Arquivos Teatro - Página 13 De 13 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

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Produzir teatro é preciso, sempre! (Por Romildo Moreira)

Por mais esforço que façamos para evitar o assunto “crise”, mas ele, sorrateiramente, chega e toma fôlego em qualquer roda de conversa. Seja no bar, no taxi, no ônibus, no metrô, na missa, no velório ou mesmo em casa, com a família, ele se faz presente. E com os artistas das artes cênicas não tem sido diferente. Enquanto uns lamentam não ter aprovado seus projetos para montar um novo espetáculo, o que possivelmente lhe garantiria trabalho e renda, outros encontram motivo na crise para não deixar a peteca cair e dar-lhe uma rasteira (na crise). – Ponderemos, portanto, aqui, uma questão: se um produtor depender de uma aprovação em Lei de Incentivo à Cultura para só assim ter o seu espetáculo em cena, quando isso não ocorrer, a crise será mais aguda pra ele, conforme já tratamos desse tema aqui. – Mas, graças a Baco e Dioniso (os deuses do teatro), boa parte dos produtores de teatro e dança, estão buscando alternativas para manter viva a sua arte, independente das leis de incentivo. – Outros, com parte dos recursos advindos do Funcultura, por exemplo, estão conseguindo driblar a famigerada crise para, com criatividade, complementar o orçamento da montagem e trazer à peça a público. Sabemos do espetáculo Angélicus, que fará apresentações em Portugal no segundo semestre, e que por falta de patrocínio para a viagem, o elenco e os produtores estão mobilizados neste intento (já realizaram uma feijoada dançante), levantando recursos para atravessar o Atlântico e levar uma mostra do teatro pernambucano para dialogar com o público português. – Em suma, os artistas estão fazendo a sua parte. Tratemos agora da relação da crise com o público. Para os que costumam investir no seu intelecto, a receita tem sido: diminuir sim, abandonar, jamais. Em momentos como esses de grana curta, é preciso ficar mais seleto no que consumir e não cortar, radicalmente, hábitos que lhes são favoráveis, e que irão lhes servir para todo o sempre, como livro, cinema, teatro... – Temos relatos de pessoas que iam duas vezes ou mais ao cinema por semana, e que agora estão indo uma vez a cada quinze dias, escolhendo atentamente o que realmente mais lhe interessa ver na telona. Com o teatro, o mesmo procedimento tem sido adotado, principalmente por quem tem o costume de levar suas crianças aos finais de semana para uma peça infantil. A cautela aí é verificar a procedência do espetáculo, o histórico dos artistas envolvidos e, em especial, as fontes que indicam, para decidir o que assistir em uma casa de espetáculos. – Atenção, este final de semana teremos estreia do novo trabalho do Coletivo Angu de Teatro (vide indicação abaixo). Sob a graça dos deuses acima citados, e a garra dos artistas que escapam da crise com trabalho e determinação, temos bons espetáculos em cartaz na capital pernambucana (e que por isso já merecem os nossos aplausos), mas que certamente merecerão muitos aplausos ao vivo, de um público que mesmo pensando em economia, sabe o quão importante é o investimento na formação intelectual, e sai de casa para vê-los, confiante na competência artística da produção local. Aos que acham que teatro é uma “diversão” cara, afirmamos aqui o contrário, se comparamos com os valores de ingressos cobrados para jogo de futebol, cinema em shopping, shows musicais em centros de convenções e casas noturnas, etc. – Observemos aqui que muitos dos espetáculos chegam ao público com ingressos a preços simbólicos, pelo fato de terem recebido algum patrocínio, mas que não eliminam todos os custos que uma produção tem em cada apresentação. Mas um motivo para economizar sem deixar de ir ao teatro, pagar o ingresso e aplaudir os artistas. DICAS DE ESPETÁCULOS EM CARTAZ: - “Ossos”, com o Coletivo Angu de Teatro Local: Teatro Apolo Dias: sábado 11/06 às 21h e domingo 12/06, às 19h. Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 33553319 / 33553320 - “O Tempo Perguntou ao Tempo”; Espetáculo de dança para criança / Grupo Acaso Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Stº Amaro) Dias: sábado 11/06 e domingo 12/06, em dois horários: 11h e 16h. Preços: R$ 10,00 e R$ 5,00 – Informações: 32161728 - “LUIZ E EU? Ô viagem danada de boa”; Espetáculo de teatro para criança / Cia. Maravilha Local: Teatro Joaquim Cardozo Dia: 12/06, às 16h Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 21267388. *Romildo Moreira é ator, autor e diretor de teatro

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Ir ou não ir ao teatro? Eis a questão (Por Romildo Moreira)

Vimos, há algum tempo, pensando questões relacionadas ao fluxo de público nas casas de espetáculos. Vez por outra esse assunto vem à baila e, invariavelmente, chega-se as mesmíssimas observações, sem que com isso a questão marche rumo à solução. Por exemplo, a falta de hábito é sempre a primeira questão a ser abordada, mas não existe, ao detectá-la, uma iniciativa que realmente reverta essa situação e busque o hábito almejado da “população”, para que se adquira um público mais numeroso e constante nas nossas casas de espetáculos – tarefa nada fácil porque mexe com valores sociais, culturais e econômicos já entranhados no seio da sociedade em geral. E quando eventualmente uma produção sinaliza nessa direção, seja de teatro ou de dança, o resultado recai apenas para a própria produção, ou seja, não atinge de fato a questão do hábito, e sim, o estímulo para ver o espetáculo que ela representa. O que é positivo por um lado e uma pena por outro, se considerarmos que todo espetáculo merece ser visto por uma casa lotada. Vamos aqui abrir um parêntese para debater uma das mais utilizadas formas de levar público ao teatro; a doação de convites. A própria lei de Incentivo à Cultura de Pernambuco, o Funcultura, estimula essa prática aos seus contemplados, utilizando o argumento da contrapartida social. Porém, em diversas rodadas de conversas a esse respeito, detectou-se haver mais prejuízo que benefício de ação como essa, por três razões básicas: 1ª - A doação alimenta o vício de não pagar para ir ao teatro (ao contrário do que se faz com cinema), caracterizando assim o desrespeito e a leviandade com que se trata a dança e o teatro que ocupam as casas de espetáculo. E, em muitos casos, os ingressos são distribuídos e as poltronas ficam vazias porque o ganhador não se dignou a retribuir a gentileza com a presença. Outros ainda são mais desrespeitosos, repassando os convites recebidos aos cambistas; 2ª - Por não ter sido desembolsado nenhum valor financeiro para a aquisição do ingresso, quando o ganhador vai, não se preocupa em chegar com antecedência ao recinto da apresentação, também não se incomoda em sair no meio da apresentação para atender o celular, etc. 3ª - Quando o espectador se digna a ir ao teatro, comprar o seu ingresso e assistir ao espetáculo, os artistas sentem a energia respeitosa dessa plateia que a considera a ponte de reservar um espaço em sua agenda para essa finalidade e a apresentação ganha muito em qualidade com isso. Tem-se aí outra relação e a questão passa para outro ângulo de visão, que é o valor do ingresso. Ir ou não ir ao teatro, não nos parece ser a grande questão. Agora, de que forma se vai ao teatro, eis a questão. É praticamente senso comum entre os artistas de palco, que os ingressos devem ter um valor acessível, para permitir a presença de um público mais amplo e com isso sustentar uma temporada. Da mesma forma, fala-se em destinar, a cada récita, cota de ingressos para instituições como escolas públicas, entidades de assistência social, grupos comunitários de jovens, formadores de opinião, etc., todos previamente agendados, com compromisso assumido de comparecer à apresentação, tendo por resultado uma plateia cheia, composta por pagantes e convidados de forma especial, apostando com isso na possibilidade da renovação de público para um futuro próximo. Agora, certamente, só teremos o efeito cobiçado se o exercício de ações como essas se tornarem pratica permanente. Talvez assim tenhamos, paulatinamente, aumento significativo de espectadores habituais ao teatro. Curiosamente, este tema “ir ou não ir ao teatro” já foi abordado em uma peça do dramaturgo alemão Karl Valentim, parceiro de Bertolt Brecth, cujo título é: A ida ao teatro. – Resta-nos agora repetir o chavão: VÁ AO TEATRO e BOM ESPETÁCULO! DICAS DE ESPETÁCULOS EM CARTAZ: - O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues Local: Teatro Apolo Dias: sexta 06/06 e sábado 07/06, às 20h. Preços: R$ 30,00 e R$ 15,00. - Informações: 3355-3319 ou 3355-3320. - A Revolta dos Brinquedos, com a Circus Produções Local: Teatro Apolo Dia: domingo 05/06 às 16h Preço: R$ 20,00 e R$ 10,00 - Informações: 3355-3319 ou 3355-3320 - LUIZ E EU? Ô viagem danada de boa!, com a Cia. Maravilhas Local: Teatro Joaquim Cardozo Dia: 05/06 às 16h. Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 - Informações: 2126-7388   Romildo Moreira, ator, autor e diretor teatral  

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Rubem Rocha Filho – o eco da saudade... (Por Romildo Moreira)

São oito anos de ausência da ribalta pernambucana. O dramaturgo, ator, encenador e professor de teatro Rubem Rocha Filho partiu para a eternidade (como diria Nelson Ferreira) em 28 de maio de 2008, deixando na cidade que escolheu para viver, Recife, uma vasta legião de admiradores, que não se restringe ao segmento teatral, mas extensiva está a toda uma roda viva intelectual da Veneza Brasileira. Com berço carioca (1939), formação acadêmica americana na Wesleyan (em Connecticut) onde cursou Dramaturgia, extensão profissional em Londres, escrevendo e produzindo programas de rádio para a BBC, com o requinte de ter feito teatro na Academia Silvio D’Amico, em Roma, Rubem Rocha Filho se reeducou como brasileiro na capital pernambucana, inicialmente tragado pela cultura popular nordestina que lhe fora apresentada por Hermilo Borba Filho e na sequência, por irmana-se com o jeito pernambucano de ser, mantendo, involuntariamente, o sotaque das terras de São Sebastião do Rio de Janeiro. No mais, Rubem era Pernambuco em primeiro lugar. Foi em Recife que ele pôde se dedicar com mais afinco a sua produção literária, com ressonância nacional, tanto na dramaturgia quanto em ensaios que publicou. E é desta última categoria literária que passamos a discorrer, tendo como recorte dois títulos imprescindíveis aos que fazem teatro, que são: A personagem dramática e Anjo ou Demônio, malandro ou herói. Estes dois trabalhos engrandecem a bibliografia do teatro brasileiro, pelo olhar profundo de um ensaísta comprometido com o mundo submerso, lançando olhares que pululam todos os aspectos do fazer teatral, recusando-se a ficar na leveza de uma superficialidade de estudo para a sua escrita. Daí o sucesso. Daí a contribuição ensaística ao teatro brasileiro. Daí, A personagem dramática ser o trabalho escolhido em 1º lugar no VII Concurso Nacional de Monografias – Prêmio Bricio de Abreu 1983/1984 do Ministério da Cultura, por uma Comissão Julgadora formada por Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi e Yan Michalski. É corrente entre artistas, críticos e pesquisadores do teatro brasileiro a afirmação que o ensaio de Sábato Magaldi intitulado O texto no teatro (Ed. Perspectiva, São Paulo 1989) e o de Rubem Rocha Filho A personagem dramática (Ed. minC – INACEN, Rio 1986), se complementam, oferecendo uma ampla possibilidade de técnica de análise dramática, formando, juntos, uma extraordinária contribuição da escritura teatral brasileira para o teatro ocidental na atualidade. Quanto a Anjo ou Demônio, malandro ou herói (Ed. Fundação de Cultura Cidade do Recife – 1998), ensaio vencedor do Prêmio Jordão Emereciano do Conselho de Cultura da Prefeitura do Recife em 1997, Rubem torna sólida uma pesquisa sobre a presença do negro no teatro brasileiro, para o qual foi maturando o assunto em diversas oportunidades, entre as quais o artigo que escreveu em 1968, meio às comemorações aos 80 anos da Abolição da escravatura, passando pelas discussões ocorridas em um Seminário realizado na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, que tratava da presença do negro em nossa dramaturgia, assim como no II Congresso Afro-brasileiro, também promovido por esta mesma Fundação. Do prefácio desta publicação, assinado por Lucila Nogueira, destacamos os dois últimos parágrafos que diz: “... Anjo ou demônio, malandro ou herói é leitura obrigatória, não só para estudiosos do nosso Teatro, mas para quem deseja conhecer mais das atitudes de um Brasil que escamoteia seu racismo. – Trata-se, na estatística teatral brasileira, de obra viva, corajosa e única, a partir, inclusive da sedução de sua escrita”. – Aqui, aproveitamos para recomendar às obras citadas a novíssima geração de artistas da cena local. Pois bem, no eco da saudade, o alento de uma obra que permanece no convívio de pessoas que dedicam a sua existência a arte teatral, aqui e alhures, agora e para sempre. Obrigado Rubem! Romildo Moreira – ator, autor e diretor teatral

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Teatro em tempos de crise (por Romildo Moreira)

“Ai a crise, ai a carestia!” – Vive dizendo o personagem Eurico, da peça O Santo e a Porca, do mestre da dramaturgia brasileira, Ariano Suassuna. Ariano escreveu esta comédia há 58 anos atrás. Mesmo considerando que “os tempos eram outros”, a frase hoje se põe atual, porque no teatro, uma crise se acaba para dar início a outra. Falo de crise econômica. Desta forma, não recordo ter vivenciado um período de fartura de patrocínio para as produções teatrais. Mas lembro dos canais de recursos que existiam para impulsionar montagens por todo o Brasil, através do Projeto Auxílio Montagem, expedido pelo Ministério da Cultura, em parceria com os governos estaduais. Isso nas décadas de 1970/1980. E lembro ainda os espaços bem equipados e conservados à nossa disposição, até pouco tempo atrás. Também nesta época era comum encontrar apoiadores (médios e pequenos empresários) para as montagens locais dos grupos mais notórios ou personalidades do teatro pernambucano, o que aliviava, mas não eliminava à crise financeira no teatro de então. – Com o advento das leis de incentivo, e com o passar do tempo, percebeu-se que “a crise” não passara com este moderno e democrático mecanismo de patrocínio, comparado o número dos que aprovam e conseguem executar seus projetos, com os que não conseguem o mesmo intento. E os apoios particulares de outrora, sumiram. Atualmente, quem se aventurou em busca de patrocínios em empresas privadas nos últimos 18 meses, Como é o caso do espetáculo Angelicus, sentiu de perto as intempéries do momento econômico do país, e recordou o chavão do Eurico de Ariano: Ai a crise, ai a carestia! Pois bem, em tempos de crise em todos os setores produtivos da sociedade, obviamente o artístico é o mais penalizado, e provavelmente entre às artes, o segmento cênico (teatro, dança, circo e ópera) seja o que mais sofre com a recessão. Fazer teatro é caro, visto que se trata de uma arte coletiva, que necessita de profissionais de vários setores para se concretizar uma montagem, que por sua vez necessita de público pagante para custear as despesas e, com crise, o público já escasso normalmente, reduz drasticamente a ida ao teatro. É aí que entra o papel do poder público, através dos seus órgãos de cultura, cumprir o que determina a Constituição Brasileira, no que se refere à cultura. – Porém, é corrente ouvir-se nos gabinetes de cultura, em todas as esferas, que: Com crise, não dá para reduzir gastos da saúde, da educação e da segurança... – O resto da frase, se sabe bem qual é. O bom senso advoga que, uma sociedade culturalmente elevada e intelectualmente evoluída, em geral, tem uma saúde mais equilibrada, um compromisso constante com a qualidade da educação (inclusive a doméstica) e, por conseguinte, uma segurança mais eficaz, visto que as agressões físicas e morais são reduzidas a casos perdidos. E sendo a arte, de modo geral, um instrumento de elevação cultural de uma sociedade, o teatro, em especial, alavanca o intelecto a níveis surpreendentes. Falo aqui de um teatro que vale a pena o poder público subsidiar, porque a pratica, hoje, dos espetáculos bancados pelo próprio mercado, não alcançam esse patamar de resultado, por opção. – Sendo este o quadro visível a olho nu, precisamos, com urgência, rediscutir o papel e a prática das leis de incentivo, assim como a função do Estado na produção cultural e, com diálogo franco, reconquistar outros mecanismos de incentivo público à produção artística, antes que a mediocridade seja um legado cultural para o nosso povo. No caso específico do Recife, é preciso correr contra o tempo já perdido, em busca de um futuro promissor, para que não figure em nossa história recente apenas lamentos como: fomos o terceiro polo de produção teatral do Brasil; tivemos um dos melhores festivais de teatro e de dança do país; fizemos a melhor montagem de Garcia Lorca fora da Espanha, reconhecido pelo governo espanhol, etc., etc. – Só para lembrar, hoje na capital pernambucana existe uma nova geração preparada para essa necessária retomada do crescimento artístico e intelectual da cidade, a exemplo do que ocorre com o cinema, aguardando as oportunidades surgirem. E essas oportunidades dependem do entendimento que os gestores públicos têm do significado da cultura pernambucana no cenário nacional e da cidade do Recife que é, por natureza, um celeiro de grandes artistas (do passado e do presente) que hoje, infelizmente, entoa a cantilena do texto de Ariano “Ai a crise, ai a carestia!”. Por Romildo Moreira - ator, autor e diretor de teatro

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