Um nome que ficou na história – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Um nome que ficou na história

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Agitado, revolto, escabroso, pedregoso, eriçado, repleto, apinhado, irado, ameaçador, perigoso, grosseiro, rude, desprovido de fluidez, difícil, rebuscado, áspero, rugoso, irregular… são algumas das definições do adjetivo crespo, ensinam os dicionários Houaiss, Aulete, Aurélio e o Priberam (este editado em Portugal). Ainda bem que o substantivo, o antropônimo, o nome próprio do homem de quem se vai falar, merece referências elogiosas. Trata-se do padre Crespo, uma das principais personagens das lutas campais nos encarniçados anos 1960. Eram os tempos do tenebroso AI-5, da crise dos mísseis soviéticos armados em Cuba, da Guerra Fria, do assassinato de John Kennedy, presidente dos Estados Unidos, e de Robert Kennedy, senador por aquele país, irmão do presidente.
Eram tempos sombrios, mas, mesmo assim, tempos em que algumas personalidades deitavam luz sobre o ambiente. Uma delas, o padre Paulo Crespo, um dos religiosos nordestinos depositários da confiança dos ianques, lutava contra a miséria organizando sindicatos rurais, beneficiando com recursos da Aliança para o Progresso a atividade dos trabalhadores da cana-de-açúcar. Ele sabia das coisas, sim, e buscava saber sempre mais, o que, ao mesmo tempo, instigava nas pessoas o desejo de mais saber a seu respeito, especialmente a respeito de um norte-americano que, com ele, percorria as regiões canavieiras.

Como se fosse pouco, aguçando ainda mais a curiosidade dos pernambucanos, ele aqui se fixara graças a um convênio com uma entidade particular estadunidense de nome Clusa, sigla em inglês de Liga Cooperativa dos Estados Unidos, estranhamente destinatária de recursos da CIA. O New York Times, aliás, já publicara a natureza das relações do, digamos, agente, com o trabalho do padre Crespo, testemunha ocular dos acontecimentos daqueles anos em que ele foi palco e plateia, vidraça e estilingue. Em uma e em outra posição, diga-se, tratou a imprensa com altivez; com respeito, mas com independência, sem trapaças e sem negaças. Tanto que falou sem reservas e sem vacilações sobre o suposto agente da CIA, citando-lhe o nome. Tratava-se de Thimoteo Rogen, um profundo conhecedor da formação e do funcionamento de cooperativas.

Em 1968, porém, ante o crescimento dos rumores de que se tratava da CIA o convênio foi interrompido. Sabe o que disse o norte-americano quando da rescisão do contrato? Que não era da CIA, e aduziu que cerca de 400 norte-americanos operavam nos trabalhos de cooperação com o Nordeste, nenhum deles tendo na testa a sigla CIA.

Paulo Crespo morreu aos 83 anos, deixando uma história ainda hoje pouco conhecida. Restaram, no entanto, algumas evidências de sua ligação estreita com os norte-americanos, sendo talvez a mais notória uma foto histórica, de novembro de 1965, em um canavial de Carpina, em que Robert Kennedy arruma o cabelo, tendo ao seu lado o padre Crespo. Era um vínculo tão forte que em 2003, quando veio ao Recife, Ethel Kennedy, a viúva de Robert Kennedy, fez questão de encontrar-se com o padre Crespo, presenteando-o com medalha do Memorial Robert Kennedy.

Paulo Crespo, o principal organizador de sindicatos rurais em Pernambuco, tinha atuação moderada, embora fosse intransigente defensor dos camponeses. Com sua morte desapareceu uma das principais fontes dos acontecimentos no campo nordestino nos anos 1960, de tantas e más lembranças.

*Por Marcelo Alcoforado

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