Cecília Costa, pesquisadora da UFPE, destaca a importância da Área de Proteção Ambiental, situada na Região Metropolitana do Recife, e os riscos de projetos como o Arco Viário e a Escola de Sargentos. Ela ressalta a necessidade urgente de políticas públicas que valorizem os serviços ambientais para proteger esse patrimônio natural. Cecília Costa, doutora em ecologia e pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco, acumula mais de uma década de estudos na APA (Área de Proteção Ambiental) Aldeia-Beberibe, situada na Região Metropolitana do Recife. Com trabalhos que vão desde o levantamento de biodiversidade até a percepção ambiental das comunidades locais, ela é uma das vozes acadêmicas na defesa desse território que está sob alvo de muitas tensões. Nesta entrevista, Cecília detalha a riqueza biológica da região, os riscos impostos por projetos como o Arco Viário e a Escola de Sargentos, e a urgência de implantar políticas públicas que reconheçam e remunerem os serviços ambientais prestados pela floresta. Ao longo da conversa, a professora compartilha percepções valiosas sobre a defaunação (perda de animais) histórica no Nordeste, a presença de espécies ameaçadas como a jaguatirica, o papel estratégico da vegetação na recarga dos aquíferos e o potencial da APA para se tornar referência em desenvolvimento sustentável. Ela alerta: “Precisamos sair da politicagem e ter coerência. O desenvolvimento precisa ser compatível com os objetivos da APA”. A APA Aldeia-Beberibe pode resistir à pressão da especulação imobiliária já existente e dos grandes empreendimentos anunciados, como o Arco Metropolitano e a Escola de Sargentos do Exército? Já existem várias questões que precisam ser resolvidas, e é muito importante não ampliar ainda mais o problema. Esses empreendimentos promovem mais desmatamento e fragmentação da Mata Atlântica nesse território, trazendo ainda mais gente para o local, o que pode comprometer definitivamente os objetivos da APA. Além da fragmentação e do desmatamento, e do Arco Viário Metropolitano é a maior ameaça à integridade da APA pois causa atropelamentos da fauna, poluição sonora e atmosférica. Essa será uma rodovia que receberá intenso tráfego de caminhões para conectar o Porto de Suape com as empresas que estão mais ao norte da região metropolitana. Além da poluição atmosférica, existem as cargas perigosas que representam um risco para a contaminação das águas superficiais e do lençol freático da região, usados para abastecimento da população. Os projetos do Arco e da Escola de Sargentos têm uma série de impactos negativos para a conservação da biodiversidade e dos serviços ambientais da região, mas o principal problema é o adensamento populacional. Infelizmente, o governo nunca conseguiu resolver as consequências disso. Não há fiscalização que dê conta de impedir a constante invasão de áreas para moradias, além do aumento dos empreendimentos imobiliários que ampliam o uso dos recursos naturais, além da produção de lixo, esgoto e impermeabilização do solo. Existe algum território em Pernambuco em que o poder público conseguiu dar conta da especulação imobiliária? Não tem. O maior exemplo que a gente tem talvez seja a praia mais linda do Brasil, que é Porto de Galinhas. Ela está altamente adensada, com esgoto sem tratamento e já em processo de verticalização, que também já começou a acontecer em Aldeia. Então, a gente tem que evitar projetos que promovam mais adensamento populacional no território, porque assim a gente consegue manter os serviços ambientais desse território que são tão importantes para a qualidade de vida na Região Metropolitana do Recife. De quais serviços ambientais a senhora está tratando? Uma coisa importantíssima acerca da Mata Atlântica em avançado processo de regeneração, como é o caso da APA, é que ela remove e armazena o gás carbônico da atmosfera. Esse é o principal causador do aquecimento global, das mudanças climáticas que estamos vendo. Toda vez que a mata aumenta sua biomassa, ou seja, está se tornando mais densa, significa que ela está estocando carbono. E toda vez que ela está se tornando mais rala ou sendo removida, significa que ela está liberando gás carbônico para a atmosfera. O trecho de floresta no território do Exército aumentou bastante em biomassa nos últimos 40 anos e, desde a criação da APA em 2010, outros trechos também estão se recuperando. Então esse é o cenário ideal para a remoção de carbono da atmosfera, de modo que uma alternativa rentável e sustentável para a região é o pagamento aos moradores por serviços ambientais e a venda de créditos de carbono. Há também duas áreas de abastecimento público de água dentro da APA Aldeia-Beberibe. Uma delas é a barragem de Botafogo e a outra é o Açude do Prata, que fica dentro do Parque Estadual de Dois Irmãos. Esta última, é uma água de excelente qualidade, por estar dentro de uma unidade de conservação de proteção integral, sendo um ótimo exemplo para compreender como a natureza contribui para produzir água de qualidade, além de reduzir os custos com o tratamentoda da água. Assegura a boa saúde da população que usa dessa água. As florestas da APA Aldeia-Beberibe também provêm vários outros serviços ambientais que quase ninguém dá valor, pois não se paga por eles e nem se pensa sobre eles. Se eu perguntar quanto você pagou de taxa de polinização este mês, você vai falar: “Não paguei nada”. Apesar disso, você se alimentou de mamão, laranja, milho, café e muitos outros frutos ou grãos, o que significa que os insetos fizeram o serviço de polinização. Quanto você pagou de taxa de ar puro? Quanto você pagou de taxa de produção de solo fértil? Quanto você pagou de taxa de chuva? Você certamente vai me responder: “Também não paguei por nada disso”. Mas então quem está fazendo esse serviço? São milhares de espécies que trabalham dia e noite gratuitamente para manter todos esses serviços e assim assegurar nossa qualidade de vida. Mas se não dermos as condições necessárias para que os ecossistemas continuem trabalhando, eles irão colapsar e nossa qualidade de vida também. Já existem lugares onde os polinizadores estão desaparecendo e os agricultores têm que alugar colmeias ou pagar para as pessoas levarem os pólens de