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Cinema, literatura e debates: Super 8 divulga intensa programação para julho e agosto no Recife

Espaço cultural promove sessões gratuitas com foco na produção independente e temas como inteligência artificial, sindicalismo, corpos em cena e homenagens a Miró da Muribeca O Super 8, espaço cultural localizado no centro do Recife, anunciou sua programação gratuita para os meses de julho e agosto, reunindo exibições de filmes, debates, lançamentos de livros e videoclipes, além de uma exposição fotográfica. Com foco na produção independente, as atividades incluem novas edições do projeto Encontros do Cinema Pernambucano (ECP), responsável por mais de 150 sessões na capital pernambucana e 18 na Europa, conectando o audiovisual a outras expressões artísticas. A programação começa no dia 1º de julho com o lançamento do videoclipe do artista Soninho, dirigido por ISNT, dentro do projeto VIDEOCULTO. No dia seguinte, entra em cartaz a Mostra Periférica de Cinema, com Anny Kesia e Ângelo Fábio. Já no dia 3, o ECP promove um debate sobre “a inteligência artificial e seus impactos culturais”, com a pré-estreia do filme “O Túnel” (2025), de Marcello Trigo. Participam da conversa os cineastas André Pinto, Daniel Bandeira e Marcello Trigo, além de Rei (Recife Ordinário) e o professor Giordano Cabral (UFPE). Outros destaques de julho incluem sessões sobre narrativas e corpos em movimento, como o encontro com o THCine (dia 16) e o debate “Corpos em cena” com Foster Costa e Marcos Teófilo (dia 23). No dia 24, o ECP apresenta filmes de Bosco da Costa e Tauana Uchôa, em sessão com Irmã Argemira. No fim do mês, no dia 31, o tema será o sindicalismo, com participação de Rafaela Celestino e Plínio Sá. Em agosto, o Super 8 presta homenagem a Miró da Muribeca, com uma programação especial no dia 6, que inclui leituras, exibições e o lançamento de sua nova biografia, escrita por Wellington Melo. A despedida do poeta se estende ao sábado (9), com cerimônia às margens do Capibaribe, organizada por Marcelino Freire e o Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro. No dia 20, o escritor Landerson Rodrigues lança seu novo livro, O Doce Veneno da Serpente, em noite com cinema e histórias sobrenaturais. Paralelamente à programação de cinema e literatura, o público poderá visitar a exposição “Retratos Urbanos”, da fotógrafa Ignus, com curadoria de Thor Neukranz. As imagens, feitas entre 2017 e 2018 em ruas da Região Metropolitana do Recife, permanecem em cartaz até 2 de agosto na Galeria do Super 8. O Encontros do Cinema Pernambucano é idealizado por Thor Neukranz, com produção de Vinícius Costa e Wandryu Figuêredo. Serviço📆 Julho e agosto de 2025📍 Super 8 — Rua Mamede Simões, 144, Centro do Recife🎟 Entrada gratuita📲 Instagram: @encontrosdocinema | @barsuper8 Programação:

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Pernambuco pioneiro na telona

Por Houldine Nascimento e Wanderley Andrade, especial para Algomais O Prêmio do Júri para Bacurau no Festival de Cannes, em maio deste ano, é consequência de um trabalho consistente de cineastas pernambucanos, resultado de toda uma tradição cinematográfica pouco conhecida do grande público. Há quase duas décadas, Pernambuco tem chamado atenção do restante do País e (por que não?) do mundo pela força e peculiaridade de diversas produções audiovisuais. O êxito da sétima arte no Estado, contudo, não é de hoje. Quando o assunto é cinema, o pioneirismo de Pernambuco é evidente já no começo do Século 20, quando as primeiras salas de exibição são instaladas no Recife: inaugurado em julho de 1909, o Pathé foi a primeira sala local. Na década de 1920, os italianos Ugo Falangona e J. Cambiere desembarcam na Veneza Brasileira com o cinematógrafo. Mais adiante, a dupla funda a produtora Pernambuco Film, que repassa toda a estrutura para a Aurora-Film, fundada por Ary Severo, Edson Chagas e Gentil Roiz. Não por acaso, o trio se sobressaiu na produção audiovisual pernambucana naquele momento. “Ary Severo tinha voltado da Europa, viu o cinema acontecendo, e isso fez com que ele se juntasse a Gentil Roiz, um ourives apaixonado por cinema, e Edson Chagas. Daí eles resolveram produzir filmes”, ressalta o pesquisador e cineasta Alexandre Figueirôa. Posteriormente, o ator e diretor sergipano Jota Soares se junta a esses três nomes. Era um período em que a capital pernambucana transbordava modernidade, conforme pontua Figueirôa: “Havia bonde elétrico, iluminação nas ruas. Era um boom desenvolvimentista e o cinema, de certa forma, é uma invenção da modernidade. Então, fazer cinema naquele momento era algo inovador, diferente. Isso foi uma das motivações.” Nesse contexto, surgiu o que se convencionou chamar Ciclo do Recife (1923-31), quando 13 longas-metragens foram produzidos no Estado. As primeiras produções do movimento sofriam forte influência do cinema estadunidense, hegemônico no mundo. Eram obras com personagens bem demarcados, numa relação maniqueísta, com temáticas que envolviam amor, dignidade e honra. O primeiro filme do ciclo é Retribuição (1924), de Gentil Roiz. Na trama, Edith Paes (Almery Steves) recebe como herança de seu pai um mapa do tesouro. Um ano depois, ajuda um desconhecido enfermo (Barreto Júnior). Uma quadrilha planeja roubar sua fortuna, mas a heroína recebe a ajuda do mocinho para que isso não aconteça. Na equipe de produção, Ary Severo foi o assistente de direção, enquanto Edson Chagas assinou a direção de fotografia e Jota Soares o auxiliou na função. A recepção do público foi positiva. A este filme, seguiram-se Um ato de humanidade (1925), produção de propaganda que promoveu a estreia de Soares como ator, e Jurando vingar (1925), dirigido por Severo. O terceiro filme do Ciclo do Recife já não foi recebido com muito entusiasmo. Pelo contrário: a ausência de cor local acabou despertando críticas de quem acompanhava com afinco a sétima arte. “Esses realizadores faziam filmes inspirados no que eles viam, produções sobre aventura e norte-americanas, sobretudo. Algumas pessoas dos jornais e que acompanhavam cinema reclamavam que os filmes não tinham elementos da cultura nordestina e pernambucana”, comenta Alexandre Figueirôa. Dessa cobrança para refletir a cultura pernambucana na tela grande, nascem, em 1925 e 1926, as duas produções do movimento com maior destaque: Aitaré da praia, de Gentil Roiz, e A filha do advogado, de Jota Soares. A primeira traz imagens de pescadores e jangadas no litoral do Estado, já a segunda evidencia o urbanismo recifense, suas pontes, casarios e o vai e vem de automóveis. A filha do advogado foi além das divisas de Pernambuco e chegou a ser exibido em cidades como Belém, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. A crítica acolheu bem o filme. Na extinta revista Cinearte, houve o seguinte registro: “Digam o que quiser os invejosos e despeitados, mas a estréa (sic) do Jota como director (sic) não podia ser melhor. A photographia (sic), embora não esteja isenta de falhas, é a melhor vista em films (sic) pernambucanos. Quanto ao conjunto de intérpretes agradou plenamente.” Mesmo com essa trajetória de prestígio, os custos da produção foram altos e levaram a Aurora-Film à falência. Outras produtoras surgiram: Olinda-Film, Planeta-Film, Veneza-Film e Vera Cruz-Film. Produção da Liberdade-Film, No cenário da vida (1931), com direção de Jota Soares e Luiz Maranhão, marca o desfecho do prolífico Ciclo do Recife. O advento do som no cinema foi determinante para que o movimento formado por filmes mudos chegasse ao fim, como revela o diretor e pesquisador Paulo Cunha: “Na década de 1930, há uma quebra (na realização de filmes) por causa da tecnologia do cinema sonoro, que demorou a chegar aqui. Isso fez com que os produtores brasileiros ficassem incapacitados de acompanhar esse tipo de produção.” Apesar dessa ruptura, Cunha atenta para o vanguardismo local. “Em várias outras cidades do Brasil, o cinema é muito posterior. Um exemplo muito simples disso é que o primeiro longa-metragem de ficção feito no Recife é datado de 1923 (referindo-se a Retribuição). Já o primeiro longa de Salvador, na Bahia, foi produzido no final dos anos 1950. Daí vemos como o Recife foi pioneiro no processo de adoção do cinema como forma de expressão”, analisa. NOVO CICLO A vocação para o audiovisual também passa pelo Movimento Super-8, nos anos 1970. O novo ciclo é considerado uma espécie de renascimento do cinema pernambucano. Além de Paulo Cunha, fizeram parte dessa geração nomes como Geneton Moraes Neto (Esses onze aí, codirigido com Cunha), Fernando Spencer, que se preocupou em documentar episódios importantes do cotidiano local (Trajetória do frevo e Valente é o galo são alguns exemplos) e em resgatar a história do Ciclo do Recife (Almeri & Ari, Estrelas de celuloide, História de amor em 16 quadros por segundo); e Jomard Muniz de Britto com trabalhos experimentais. Um desses trabalhos de Jomard é O palhaço degolado (1976), alegoria apoiada numa perspectiva de um palhaço que encena uma prisão existencial e evoca, através de uma narrativa exagerada, nomes da cultura nordestina como Ariano Suassuna e Gilberto Freyre. O movimento vanguardista

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