Você é daqueles que tenta encaixar um horário para fazer atividade física no seu cotidiano e não consegue? Então veja essa história: Emílio Surita, apresentador do programa Pânico, dizia ser adepto do estilo de vida CCC – café, cigarro e cachaça – e nem se preocupava em se movimentar. Até que um dia ele se deparou com resultados de exames preocupantes. Suas taxas de colesterol, glicemia, ácido úrico estavam estratosféricas e o médico alertou que perdesse 12 kg. Ele aproveitou, então, um dia em que seu amigo, o educador Marcio Atalla, se apresentara no programa para pedir uns conselhos.
“Emílio me disse que não gostava de academia”, recorda-se Atalla, que propôs ao amigo subir os 16 andares de escada da rádio onde trabalha, em vez de pegar o elevador. No primeiro dia ele se esqueceu – por falta de hábito – depois engrenou até que já escalava os andares em menos de cinco minutos. Ficou fácil. “O que mais posso fazer?” Atalla recomendou que subisse também as escadas na volta do almoço. Mas ele fez mais: passou a andar meia hora nos fins de semana em que não trabalhava. “Três meses depois, Emílio subia uma média de 47 andares por dia e andava meia hora aos sábados e domingos. Com essas medidas simples, ele perdeu 11kg, 9 cm de circunferência abdominal e os exames estavam controlados”.
A história foi contada por Atalla durante a palestra que fez no Cidades Algomais Bem-Estar e confirma o poder do hábito consciente para que o ser humano comece a priorizar a atividade física. Mas, por que, afinal, precisamos nos exercitar? Atalla rodou o mundo em busca dessa e de outras respostas para questões ligadas ao movimento. Foi até São Paulo conversar com o cardiologista Roberto Kalil, que explicou que durante o processo evolutivo da raça humana aqueles que não estavam aptos a se movimentar não sobreviveram. “Esses não acasalavam, nem procriavam. Quando você olha o nosso corpo fica muito fácil perceber que ele foi moldado para facilitar o movimento: o ser humano foi ficando ereto, com pernas e braços longos, e cheios de articulações”, exemplifica Atalla.
Se fomos feitos para o movimento, por que é tão difícil começar a malhar? Engana-se quem pensa que é pura preguiça. A resposta, por incrível que pareça, também está nos nossos ancestrais. Em Nova Iorque, Wendy Suzuki, uma das mais renomadas neurocientistas do mundo, disse para Atalla que nos primórdios da existência humana havia pouco alimento e muita necessidade de movimento. Quem sobreviveu? Nós, seres poupadores, que apresentamos duas características. Primeira: tudo o que consumirmos mais do que gastamos de energia é armazenado em forma de gordura. Nosso corpo está programado para isso. Os seres que não tinham essa capacidade morreram.
A segunda característica: como tínhamos pouco alimento e muito movimento, tivemos que criar a capacidade de não gastar muita energia. Como o nosso cérebro fez isso? Automatizando as nossas ações. A primeira vez que executamos uma certa tarefa nós pensamos na maneira de realizá-la. Depois, com o decorrer do tempo, não pensamos mais. Por exemplo, a primeira vez que você amarrou um tênis, foi difícil, você pensou e gastou x calorias. Hoje alguém pensa pra amarrar um tênis? É automático. O mesmo vale para dirigir um carro. “Segundo a Dra. Suzuki, 90% de todas as tarefas que executamos hoje, todos os dias são automatizadas e tudo o que fazemos dessa forma nosso cérebro não gasta energia”, esclarece Atalla.
Isso significa que nossa geração é a primeira a ter que colocar a questão do movimento nos 10% restantes do cotidiano, numa decisão consciente. Porque até os anos 1980, éramos ativos simplesmente por viver num lugar onde havia poucas escadas rolantes, poucos elevadores, tínhamos que levantar para mudar o canal da TV, não havia celular, nem computador. “Em 1989 o brasileiro dava em média 10 mil passos por dia, hoje 2.500. Ele está mais preguiçoso? Não. Ele tem muito mais tecnologia”, resume o educador físico.
Bem, ok, se o nosso cérebro segue a lei do mínimo esforço, como então ter pique para fazer o corpo se mexer? De acordo com a Dra. Wendy, existem três maneiras. Uma delas é mudar o ambiente. Para verificar na prática como isso acontece, Atalla foi até Copenhague (Dinamarca), onde 70% da população anda de bicicleta. Esse comportamento não aconteceu por vontade própria da população em ter uma vida mais saudável. Foi uma decisão do governo em resposta à crise do petróleo em 1973.
As avenidas foram divididas ao meio, metade destinada a tráfego de carros, a outra para bicicleta. Começou-se a cobrar preços absurdos pelos estacionamentos. Moradores da periferia demoravam 20 minutos para chegar até o centro da cidade de bicicleta e uma hora de carro. “Qual era a decisão das pessoas? Poupar energia, então elas optavam pelos 20 minutos”, compara Atalla.
A segunda maneira de incentivar a prática de exercício físico é pela educação. Assim como é mais fácil aprender inglês aos 5 anos de idade, é também mais eficaz começar desde cedo a se exercitar. Atalla foi até a longínqua e gélida Finlândia para constatar essa recomendação. O país tem uma educação pública considerada a mais eficiente do mundo, que começou em 2011, partir de um programa educativo baseado no movimento. “Nas escolas não há carteiras. São púlpitos, são bolas de pilates, para as pessoas sentarem. Metade da aula, seja matemática, geografia ou história, é ao ar livre, mesmo quando está nevando”.
Qual não foi a surpresa do educador físico ao saber que o objetivo desse método não era tonar os alunos mais saudáveis ou evitar a obesidade infantil. “Mas porque permitia à criança aprender melhor!”. Surpreso, Atalla voltou a Nova Iorque para saber a verdade científica do método educacional com a Dra. Suzuki, que lhe explicou: “a melhor coisa que você pode fazer pela saúde do seu cérebro é se movimentar”.
A atividade física produz três efeitos, segundo a neurocientista: o agudo, verificado nos primeiros 30 minutos de movimento, em que ocorre a melhora na oxigenação no cérebro, no estado de alerta, liberação de uma série de neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar e regulação de alguns hormônios que ajudam a ter um bom sono e reduzir o estresse.
Em três meses de atividade física, a médio prazo, são produzidos novos neurônios, há uma melhora na memória e consegue-se aprender melhor. Por isso que as escolas da Finlândia têm esse tipo de ensino. No longo prazo, reduz a incidência de Alzheimer e a velocidade de perda de cognição.
Hábito
Bem, além de mudar o meio ambiente e de investir na educação, a terceira maneira de começar a malhar é ganhar uma espécie de premiação. “O ser humano ama ser premiado. Quando ele executa a tarefa e recebe um prêmio, a tendência é que ele crie o hábito”, constata Atalla. Por isso, para você colocar o movimento dentro dos 10% de que propõe Atalla, é preciso criar o hábito e para isso, você tem que executar a mesma tarefa pelo menos 70 vezes durante 90 dias. A dica da Dra. Suzuki é que não importa a intensidade, nem a complexidade do exercício. O importante é a regularidade em que é praticado. O prêmio é uma saúde melhor e se olhar no espelho e perceber que está mais magro.
É justamente o que fez Emílio Surita. Ele escolheu uma tarefa que podia fazer todo dia, que estava dentro do ambiente de trabalho dele – não precisava se deslocar de carro, colocar um tênis ou se matricular numa academia para realizá-la. “Ele mudou o meio ambiente dele, criou um hábito, percebeu os benefícios, o corpo dele se transformou, ele emagreceu, ganhou condicionamento e massa muscular com uma simples tarefa do dia a dia”, relata Atalla.
Como está Emílio hoje? “Dezenove quilos mais magro, corre 10 km três vezes por semana. Mas mantém o hábito de subir os 47 andares de escada todos os dias”, comemora o educador físico. E você, qual hábito vai criar para começar a se mexer?
Veja em www.algomais.com dicas de Marcio Atalla para alimentação e como ele colocou a cidade de Jaguariúna para se movimentar, melhorando a qualidade de vida da população.
*Por Cláudia Santos (claudia@algomais.com)