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Entrevistas

Paulo Dantas agrodan

"Hoje somos o maior produtor e exportador de mangas do Brasil"

Diretor da empresa agrícola conta que iniciou os negócios sem conhecer agronomia, num período de hiperinflação e optou por cultivar uma fruta sem tradição na região do São Francisco. Mesmo assim, teve êxito ao exportar para a Europa. Também fala dos projetos sociais nas áreas de saúde e educação e dos planos para conquistar o mercado interno. "A Agrodan tinha tudo para dar errado”, conta o diretor-geral da empresa Paulo Dantas, num misto de orgulho e satisfação por ter construído, junto com os familiares, a maior produtora e exportadora de mangas do Brasil. Mas por que a empresa não daria certo? Engenheiro elétrico, funcionário da Chesf e professor da UPE, ele nada entendia dos negócios rurais, assim como seu pai, médico reconhecido em Belém de São Francisco, e seus outros irmãos. Mas a família possuía umas terras na cidade banhada pelo Velho Chico e o professor pensou que seria interessante cultivá-las com irrigação, para obter uma renda extra. Porém, além de desconhecer agronomia, a conjuntura era desfavorável, com a hiperinflação corroendo a economia brasileira e, para agravar, além de uva e banana, Dantas decidiu plantar mangas, uma cultura sem tradição na na região, outro fator desfavorável para o êxito do empreendimento. Mas foi justamente a manga que salvou o seu projeto, por ser comercializada com altos preços no mercado europeu. Hoje a empresa familiar possui sete fazendas, que produzem 30 mil toneladas de manga por ano e apresentou o faturamento em torno de R$ 168 milhões em 2024 e este ano a expectativa é ampliar para R$ 220 milhões.  Nesta entrevista a Cláudia Santos, Paulo Dantas conta a história de sucesso da Agrodan e destaca como esse êxito tem sido compartilhado com os 1.400 empregados, que recebem participação nos lucros, e com a população de Belém de São Francisco, beneficiada com ações de assistência de saúde. Preocupado com o analfabetismo na região, ele também ergueu a Escola Profª Olindina Roriz Dantas, que atualmente oferece educação de qualidade do maternal ao ensino médio. E os planos não param por aí. “Estou inclinado a fazer um curso técnico agrícola de alto nível usando tecnologias, ofertando um grande laboratório para aprender a cultivar”, arquiteta o ex-professor. Como surgiu a Agrodan? A Agrodan é uma empresa familiar que, em 2025, completa 38 anos, fundada por mim juntamente com meus pais e irmãos. Meu pai, Álvaro Dantas, tinha uma fazenda que havia comprado da herança dos cunhados, mas não realizava nenhum cultivo. Em 1987, eu estava como engenheiro da Chesf e dei a ideia aos meus irmãos de usar as terras plantando algo para ter um rendimento extra. Não sabíamos nem o que plantar. Nenhum de nós era da área agrícola. Meu pai era médico, meu irmão era recém-formado em engenharia mecânica, eu engenheiro elétrico, tive que aprender agronomia para ficar à frente do negócio junto com meu irmão e também outros irmãos que entraram como sócios.  Conversamos com pessoas do ramo, em Petrolina, e resolvemos plantar frutas numa parte das terras. Eram 41 hectares, escolhemos 8 para uva, porque uva já era uma cultura tradicional, 14 para banana, porque, em um ano, essa fruta começa a dar retorno, e em 19 hectares, o projetista sugeriu goiaba mas eu sugeri mudar para manga. Convencemos nossos pais a colocarem os bens como garantia de um financiamento bancário e começamos esse projeto, que era desacreditado devido a ingredientes desfavoráveis.  O primeiro deles era a hiperinflação brasileira, pois o financiamento que fizemos era indexado à inflação, naquela época, de 15 a 20% ao mês, e a dívida subia todos os dias. O segundo ingrediente desfavorável era a falta de conhecimento da família com agricultura. Na parte da produção, ficávamos meu irmão e eu, minha mãe ajudava muito no financeiro e meu pai ia todos os dias ao banco, para ver como estava a dívida, que subia sempre, mas ninguém tinha intimidade com agricultura.  Outro fator desfavorável era que, na época, ninguém produzia manga e não havia consultores que entendessem dessa fruta para ensinar ou implementar projetos, como há muitos hoje em Petrolina.  Então, a Agrodan tinha tudo para dar errado e foi sorte ter feito essa opção, porque, quando começou a produção, o preço da manga era muito alto. Os comentários sobre meu pai, na cidade, eram: “vai perder tudo, os filhos o colocaram num abismo”. Meu pai se assustava com o crescimento exponencial da dívida e chegou a dizer que só conseguiríamos pagar se a uva fosse de ouro. Não foi uva de ouro, mas foi manga com o preço de ouro (risos).  Um amigo me apresentou a um japonês chamado Victor Kikuti, que já havia começado a produzir manga,  nos ensinou sobre colheita e até a diferenciar os tipos, qual era a manga Tommy e a Haden.  Vitor também me apresentou a um cliente dele de São Paulo. Assim, em 1990, começamos a vender manga em São Paulo com um preço altíssimo e, apesar da hiperinflação, os anos de 1990 e 1991 foram suficientes para pagar toda dívida do financiamento.  Hoje, temos 1125 hectares de mangas próprias e mais 250 hectares de mangas de parceiros. Temos sete fazendas, essa primeira que é a principal, duas na Bahia e quatro nas ilhas que pertencem a Belém de São Francisco. Hoje nós somos os maiores exportadores do Brasil, principalmente para a Europa, que é nosso mercado principal. E o grande desafio é conquistar o mercado interno e gerar muitos empregos. Assim, queremos continuar crescendo na Europa, mas crescer mais no mercado interno, vendendo aqui as variedades novas que vêm surgindo. Começamos com Tommy e Haden. A manga Haden já se erradicou, ainda temos a Tommy e temos ainda a Kent e a Keitt, são mangas quase sem fibra, sem aquele fiapo. A que se deve o crescimento da Agrodan no mercado europeu e quais os desafios desse mercado atualmente? A Agrodan é forte no mercado da Europa. Nosso faturamento de 2024 foi 97% de exportação e apenas 3% de mercado interno. Por isso, um grande desafio é abrir

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Angelo Just: "Na Tecomat, temos um pé na academia e outro na obra"

Diretor técnico da empresa conta como ela conquistou uma trajetória de sucesso ao realizar consultoria para construtoras e seguir a atuação do seu fundador, o professor de engenharia Joaquim Correia. Umas das suas marcas era apoiar a formação de profissionais e manter-se próximo da universidade. Unir o conhecimento acadêmico com a prática de uma atividade é o ideal de muitos profissionais e empresas, mas, em geral, essa comunhão dificilmente é observada no mundo real. A Tecomat é uma das exceções, talvez por ter sido fundada por um acadêmico, o engenheiro civil e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Joaquim Correia de Andrade, que formou várias gerações na área de engenharia no Recife.  Falecido em 2018, sua maneira de atuar deixou marcas no DNA da empresa que hoje possui uma equipe formada por muitos mestres, doutores e profissionais certificados e especializados. Com o uso de tecnologia, a empresa, assim como um laboratório, realiza ensaios para construtoras sobre a adequação de materiais usados na obra. Também oferece um levantamento preciso sobre a quantidade de material a ser utilizado na construção, o que torna o orçamento do empreendimento mais acurado. Seu mais recente serviço, é voltado para a pessoa física que vai construir uma grande obra, mas não tem expertise em construção. “Ela nos contrata e contratamos o projeto da arquitetura e de infraestrutura, contratamos ainda a construtora, ela executa a obra e nós acompanhamos”, resume Angelo Just, diretor técnico que mantém o perfil da empresa: é mestre, doutor e professor da UPE e da Unicap.  Com tantos professores no seu corpo de funcionários, não foi de estranhar a criação do Instituto Engenheiro Joaquim Correia, cuja principal atividade é a formação de profissionais, como pedreiro, servente, carpinteiro e pintor, além de capacitar engenheiros recém-formados. Mão de obra que está escassa, o que compromete a indústria de construção civil. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Angelo Just fala da trajetória da Tecomat, da influência de Joaquim Correia e os desafios desse mercado. A cultura empresarial da Tecomat tem forte influência do seu fundador, Joaquim Correia. Fale um pouco sobre ele e a história da empresa.  A Tecomat vai fazer 33 anos este ano e foi fundada pelo professor Joaquim Correia, junto com um sócio e seu filho Tibério, que atua conosco até hoje. Inicialmente, ele tinha uma participação como consultor de empresas na Odebrecht. Na década de 80, chegou a obra do Metrô do Recife, e a Odebrecht não precisava mais dele como consultor independente e, sim, com uma empresa. Então, ele fundou a Tecomat, inicialmente fazendo ensaios com uma prensa, depois ampliou os serviços para consultoria no mercado imobiliário.  A Tecomat hoje atua em quase todas as capitais do Nordeste, conta com 250 colaboradores, entre eles cerca de 50 engenheiros. Ela não executa obras mas presta consultoria para construtoras e faz ensaios na área de engenharia e material de construção.  O que são esses ensaios? Para a construção de uma coluna num prédio, por exemplo, é preciso saber se o concreto usado tem a resistência correta, então esse material tem que ser ensaiado para confirmar se o material está ok. O professor Joaquim faleceu em 2018, deu aula na UFPE por muitos anos, era muito generoso. Hoje, somos quatro sócios: eu, que cuido da gerência técnica, Sandra Carneiro Leão, que é a gestora financeira, José Maria da Cruz Neto, que é gestor comercial e operacional, e Tibério Wanderley Correia, que é consultor técnico. Detalhe, nenhum desses quatro veio do mercado, eu entrei na Tecomat assim que me formei, Sandra também e Neto foi estagiário. O professor Joaquim tinha essa característica, ele foi professor de muitos, inclusive meu.  É raro um engenheiro civil que trabalhe no mercado imobiliário em Pernambuco que não tenha sido aluno de alguma pessoa que faz parte da Tecomat, seja o professor Joaquim, Tibério, eu ou outros colaboradores nossos que são professores em outras faculdades. Tibério dá aula na UFPE, eu dou aula na UPE e na Unicap. Na Tecomat, formamos nossos craques em casa. A grande maioria dos nossos times foi formada na empresa. Se eu vejo uma pessoa com potencial, chamo para trabalhar, daqui a pouco ela está assumindo um cargo de coordenação e começa a dar aula também.  É muito marcante essa questão da docência pois muitos colaboradores seguem essa mesma linha, dando aulas em faculdades porque nos veem como espelhos. Na Tecomat, temos pilares como simplicidade, conhecimento, resiliência, conceitos que o professor Joaquim trazia consigo.  Além de muito generoso, ele sempre estava de porta aberta para conversar. Isso gera empatia, por isso o pessoal gosta da Tecomat. A gente carrega esse DNA dele, de ser legal com todo mundo, esse é nosso lema. Ter um time tão preparado e ligado à academia traz vantagens para a empresa, especialmente na questão da inovação? As vantagens são várias, uma delas é enxergar os talentos de maneira precoce, pois, quando estamos lecionando, conseguimos ver o perfil da pessoa pelo seu comportamento na sala de aula. Conseguimos enxergar esses potenciais e trazer para a empresa. Além dessa questão de recrutamento de equipe, a vantagem de sermos professores é que, na Tecomat, temos um pé na academia e outro na obra. Esse é o diferencial dos engenheiros da empresa, esse perfil é raríssimo em qualquer lugar no Brasil.  Além disso, ao participarmos de congressos, conseguimos lidar com a “nata” técnica do negócio, transitar com essa turma com maior facilidade, isso ajuda muito e proporciona respeito. Participar de congressos e palestras também facilita a busca por soluções e inovação. Esse é um dos papéis da diretoria técnica, buscar soluções inovadoras para que nossa equipe possa aplicar aos laudos, por exemplo.  Que tipo de tecnologias a Tecomat utiliza? São softwares, inteligência artificial? Utilizamos nos projetos uma tecnologia chamada BIM (Building Information Modeling). É a construção virtual, em que modelamos o projeto no software e conseguimos enxergar, com riqueza de detalhes, como a obra vai ficar depois de pronta. Basicamente é colocar todos os projetos num mesmo software com uma leitura que permite

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Paulo Dalla Nora Macedo

"Com Trump, a Europa terá que se aproximar da China e do Brasil. Criamos um programa para abrir mercados via Portugal".

Paulo Dalla Nora Macedo, economista e restaurateur, lançou, com o jornalista Guilherme Amado, o projeto Lisboa Connection, que estreia em junho um videocast e terá outros produtos com o intuito de fazer conexões do empresariado brasileiro com o mercado europeu a partir de Portugal. Ele afirma que a conjuntura atual, com os EUA se distanciando do Velho Continente, é propícia para esses negócios. Quando o economista Paulo Dalla Nora Macedo abriu o restaurante Cícero, na capital portuguesa, além de surpreender na decoração – composta por várias obras de artistas modernistas, a maioria pernambucanos – ele também inovou ao promover no bistrô debates com personalidades da cena política, artística e econômica. Agora, em parceria com o jornalista Guilherme Amado, ele leva essas conversas, a partir de junho, para o YouTube no videocast Lisboa Connection. Entretanto, ele inovou mais uma vez porque não se trata de um mero programa de entrevistas. “O videocast é a âncora do projeto”, distingue Macedo. Foram estruturados também outros produtos com objetivo de contribuir com negócios que desejam atuar na Europa. A ideia é fazer de Portugal uma conexão para o Velho Mundo. Haverá entrevistas mais curtas para o LinkedIn, abordando o ecossistema de inovação e, numa outra vertente, será realizado um seminário imersivo, para um grupo de empresários interessados em se posicionar no mercado europeu. Antes mesmo de o videocast estrear, o projeto foi lançado na residência do advogado Kakay (Antônio Carlos de Almeida Castro) e contou com convidados estrelados, como os ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Toffoli; o presidente da Câmara dos Deputados Hugo Mota; os ministros José Múcio e Ricardo Lewandowski; e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, entre outros. O Lisboa Connection chega num momento oportuno, quando o presidente Donald Trump se distancia da Europa, num movimento que, segundo Macedo, levará o continente a buscar novos parceiros. Nesta entrevista a Cláudia Santos o empresário explica o seu novo projeto e analisa a conjuntura internacional. Qual a proposta do projeto Lisboa Connection? Esse projeto surgiu a partir do restaurante que tenho em Lisboa, o Cícero, onde já organizamos debates com a participação da imprensa brasileira e portuguesa e convidados do meio político, cultural e empresarial de Portugal e do Brasil. Chegamos a fazer mais de 15 debates com convidados como José Manuel Durão Barroso, ex-presidente da Comunidade Europeia; Gilmar Mendes (juiz do STF), Antônio Grassi (ator), enfim, muitos artistas, políticos e empresários já participaram e isso foi ganhando maturidade. Então, fui procurado por Guilherme Amado, jornalista de política brasileiro, que estava com a ideia de lançar um canal no YouTube, e eu disse a ele que já tinha um projeto desenhado e com nome registrado. Assim, surge o Lisboa Connection, que tem esse nome porque pensamos em Lisboa como um ponto de conexão para negócios do Brasil na Europa, mas não é o destino final, porque Portugal é uma economia muito pequena. O projeto não trata apenas das relações Brasil/Portugal. Eu disse a Guilherme: “tem que ser um programa que faça conexão para abrir mercados via Portugal para a comunidade europeia, ainda mais porque, nos próximos dois anos, o presidente do Conselho da Europa (o segundo cargo mais importante da instituição) é o antigo primeiro-ministro de Portugal, o Antônio Costa”. Ele topou a ideia e fomos buscar patrocinador para o programa. Em dezembro, conseguimos o patrocínio da Embraer, que é empresa brasileira que mais exporta tecnologia e tem presença forte e crescente na Europa, principalmente com aviões na área de defesa e de carga. Anunciamos o videocast recentemente e ele vai ao ar em junho. A âncora do projeto será o videocast que, na primeira temporada de um ano, terá 14 episódios, que são entrevistas de 25 minutos com personagens fundamentais da relação Brasil/Europa, não só políticos, mas também empresariais, culturais, etc. Além do videocast, haverá produtos específicos segmentados como entrevistas mais curtas para o LinkedIn, abordando negócios e o ecossistema de inovação, que tem uma conexão forte com a Europa, especialmente com Portugal, que virou um hub de inovação por causa do Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo que acontece em Lisboa há mais de 10 anos. Teremos entrevistas, por exemplo, sobre desafios e oportunidades proporcionadas pela inteligência artificial. Na área de cultura, também teremos conteúdo para o Instagram, com novos serviços e produtos voltados para essa área, desde seminários e conversas no Brasil, como, por exemplo, para pessoas do setor de cultura e inovação que queiram vir para Portugal. Quando eu digo cultura é TIC (tecnologia, inovação, comunicação). Outra vertente é um seminário imersivo em que montamos um roteiro de viagem para um grupo de empresários interessados em se posicionar no mercado da Europa. Isso será articulado com entidades, como Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento) e Sebrae, e será setorizado, ou seja, empresários do segmento de moda e inovação, por exemplo, que possam investir numa viagem de cinco dias vão conhecer um pouco o ecossistema, conversar com interlocutores do setor público e futuros parceiros. Como o projeto se encaixa neste momento de posicionamento unilateral do Governo Trump, com novas configurações geopolíticas com a Rússia e alijamento da Europa? Encaixa-se muito bem, porque a Europa está precisando fortalecer amizades. O Brasil já é amigo da Europa, mas precisa estar mais próximo ainda porque ela está numa fase de extrema solitude. Ela contava sempre com os Estados Unidos na defesa da soberania e da garantia de segurança e isso acabou. Agora, países europeus precisam urgentemente se aproximar mais de outros blocos. Isso é uma das coisas que ajudou, inclusive, a conclusão do acordo com o Mercosul. Vamos assistir a uma aproximação da China com a Europa porque a Europa está sozinha, neste momento, e não tem capacidade de bancar, por exemplo, a estrutura de defesa de que precisa porque passou 80 anos confiando nos Estados Unidos. O único país que tem exército de verdade, na Europa, é a França, por incrível que pareça. Nos outros países, a estrutura militar de defesa é muito

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"Junto com as obras do terminal antigo do Aeroporto, temos um projeto de renovação urbana e vamos restaurar a Praça Salgado Filho"

Diretor de comunicação, relações institucionais e ESG da Aena, Marcelo Bento Ribeiro, analisa o impacto da escassez de aeronaves no setor aeroportuário e explica os planos da concessionária para requalificar as antigas instalações do Guararapes que foram demolidas. A revitalização inclui a área externa, que será transformada em local de convivência para a população. A té o final deste ano, o recifense ganhará um novo espaço de convivência na movimentada Avenida Mascarenhas de Moraes. A empresa Aena, que administra o Aeroporto dos Guararapes/Gilberto Freyre, está erguendo na área do antigo terminal de passageiros um Terminal Intermodal, que vai concentrar serviços de transporte, como veículos por aplicativos e de turismo, exposição artística, cafés e lanchonetes. Esse terminal será integrado à Praça Salgado Filho, projetada por Burle Marx, e que também será requalificada. “Aquela região, em razão de o terminal antigo ter ficado fechado muitos anos, foi se degradando, a Praça Salgado Filho perdeu movimentação. Com esse projeto, ofertamos de volta para cidade uma área que está perdida e que passará a ter movimento e convivência”, assegura Marcelo Bento Ribeiro, diretor de comunicação, relações institucionais e ESG da Aena. O projeto é realizado em consonância com a Prefeitura do Recife e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e inclui ainda a restauração dos dois painéis de Lula Cardoso Ayres, que ficarão num espaço acessível a população. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Marcelo Bento também analisou a conjuntura do setor aéreo, que enfrenta escassez de aeronaves e sofre com a elevação do câmbio. Ele também falou do bom desempenho do Aeroporto do Recife, que ostenta a maior movimentação do Nordeste. Informa ainda sobre os planos da Aena, considerada o maior operador aeroportuário do mundo. Para começar a nossa conversa, o senhor poderia falar um pouco sobre a Aena? Ela é uma estatal espanhola? Ela é uma empresa cuja origem é uma sociedade de economia mista. É controlada pelo Estado espanhol, mas grande parte das ações está na bolsa de valores de Madri. Está entre as 30 maiores empresas da Espanha no índice IBEX 30, tem controle estatal, mas toda a governança é orientada como uma empresa privada. A Aena faz a gestão de aeroportos de vários países e a principal base é a Espanha, onde tem 46 aeroportos e dois heliportos. Fora da Espanha tem mais 33 aeroportos: 17 no Brasil e os demais no México, Jamaica, Colômbia e Reino Unido. Ela vem expandindo no exterior porque, originalmente, participava como sócia de outras empresas parceiras. Em alguns casos, como no Reino Unido, ela é controladora, tem a maioria das ações. Em outros casos, como no México, não. Mas, ao longo dos últimos anos, a Aena vem sendo mais protagonista, buscando operações em que ela controle efetivamente. A operação do Brasil é a única que pertence 100% a Aena. Assim, o Brasil é a principal operação da empresa fora da Espanha em tamanho e em proeminência. Somos o maior operador aeroportuário do mundo, hoje o maior operador aeroportuário do Brasil em quantidade de aeroportos e temos um compromisso com esse negócio. Nem na Espanha, nem no Brasil, somos um fundo de investimento, não somos um grupo que investe em várias coisas, nós nos dedicamos 100% à administração aeroportuária. Isso é relevante pois traduz nosso compromisso com o que fazemos. Temos altíssimos padrões de governança por ter essa origem estatal, somos uma empresa muito transparente. Temos um compromisso severo com o meio ambiente. Na Europa, é o operador aeroportuário que tem as metas mais ambiciosas de redução de impacto ambiental e, este ano, vamos anunciar nosso plano de ação climática no Brasil para ter uma redução severa da pegada ambiental nos próximos 10 anos. Guararapes é o aeroporto de maior movimento no Nordeste? O Aeroporto do Recife tem capacidade para mais de 15 milhões de passageiros por ano e, com crescimento bem acentuado, fechou o ano passado com cerca de 9,5 milhões de passageiros. É o sétimo maior aeroporto do País em movimento de passageiros, o segundo maior aeroporto da Rede Aena e o maior aeroporto do Nordeste. É o maior aeroporto fora do eixo das cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, também é maior que Porto Alegre, Curitiba, Manaus, enfim, é um dos principais aeroportos nacionais e é o quarto maior em cargas também. Então, é um aeroporto muito proeminente. Tem quase o dobro de passageiros que Fortaleza, cerca de 25% a mais de passageiros que Salvador e muito mais destinos que essas duas cidades, que são concorrentes mais imediatas. O do Recife foi o único aeroporto que já superou os números de movimento pré-pandemia. Em 2024, o número de passageiros aumentou 10% em relação a 2019 e 7% em relação a 2023. Ou seja, o ano de 2023 recuperou o nível pré-pandemia e segue num crescimento consistente. Salvador, por exemplo, está quase nos mesmos níveis pré-pandemia e Fortaleza está abaixo do número de passageiros embarcados em 2019, então o Recife segue se destacando. Além disso, recentemente, houve muitos anúncios com novos voos internacionais, como Córdoba, pela GOL, Porto e Madri, pela Azul e, recentemente, a Latam inaugurou um voo para Santiago no Chile. Além disso, a Azul vai retomar um voo de temporada para Assunção, no Paraguai. Assim, é um aeroporto que ainda tem uma capacidade de crescimento e vem passando por intervenções. Como estão as obras de requalificação do Guararapes? Completamos, em 2023, um enorme investimento de quase R$ 2 bilhões no Nordeste, entre obras e equipamentos. O Aeroporto do Recife é o principal dessa rede na região, que foi a nossa primeira concessão no Brasil, em 2020. Em 2023 assumimos a concessão de mais 11 aeroportos no Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e São Paulo. Então, começamos as obras nos aeroportos do Nordeste e, em 2023, entregamos o Aeroporto do Recife com o dobro de capacidade que tinha antes. Demolimos o terminal antigo e começaremos a construir um novo espaço de integração de transportes, que é uma área dedicada a Uber, táxi, vans

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joao monteiro

"A Unidos do Viradouro resgata Malunguinho para o povo pernambucano que não o conhece"

A campeã do Carnaval carioca de 2024 leva para a avenida a história de João Batista, um líder quilombola que passou a ser cultuado como entidade afro-indígena nos terreiros de Jurema. O historiador João Monteiro, nesta entrevista, explica quem foi esse personagem e diz ter esperança de que ele possa ser mais conhecido como tema de enredo da escola de samba. Quando a Unidos do Viradouro entrar na Marquês de Sapucaí, neste ano, vai apresentar uma ala composta por cerca de 70 pessoas de Pernambuco. São 35 integrantes do Catimbó de Jurema, além de professores, ativistas, indígenas, artistas e brincantes. Elas vão contribuir com a campeã do Carnaval Carioca de 2024 para levar ao sambódromo o enredo Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos, que conta a história de João Batista, líder do Quilombo do Catucá, situado entre a Região Metropolitana do Recife e a Zona da Mata Norte. Conhecido como Malunguinho, ele hoje é cultuado nos terreiros como uma entidade afro-indígena. E foi somente assim que permaneceu conhecido durante muito tempo, até que o historiador Marcus Carvalho, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), numa pesquisa de pós-doutorado, mostrou Malunguinho com um personagem histórico verídico, que no Século 19 lutou contra a escravidão e foi perseguido. O trabalho acadêmico chamou a atenção do historiador João Monteiro, que criou um grupo de estudo aproximando pesquisadores e juremeiros para unir seus conhecimentos sobre o assunto. Monteiro tem auxiliado o carnavalesco Tarcísio Zanon, da escola de samba de Niterói, nas pesquisas sobre Malunguinho e no contato com os terreiros de Jurema. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele fala vida de João Batista, das dificuldades de obter documentação sobre ele e da discriminação sofrida pelas religiões de matriz africana e indígena. Técnico em Educação Étnico-Racial da Secretaria de Educação do Estado, ex-rei do Maracatu Nação Sol Brilhante, o historiador ressalta a importância do resgate de João Batista proporcionado pela Unidos do Viradouro e revela o desejo de vê-lo como um personagem histórico estudado em sala de aula. “Este é um bom momento para o Estado rever, no seu currículo, a história do povo preto e fazer essa inclusão de Malunguinho”. Quem foi João Batista, o Malunguinho? E qual o significado desse termo? Marcus Carvalho (professor de história da UFPE) e um outro professor americano registram como sendo malungo um termo comum que os escravos usavam para quem chegasse aqui no mesmo navio. Ou seja, malungos são companheiros. O “Inho” é um termo do português de Portugal conhecido como heurístico, que é de grandeza. Então, Malunguinho seria um grande amigo. E Malunguinho também possui outras significações que levam a crer que seria um termo usado para identificar uma entidade dos bantus, que seria comparada a Exu. Mas há outros significados que ficaram no imaginário coletivo, como a fuligem que resulta da queima da cana-de-açúcar, que muita gente chama de Malunguinho. Quanto a João Batista, infelizmente, a história do povo negro no Brasil tem um abismo profundo porque queimaram muita documentação e era comum as famílias não fazerem registros. Todo o registro que se tem de Malunguinho e de muitos outros heróis excluídos de Pernambuco é a documentação da polícia, que não o via como um preto que estava lutando pela liberdade. Naquela época, ele era visto como marginal, porque queimou muitos engenhos, abriu muitas senzalas para libertar as pessoas escravizadas. A história de Malunguinho é extensa, vai de 1817 a 1835. Malunguinho não era só uma pessoa, houve mais de uma liderança que era chamada de Malunguinho. João Batista foi o último dos Malunguinhos que tiveram o registro documental. Antes dele, existiram João Bamba e João Pataca. Em 1828 surgiu um boato de que Malunguinho iria botar fogo no Recife e criou-se o temor entre as pessoas. Henry Koster (senhor de engenho e cronista luso-brasileiro) e outros visitantes que chegaram aqui, registraram que tinham a impressão de que o Recife era uma África, de tanto preto que havia, e isso causava temor porque eles sabiam que se aqueles negros se juntassem, boa coisa não ia dar. Então, os senhores de engenho viviam plenamente com temor de alguma insurgência. No período da morte de Malunguinho, houve o levante dos Malês, na Bahia, houve o levante em Aracaju e a Revolução do Haiti. Assim, se disseminava e acendia uma chama de luta, de revolução também aqui. Há um documento comunicando que sua morte foi no dia 18 de setembro de 1835 em Maricota, atual Abreu e Lima. João Batista é o último Malunguinho registrado pela polícia, que achou ter exterminado o seu quilombo após sua morte, mas alguns documentos mostram que houve levantes posteriores. Ou seja, ataques dos negros ao povo da localidade, impedindo, inclusive, uma tentativa de colonização alemã na região de Abreu e Lima. Isso denota que o quilombo não morreu junto com João Batista, ele foi apenas enfraquecido. Onde estava localizado o Quilombo de Catucá liderado por Malunguinho? Na verdade, havia uma rede de quilombos que começava no bairro da Linha do Tiro, Dois Unidos e ia pelas matas até Goiana. Todas essas cidades, Paulista, Igarassu, Itapissuma, Goiana, Olinda eram espaço da rede de quilombos de Malunguinho. Inclusive, há documentos que registram ataques feitos por grupos dessa rede majoritariamente formados por mulheres, como em Sapucaia, um bairro entre Olinda e o Recife. Assim, um grupo de mulheres ligadas a Malunguinho atacava transeuntes da estrada, como um “Robin Hood” local. Mas, na verdade, a ideia de quilombo foi ressignificada aqui no Brasil. Originalmente, principalmente em Angola e no Congo, quilombo era um espaço de formação no meio da mata, aonde os jovens iam para aprender a caçar, a administrar, aprender tudo que o precisava para ser um grande guerreiro. E aqui eles transferiram o formato de quilombo porque as matas de Pernambuco eram muito similares às de lá. Havia uma lei, no Império, proibindo a organização de grupos nas matas. Assim, cinco negros reunidos com tapera e pilão já era considerado quilombo. A Corte Portuguesa caçava esses grupos, tanto que várias estradas que há hoje

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Marcelo Carneiro Leao

"Precisamos transformar a ciência em algo concreto para que as pessoas entendam que ela faz sentido no seu dia a dia"

Marcelo Carneiro Leão, Diretor do Cetene, afirma que o setor empresarial brasileiro não tem cultura de investir em pesquisa e pretende aproximar a ciência da indústria. Ao cunhar a expressão “do paper ao PIB”, defende que a produção científica vá além dos artigos acadêmicos e impacte o cotidiano da sociedade. Nesta entrevista ele também revela seus planos à frente do centro tecnológico. Quando em outubro do ano passado, o químico e ex-reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Marcelo Carneiro Leão assumiu a diretoria do Cetene (Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste), anunciou que atuaria na conexão entre ciência e indústria. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele analisa a ausência de cultura do setor privado brasileiro em investir na pesquisa, ao contrário de países da Europa e os EUA. Com uma carreira marcada pela inovação e pela pesquisa aplicada, Leão também comentou a distância entre a ciência e a sociedade que, para ele, é fruto da formação educacional e do fato de que os resultados dos temas pesquisados, muitas vezes, não se revertem em benefícios concretos para a população. A maioria acaba transformada em artigos para revistas científicas. “É preciso sair do paper para o PIB”, conclama o diretor do Cetene que também aborda as atividades realizadas no centro tecnológico e as perspectivas para ampliar a sua atuação para todo o Nordeste. Observamos uma distância entre a ciência e a sociedade, algo que ficou evidente na pandemia. Para agravar, uma pesquisa da OCDE revelou que o Brasil é o país onde as pessoas mais acreditam em fake news. Como o senhor avalia essa realidade? Sobre a crença nas fake news, acho que a primeira questão está nos processos educacionais no País. Primeiro, a ausência deles em algumas situações. Segundo, há uma desconexão do que é de fato a ciência e o que os conceitos científicos trazem para a sociedade. Fomos formados com a preocupação na construção de conceitos, definições, decorar datas, ou seja, um conhecimento desconectado do que poderia trazer de importância para a vida cotidiana. É preciso corrigir esse problema de formação, fazer com que as pessoas compreendam que a ciência, o conhecimento, é uma ferramenta fundamental para que possamos construir uma sociedade melhor, seja no desenvolvimento industrial, médico, enfim, todos os campos da ciência. Outro aspecto está no nível superior, em relação às pesquisas, à ciência mais aprofundada, que muitas vezes não chegam na ponta para resolver os problemas concretos da sociedade. Quando assumi a reitoria da Universidade Rural, em 2020, criamos o instituto IPÊ (Instituto de Inovação, Pesquisa e Empreendedorismo), cujo lema é tentar trabalhar os projetos e as pesquisas na perspectiva de uma hélice quádrupla, envolvendo o governo, a academia, a iniciativa privada e o terceiro setor. E o outro eixo, sobre o qual, inclusive, cunhamos a expressão do "paper ao PIB", ou seja, da pesquisa ao PIB, que é concebido num sentido amplo, não somente na questão de geração de renda per capita, mas melhoria de qualidade de vida das pessoas, da sociedade, geração de emprego, de renda etc. Precisamos transformar ciência em algo concreto para que as pessoas entendam que ela faz sentido no seu dia a dia, está presente nas roupas que usam, nos remédios, nos carros. O celular é um exemplo: 60% do iPhone foi desenvolvido com dinheiro público americano, é ciência pura, levou anos de pesquisa, de investimento do estado americano. Depois a Apple comprou a patente. Então, precisamos melhorar o sistema educacional, dar sentido ao conhecimento e integrá-lo às coisas concretas do cotidiano. Na sua posse, o senhor anunciou que atuaria na conexão entre ciência e indústria. Na verdade, observamos a falta de integração entre academia e o setor empresarial. Como o senhor analisa essa situação? Existem diferenças entre o Brasil e outros países. Nos Estados Unidos e na Europa, a pesquisa também acontece na iniciativa privada. Lá as indústrias, as grandes empresas, têm centros de pesquisas dentro do seus parques, porque entendem a sua importância para melhoria do produto que fabricam e para a atividade da empresa. No Brasil, não há essa cultura. Hoje mais de 90% da pesquisa brasileira é feita no setor público, fundamentalmente nas universidades federais e estaduais públicas e alguns centros de pesquisa. O grande desafio é aproximar pesquisas, governo, iniciativa privada e terceiro setor. Vou citar um exemplo de uma pesquisa que desenvolvemos no Cetene sobre o lúpulo, usado em cosméticos e cerveja. Hoje, 90% das cervejeiras brasileiras compram lúpulo da Inglaterra, dos EUA ou da Holanda. Estamos tentando desenvolver um produto que seja adequado ao nosso clima, para que possa ajudar a diminuir tal dependência. Os pesquisadores me apresentaram a proposta dizendo que haviam publicado em revistas científicas. Mas é preciso sair do paper para o PIB e transferir essa tecnologia para as empresas produtoras. Perguntei se eles haviam conversado com o ecossistema cervejeiro, inclusive, temos aqui a Heineken, a Itaipava. Eles disseram que não. Eu disse, “então, a pesquisa começou errada”. E isso acontece muito. Os pesquisadores desenvolvem uma pesquisa, alguns geram patentes, mas param por aí. O Brasil avançou, mas parou nas patentes. O País, hoje, é o 13º em produção científica do mundo, mas é apenas o 49º em inovação. Inovação é diferente de invenção. Algo que eu invento e patenteei é invenção, mas inovação, de fato, é quando transformo essa invenção em algo concreto e real que impacta na vida das pessoas e dos animais. No ecossistema de inovação, é preciso transformar a pesquisa mais básica, que acontece nas instituições públicas, em produto real e, para isso, é necessária a parceria da iniciativa privada, que é quem está lidando com o dia a dia desse produto. Assim, é possível direcionar a pesquisa a fim de encontrar uma solução para o problema da importação de lúpulo. Estamos reformatando a nossa lógica, vamos conversar com o ecossistema, desenvolver um lúpulo e, em seguida, reunir os governos dos estados do Nordeste, cooperativas de pequenos produtores, para os quais o Cetene vai fornecer as mudas de lúpulo. Esse pequeno produtor vai produzir

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Demetrius Montenegro

"Em época de férias, com aglomerações e confraternizações, a transmissão dos vírus da Covid aumenta"

Chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Oswaldo Cruz, Demetrius Montenegro diz que, graças à vacina, a Covid deixou de ser uma doença grave, mas apresenta grande capacidade de transmissão. Ele também avalia a possibilidade de aumentar os casos de dengue hemorrágica em Pernambuco, as perspectivas da nova vacina contra a dengue e as chances de ocorrer uma nova pandemia. Dados compilados por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista) revelam que o Brasil contabilizou 57.713 casos de Covid-19 nas três primeiras semanas de 2025, o maior registro dos últimos 10 meses. O número representa um aumento de 151% nos diagnósticos da doença em comparação com as três últimas semanas do mês passado que somaram 23.018 infecções. Mas de acordo com o infectologista Demetrius Montenegro, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Oswaldo Cruz, esse aumento ainda é bem menor do que foi registrado no período do final de 2023 para o início de 2024. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Montenegro, que também é infectologista do Hospital Português, explica que o SARS-CoV-2, o vírus da Covid, tem uma capacidade de transmissão muito grande mas, graças à vacina, a maioria dos casos não apresenta gravidade. Ele também analisou a possibilidade de aumentar a prevalência do sorotipo 3 da dengue em Pernambuco, o que provocaria um aumento de casos com sintomas graves, como a hemorragia. O infectologista abordou ainda o impacto das mudanças climáticas no aumento das infecções e não descartou a hipótese de o mundo enfrentar outra pandemia. No verão, o número de casos de algumas viroses tende a aumentar. Por que isso acontece? Alguns vírus têm um comportamento sazonal. Ou seja, dependendo da época ou estação do ano, determinado vírus pode ter uma circulação maior. A característica da sazonalidade do vírus da Influenza é vir principalmente em épocas mais chuvosas ou na época de inverno, porque favorece a aglomeração das pessoas. Há, por exemplo, um vírus respiratório que acomete muito crianças no período de abril a maio. No caso do SARS-CoV-2, que é o vírus da Covid, em duas épocas do ano, mais ou menos, haverá um aumento do número de casos. Estamos observando que, em época de férias, aglomeração e confraternizações, a transmissão dos vírus aumenta. Em janeiro de 2024, também houve um aumento dos casos de Covid, como em janeiro de 2025. No entanto, este ano, o aumento ainda é um número bem menor do que foi o período do final de 2023 para o início de 2024. Ou seja, o vírus da Covid mudou muito sua genética. Antes, era um vírus devastador, muito grave, agora, com essas novas variantes, ele se transformou num vírus que tem uma capacidade de transmissão muito maior, porém uma gravidade menor. Vírus respiratórios podem circular ao longo do ano todo mas, em alguns períodos, pode aumentar sua transmissão. Então a capacidade de transmissão do vírus da Covid é maior que a da Influenza? Sim. Na influenza, mesmo que as pessoas não se isolem em casa, às vezes, apenas uma ou duas pessoas se contaminam, mas, na Covid, muito mais gente vai se contaminar. Outra diferença é que a vacina da gripe tem uma eficácia maior para proteger contra a doença. Então, a grande vantagem da vacina da Covid não é a pessoa não pegar a doença, lógico que diminui a chance de contaminação, mas o grande ganho é prevenir a evolução para casos mais graves. Por isso, a história da Covid hoje é outra, passamos de um conto de terror para praticamente um conto de fadas, a realidade hoje é totalmente diferente. Nas regiões Sul e Sudeste, principalmente no litoral, há relatos de contaminação por norovírus, que causa sintomas como diarreia. O número foi maior que nos anos anteriores. No Nordeste, também houve aumento dos casos? Existem vírus cuja característica é de transmissão respiratória e causam doenças respiratórias, e outros que podem até ter transmissão respiratória mas seu local de proliferação é o trato gastrointestinal, causando doenças gastrointestinais e também podem ser transmitidos por meio da ingestão de alimentos contaminados. Esse tipo de vírus é realmente mais comum nesta época do verão, como aconteceu no litoral do Sudeste, principalmente de São Paulo onde houve uma epidemia desse vírus. Ou seja, há relação com a água contaminada, praia contaminada, principalmente nessas grandes cidades, onde, por mais que haja cuidados, é mais comum a água do mar ser contaminada pelo esgoto. Então, as pessoas podem adoecer e também transmitir. Já aqui no Nordeste, não observamos. Se houve, foram casos bem pontuais de diarreia, mas que não se caracterizavam como uma transmissão viral em massa, como uma epidemia. Ficou restrito realmente no Sul e Sudeste. Além das vacinas, há alguma forma de prevenção contra essas infecções, tanto as respiratórias quanto as do trato gastrointestinal? Sim, o afastamento social. Não me refiro ao isolamento, que tem o estigma da doença infecciosa como a Covid no momento crítico quando a pessoa tinha que ficar trancada no quarto. Mas o recomendado é você se afastar de outras pessoas, principalmente no ambiente de trabalho, ou usar máscaras. É sabedoria dos povos orientais que, antes mesmo da existência do vírus da Covid, usam máscaras quando estão com sintomas respiratórios. Isso já seria uma quebra muito grande da transmissão. Associado a isso, a vacina vem se mostrando, cada vez mais, a grande ferramenta e foi o que girou a chave em relação à pandemia. E não só a pandemia da Covid mas, também, a pandemia do H1N1 que foi uma variante da Influenza totalmente desconhecida do nosso sistema imunológico e, assim como a Covid, pegou o mundo desprotegido. Rapidamente, quando a população começou a se vacinar, o número de casos diminuiu. Então, a vacina é fundamental, assim como a lavagem das mãos e aquela etiqueta respiratória de cobrir o nariz ao espirrar para diminuir a quantidade de partículas e do vírus no ambiente e nas superfícies. Em relação à Covid, os testes de farmácia são válidos ou o recomendável é fazer em laboratório? Eles

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Lorena Tenorio

"Damos oportunidade para a criança ou o jovem entender que pode fazer a diferença na sua realidade"

Coordenadora-executiva do Instituto Conceição Moura, Lorena Tenório conta como a organização investe para transformar Belo Jardim a partir da educação. A meta é colocar a cidade entre as 10 mais bem posicionadas no Ideb estadual, a partir de iniciativas de cunho educacional mas, também, cultural, como sessões gratuitas de cinema e a abertura de um museu. A educação tem sido um dos caminhos mais eficazes para ofertar novas perspectivas a pessoas em condição de vulnerabilidade social e econômica. E foi pela via da aprendizagem que o Instituto Conceição Moura resolveu investir para contribuir com crianças e jovens da cidade de Belo Jardim, a vislumbrarem um futuro de possibilidades. Trata- -se de um grande desafio para essa organização, mantida pelo Grupo Moura que tem a meta ousada de incluir o município do Agreste pernambucano no ranking dos 10 mais bem colocados no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no Estado. Para atingir o objetivo, o instituto atua desde a primeira infância, com ações para melhorar a qualidade da educação da região, a partir do incentivo às escolas de tempo integral, reforço escolar, formação de jovens e aulas de robótica. Também são oferecidas aulas de teatro e percussão, uma forma lúdica, para a garotada desenvolver a criatividade, a leitura e a escrita. O incentivo cultural, na verdade, é outro ponto forte de atuação do instituto, que ainda mantém um cinema (o único da cidade). Além disso, no início de fevereiro vai inaugurar um museu, que terá como exposição permanente o maquinário da antiga fábrica de Mariola que se transformou na sede do instituto. Nesta entrevista, Lorena Tenório, coordenadora-executiva da organização, fala das ações do instituto, cuja criação foi inspirada no legado de Conceição Moura que, junto com o marido Edson Mororó, fundou a Baterias Moura. Como surgiu a ideia da criação do Instituto Conceição Moura? O instituto teve início a partir de uma grande inspiração: dona Conceição Moura que, junto ao seu marido Edson Mororó Moura, fundou a Baterias Moura. Ela é recifense e foi morar em Belo Jardim. Como tinha um olhar social, queria dar à cidade o que recebeu quando ali chegou. Ela trabalhava o social, capacitando artesãos e catadores de lixo, fez campanha de 5S nas escolas, entre outras iniciativas. Foi a partir desse legado que a família resolveu fundar o Instituto Conceição Moura. Segundo Mariana Moura, vice-presidente do instituto, ele simboliza a realização de um sonho e a possibilidade de tangibilizar, como família empresária, o propósito de servir a negócios que servem à sociedade. É parte da cultura do grupo e da família contribuir com a cidade, com a comunidade, enquanto agentes de transformação. Antes do instituto, não havia, em Belo Jardim, nenhuma organização do Grupo Moura nesse sentido. Havia na Acumuladores Moura, que é uma das empresas do Grupo, ações pontuais de responsabilidade social, como um projeto de voluntariado chamado Semear, que ainda existe, mas a estruturação de um braço social veio a partir da criação do Instituto Conceição Moura, 10 anos atrás. Quais os objetivos e ações realizadas pelo Instituto Conceição Moura? O instituto tem como missão contribuir com crianças e jovens para que sejam agentes de transformação no mundo. Ou seja, damos oportunidade para a criança ou o jovem entender que pode fazer a diferença na sua realidade, no seu mundo, seja em Belo Jardim, no Recife, em São Paulo ou no exterior. Fazemos isso por meio da educação. Nossa atuação é da primeira infância à vida adulta e cada projeto é voltado para uma faixa etária. O instituto tem quatro frentes de atuação. Em uma delas, com foco na primeira fase da vida, trabalhamos com educadores e responsáveis pelas crianças de 0 a 6 anos de idade. Em colaboração com o município, capacitamos e orientamos para que a criança, tanto na primeiríssima infância (0 a 3 anos), quanto na primeira infância (até os 6 anos), tenha uma infância bem vivida, com menos estresse, com reduções de situações que possam causar algum dano nessa fase, que é muito importante para o ser humano tornar-se um adulto mais responsivo, mais feliz, com menos traumas. Todo investimento na primeira infância reverbera futuramente na economia do País. Em outra frente, o instituto trabalha junto ao município de Belo Jardim com as escolas da região, para a construção de uma educação de qualidade. Acreditamos fortemente nas escolas em tempo integral. Mais tempo dentro da escola significa que a criança passa mais tempo aprendendo, em contato com os professores, tendo oportunidade de fazer aulas eletivas e menos tempo ociosa, diminuindo as chances de estar em situações de risco ou em contato com drogas, o que também diminui a violência. Outra frente em que atuamos é na arte e na cultura. Temos uma escola teatro e de musicalização onde a criança começa a partir dos 8 anos e vai até os 21. Temos um grupo percussivo de maracatu e de coco para trabalhar as raízes pernambucanas, um grupo de teatro, além do cinema, que é o único da cidade, onde fazemos exibições de filmes aos sábados e domingos para a comunidade de forma totalmente gratuita. Na verdade, tudo no instituto é gratuito. O cinema também é utilizado como ferramenta educativa, trazendo filmes com temáticas que possam ser trabalhadas na sala de aula. Outra frente do instituto é a formação de jovens que também é voltada para a construção de senso crítico, de empreender, de diminuir a defasagem escolar. É um trabalho em parceria com o Alicerce da Educação para identificar e diminuir o gap no desenvolvimento escolar da criança e/ou jovem. Por exemplo, se um aluno está no 8º ano do ensino fundamental 2, mas sua competência escolar em português e matemática é do 6° ano, trabalhamos esse gap para tentar ajudá-lo. Além disso, temos a robótica, voltada para os jovens dos ensinos fundamental 2, médio, técnico e superior, em que conseguimos, de certa forma, inspirar, contribuir, influenciar na formação deles. Hoje há muitos jovens em faculdades ou cursos de engenharia e muitos engenheiros que saíram do instituto. O

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antonio miranda

"A atual situação hídrica em Pernambuco é grave"

Antonio Miranda, Engenheiro do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE, analisa o impacto da escassez de chuvas no abastecimento hídrico no Estado e as perspectivas com a influência das mudanças climáticas. Também alerta para possibilidade de salinização da água de poços em bairros como Boa Viagem e levanta preocupações com o modelo de concessão da Compesa. Nesta semana o Governo do Estado decretou situação de emergência em 118 dos 184 municípios pernambucanos em razão da escassez de chuvas. Especialista em gestão de serviços de saneamento, o engenheiro civil Antonio da Costa Miranda Neto alerta que a situação do abastecimento hídrico em Pernambuco é grave, com 18 reservatórios em colapso, segundo dados da Apac (Agência Pernambucana de Águas e Clima). Nesta entrevista a Cláudia Santos, Miranda, que é integrante do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco), analisa esse cenário e o impacto futuro das mudanças climáticas no agravamento da redução das chuvas. Para enfrentar a crise, ele afirma ser necessário atualizar, com maior frequência, o planejamento da gestão hídrica, principalmente em relação à elevação média da temperatura e da quantidade de ondas de calor em Pernambuco. “Essa elevação traz duas consequências ruins, simultaneamente: o aumento da evaporação dos mananciais superficiais e do consumo hídrico, combinação que agrava a escassez de água de abastecimento”, alerta. Diante da gravidade da situação, o engenheiro afirma que medidas, como o reuso da água e um melhor armazenamento de águas de chuva, passaram de recomendáveis a imperativas. O especialista enfatizou ainda sua preocupação com o modelo de concessão da Compesa, no qual a estatal permanece responsável pela produção de água tratada e a distribuição fica a cargo de concessionárias. “A depender de como ficará a modelagem, caso a Compesa não produza em quantidade suficiente, as empresas privadas poderão acioná-la no sentido de serem indenizadas pela falta de água para venda. Nesta hipótese, teríamos sérios problemas econômicos”, adverte. No início de janeiro, a Compesa divulgou um calendário emergencial de abastecimento de água diante da ausência de chuvas e das altas temperaturas no Estado. E, nesta semana, foi decretada situação de emergência. Como o senhor avalia a situação hídrica em Pernambuco e o impacto no abastecimento de água? A atual situação é grave, com 18 reservatórios em colapso, segundo a Apac. Desses, 14 ficam no Sertão, zona mais atingida pela estiagem, mas há também reservatórios vazios no Agreste, Mata Norte e até na Região Metropolitana do Recife. Sabemos que o Agreste pernambucano é a região de menor disponibilidade de água por habitante do Brasil, o que já por si só mostra o tamanho da nossa vulnerabilidade e justifica todos os investimentos na transposição do São Francisco, fazendo com que uma parte dessa água chegue nessa região. Também não é novidade para ninguém que as secas são cíclicas, então o que enfrentamos hoje é o agravamento desses ciclos. A tendência é o aumento de temperatura e das ondas de calor. O ano de 2024 esteve 1,5°C acima da média da Terra em relação aos níveis pré-industriais, o que é uma tragédia. Estamos, portanto, com uma frequência maior na ocorrência desses problemas. É óbvio que isso tudo repercute no abastecimento de água. É também verdade que a Compesa, historicamente, não conseguiu eliminar os seus problemas de produção e de distribuição de água. Salvo engano, foi em 1982 que a empresa institucionalizou os rodízios de abastecimento, para nunca mais deixar de tê-los. Por isso a Região Metropolitana já foi, e talvez continue sendo, a que apresenta maior consumo per capita de água mineral engarrafada no País. Outro reflexo disso é a quantidade de poços perfurados para abastecer os prédios, em diversos bairros, para não ficar dependendo da Compesa. Com a perspectiva de acirramento dos períodos de estiagem, em razão das mudanças climáticas, essas dificuldades no abastecimento de água em Pernambuco tendem a aumentar? A mudança climática está agravando a situação. Entretanto, as projeções neste momento são muito imprecisas, não conseguimos estimar ainda aonde isso vai parar. Se você perguntar hoje aos maiores especialistas da hidrologia, da climatologia, sobre uma perspectiva para 2030, eles não são capazes de informar com segurança, porque estamos ainda em processo de transformação. Por isso, é necessário elaborar revisões frequentes do planejamento da gestão de recursos hídricos que levem em conta as últimas atualizações científicas. Os estudos de hoje não indicam para Pernambuco nenhuma situação calamitosa. Haverá o agravamento das secas e das chuvas, mas não temos razões objetivas para esperar a transformação de zonas do semiárido em áridas, como já existem no Norte da Bahia. Da mesma forma não há previsão de que aconteçam em Pernambuco as tragédias que assolaram o Rio Grande do Sul. Agora, provavelmente, teremos uma frequência maior de ondas de calor. O aquecimento geral do planeta, que causa a elevação do nível do mar, também é uma preocupação muito grande que todos nós devemos ter, principalmente no Recife. O que poderia ser feito para enfrentar os impactos do aumento da temperatura e da escassez hídrica no abastecimento de água? É necessário passar a atualizar, com maior frequência, o planejamento da gestão hídrica, com especial atenção ao aumento médio da temperatura e da quantidade de ondas de calor em Pernambuco. Esses aumentos trazem duas consequências ruins, simultaneamente: o aumento da evaporação dos mananciais superficiais e do consumo hídrico, combinação que agrava a escassez de água de abastecimento. É igualmente prudente considerar a ocorrência de períodos mais severos e prolongados de estiagem no Estado. Mas insisto, será indispensável realizar atualizações frequentes dos cenários, utilizando o que de melhor se dispõe em termos científicos, para estabelecer as medidas necessárias à gestão hídrica, muitas delas urgentes, desde o manejo dos mananciais até medidas de redução das perdas de água e do consumo médio em todas as categorias de consumidores. Nesse contexto, o reuso da água e o melhor aproveitamento de águas de chuva passaram de recomendáveis a imperativos. Em relação à situação dos bairros situados na faixa litorânea do Recife, a grande quantidade de poços aliada à impermeabilidade do

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Ricardo Haziz Asfora

"Não podemos deixar essa ferramenta poderosa, que é a cannabis medicinal, se esvair"

Diretor da Aliança Medicinal, Ricardo Hazin Asfora, fala dos planos de triplicar a capacidade produtiva que hoje é de 5 mil frascos por mês de cannabis para uso em tratamento de doença. A perspectiva é de aumento da demanda, caso seja aprovada a lei que regulamenta o acesso do medicamento pelo SUS. Também explica como é feito o cultivo da planta em contêineres. Foto: Rafael Dantas O uso medicinal da cannabis ainda enfrenta desafios no Brasil. O baixo conhecimento médico, os preconceitos relacionados à planta e a ausência de regulamentações ainda são entraves que pouco a pouco estão sendo enfrentados. Uma experiência bem-sucedida em Pernambuco é da Aliança Medicinal já atendendo nove mil associados que fazem terapia com o óleo extraído a partir da produção realizada em contêineres, no município de Olinda. Trata-se de uma verdadeira fazenda urbana em ampliação. Os primeiros movimentos da associação foram dados pela presidente Hélida Lacerda. Seu filho tinha até 80 ataques epiléticos por dia, mesmo usando várias medicações, antes de usar o óleo produzido a partir da cannabis. A organização nasce do esforço dela de compartilhar o benefício com outras mães que sofriam com as dores dos filhos. Ricardo Hazin Asfora, diretor-executivo da Aliança Medicinal, conversou com o jornalista Rafael Dantas sobre as perspectivas de avanço no uso medicinal da cannabis a partir das recentes regulamentações na Câmara do Recife e na Alepe. Além disso, o engenheiro agrônomo, responsável pela estruturação da produção, explica os planos de expansão e comenta também sobre os benefícios até para o Sistema Único de Saúde diante da possibilidade de maior popularização dos tratamentos com a planta. Qual a importância das recentes legislações aprovadas para o uso medicinal da cannabis? Primeiro tivemos a lei do município do Recife (Lei Nº 19324/2024). Ela foi aprovada na Câmara Municipal mas não veio com política determinada. O município terá que instituir a política para depois ocorrer uma regulamentação. Algumas semanas depois, foi aprovada a Lei Estadual 18.757/2024 que já veio com uma política determinada. Agora, aguarda apenas a regulamentação antes de chegar aos pacientes. Essas leis vêm para facilitar a disponibilização do medicamento pelo SUS que hoje só acontece com ações judiciais. Com a lei não precisa ter todo o trâmite jurídico para ter acesso a cannabis que deverá estar disponível e com previsão de orçamento. Pelo processo judicial, os cofres públicos não conseguem fazer uma previsão de orçamento. Então, resta apenas a regulamentação para tornar o uso medicinal da cannabis possível pelo SUS? Quais são as próximas etapas? Isso virá provavelmente da Secretaria Estadual de Saúde que vai iniciar esse processo representando o Governo do Estado. Estamos nessa etapa de regulamentação. Não podemos prever o tempo para isso porque o trâmite público não é tão simples de se efetivar. Mas a nossa expectativa é que nos próximos seis meses tenhamos essa regulamentação bem encaminhada. Há alguma preocupação com a regulamentação? O “como” esse processo vai ser feito é muito importante. Há dois caminhos a seguir. O primeiro é apenas suprir a demanda existente para cumprir o que a lei determinou. O outro, que seria ideal e muito mais viável para o Estado, seria entender a importância dessa terapêutica e compreendê-la como um caminho para desafogar o SUS, diminuindo internações e emergências de tantas pessoas que chegam aos hospitais. Como o uso dessas terapias poderia ajudar a diminuir a pressão no SUS? Imagine o filho de Hélida, presidente da Aliança Medicinal. Ele tinha 80 crises de convulsão por dia. Logo, ele vivia nos hospitais. Quanto custa internação e atendimento de urgência ou emergência? O tratamento de média ou grave complexidade com a cannabis medicinal custa entre R$ 300 a R$ 400 por mês. Compare isso com sucessivos atendimentos na urgência? Isso é um ponto muito importante que estamos tentando mostrar, pois pode ajudar a viabilizar o SUS, tirando a pressão do sistema. Outra preocupação é de uma regulamentação que leve o poder público a adquirir esses produtos na indústria farmacêutica, importando-o. Isso é como normalmente se faz com as decisões judiciais, mas a compra seria muito mais cara. A gente vem discutindo essa realidade de que não é só fabricar o medicamento, mas a um custo mais eficiente. A maioria dos tratamentos atualmente que usam os óleos produzidos pela cannabis para uso medicinal são feitos com a produção nacional ou ainda tem muita gente que consome produção importada? Hoje há ainda muito produto importado que tem um trâmite custoso para o Estado e tem a demora também do acesso. Aqui, a gente consegue num dia fazer o cadastro desse paciente e, no mesmo ou no outro dia, enviar o medicamento para ele. Então, a gente tem essa prontidão de atendimento. Mas, ainda há, sim, um volume muito grande de produtos importados, inclusive por demanda judicial. Geralmente são produtos mais caros. Isso termina por tornar mais custosa a compra para os cofres públicos do que utilizar uma produção local. Qual a diferença de preços na compra desses produtos entre a produção nacional e a importada? No custo de produto, a gente pode economizar em torno de quatro a cinco vezes numa fabricação nacional. Imagina o quanto conseguiríamos economizar se todas as pessoas pudessem ter acesso ao produto local! E, como falei, se considerar a internação e emergência, é possível desafogar o Sistema Único de Saúde com o avanço desse tipo de tratamento. A gente não pode deixar essa ferramenta, que é cannabis medicinal, se esvair. Além da regulamentação, quais as barreiras para um uso mais amplo da cannabis com finalidade medicinal? É ainda preconceito? Consideramos que é o conhecimento médico. Eles não têm acesso às pesquisas durante a sua formação nos cursos tradicionais. Isso por causa da proibição que teve por tanto tempo no Brasil do cultivo, mesmo para uso medicinal. Precisamos unir forças para que o conhecimento médico venha, de fato, avançar. Hoje as pessoas vão aos médicos pedir o tratamento com a cannabis, após tentativas frustradas de outras terapias. Deveria ser o inverso. Mas o conhecimento sobre o sistema endocanabinoide

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