Arquivos Colunistas - Página 286 De 298 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Colunistas

Espinhas

E se não tivesse acenado para mim, da janela do seu apartamento, quando passei em frente ao seu prédio, naquela manhã de terça-feira? Eu estaria longe de qualquer risco, mas não teria vivido, aos 16 anos, meses de intenso prazer. Ela morava no primeiro andar de um prédio caixão, numa rua movimentada, em Boa Viagem. Eu morava em outro prédio, uma quadra adiante. Todos os dias passava na frente da sua casa, mas nem a conhecia. Nunca tinha notado, sequer tinha visto aquela morena de lábios carnudos. Mas neste dia escutei um “Ei, gatinho!”. Gatinho é foda, odeio isso. Mas me vi a procurar de onde vinha aquela doce voz. “É comigo mesmo?”, pensei. Olhei para cima e lá estava Débora com aquele sorrisinho escroto de canto de boca, fazendo assim com o dedinho, me chamando para subir. “Olhe que eu subo, viu!?”, respondi. “É para subir mesmo”, ela gritou. Obedeci. Casada, logo vi pela aliança na mão esquerda. Nem me conhecia. Mas disse que me via passar todos os dias. Era o trajeto do meu colégio. Ela era muito gostosa. Estava com uma blusinha, dessas de ficar em casa, sem sutiã, com os peitos agudos, como se estivesse com frio. Bronzeada, a marca do biquíni se confundia com o fio estreito da peça que usava. Não era magra, mas também não era gorda. Tinha carne. Muita carne. Jamais perguntei-lhe a idade. Mas certamente não tinha menos que 35. Corpo escultural, tipo sedutora mesmo. Já experiente e, eu, um pivete de 16, em plena ebulição hormonal. Pediu que eu deixasse a mochila do colégio no sofá. “Quero te mostrar meu quarto”. Puxou-me pelas mãos. Não tinha trocado mais do que duas palavras. A casa era bagunçada, pequena. Sentou-se na cama, de frente para mim. Estava no comando, dando ordens, ensinando-me tudo. Só quando terminamos me dei conta do perigo. Mesmo assim, passei seis meses da minha vida nessa rotina de, pelo menos duas vezes por semana, visitar minha “professora”. Até que um dia, a placa de “vende-se” na janela do seu quarto. Dona Sheila, uma senhora de seus 70 anos, vizinha de Débora, chegava com sua cesta de frutas. “Seu parque de diversões já se mudou, garoto”. “Bem feito, a casa caiu pra ela!”, disse a velha que ainda alfinetou, cortando meu coração: “De todos os que vinham aqui, você era o mais jovem”. Calei-me e fui embora. Foram seis meses intensos. Mas Débora não foi leal aos meus sentimentos. Sua chama não era só minha e do seu marido. Era de muitos. Sequer se despediu. Aos 16 anos eu pensava que Débora e minhas espinhas eram eternas. Estava hipnotizado e viciado. Agradeço todos os dias por ter sido convocado por aquele furor uterino numa manhã ensolarada de 1990. Para minha surpresa, encontrei-a numa livraria, em Casa Forte, dias atrás. Acenei de longe, mas não me reconheceu. Ou fez de conta que não. Sei lá, já se foram 25 anos. Deve estar beirando os 60. Usava um vestido longo com estampa florida, rosto envelhecido, magra, cabelo curto, e certo ar de tristeza. Claro que o tempo também chegou para Débora – e para mim -, mas ainda se percebe as curvas generosas que a natureza lhe emprestou. Segurava a mão de uma lindo garotinho que aparentava ter 6 anos e lhe chamava de “vó”. Tive vontade de ir lá e, respeitosamente, dizer o quão grato sou. Mas achei inapropriado. Fiquei com medo de ouvir um “Débora não, por favor, dona Débora. De onde lhe conheço?”. As espinhas cicatrizaram. O tempo voou. Eu era apenas um fedelho sortudo a se divertir. E Dona Débora era apenas Débora, a adúltera que me abduziu.

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Ocupando o Brasil

A proposta de reforma do ensino médio está sendo objeto de controvérsia e de protestos materializados por ocupações de várias escolas em todo o Brasil. Ela foi inspirada em experiência bem-sucedida de Pernambuco que subiu, em poucos anos, do 21º (nota 2,7) no ranking do Ideb (MEC/INEP) para o 1º lugar (nota 3,9) dentre os Estados do País. A proposta que objetiva reduzir o número de disciplinas obrigatórias e estender a jornada escolar é um avanço pois permite ao estudante fazer a escolha das matérias que melhor atendem aos seus objetivos. Alguns estudantes poderiam, assim, concluir o curso com conhecimento profissional que lhes permitissem encarar o mercado de trabalho de imediato, sem prejuízo de mais adiante procurar ingressar em curso superior, ou pode prepará-lo logo para este último objetivo. O atual curso médio não faz bem nem uma coisa, nem outra. O resultado se manifesta em altas taxas de abandono (6,8% em 2015) e de distorção idade-série (27,4% em 2015) além do elevado percentual daqueles jovens de 15 a 29 anos de idade que nem estudam nem trabalham (22,5% em 2015). Questionados sobre a razão do protesto e das ocupações o principal argumento das lideranças estudantis não recai no conteúdo, até mesmo porque é difícil lhes negar os benefícios, mas na forma, ou seja, que a matéria não deveria ter sido encaminhada pelo Executivo Federal como medida provisória. Concordo com o argumento não fosse o fato de que matéria semelhante está adormecida no Congresso Nacional há anos sem que tenha sido aprovada, muito menos exaustivamente debatida. Todavia, dado esse argumento será que é mesmo urgente avançarmos nessa questão? Argumento que sim, pois reformas do ensino, em qualquer nível, levam muitos anos para gerar os primeiros resultados. Veja-se o caso da Coreia do Sul que revolucionou sua educação e, por consequência sua economia, em cerca de 20 anos. O Brasil tem pressa. Isso está claro nos últimos resultados do Pisa, um teste internacional de proficiência em matemática e ciências, onde o Brasil há anos se situa sempre na cauda inferior dos resultados. No último exame (2016) o Brasil alcançou o 65º lugar entre 70 países no exame de matemática. Os países bem-sucedidos no Pisa, antes europeus como Holanda e Finlândia e, mais recentemente, os asiáticos como Cingapura e Coreia do Sul, creditam seu sucesso a um pequeno, mas importante conjunto de fatores, quais sejam: professores recrutados e constantemente reciclados em bons centros superiores de formação; docentes que são remunerados de acordo com habilidades, méritos e produtividade valorizados pelo mercado; boa gestão escolar baseada em disciplina, método e resultados permanentemente monitorados, e aplicação rigorosa do princípio de que nenhum estudante pode ser deixado para trás. Adicione-se a esses ingredientes a valorização da educação pela sociedade e a participação cuidadosa dos pais na interação com a escola e obtém-se uma receita de sucesso. A qualidade da educação resultante forma cidadãos e pessoas qualificadas para atender às demandas de uma economia moderna e competitiva. Falta de dinheiro não é o principal problema nem nesses países, nem no nosso. Vários especialistas já afirmaram que recursos financeiros não constituem o maior obstáculo à conquista de uma educação de boa qualidade. As principais dificuldades estão: na formação dos professores que saem mal preparados dos centros de educação das nossas faculdades e universidades; nas deficiências curriculares dos cursos de formação que não os qualificam bem para a sala de aula; na consequente má remuneração que não atrai os melhores profissionais para as escolas; na falta de uma política permanente de requalificação docente; na aversão de alguns professores e sindicatos a mecanismos meritocráticos de desempenho, e a uma gestão escolar quase sempre tíbia e descomprometida das metas estabelecidas pelas autoridades educacionais. A resultante é que o País apresenta baixos indicadores educacionais e, por conseguinte, uma economia de baixo conhecimento e produtividade. Não se argumenta que a educação só deva qualificar jovens para o mercado de trabalho, mas este é um dos principais objetivos da educação em uma sociedade capitalista. O outro, muito importante, é formar cidadãos para a vida em uma sociedade democrática e para serem líderes em todos os setores de atividade. Não estamos atingindo os dois objetivos. E os jovens que ocupam as escolas talvez não tenham plena consciência disso. Em vez de ocupar escolas devemos deixar que a educação ocupe o País.

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A importância da água na cerveja (por Rivaldo Neto)

Nos áureos tempos em que aqui no Recife se comercializava a deliciosa “Antarctica de Olinda”, sempre ouvia dos mais velhos a seguinte frase: A diferença é a água. Naquele tempo o mercado de cervejas era muito restrito, se resumia em duas marcas apenas, ou era Antactica ou era a Brahma. A Antactica tinha uma tradicional e uma chamada Pilsen Extra, assim consequentemente a Brahma , uma igualmente tradicional e a Brahma Extra, todas duas com grande aceitação na época, mas lembro muito bem das colorações e sabores quem nem de longe parecem com as que hoje tomamos desses mesmos rótulos, com exceção da Pilsen Extra, da Antactica, que não existe mais, infelizmente. Vez por outra surgia uma “Malt 90” da vida, e como disse um amigo meu recentemente, quando lembramos dela solto um: “ Era levinha!” Mas logo saíam do mercado e eram substituídas por outros rótulos, digamos, mais comerciais pra época. Então saindo do saudosismo e voltando ao assunto da questão da água na cerveja. Podemos afirmar que é o principal ingrediente, já que sem ela, não poderíamos produzi-la. Começando que a cerveja é composta por 90% a 95% de água. Na produção comercial, para cada 1 litro de cerveja produzida, são utilizados cerca de 20 litros de água. Não tudo usado nos tanques, mas em seu processo de produção em geral, como por exemplo, na limpeza e pasteurização, somente para citar alguns processos. Bom que se diga que os estilos das cervejas estão intimamente ligadas com as propriedades da água utilizada no processo de fabricação. Os íons dos elementos químicos que fazem parte das composição da água reagem entre si com os demais insumos presentes na fabricação da cerveja, modelando as características que se queira atingir ou não. Vamos adiante para esclarecer melhor: Saiba que a água é classificada conforme a quantidade de sais minerais que ela possui e definida assim: - 0 – 50 ppm: água “mole” - 51 – 110 ppm: agua “média” - 111 – 200 ppm: água “dura” - 201 ppm em diante: água “super dura E é justamente esses minerais que determinam alguns estilos de cerveja, justamente reagindo com os insumos como citado acima. Sulfato: Principal responsável em intensificar o amargor do lúpulo, deixando-o mais seco. Pode deixar um sabor adstringente que é aquele que causa a contração das mucosas da boca, que ocorre quando algum alimento tem uma elevada quantidade de tanino. Isso acontece quando há ingestão de frutas verdes, por exemplo. Cálcio: É o que determina o que chamamos de “dureza” da água, influi no sabor e na clareza do líquido e tem uma efeito acidificante. Magnésio: Também responsável pela “dureza” da água. É a principal fonte de nutrientes das leveduras da cerveja. Se presente em grande quantidade, produz um amargor intenso. Bicarbonato: Grande dominante da composição química das fontes usadas na fabricação, por pertencer a família dos carbonatos. Cloreto: Dá o “start” na acentuação da doçura do malte. E não de deve ter mais de 250 ppm, ultrapassando esse valor pode impactar no “trabalho” das leveduras e estragar a cerveja. Sódio: Também ajuda na doçura do malte, não podendo ultrapassar 150 ppm, pois faz com que o líquido fique salgado no final do processo de produção. Importante dizer também que antigamente a qualidade da água era determinante para produzir alguns estilos de cerveja. Porém, hoje em dia, isso não faz mais sentido. A tecnologia é capaz de ajustar corretamente as propriedades da água para cerveja, dependendo de como o cervejeiro quer a água e qual estilo quer chegar.   MUNDO CERVEJEIRO Devassa parte na frente Depois de um ano de tantas mudanças, a Cervejaria Devassa, que faz parte do portfólio da Brasil Kirin, encerra 2016 com uma novidade que promete agitar os cervejeiros. Com inspiração numa tendência que tem ganhado cada vez mais força fora do Brasil, a marca agora lançará o Growler 2 Go, um recipiente de cerâmica, que se assemelha a um galão de vinho, feito especialmente para o armazenamento de chopp. Com esta novidade, Devassa pretende colaborar ainda mais com a disseminação da cultura cervejeira no país e possibilitar uma experiência muito além do bar. Disponível em todas as franquias da marca a desde do dia 20 de dezembro, a garrafa armazena até 2 litros de chopp e possui tampa de pressão, que evita a perda de gás carbônico, conservando frescor, sabor e qualidade por até dois dias. O lançamento traz a liberdade de se tomar um chopp de qualidade, fresquinho, na reunião com os amigos ou em casa. O Growler 2 Go permite também que o sabor da bebida seja apreciado com mais calma, tornando a experiência ainda mais agradável. “Hoje em dia as pessoas estão buscando cada vez mais levar as experiências para dentro de casa e com o Growler 2 Go sabemos que podemos oferecer exatamente isso para os nossos consumidores. Agora eles vão poder levar para casa o chopp Devassa e usufruir quando quiser e da forma mais fresca possível”, afirmou Jussara Calife, gerente de marketing de Devassa. Para garantir a qualidade do chopp, toda vez que o Growler 2 Go for reutilizado, ele receberá uma tag com informações sobre qual data e qual estilo foi envasado. O consumidor poderá escolher entre as 5 opções de chopes especiais da casa, todos puro malte: Loura Tropical Lager, Ruiva Tropical Red Ale, Negra Tropical Dark Ale, Sarará Tropical Weiss e Índia Tropical IPA, cuidadosamente tirados com creme, que ajudará na conservação do líquido. O valor do Growler 2 Go poderá variar de acordo com a região. *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

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Você não curte colarinho na cerveja? Tá na hora de repensar (Por Rivaldo Neto)

O lúpulo, as proteínas e os açúcares são os componentes formadores da espuma, ou colarinho, como também o chamamos. Esse processo é de extrema importância para bebida, pois ele ajuda a manter a temperatura do líquido no copo. Facilita no desprendimento correto do aroma e serve como isolante também evitando que o ar entre em contato com a bebida e assim minimizar a sua oxidação. Para a “saúde” da cerveja que bebemos isso é fundamental. E nada de achar que a espuma faz com que “percamos” quantidade, até porque 70% volta ao estado líquido. Um colarinho bem formado, inclusive diz muito a respeito do que estamos bebendo. Sempre que uma cerveja for servida devemos observar sua espuma, como está sua formação e sua persistência. Lógico que levando em conta que isso pode variar em relação aos estilos. Um ponto importante é que as bolhas devem ser pequenas, com uma certa uniformidade e unidas. Alguns colarinhos podem ter características bem peculiares, podendo ser até “maciça”, esse caso ocorre se existir proteínas (dos grãos) suficientes para sua formação. Uma cerveja que não forma colarinho, ou não está apropriadamente carbonatada ou pode o copo em que foi servido conter impurezas ao ponto de impedir o processo de formação do mesmo. Isso a gente pode observar se as bolhas grudam-se nos lados do copo, mas não chega o topo do recipiente. Já quando o colarinho se dissipa rapidamente, com grandes bolhas, meio parecidas com sabão, esse comportamento acontece quando há uma “injeção” de estabilizadores de espuma (alguns desses estabilizadores são feitas de um derivados de alga marinha). Grandes cervejarias usam esses procedimentos, que podemos dizer que é um mal necessário, devido ao processo para o clareamento do líquido e manter a sobriedade da bebida. Cervejas que tem um puro malte, quase sempre possuem bolhas pequenas e com uma espuma cremosa e consistente. Abaixo algumas dicas de como devemos servir uma cerveja com um saudável colarinho: * Deite o copo ao uma angulo de 45 graus em relação à mesa, derramando a bebida aos poucos até a metade. Após, endireitar o copo e derramar o restante da cerveja, cuidando para que se produza cerca de dois dedos de espuma. * Lave muito bem o copo antes de servir a cerva. Restos de sabão ou gordura restante no copo podem “matar” a espuma e liquidar o seu prazer de beber. * Prefira servir a cerveja com o copo levemente molhado, o que favorece a criação da espuma. * Se alguém lhe oferecer, para fazer "firula", um copo gelado, recuse. O contato da cerveja com a temperatura do copo produz condensação que irá diluir a bebida a ponto de alterar-lhe o sabor e a temperatura correta na qual deveria ser servida. * Cerveja “estupidamente gelada” é apenas para quem não conhece de cerveja, para aqueles que querem apenas um líquido refrescante ou então para disfarçar o gosto de uma cerveja ruim.   *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

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Nossas dicas de cerveja com rolha para brindar 2017 (por Rivaldo Neto)

Estamos na porta de 2017, que tal brindarmos com uma cerveja de rolha? Sendo uma bebida fermentada como o vinho, existe hoje no mercado vários tipos de cerveja com esse tipo de lacre e que não só preservam a integridade do líquido, como também dão uma certa elegância e glamour. Uma curiosidade é que são precisos 25 anos em média para que um tronco de sobreiro (árvore que dá a cortiça) comece a produzir cortiça para a elaboração de rolhas. Cada tronco do sobreiro tem que atingir em média um perímetro de 70 cm a 1,5 metro do chão. A partir de então, a sua exploração durará mais de 130 anos. Vamos sugerir três rótulos para dar uma toque diferente ao seu réveillon: Primeiro a Galoise Blonde, com 6,3%Vol e uma bela cor dourada, turva e bem carbonatada tem uma espuma bem cremosa e fina. Muito aroma de frutados característicos dos lúpulos florais que carrega. Tem um discreto amargor e bastante refrescante possuindo um retrogosto muito interessante. Indo para uma cerveja tripel estilo que se adiciona três vezes mais malte do que em uma cerveja “comum”. Possui aroma e sabores complexos, macios e com forte presença de frutas o que, às vezes, pode lhe conferir um paladar adocicado. Excelente equilíbrio entre o lúpulo e a cevada. A Tripel da La Trappe, contém todas essas características acima, ma com uma presença marcante de lúpulo. Sua espuma é densa e com uma boa carbonatação. Com 8,0%Vol é intensa e deliciosa. E pra finalizar a belga e ímpar Blanche de Namur, uma witbier realmente diferenciada, considerada uma das melhores Wits do mundo com vários prêmios no currículo a Blanche é suave e refrescante. Tem uma coloração turva e amarelada, espuma espessa e densa e muito aromática, uma verdadeira explosão de frutados com notas cítricas e especiarias, amargor muito discreto, quase que imperceptível, com seus equilibrados 4,5%Vol. Vale muito a pena! Que venha 2017 com mais descobertas nesse maravilhoso mundo das cervejas! Feliz ano novo! *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

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Cervejas Escocesas, tão boas quanto o whisky! (Por Rivaldo Neto)

A Escócia, Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte são os países que compõe o Reino Unido. Mas em se tratando da Escócia, terra do lendário monstro no lago Ness, curiosamente possui apenas 10% dos Pubs das ilhas britânicas. Isso é até compreensível por ser o menos populoso dos quatro. Por ter um clima mais nortenho e frio, tem a tradição de produzir Ales muito encorpadas, com cores bem mais escuras e muito maltadas. Tal gosto não é a toa, é cultural o gosto por bebidas mais fortes a mesma cultura que da tradição em produzir os melhores whiskys do mundo. Mas a Escócia também produz cervejas menos intensas também. Na verdade, para cada Bitter inglesa existe uma similar escocesa (mesmo sendo mais fracas, são mais fortes que as Bitters). São as chamadas Scottish Ales. Apesar do berço escocês, não existem muitos exemplares desse estilo na própria escócia. Nos EUA e no Canadá a oferta é maior, e até com outras denominações como a Strong Ale ou a Wee Heavy. Tais bebidas têm a característica de cervejas fortes, escuras, maltadas (como dito acima) e que, usualmente, variam entre 6.5 a 8.5% Vol, podendo ir um pouco além. Têm a particularidade de serem fermentadas a temperaturas mais baixas do que a maior parte das Ales e, para além disso, possuem sabor de malte mais acentuado e com pouca presença de lúpulo. Reservei três rótulos que valem muito a pena: Uma é a Cerveja Tennent´s Strong Scotch, típica Scottish Ale, produzida em Glasgow. As cervejas da Tennent’s são feitas em Glasgow, Escócia. Produzidas desde 1885 em Wellpark, sendo a marca de cerveja mais vendida do país. A sua Scottish Ale tem uma alta graduação, 9,0%Vol, mas é frutada também, e ao mesmo tempo contém aromas bem complexos. Têm sutis toques de lúpulo e um final caramelizado assim como uma bela cor avermelhada. Passando agora para uma Belhaven Scottsh Ale, uma das mais tradicionais do mundo, um pouco mais leve, com seus 6,5%Vol, possui coloração avermelhada. É uma cerveja límpida, bem maltada, com caramelo na receita e um pouco defumada. Tem um aroma sutilmente herbal e refrescante, clássicos dos lúpulos ingleses. No início, o dulçor equilibrando com o amargor. Por outro lado também é na Escócia que se encotra a BrewDog, uma das minhas cervejarias favoritas em se tratando de suas fórmulas inovadoras e ousadas. Ela produz a San Diego Scotch Ale, apenas um pouco de cuidado nesse rótulo, mesmo sendo maravilhoso, não é para qualquer paladar, trata-se de uma cerveja com personalidade fortíssima, onde até as Imperial Ipas, ficam mais amenas quando colocadas lado ao seu lado. Primeiro pela sua graduação pelos imponentes 11,9%Vol (isso mesmo!) que ela carrega no seu corpo. Para não deixar a tradição escocesa do lado é envelhecida em barris de whisky e o toque final, e surpreendentemente bom é que dentro do barris são postas passas californianas embebidas em Rum Ballast Point por 9 meses segundo o fabricante. Com uma cor marrom escura, um retrogosto fantástico e com muito aroma. É certamente uma das melhores que já provei. Na terra de monstro “Nessie” as boas cervejas não são só lenda, elas são realidade, é procurar e experimentar, vale muito a pena! *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

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Mas o que são cervejas artesanais, caseiras e industriais? (Por Rivaldo Neto)

Muito se fala em cervejas artesanais. Mas você realmente sabe a forma de como elas são produzidas? Vamos então mergulhar um pouco nesse universo cervejeiro que está em plena ebulição e conhecer um pouco mais do que isso quer dizer. Passando depois pelas caseiras e por fim as industriais. O primeiro ponto é que quando nos referimos as cervejas usando o termo artesanal, nos remete a ideia que de certa forma é uma bebida produzida de um jeito mais “caseiro”. Um ponto importante a destacar é que mesmo uma cerveja produzida com equipamentos modernos e uma linha de engarrafamento do produto, a sua produção ainda é considerada artesanal. O ponto “X” da questão é o cuidado que tal produção terá. Isso porque que mesmo que no processo sejam usados ingredientes básicos, receitas de preparo e insumos mais apurados, tudo isso deve ser predominantemente natural e não químico. As cervejas artesanais são produzidas em menor escala, feitas com maior cuidado, com foco na qualidade. Todo o processo é controlado e acompanhado pelas mãos dos produtores. Observa-se mais de perto todas as etapas e, ao final, analisa se os aromas e sabores condizem com a qualidade que se é esperada. os ingredientes são selecionados, mais nobres e alguns precisam ser até mesmo importados. Essas bebidas têm quatro componentes: malte, água, lúpulo e levedura. Isso quer dizer que as cervejas não levam açúcares de fontes extras. Mas também existem sim cervejas “caseiras”, por assim dizer ao pé na letra e são aquelas em que são usados equipamentos de pequeno porte, onde não se precisa de muito espaço de produção, não tem engarrafadoras, usando embalagens comuns e em alguns casos utilizando até rolha no processo de vedação. E são feitas com produções limitadas, normalmente de 20 a 40 litros por vez. Cervejas artesanais e cervejas “caseiras” têm uma matriz mais comum e se assemelham mais do que as produzidas em larga escala comercial. As cervejas industrializadas são produzidas em maior escala com o objetivo de vender em grande quantidade para um maior número de consumidores. Elas também passam por processos como filtração e pasteurização, o que não acontece na produção da cerveja artesanal. Tais cervejas utilizam cerca de 60% de malte de cevada, que é o principal ingrediente dessa bebida, e os outros 40% são cereais não maltados ou carboidratos, como milho e arroz. No mundo das cervejas, os processos de produção definem diretamente na qualidade do que bebemos e apreciamos, é sempre bom sabermos onde podemos provar o que há de melhor! *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas

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Meninos do Recife (por Joca Souza Leão)

O primeiro “serviço de extinção de incêndios” do Brasil surgiu aqui, no Recife. O do Rio de Janeiro foi inaugurado por Pedro II mais de 100 anos depois. Lembrei-me desse fato sem muita, ou nenhuma, importância – veja você como são as coisas do pensamento – porque me lembrei do poema Evocação do Recife, de Manuel Bandeira: (...) De repente nos longos da noite um sino Uma pessoa grande dizia: Fogo em Santo Antônio! Outra contrariava: São José! Eram os sinos das igrejas que chamavam os bombeiros e informavam ao povo o bairro que o fogo queimava. Sinos de São Pedro dos Clérigos, do Carmo e do Livramento? Incêndio em São José. Esse poema foi encomendado a Bandeira por Gilberto Freyre. “Encomendado como quem encomenda um pudim” – diria Gilberto em tom jocoso anos depois. Mas, pudim de quê? Ah! aí é que tá. Quem encomendou tinha outras receitas do Recife, mas não aquela. Pudim da infância cada um tem a sua. Única. E a de Bandeira, ainda menino, já era de poesia pura. Poesia nos nomes das pessoas e ruas (Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância”); poesia nas casas; no Capibaribe; nos banheiros de palha de Caxangá. “Um dia eu vi uma moça nuinha no banho / Fiquei parado o coração batendo / Ela se riu / Foi o meu primeiro alumbramento.” Gilberto, por sua vez, planejava escrever um grande livro (já o imaginava grande) sobre a “História da Vida de Menino no Brasil” ou “À procura de um menino perdido”, esses os títulos provisórios escolhidos. Chegou a investir todas as suas economias na compra de livros para pesquisar a vida de crianças sob as mais diferentes culturas. Escreveu para Bandeira revelando o seu projeto e pedindo ajuda. Queria que o poeta investigasse o que havia sobre crianças no acervo da Biblioteca Nacional, o que havia de peças e brinquedos infantis no Museu Nacional, além de recorrer à sua cultura e memória musical: cantigas de ninar, de danças e de roda. “Esse estudo teria de começar pela vida de menino entre nossos índios. (...) Depois, sobre o background da criança dos colonizadores (brancos e negros) e os primeiros contatos das crianças de origem europeia com os bichos do Brasil, os papões e os mal-assombrados, os frutos, os pássaros etc...” Bandeira tinha ido de mudança com a família para o Rio aos 2 anos de idade. Voltou com 6 e aqui ficou até os 10 na casa do avô, na Rua da União. “Do Recife tenho quatro anos de existência consciente, mas ali está a raiz de toda a minha poesia” – disse ele em sua última longa entrevista, em ‘64. Veja só, amigo leitor. Do “Meninos do Brasil”, de Gilberto, cresceu e tomou corpo Casa Grande e Senzala; da encomenda atendida por Bandeira, com sua memória infantil e afetiva, nasceu Evocação do Recife. Obras-primas. Manu e Giba. Ah, esses meninos do Recife!

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O sonho de uma cidade-parque

No lançamento da Agenda TGI 2017, no final de novembro, tive a oportunidade de falar, pelo 18º ano seguido, sobre a retrospectiva do ano que está terminando e as perspectivas relativas ao ano que vai se iniciar para o mundo, o Brasil, Pernambuco e o Recife, conforme reportado na matéria de capa desta edição. No que diz respeito ao Recife, dei destaque aos avanços conseguidos em relação ao projeto Parque Capibaribe: o Jardim do Baobá, a Avenida Beira-Rio das Graças, Ativação da Capunga e o Cais do Imperador. Sobre o Jardim do Baobá, considerado o marco zero do Parque Capibaribe, mostrei como uma intervenção relativamente simples conseguiu derrubar os muros que emparedavam a árvore na beira do rio, o monumento vegetal que é o portentoso baobá, resgatando-o para a cidade e chamando tanto a atenção da população que passou a frequentar em massa o local. Em relação à avenida Beira-Rio das Graças, relatei a luta da associação de moradores do bairro pela adequação da via às diretrizes do Parque Capibaribe, a vitória conseguida e a aprovação pela prefeitura do novo projeto de uma via-parque prestes a ser licitada. Relativamente à Ativação da Capunga, destaquei a ação de urbanismo tático realizada no trecho da beira do rio que fica na frente da faculdade Uninassau e vai quase até os fundos do Quartel do Derby onde foram instalados equipamentos provisórios, mas dentro do espírito do Parque. Já no que diz respeito à recuperação do Cais do Imperador, mostrei as fotos do local onde desembarcou D. Pedro II em 1859, na frente do antigo Grande Hotel, agora reintegrado à cidade com uma cafeteria, do outro lado do Cais da Alfândega. Essas intervenções inserem-se na concepção do Parque Capibaribe que, por sua vez, insere-se na concepção do Plano Recife 500 Anos, uma abordagem consistente de planejamento de longo prazo para a cidade, pela primeira vez em muitas décadas, com um bônus adicional: o potencial (o sonho) de, pela extrapolação dos conceitos do Parque Capibaribe, transformar o Recife numa cidade-parque até 2037. No final da palestra, citei novamente Victor Hugo: “Nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”. É com ele que finalizo este último artigo de 2016 desejando aos leitores um ano novo de sonhos realizados, inclusive o de uma cidade com um futuro melhor. Que venha 2017!

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A morte é um dia que vale a pena viver

Vira e mexe meu irmão faz a mesma proposta, há anos: “Vamos jogar tudo pro alto, construir uma casinha numa praia deserta, levar toda a família e viver da caça e da pesca?” Romantismos, brincadeiras e devaneios à parte, no fundo no fundo, o desejo é real, não obstante pareça ser de praticidade utópica. Li um livro na última semana que me fez ligar para ele, assim, do nada: “E aí, Mamá? A proposta está de pé?” Expliquei-lhe que acabara de ler A Morte é um dia que vale a pena viver, da médica Ana Cláudia Quintana Arantes, pela editora Casa da Palavra. O livro, conquanto fale da morte, é, na verdade, uma lição de vida. Simplesmente impactou-me. Falamos pouquíssimo da morte, ou quase nada. Sendo essa a única certeza que temos, caro leitor, deveríamos conversar mais sobre o evento que se aproxima. Perdoe-me a franqueza, mas não há como negar. Ela vai chegar para ti também. Pensar na morte é um tabu. Mas Ana Cláudia é uma médica que especializou-se em cuidados paliativos e nos traz uma surpreendente reflexão sobre o assunto. A morte anunciada traz a possibilidade de um encontro veloz com o sentido da vida. Os cuidados paliativos não são apenas aqueles que aliviam o sofrimento físico e as sequelas do tratamento agressivo. Quando fecha-se o prognóstico de uma doença incurável e anuncia-se a proximidade da morte, a medicina costuma dizer que “não há mais o que fazer”. Cláudia prova no livro que a medicina sempre esteve errada. Sim, ainda há muito o que fazer. Porque muito embora não haja mais tratamento disponível para a doença, há muito mais a fazer pela pessoa que tem a doença. Sempre atrelei cuidado paliativo à sedação. Estava enganado. A narrativa nos convence que é possível ter uma morte natural, lúcida. Assim como existe o parto normal, pode existir a morte normal. Aquela que é sentida e vivenciada pela pessoa até o seu último suspiro, de forma consciente, digna. Existem meios adequados para que se alivie a dor, o sofrimento, permitindo à pessoa que vá embora despedindo-se de cada um dos seus, de forma serena, calma, tranquila, consciente. Cláudia especializou-se em ajudar as pessoas a morrer. A ter uma boa morte. A ter qualidade de vida na finitude humana. “A morte é um laboratório incrível”, diz ela. Especialmente porque, nesse corredor final, as pessoas costumam se despir de toda e qualquer vaidade, futilidade ou mentira. E, assim, as pessoas falam com a alma. Quer um conselho sábio sobre a vida? Peça a alguém que está morrendo. Esse sopro vital de sabedoria, bem perto da hora da saída, emerge para a consciência e ilumina os pensamentos com uma luz divina, uma lucidez absurda. E é neste ponto que Cláudia, através do seu trabalho, nos dá uma lição de vida ao falar dos arrependimentos dos seus pacientes. E eles são sempre os mesmos, amigo leitor. Seja qual for a sua situação financeira ou status social. Seja a pessoa um gari, médico, advogado, engenheiro, servente, carpinteiro ou psicólogo. O maior dos arrependimentos é sempre o de não ter realizado os seus próprios desejos. De não ter priorizado suas próprias escolhas e de ter feito escolhas para agradar os outros. Pode ser o mais poderoso ou o mais humilde dos seres humanos, ele estará arrependido no seu leito de morte se não fez aquilo que queria ter feito. O que deveria nos assustar não é a morte em si, mas a possibilidade de chegarmos ao fim da vida sem aproveitá-la. Sem fazê-la do nosso jeito. Não há motivo para temer a morte. Só há uma coisa a temer: não usar o nosso tempo da maneira que gostaríamos. O que estás a fazer com o tempo que tens? O que farás do tempo que te resta? Por sinal, quais são suas escolhas para 2017? Bom Natal e feliz Ano Novo!

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