Arquivos Mobilidade - Página 3 De 3 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

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Recife é a primeira cidade do Brasil a receber o novo Bike PE

O sistema de compartilhamento de bicicletas do Recife mudou. O Bike PE inaugurou na última segunda-feira  (11), na Rua da Aurora, a nova e primeira estação e bicicletas. A capital pernambucana é a primeira cidade do país a estrear as novidades do maior programa de empréstimo de bikes do País. Hoje, os usuários já podem experimentar as inovações das bikes que vão desde da ergonomia dos equipamentos até a forma utilizar o sistema. A iniciativa é patrocinada pelo Itaú, tendo a tembici. como operadora e o apoio da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco e da Prefeitura do Recife. Para a secretária de Turismo, Esportes e Lazer do Recife, Ana Paula Vilaça, o Bike PE beneficia recifenses e turistas, além de consolidar a bicicleta como um modal na cidade. "As mudanças trazem modernidade e facilidade para os usuários. O sistema pode ser usado para o lazer e no dia a dia das pessoas. Os nossos atrativos turísticos, como Paço do Frevo e o Cais do Sertão, além do todo o Bairro do Recife, são beneficiados com diversas estações. O Bike PE cria uma nova forma de conhecer e contemplar a cidade", afirmou. A implantação do sistema ocorrerá em quatro etapas entre setembro e dezembro de 2017. A cada mês serão instaladas 20 novas estações com 200 bicicletas. A previsão é que até o final do ano estejam disponíveis 80 estações e 800 bikes. Uma das novidades apresentadas é a possibilidade do usuário não cadastrado no sistema comprar o passe diretamente nos totens de atendimento, ou seja, sem necessidade de cadastro prévio no site do Bike PE. Esse modelo é ideal para turistas e pessoas que estão de passagem pela cidade. Cerca de 30% das estações oferecerão esse diferencial, todas distribuídas em pontos estratégicos do Recife. Além de todas as mudanças estruturais, outra novidade é que as estações poderão homenagear personalidades. A primeira inaugurada hoje, levará o nome do ex-secretário da Prefeitura do Recife, Camilo Simões. A notícia foi anunciada pelo secretário de Turismo, Esportes e Lazer de Pernambuco, Felipe Carreras. "Batizamos essa primeira estação com o nome de Camilo Simões, que era um jovem muito ligado a questão da mobilidade e o uso da bicicleta como meio de transporte para os recifenses e pernambucanos", lembrou. Para aproveitar, a pessoa pode se cadastrar no site do projeto (www.bikeitau.com.br), no aplicativo Bike Itaú, nas estações com totem de autoatendimento ou na sede física, de acordo com a modalidade de utilização. É possível adquirir passes por dia, por mês e por ano com valores de R$ 8 (diário), R$ 15 (3 dias), R$ 20 (mensal) e R$ 160 (anual). Há ainda a possibilidade de fazer viagens gratuitas, durante todo o dia, dependendo do tempo de uso. "Visitamos mais de oito cidades no mundo com sistemas de bike sharing para inaugurar esse novo sistema. Acreditamos que esta é uma iniciativa que melhora o mundo", disse a Luciana Nicola, Superintendente de Relações Governamentais e Institucionais do Itaú Unibanco. Rede cicloviária - O Recife está ganhando mais duas ciclofaixas em Jardim São Paulo e Santo Amaro. Elas vão compor a Rede Cicloviária Complementar, que está sendo implantada pela Prefeitura do Recife em consonância com o Plano Diretor Cicloviário da RMR (PDC/RMR). Com isso, a cidade vai ganhar mais 4,7 quilômetros de rotas exclusivas para ciclistas, alcançando a marca de 51,4 quilômetros de rotas existentes, sendo 27,3 (53%) implantados desde 2013. Em Jardim São Paulo, nova ciclofaixa vai se conectar com a Rota Tiradentes à Praça Jardim São Paulo. O trabalho de sinalização já foi iniciado e devem ser concluídos até o dia 15 de setembro. (PCR)

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Transporte público informal é principal meio de mobilidade no Norte e Nordeste

O estudo inédito Ligações Rodoviárias e Hidroviárias, referente a 2016, divulgado hoje (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o transporte público informal é um dos principais meios de mobilidade da população das regiões Nordeste e Norte do país. Os transportes sem Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) se concentram majoritariamente no Nordeste. Essa realidade é mais comum nas viagens de quem mora em cidades pequenas. As linhas de maior frequência são aquelas que se direcionam para as capitais, procedentes de seu entorno. A informalidade também é grande no norte de Minas Gerais, com grande número de linhas sem CNPJ para a capital Belo Horizonte. A pesquisa analisou a rede urbana brasileira com base nas ligações por transporte de passageiros público e coletivo. A coleta de dados foi feita nos terminais rodoviários e hidroviários, nos pontos de venda de passagens, nas paradas de ônibus e nos locais de transporte alternativo de todos os municípios brasileiros. De acordo com o gerente de Redes e Fluxos de Coordenação Geográfica do IBGE, Marcelo Motta, os dados podem contribuir não apenas na elaboração de políticas públicas, como também em estratégias de negócios. “O transporte público intermunicipal marca bem as regiões de influência das cidades. Ao mapear essas linhas, temos noção do alcance de onde vêm as pessoas para comprar bens e serviços. Isso pode servir de subsídio para o planejamento, por exemplo, de onde localizar um hospital”, disse ele. “E mesmo para o setor privado. Por exemplo, quem quiser criar um shopping novo pode buscar o ponto onde há uma confluência de linhas”. A pesquisa mostra ainda que em 320 municípios não foi registrado nenhum tipo de transporte intermunicipal público com regularidade temporal ou espacial. Essa falta diz por que a população se utiliza apenas de transporte particular ou tem sistema de transporte público que funciona de acordo com a demanda. Os estados de São Paulo (467.532,25), Minas Gerais (397.978,25) e da Bahia (342.730) apresentam o maior número de saídas semanais. São Paulo é a cidade com maior número de ligações rodoviárias (1.477) e com os maiores índices de proximidade e intermediação. As ligações hidroviárias se localizam quase exclusivamente na Região Norte, devido às longas distâncias entre as sedes municipais. A frequência de ligações mostrou-se mais esporádica e rara (227.866 saídas semanais). O estudo revela que embora o Sudeste seja a região mais populosa do país, gera menos saídas semanais de veículos do que o Nordeste, devido à grande quantidade de transporte de curto alcance dentro da região. “Quanto maior peso demográfico, maior o fluxo, porém as maiores frequências ocorrem no Nordeste, devido à frota de veículos informais que atendem às cidades pequenas, médias e grandes. Esse fluxo de ida e volta”, explicou Motta. “Além disso, vários municípios confluem para um município específico antes de chegar na capital, gerando situações de afunilamento. Tudo isso gera uma quantidade muito grande de frequência de viagens”. Os custos mínimos mais elevados foram identificados majoritariamente no Sudeste e no Sul. Percebe-se uma concentração espacial no Nordeste das ligações cujas relações entre o preço das passagens e o tempo de deslocamento são mais acessíveis e baratas. Algumas regiões apresentaram concentração de transportes intermunicipais em uma única cidade, em grande extensão de terra. “Por exemplo, quem mora no interior do Amazonas precisa ir a Manaus para poder viajar para qualquer outra cidade fora do estado. No interior do Amapá, é preciso ir a Macapá para fazer uma baldeação, provocando afunilamentos”. Ainda segundo o estudo, as linhas de ônibus com destino a cidades estrangeiras são voltadas principalmente para os países do Mercosul. Os destinos principais são Buenos Aires (Argentina), Montevidéu e Punta del Este (Uruguai), Ciudad del Este, Assunção (Paraguai) e Puerto La Cruz (Venezuela). O estudo sugere que o turismo é o principal motivador dessas viagens. (Agência Brasil)

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"O Recife precisa ter uma estrutura urbana mais humana", entrevista com Lígia Lima, da Ameciclo

Lígia Lima é uma das coordenadoras da Ameciclo, que é a Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife. Nesta entrevista concedida ao jornalista Rafael Dantas, ela avalia a implementação do  Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana e fala da relevância do incentivo ao modal para tornar a capital pernambucana numa cidade mais humana. Qual a sua avaliação sobre os avanços da implantação do Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife (PDC)? LÍGIA - Avançou bem pouco. Tem uma parte da sua malha que é para o Estado fazer e tem uma parte que é para as cidades executarem, cada uma das 14 cidades. Sendo que a maior parte dessa malha está dentro do Recife. A ideia do plano é interligar as várias zonas da região metropolitana para onde tem mais empregos, que é o Recife. O plano foi bem construído e bem pensado, mas está sendo negligenciado até hoje. A PCR não executou esse plano. O projeto que eles têm de infraestrutura cicloviária é o das 12 rotas, que é a parte do PDC. Destaco que o plano partiu de pesquisas de contagem de ciclistas, de destinação, motivos de cidade e da avaliação das zonas de maior perigo. Tem toda justificativa para a malha correr naquelas vias que o PDC indica. O Governo do Estado começou a trabalhar esse plano recentemente. O plano tem metas de curto, médio e longo prazos. O Estado lançou nesse ano o primeiro trecho, de cinco quilômetros. Ele vai da Av. Rio Branco até a Fábrica do Tacaruna. Em 2016 o Estado tinha construído um projeto para ciclofaixa na Avenida Caxangá. Mas o projeto ficou atrelado ao corredor do BRT. Pelo que nos informaram, a ciclofaixa da Caxangá só sairia depois que o corredor do BRT estiver completamente terminado. Nossa luta hoje é para descasar esse projeto do BRT para ver se ele sai antes. Recentemente a questão da ciclomobilidade foi para secretaria de turismo. Está a passos lentos, mas ao menos o Governo do Estado está trabalhando para o plano se concretizar. Como o estímulo ao uso das bicicletas na cidade contribui para o desenvolvimento do urbanismo sustentável? A gente conversa muito sobre a importância de fazer o Recife ser uma cidade mais humana. Ter uma estrutura urbana mais humana. Quando toda sua malha viária é construída para o automóvel, você tira a cidade das pessoas e as ruas viram apenas canal de passagem e não de vivência. Quando diminui a velocidade na cidade é possível fazer que as pessoas não só passem pelas vias, mas vivam a cidade. E uma das formas de reduzir essa velocidade é diversificando o modo como as pessoas fazem seus percursos no dia a dia, estimulando principalmente o andar a pé e o andar de bicicleta, que são os percursos de menor distância. Quando as pessoas vivem a cidade, elas conseguem enxergar tanto as potencialidades que ela tem quanto as suas mazelas. E aí, enxergando as mazelas, a população passa a se preocupar com o seu bem estar, como se preocupa com a sua casa. Isso faz com que as pessoas comecem a querer cuidar mais do espaço público. Isso gera um sentimento de cidadania e um empoderamento coletivo, de responsabilidade coletiva maior. Isso é muito a visão que a gente tem de quem começa a andar de bike. Os novos ciclistas passam a ter esse outro olhar da cidade. Deixam de ver as ruas apenas como ponto de passagem e começam a enxergar a cidade inteira como sua casa. E começam a se engajar e exercer a sua cidadania. Do ponto de vista ambiental, qual o impacto na inversão dessa lógica de deslocamento? A Secretaria de Meio Ambiente do Recife conseguiu fazer em 2014 o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa, a partir dos dados de 2012. A partir desse cenário a gente vê que 69% das emissões de gases de efeito estufa têm especificamente origem no transporte. E Recife é uma das cidades listada pelo IPCC como uma das que mais vai sofrer com as mudanças climáticas no mundo. Literalmente vai ficar metade do seu território embaixo d'água. Precisamos começar a construir ações de mitigação por causa desses efeitos. Ano passado a prefeitura lançou um Plano de Baixo Carbono que abraça o PDC como um dos eixos prioritários de ação, que é justamente diminuir as emissões. Quando se consegue tirar as pessoas que estão no carro para usar o transporte coletivo e usar as bicicletas, andar um pouco mais a pé, vamos fazer cair drasticamente as emissões de gases no Recife. É gritante que mais da metade dessa poluição seja do transporte. Nesse ponto é importante a gente dizer que não negamos a necessidade do carro, mas ele não pode ser o principal modal de transporte do dia a dia. Isso é insustentável em qualquer cidade do mundo. Todas as principais cidades que estão conseguindo resolver os problemas do trânsito estão fazendo a partir dos eixos do que fala a Política Nacional de Mobilidade do Brasil, que é primeiro mobilidade a pé, segundo os meios ativos, que é onde está a bicicleta. E o terceiro o transporte público. O uso do carro é direcionado para viagens, compras, emergências ou alguns tipos de profissionais que realmente precisam, mas não é uma opção para todo mundo. Vocês têm ideia de qual a participação das bicicletas na mobilidade do Recife? A gente não tem um número certo. A última pesquisa de Origem-Destino aqui foi feita em 1997. Tem uma nova do Instituto Pelópidas Silveira (IPS), mas não dá para comparar porque a metodologia é diferente. Essa nova, do IPS, aponta que a mobilidade de bicicletas está entre 10% e 14%. A pesquisa antiga indicava em torno de 7%. Não conseguimos dizer se aumentou, porque as metodologias são diferentes. Mas como o estudo promovido pelo IPS será realizado a cada ano, poderemos comparar se aumentou ou não. O que poderíamos dizer, a partir da nossa observação nas ruas, é que aumentou a quantidade de ciclistas desde o

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Mandamentos do Pedestre (por Francisco Cunha)

O encarte Os Mandamentos do Pedestre Recifense que está circulando junto com este número da Revista Algomais é a publicação de lançamento do Movimento Olhe Pelo Recife – Cidadania a Pé que conta, nesta atividade pioneira, com o apoio da Prefeitura do Recife. O Olhe Pelo Recife – Cidadania a Pé foi constituído no final do ano passado como um movimento, a partir da experiência bem sucedida das Caminhadas Olhe Pelo Recife do Observatório do Recife que tive a satisfação de guiar, desde 2010, em 14 edições percorrendo mais de 100 km e mobilizando centenas de pessoas. Nessas caminhadas, tivemos a oportunidade de observar, além das peculiaridades históricas, paisagísticas, arquitetônicas que fazem de nossa capital, nas palavras do historiador Leonardo Dantas Silva, “um museu vivo da história de Pernambuco”, as enormes dificuldades impostas aos pedestres, seja por conta das péssimas condições das nossas calçadas, seja devido à falta de respeito por parte dos condutores de veículos, em especial os motorizados. Justamente para se constituir num porta-voz dos pedestres, acompanhando inclusive uma tendência mundial de protagonismo do modo de deslocamento a pé nas cidades, é que o Movimento Olhe Pelo Recife foi formalizado. O propósito do Movimento é: “Chamar a atenção sobre a importância da mobilidade a pé para a qualidade de vida urbana, propor soluções para o seu aperfeiçoamento, mobilizar a opinião pública e realizar parcerias (com o poder público, as empresas privadas e as entidades da sociedade civil) que facilitem a execução de ações capazes de contribuir para a melhoria substancial da caminhabilidade no Recife.” Em reunião de apresentação do Movimento à Prefeitura do Recife, foram combinados os seguintes encaminhamentos: (1) ação redobrada da prefeitura para retirada dos carros das calçadas da cidade (começando pelos corredores de maior fluxo); (2) estabelecimento de um interlocutor do Poder Executivo Municipal para o tema das calçadas; (3) realização conjunta do 1º Congresso das Calçadas do Recife (para a produção da Carta das Calçadas do Recife). A publicação dos Mandamentos do Pedestre Recifense se insere no âmbito deste movimento de cooperação, afinal como diz o anúncio do rádio: “na cidade todos somos pedestres”. Caminhar é preciso! Melhor ainda com pedestres conscientes! Baixe o arquivo completo no link abaixo: 10 Mandamentos do Pedestre Recifense  

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A obscura lei do uso dos faróis

A obrigatoriedade do uso de farol baixo durante o dia nas rodovias federais e estaduais brasileiras é fruto de uma das leis mais controversas aprovadas em 2016, a 13.290/2016. A discordância foi tamanha que a sua adoção foi suspensa em Pernambuco pelo Departamento de Estradas de Rodagens (DER) cinco dias após entrar em vigor, por falta de sinalização e de ações educativas junto aos condutores.  Recentemente, liminar da Justiça Federal de Brasília proibiu a cobrança de multa em todo território nacional pelos mesmos motivos. A justificativa apresentada pelo autor da lei, deputado Rubens Bueno (PPS-PR), é de que ela aumenta a segurança no trânsito. Porém seu argumento é questionado por um grupo de pesquisa da UFPE, coordenado pelo professor do Departamento de Engenharia Civil Maurício Pina. No Estado, no curto prazo de vigência da legislação, 229 condutores foram autuados, mas as multas foram suspensas pela Justiça. O uso dos faróis acesos durante o dia é tema de vários estudos acadêmicos. Muitos apresentam conclusões que se contradizem, de acordo com Maurício Pina, que há cinco anos coordena uma linha de pesquisa na UFPE sobre acidentes nas estradas. “O entendimento é controvertido. Alguns trabalhos defendem o uso de faróis acesos durante o dia nas rodovias, justificando que numa distância de 3 km é possível visualizar o veículo. Outros estudos, no entanto, indicam que essa medida altera os elementos naturais de percepção e pode desencadear situações de estresse ao condutor e ainda causa uma poluição luminosa que pode até confundir os motoristas, sendo prejudicial principalmente para os motoqueiros”, afirma. No caso das motocicletas, por exemplo, a nova lei tende a contribuir para “desprotegê-las”, alerta Pina. “Antes dessa legislação, apenas as motocicletas eram obrigadas a trafegar com faróis acesos, o que os destacavam no tráfego”, explica o professor. “Se no caso das rodovias há opiniões conflitantes, em áreas urbanas é inaceitável. Não há a menor justificativa para implementar essa obrigatoriedade”, adverte Pina. “Quem a defende baseia-se na justificativa da visibilidade do veículo num o raio de visão de 3 km, mas em área urbana você não alcança essa distância devido aos obstáculos na paisagem”. Na Região Metropolitana do Recife a aplicação da lei confundia os motoristas sobre os locais onde deveriam acender os faróis. Isto porque várias rodovias estaduais cortam os centros  urbanos, como a Estrada da Batalha, a Estrada de Aldeia, a PE-15 (Olinda e Paulista) e o Complexo do Salgadinho. Essa confusão fez com que fossem aplicadas em média 45 multas por dia só na RMR. No País, segundo a Polícia Rodoviária Federal, foram geradas 3 mil multas diárias. Na dúvida, a tendência dos motoristas foi permanecer durante o dia inteiro com o farol aceso, para não correr o risco de ser multado em R$ 85,13 e ainda perder quatro pontos na CNH. Em novembro deste ano, o valor passará a ser R$ 130,16, conforme a nova tabela que entrará em vigor no País. Nos estudos realizados pela UFPE em diferentes quilômetros da BR-101, a redução do número de acidentes de trânsito passa por outros fatores. “As pesquisas demonstram claramente que muitos dos acidentes são causados por condições físicas da via, tais como o estado do pavimento, a sinalização horizontal e vertical e a geometria da rodovia”. Houve casos na BR-101, por exemplo, que a execução de um tapa-buracos, embora de curta vida útil, contribuiu para reduzir os acidentes nos quilômetros em que o serviço foi executado em 10% no ano. No entanto, para o professor é necessário que os pavimentos tenham uma restauração definitiva, já que os serviços de tapa-buracos são apenas paliativos, por apresentarem vida útil efêmera. O professor ainda chama a atenção para o fato de que a obrigatoriedade do uso de faróis durante o dia nas rodovias teve início nos países da Escandinávia (Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia), onde as condições de iluminação natural são muito críticas, já que lá os raios solares não aparecem durante a maior parte do ano. Outros países que passaram a adotar a medida, como Chile, Argentina, Uruguai, Hungria, Canadá e alguns Estados norte-americanos não estão situados nas regiões tropicais, nas quais as condições de luminosidade são muito diferentes. Para tentar entender a justificativa técnica para implementação da lei, o professor da UFPE enviou uma correspondência ao diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Elmer Coelho Vicenzi. Pina solicitou informações da pesquisa que embasou a medida. Ele quer saber  quem foi o autor, a instituição em que trabalhava, o referencial teórico, a metodologia utilizada, os resultados obtidos e a data da publicação. A resposta, que veio através da coordenadora geral de infraestrutura de trânsito, Juliana Lopes Nunes,  foi a de que não havia nenhum estudo sobre o assunto naquele departamento. Ela sugeriu que ele recorresse ao Congresso Nacional, responsável pela aprovação. Pina fez o mesmo procedimento, enviando uma correspondência para o deputado Rubens Bueno, autor do projeto de lei, mas ainda não obteve resposta satisfatória. Como se não bastassem os argumentos técnicos para o professor questionar a medida, ele destaca ainda a ilegalidade da sua aplicação para as áreas urbanas. Pina explica que a Lei nº 13.290 alterou os artigos 40 e 250 do Código de Trânsito Brasileiro, passando a obrigar o uso de faróis acesos durante o dia em túneis providos de iluminação pública e rodovias. No entanto, o próprio Código, em seu Anexo I, define rodovia como sendo uma via rural pavimentada, não incluindo, portanto, aquelas que atravessam as áreas urbanas. CONTRADIÇÃO Em 2006, um projeto de lei da deputada Selma Schons (PT/PR) pretendia justamente proibir o uso de faróis durante o dia. A motivação, curiosamente, era para aumentar a segurança no trânsito. “O uso do farol indiscriminadamente aceso durante o dia é nocivo, pois interfere no mecanismo cerebral de processamento da luz, e ao alterar os elementos naturais da percepção, produz incômodo e é capaz de desencadear perigosas situações de estresse no condutor. Isto será tanto mais evidente nas grandes cidades sujeitas a congestionamentos de tráfego e nos eixos com grandes fluxos de veículos em circulação”, justificava a parlamentar.

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O mal-estar da mobilidade (Por Gustavo Costa)

A expectativa era de padrão Fifa. A execução das primeiras concessões de serviço de transporte de passageiros da Região Metropolitana do Recife foi iniciada durante a Copa. Os dois primeiros lotes de linhas (sete licitados), beneficiados por BRTs, passavam a integrar a operação transitória dos Corredores Norte- -Sul e Leste-Oeste. Após dois anos, e três das “Jornadas de Junho”, grassa o mesmo mal-estar coletivo com o padrão do serviço de mobilidade. Apesar dos vultosos investimentos públicos e privados, a operação segue transitória; da boa aceitação dos BRTs, a infraestrutura de vias e terminais segue inacabada, travada e insegura; dos ganhos de escala e velocidade em algumas linhas, caras estações depredadas e dezenas de BRTs depreciando em garagem são o pior retrato da ineficiência, do desperdício e improviso. Afinal, o que deu errado? Seguramente, o impacto da maior crise econômica da história brasileira explica muito. Não tudo. Outra parte da explicação está em velhos e conhecidos gargalos da gestão pública, cujas soluções demandam diagnóstico, esforço e prioridade na agenda política metropolitana e local. Em primeiro lugar, há a secular cultura da insegurança jurídica nos contratos públicos. Não é eficiente licitar às pressas para fazer bonito na Copa. São indispensáveis planejamento e regras que projetem estabilidade, equilíbrio entre direitos e obrigações, proteção contra casuísmos burocráticos, além da garantia de retorno do investimento a taxas de mercado. Em síntese, expressivos investimentos público-privados em infraestrutura de mobilidade reclamam marco legal e contratual estável, equilibrado desburocratizado e previsível. A falta de concorrentes na recente licitação internacional, as prenunciadas dificuldades nos contratos em execução e o atraso dos contratos pendentes sinalizam que o gargalo da insegurança jurídica não tem sido bem compreendido pela gestão pública. O segundo gargalo é a ineficiência da gestão e regulação. Quando de sua criação (2007), o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, sucessor da extinta EMTU, era uma inovadora ideia no papel: a primeira empresa pública multifederativa destinada à gestão do complexo sistema de transporte metropolitano, com estrutura societária, organizacional e financeira. Quase 10 anos depois, a ideia não pegou: os municípios consorciados não compraram o projeto, o governo estadual banca sozinho o “consórcio”, com escassos repasses, e o Grande Recife, apesar do esforço de alguns técnicos abnegados, segue desestruturado, sem equipe e receitas à altura da sua missão. É uma grande ideia fora do lugar, a reclamar urgente simplificação. Por fim, o mais importante: o atual modelo de financiamento da mobilidade está esgotado. As “Jornadas de Junho” de 2013 deixaram claro que a sociedade não suporta mais expansão de tarifas sem contrapartida eficiente. Por outro lado, o retorno da inflação a partir daí, potencializada pelo represamento artificial de preços administrados, confirma que a alternativa não é o “lanche grátis”. No mundo rico, a sociedade financia boa parte da conta com subsídio público. No Brasil, e em Pernambuco, o sistema é dependente de tarifa, paga pelos pobres e sem subsídio eficiente. A conta da mobilidade é injusta e não fecha. A solução do complexo problema do financiamento passa pelo fim da dependência tarifária, com a ampliação das fontes de receita, inclusive subsídios orçamentários. Alternativas existem, algumas delas impopulares para a classe média, a exigir muita prioridade política. E há também alternativas mais sofisticadas, como os fundos de infraestrutura, tal como previsto na recente MP 727/2016. Pernambuco já ensaiou um fundo garantidor de mobilidade, mas abortou a ideia. É hora de retomá-la, agora com impulso federal. A mobilidade entrou na agenda política pelo grito das ruas de 2013. A Copa e a crise político-econômica secundarizaram sua pauta, mas o mal- -estar coletivo e silencioso continua. O silêncio das ruas acabará cedo ou tarde. Já passou da hora de os atores políticos locais e metropolitanos formularem respostas para um problema que também é seu.

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