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Zé Renato volta à MPB

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O cantor e compositor Zé Renato, que nos anos 60 integrou o Grupo Manifesto e chegou a participar dos inflamados festivais da canção no Maracanãzinho – prepara-se para produzir seu terceiro CD. “Será um trabalho de MPB, que, na verdade, é mais a minha praia. A característica da minha música é muito mais acentuada para linha da bossa nova e voltada especificamente para a minha dissonância musical. Já estou partindo para fazer os arranjos”, revela.
No ano passado, Zé Renato, aproveitando-se de sua versatilidade, lançou-se em outras águas ao realizar o CD Zé Renato São João, composto por músicas de forró. Os discos são mais uma etapa da sua trajetória artística que teve início no Rio de Janeiro. Recifense, de nascimento, José Renato Silva Filho, aos 5 anos foi morar na Cidade Maravilhosa, porque seu pai recebera um convite para trabalhar na mítica Rádio Nacional. Durante a infância no Rio, ganhou um violão de presente de sua mãe e começou a arranhar os primeiros acordes dentro de casa. Ao mesmo tempo que a paixão pela música crescia, o pernambucano se aprofundou no campo do marketing e da propaganda, trabalhando em agências de publicidade e veículos de comunicação.
O trabalho na área da comunicação, entretanto, não o fez deixar de lado as artes. Com amigos, criou uma peça musical De Chiquinha Gonzaga à Bossa Nova, onde identificava diversos aspectos da cultura da música do País. Através da música Manifesto – uma sátira sobre o turbulento momento em meio à Ditadura Militar – composta originalmente pelo pianista Mariozinho Rocha – o Grupo Manifesto foi criado. Era o início de um movimento que percorreu o Brasil. “Após os ensaios, íamos a alguns bares e continuávamos com as apresentações. Em dia, Gutemberg Guarabyra – hoje da dupla Sá e Guarabyra – nos convidou para participar com ele da apresentação da música Margarida, no II Festival Internacional da Canção, produzido pela Rede Globo, no Maracanãzinho. Conseguimos vencer e, a partir daí, começamos a viajar o País inteiro”, afirma.
A vitória no festival, entretanto, pegou todos de surpresa, principalmente pelo calibre dos concorrentes: Chico Buarque e Milton Nascimento. “Nós não estávamos esperando vencer. A letra da nossa música era bem incompatível com o modelo musical brasileiro daquela época. Mas o respaldo que o público deu, fez com que a música se tornasse um sucesso. Definitivamente, foi uma grande surpresa para todos e acabou sendo um fator bastante motivador e determinante para nossa carreira”, diz Zé Renato.
Como muitos outros artistas expoentes da época, o Grupo Manifesto também sofreu repressões e censuras por parte do governo militar. “Depois da nossa conquista no festival, fomos alvo de algumas pressões e censuras, porque as músicas – especialmente Manifesto – eram sátiras bem criativas em relação a tudo que estava acontecendo”, revela.
Após o final do grupo, Zé decidiu continuar no meio musical – sem esquecer, é claro, da sua carreira publicitária. Em 1995, ele retornou à cidade natal para atuar como gerente regional da TV Manchete, Rádio Manchete Fm e Bloch Editores. Anos depois, com o enfraquecimento e o posterior encerramento das atividades da emissora, foi o responsável pela implantação da rádio Nova Brasil.
Durante esse período, nunca deixou a arte de lado. Como ele mesmo diz, a música corre nas veias. “Comecei, em 2012, a desenvolver um sarau. Era um projeto de intercâmbio cultural e musical com artistas da terra e de fora. Muitos deles, inclusive, eu conheci na época em que morei no Rio de Janeiro e que fiz parte do Grupo Manifesto. Após realizar edições desse projeto, me dediquei à produção do meu primeiro CD”, relembra.
Para o artista, que atuou na época dos festivais, considerada uma das fases áureas da música brasileira, o atual cenário da MPB não é nada animador. “Os veículos de comunicação possuem uma certa culpa nesse quesito, porque eles veiculam músicas sem nenhum conteúdo poético. Em busca de audiência, eles massificam a programação com músicas sem qualidade”, afirma.

(Por Yago Gouveia)

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