Pernambuco tem a terceira maior presença diplomática do Brasil, ficando atrás apenas de Brasília e de São Paulo. Seis países do G-8 têm representação consular no Recife. Ao todo são 38 organizações (entre vice-consulados, consulados, agências consulares e consulados gerais). Embora a presença das representações estrangeiras tenha antecedentes que remetem a Joaquim Nabuco, primeiro embaixador do Brasil em Washington, um quinto delas chegou a Pernambuco após a chegada de Eduardo Campos ao Governo. Entre os novatos estão Reino Unido, Cabo Verde e, recentemente, Eslovênia e a China.
“Esse crescimento aconteceu pela proatividade do poder público estadual e do ex-governador na busca por investimentos estrangeiros e conexões com outros mercados”, avalia Thales Castro, professor de relações internacionais da Unicap e do Marista, cônsul de Malta e presidente da Sociedade Consular Pernambucana. Esse solo das relações internacionais, que já tem dois séculos de atuação, é fértil para a expansão das afinidades comerciais e culturais entre o Estado e os países que aqui fincaram suas bandeiras. Estão no radar dos consulados as parcerias com setores como da economia criativa e das energias renováveis.
Presente há 201 anos em Pernambuco – antes mesmo da independência do Brasil – os Estados Unidos têm na cidade um Consulado Geral. Apesar da emissão de vistos ser a sua atividade mais conhecida, a instituição possui diretorias como a de política econômica e comercial. “Fazemos relatórios para Washington e para a nossa embaixada em Brasília explicando o que está acontecendo aqui em Pernambuco e no Nordeste, além de desenvolver projetos”, afirma o cônsul geral Richard Reiter. Desse trabalho de interpretação do cenário e das oportunidades locais foi criada uma parceria no setor de energias renováveis entre o Estado e a Califórnia, assinado entre os governadores Paulo Câmara e Jerry Brown.
Reiter faz uma boa projeção para a relação dos dois países no próximo ano. “Os analistas acreditam que a economia brasileira chegou ao fundo do poço e vai começar a sair. Esperamos mais movimento em 2017. E que haverá aquecimento em 2018”. Ele destaca que o mundo sabe que a economia brasileira é sólida e forte e que está trabalhando para atrair investidores. “É uma boa hora para o investidor estrangeiro vir aqui e procurar oportunidades. Essa é a nossa mensagem para os americanos”. O cônsul acredita que a relação entre o Brasil e os Estados Unidos não sofrerá muitas mudanças com a gestão de Donald Trump na presidência americana.
Se o crescente setor de energias renováveis gerou interesse dos americanos, o potencial das empresas de TIC chama atenção dos franceses. “Estamos de olho no Porto Digital, sabemos que é um polo tecnológico interessante. Nosso trabalho está sendo de montar parcerias entre startups brasileiras e francesas. Queremos nos inserir nesse contexto fértil que existe”, afirma o cônsul geral Romain Louvet, presente há menos de três meses em Pernambuco. Ele ressalta que a França tem uma boa performance na área de produção de games, apesar de ser uma face pouco conhecida da sua economia.
Ainda numa fase de reconhecimento dos potenciais do Estado, Romain Louvet ressalta que aumentar a relação econômica é um dos focos mais recentes na instituição. “A partir da atuação mais forte nas parcerias em cultura, ensino superior e pesquisa que já possuímos no Estado, queremos usar isso para criar uma dinâmica econômica mais forte. A economia criativa é um dos caminhos, mas identificamos potencial também nos produtos alimentícios e na gastronomia. Estamos num estado de exploração e estamos abertos, não excluímos nada”, afirma o cônsul geral francês.
Mesmo com pouco tempo na cidade, Romain Louvet já articulou uma visita que foi realizada pela agência Business France – que é o órgão de apoio à internacionalização da economia francesa – para conhecer o Porto Digital. Outra ação que aconteceu em setembro, com implicações urbanas e econômicas, foi um seminário sobre iluminação pública, em parceria com Nantes. “A ideia é ir além de uma reflexão sobre a problemática da iluminação no Recife e nas cidades francesas, mas desenvolver oportunidades econômicas na resolução dessa situação”.
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BILATERAIS. Com apenas dois milhões de habitantes, a Eslovênia organizou há um semestre o seu consulado no Recife para desempenhar uma atuação regional. Na cerimônia da sua inauguração, que aconteceu na Assembleia Legislativa de Pernambuco, o cônsul honorário Rainier Michael trouxe para Pernambuco 18 CEOs de empresas do país eslavo. “Mostramos que estamos dispostos a impulsionar negócios bilaterais”. Esses empresários, que estiveram no Estado pela primeira vez, visitaram Suape, o Porto Digital e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e participaram de uma rodada de negócios da Amcham.
“Estamos verificando os interesses de ambos os lados. Existem atividades estratégicas para serem desenvolvidas entre Pernambuco e a Eslovênia”, indica Rainier. Ele destaca ainda o interesse em setores como logística e economia criativa, em que ambos têm potencialidade. “A Eslovênia não é só um fim, mas um meio. O país tem o porto de Koper, no mar Adriático, que é estratégico para Pernambuco, pois é a porta de entrada para a Europa Central. Um mercado novo que pode se conectar com Suape”.
Também interessado no porto pernambucano e, principalmente, no turismo, o Consulado da Grécia tem objetivos de estreitar a relação com o Estado em 2017. “A questão cultural e turística é a mais evidente na Grécia, mas os gregos são muito fortes nos setores de navegação, de pedras preciosas e na produção de azeites e vinhos”, ressalta o cônsul Antonio Henrique Neuenschwander. No próximo ano os planos são de desenvolver eventos associados à arte, levando artistas e obras do Nordeste para exposição no território grego e vice-versa.
As ações dos consulados que impulsionam as relações econômicas, segundo Thales Castro, passam pelos setores de promoção comercial dessas representações ou pelas câmaras comerciais (que não são órgãos consulares, mas atuam em sintonia). “A atividade dos consulados faz a aproximação da oferta e demanda”.
Na análise de Castro, o Governo, as prefeituras e os órgãos empresariais, podem potencializar as parcerias comerciais a partir dessa presença diplomática. “Esses poderes podem envolver os consulados com a base de sustentação pública e privada existente no Estado”. Sobre isso ele destaca a atuação da AD Diper, como uma agência relevante nessa interlocução. “É importante a promoção de eventos, encontros e diálogos junto aos consulados. Da mesma forma, as missões comerciais e câmaras setoriais, promovidas por instituições como Fiepe e Fecomércio são absolutamente importantes para o desenvolvimento econômico”.