Rubem Rocha Filho – o eco da saudade... (Por Romildo Moreira)
São oito anos de ausência da ribalta pernambucana. O dramaturgo, ator, encenador e professor de teatro Rubem Rocha Filho partiu para a eternidade (como diria Nelson Ferreira) em 28 de maio de 2008, deixando na cidade que escolheu para viver, Recife, uma vasta legião de admiradores, que não se restringe ao segmento teatral, mas extensiva está a toda uma roda viva intelectual da Veneza Brasileira. Com berço carioca (1939), formação acadêmica americana na Wesleyan (em Connecticut) onde cursou Dramaturgia, extensão profissional em Londres, escrevendo e produzindo programas de rádio para a BBC, com o requinte de ter feito teatro na Academia Silvio D’Amico, em Roma, Rubem Rocha Filho se reeducou como brasileiro na capital pernambucana, inicialmente tragado pela cultura popular nordestina que lhe fora apresentada por Hermilo Borba Filho e na sequência, por irmana-se com o jeito pernambucano de ser, mantendo, involuntariamente, o sotaque das terras de São Sebastião do Rio de Janeiro. No mais, Rubem era Pernambuco em primeiro lugar. Foi em Recife que ele pôde se dedicar com mais afinco a sua produção literária, com ressonância nacional, tanto na dramaturgia quanto em ensaios que publicou. E é desta última categoria literária que passamos a discorrer, tendo como recorte dois títulos imprescindíveis aos que fazem teatro, que são: A personagem dramática e Anjo ou Demônio, malandro ou herói. Estes dois trabalhos engrandecem a bibliografia do teatro brasileiro, pelo olhar profundo de um ensaísta comprometido com o mundo submerso, lançando olhares que pululam todos os aspectos do fazer teatral, recusando-se a ficar na leveza de uma superficialidade de estudo para a sua escrita. Daí o sucesso. Daí a contribuição ensaística ao teatro brasileiro. Daí, A personagem dramática ser o trabalho escolhido em 1º lugar no VII Concurso Nacional de Monografias – Prêmio Bricio de Abreu 1983/1984 do Ministério da Cultura, por uma Comissão Julgadora formada por Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi e Yan Michalski. É corrente entre artistas, críticos e pesquisadores do teatro brasileiro a afirmação que o ensaio de Sábato Magaldi intitulado O texto no teatro (Ed. Perspectiva, São Paulo 1989) e o de Rubem Rocha Filho A personagem dramática (Ed. minC – INACEN, Rio 1986), se complementam, oferecendo uma ampla possibilidade de técnica de análise dramática, formando, juntos, uma extraordinária contribuição da escritura teatral brasileira para o teatro ocidental na atualidade. Quanto a Anjo ou Demônio, malandro ou herói (Ed. Fundação de Cultura Cidade do Recife – 1998), ensaio vencedor do Prêmio Jordão Emereciano do Conselho de Cultura da Prefeitura do Recife em 1997, Rubem torna sólida uma pesquisa sobre a presença do negro no teatro brasileiro, para o qual foi maturando o assunto em diversas oportunidades, entre as quais o artigo que escreveu em 1968, meio às comemorações aos 80 anos da Abolição da escravatura, passando pelas discussões ocorridas em um Seminário realizado na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, que tratava da presença do negro em nossa dramaturgia, assim como no II Congresso Afro-brasileiro, também promovido por esta mesma Fundação. Do prefácio desta publicação, assinado por Lucila Nogueira, destacamos os dois últimos parágrafos que diz: “... Anjo ou demônio, malandro ou herói é leitura obrigatória, não só para estudiosos do nosso Teatro, mas para quem deseja conhecer mais das atitudes de um Brasil que escamoteia seu racismo. – Trata-se, na estatística teatral brasileira, de obra viva, corajosa e única, a partir, inclusive da sedução de sua escrita”. – Aqui, aproveitamos para recomendar às obras citadas a novíssima geração de artistas da cena local. Pois bem, no eco da saudade, o alento de uma obra que permanece no convívio de pessoas que dedicam a sua existência a arte teatral, aqui e alhures, agora e para sempre. Obrigado Rubem! Romildo Moreira – ator, autor e diretor teatral
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