onde a claridade está presa. Há que pescar a luz caída com paciência”. O sol tem um efeito Neruda em mim. Os pensamentos fatalistas e a melancolia da noite fazem menos sentido de manhã. E de dia tem roupa na máquina, o varal tá pesado, o café tá frio. Quando mais nova, cansava meu pai perguntando a importância de fazer a cama. Se vai usá-la de noite, por que arrumá-la pela manhã? Defendia os pratos limpos não guardados, a cama pronta para mais tarde. Assim sobraria tempo para a vida. Ele fazia a retórica: “por que tomar banho se vai se sujar?”, “por que viver se vai morrer?”. É que a repetição é a ordem natural do mundo. A volta da Terra nela mesma. O sol, a lua. Acordar, dormir. Limpar, sujar. Viver, morrer. Limitados fisicamente, grita em nós o que há de mais mundano. A rotina tem um fim em si própria. Tia Angela, mãe de Isadora, disse que o tempo agora é medido em dias. Porque o futuro é algo deveras intangível. Os planos para mês que vem são ridículos. O vírus nos colocou diante do óbvio: nunca tivemos controle. A verdade é que toda pergunta que já sabemos a resposta é sempre falsa. Isabel Allende em “Paula” relata quando percebeu a grandeza do ato de beber de água, enquanto vivia o terror de cuidar de sua filha em coma: “O meu braço se levanta e pega o copo com a força e a velocidade exata. Bebo e sinto os movimentos da língua e dos lábios, o sabor fresco na boca. O líquido frio baixando na garganta. Nada disso pode fazer minha pobre filha”. Lembro dela quando ouso ser ingrata. Na medida do tempo diário, vivemos e morremos todo dia. A perda do que nunca tivemos - o futuro - nos causa medo. Aprendi, pois, que o oposto do medo não é coragem, é amor. Amor é olhar na cara do monstro bem pertinho. Reconhecê-lo em nós mesmos. Entendê-lo. A palavra monstro vem do latino monstrum, que significa “avisar, prevenir”. A criatura inventada por Mary Shelley em Frankenstein avisava aos mortais do perigo da ambição do homem. Quando o monstro entende que causa terror, lamenta: se não posso inspirar amor, causarei medo. A escritora alertou: "nada é mais dolorosa para a mente humana que uma grande e repentina surpresa”. A natureza, sem medo do amanhã, carece de pressa. Ela faz do caos sua fantasia, mas é, na verdade, a ordem esperando ser desvendada. Regina Gianetti observou uma lagarta que inventou de virar casulo na sua janela. A observadora desenhou cenários terríveis para sua inquilina. O vento vai derrubá-la. A faxineira, espaná-la. A chuva, matá-la. Enquanto preocupava-se, o casulo parecia inerte. Será que morreu? Eu matei? Algo ruim aconteceu? O devaneio durou semanas. Um dia, a danada virou borboleta. Invisível e incompreensível à percepção humana, a natureza ocupava-se do seu processo fantástico de transformação. Criou asas. Voou.  O perigo nunca foi o mundo, o amanhã, o vírus, mas a nossa ignorância sobre eles. O perigo é olharmos e não nos reconhecermos no monstro. A cada manhã, o mundo se recria. Quem sabe agora ele esteja se preparando para virar borboleta. E quando o pavor fizer morada, a roupa tá suja, o varal tá pesado, o café tá frio. Bebe um copo de água. O céu coloriu. Alaranjou. Vai cair mais uma vez dentro do poço. Agora, há que pescar a luz caída, enquanto enxergamos sentido nisso tudo, porque senão, pra que viver se vai morrer?

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Pernambuco recebe Fórum Internacional HOJE

Provocar gestores públicos a refletir sobre o projeto de cidade sustentável e urbanisticamente integrada é o foco do Fórum Internacional HOJE Implementando Cidades Sustentáveis, que acontece no Centro de Convenções de Pernambuco, de terça (25) a quinta-feira (27). O evento é promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE), em conjunto com o 4º Congresso Pernambucano de Municípios, da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe). Sob o tema “A cidade que precisamos”, os eventos vão reunir prefeitos e secretários dos 185 municípios pernambucanos, além de arquitetos e urbanistas. A conferência de abertura, na terça-feira (25) à tarde, será do colombiano Gustavo Restreppo, um dos responsáveis pelo projeto de transformação urbana de Medellín. Informações no site http://www.hojecidadessustentaveis.com.br/ Durante os três dias, serão realizadas palestras, mesas-redondas, painéis e outras atividades a partir dos desafios apresentados na Nova Agenda Urbana aprovada pela ONU-Habitat em 2016. A solenidade oficial de abertura, no Teatro Guararapes, acontece às 9h da terça-feira (25). À tarde, a partir das 14h, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, abordará os “Os Desafios da Gestão Municipal no Contexto Nacional”. Em seguida, às 15h30, o presidente do CAU/PE, Roberto Montezuma fala sobre também sobre os desafios da Nova Agenda Urbana para gestores públicos, arquitetos e urbanistas, entidades e cidadãos. A palestra magna do urbanista colombiano Gustavo Restrepo, um dos responsáveis pela revolução urbana na cidade de Medellín, começa às 16h. Cidade que precisamos – Na terça (26.7), a programação segue durante todo o dia, em duas salas simultaneamente, além das palestras do 4º Congresso Pernambucano dos Municípios. Pela manhã, na sala A, apresentações sobre Cidade Parque, focando na reconciliação da natureza com o espaço público; e Cidades Resilientes, com planejamento voltado a responder mudanças climáticas. Já na sala B, uma mesa-redonda dará conta do universo das Cidades Criativas, onde cultura local e inovação são elementos estratégicos para o desenvolvimento urbano e humano sustentável, com convidadas como as arquitetas e urbanistas Adriana Porto, Cátia Avellar, Sandra Brandão e Roberta Borsoi. Durante a tarde, a sala A explora as Metrópoles e Cidades Interligadas, assunto que interage com o processo de construção de visão de futuro exposto na palestra sobre Cidades Planejadas. Quem preferir a sala B vai aprender mais sobre Cidades Acessíveis, com foco na política habitacional como estratégia de desenvolvimento urbano sustentável. A palestra dialoga com as Cidades inclusivas, tratadas pelo diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento habitacional do Distrito Federal (CODHAB-DF), Gilson Paranhos, que discute financiamento de assistência técnica para promover acesso à moradia. O Fórum continua na quinta-feira (27), com a apresentação das Boas Práticas Urbanas selecionadas pela chamada pública do CAU/PE, às 9h. “O reconhecimento a essas iniciativas é uma forma de mostrar que a transformação urbana já começou”, explica o presidente do CAU/PE, Roberto Montezuma. Já pela Amupe, às 10h30, acontece palestra sobre a municipalização dos Serviços Públicos Estratégicos: Iluminação e Saneamento, encerrando os eventos. Pensadores urbanos – “A cidade é o chão de todo o desenvolvimento. Por isso pensar numa cidade sustentável é, antes de tudo, refletir sobre seu território, um complexo palco de conflitos que demandam uma visão sistêmica de longo prazo para serem equacionados”, afirma o presidente do CAU/PE, Roberto Montezuma. “Reunir pensadores urbanos com o poder executivo de cada cidade pernambucana é um passo estratégico para que possamos difundir a importância de projetos sob medida para tirar do papel as cidades que precisamos”, concluiu. O Fórum Internacional HOJE Implementando Cidades Sustentáveis terá ainda outras duas etapas ao longo do ano. Nos dias 23 e 24 de agosto de 2017, na sede do INCITI/ UFPE, Rua do Bom Jesus 191, Recife, pesquisadores da Rede de Centros de Estudos em Desenvolvimento Urbano Sustentável na América Latina e Caribe (Redeus_LAC) irão se debruçar sobre os debates ocorridos na primeira etapa, traçando paralelos com estudos acadêmicos em curso em países como Chile, Argentina e México. A ideia é consolidar todos os conteúdos em diretrizes para a implantação da Nova Agenda Urbana. Já para o segundo semestre, estão previstas três edições do Urban Thinkers Campus nas cidades de Belo Jardim (9 a 11 de setembro), Petrolina (25 a 27 de outubro) e Recife (22 a 24 de novembro), sob o tema Águas Urbanas pela Resiliência Social e Ambiental. O objetivo da ação idealizada pela ONU e realizada no Estado pelo CAU/PE e pelo INCITI/UFPE é trazer à luz diferentes possibilidades para ações locais que visem a resiliência relacionada à água em diferentes contextos urbanos, sociais e hídricos do território pernambucano.

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